(Peço desde já desculpa pelo tom que se vai seguir; perante palhaçadas destas é-me difícil evitar a demagogia e a irritação)
Começo este post com um seráfico mail que recebemos aqui no blog, depois de muita insistência:
Na sequência do grave acidente ontem ocorrido, vem o Gabinete do Vereador José Sá Fernandes informar que já está em curso um processo de investigação policial, no sentido de averiguar as possíveis causas do acidente, sabendo-se que o processo encontra-se igualmente em acompanhamento na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Lisboa. Até à data desconhecem-se as condições em que ocorreu este lamentável acidente, sendo que as condições de segurança do Parque Oeste estão a ser avaliadas, por forma a serem apurados mecanismos mais eficazes de segurança de todos os utilizadores deste espaço verde da cidade.
Isto é que é actuação ATEMPADA E PROACTIVA!
Um mês depois da primeira catadupa de mails a chamar a atenção para o estado de abandono do parque - sem uma única resposta, sem uma única intervenção no terreno - vem o gabinete do senhor vereador (note-se: o "Zé" já não tem tempo para uma resposta pessoal, tão atarefado deve andar com o poder ou a ilusão dele, com as chafeanas esculturas para a Avenida da Liberdade ou com os entendimentos da coligação) responder que já está de dedo em riste à procura de culpados (pode olhar com detalhe para a própria mão: por cada dedo que aponta há três a apontar para si mesmo).
Não sei se me devo congratular com a eficácia da pressão da comunicação social (TVI à frente) ou com o desprezo pelo "povo" com que os representantes do povo nos brindam.
Porque é que inventa agora uma chibice à comissão de menores duns pais que devem estar pouco menos que desesperados pela desgraça que lhes bateu à porta? Fica descansado por ser vereador dum espaço que não oferece condições mínimas de segurança e socorro aos menores que o frequentam?
Senhor Vereador, este parque precisa - sempre precisou - de ser vigiado. Repare, não é policiado (pelo menos não mais do que o resto da cidade); é vi-gi-a-do. Porque, basicamente, a ideia de ordem introduz uma aparência de ordem que tende a ser seguida. Balda (falta de manutenção e conservação, pouca ou nenhuma limpeza) gera anarquia. Anarquia gera maus usos, gera destruição, que geram acidentes (não é?) que podem gerar violências. Por onde andam os vigilantes supostamente contratados?
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Senhor vereador, este parque precisa de ma-nu-ten-ção. Se tivesse mandado um dos seus assessores há um mês atrás até aqui, saberia que a falta de limpeza da lago permitiu o crescimento de limos e plantas, limos e plantas que prenderam esta criança no fundo (e o próprio polícia que de lá a retirou). Saberia que há zonas deterioradas que podem causar acidentes a quem passa.
E saberia que a profundidade do lago poderia provocar acidentes mortais no caso de um menor que não soubesse nadar tivesse a desdita de dentro dele cair. Saberia que, dada a configuração do caminho que o atravessa - lajes afastadas sem guardas - uma distracção, mesmo de um adulto, pode resultar numa queda à água. E concluiria duas coisas: que a vigilância é a melhor prevenção e que, para além da limpeza imediata, são necessários ajustes ao parque para que melhor seja usufruido.
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E agradeceria, reconhecido, aos cidadãos que resolveram usar do seu direito de participação e, em tempo, lhe chamaram a atenção para um problema que os seus serviços, assessores e gabinete não tiveram capacidade para identificar.
Senhora projectista, errar é humano, persistir no erro é burrice. Como muito bem sabe e parece defender, o paisagismo "bom" não é o que condiciona caminhos e usos é o que descobre o seu segredo e o utiliza - a priori ou após alguns meses de experiência - no projecto. Desde sempre este blog, ainda que incondicionalmente a favor da ideia - o parque urbano -, se bateu pela correcção do que achava serem enganos de projecto: a ausência de costas nos bancos e o seu diminuto número, a pouca atractividade que apresenta em termos de permanência dos utentes (topografia desfavorável - uma inevitabilidade? -, ausência de um bar/esplanada), a ausência de iluminação nocturna (reservada a alguns dos percursos de atravessamento), a falta de guardas junto ao lago. Não serão estes factores as principais causas para que este parque não apresente os mesmos niveis de frequência que a Quinta das Conchas apresenta? Não corresponderia um acréscimo de visitantes a um acréscimo de atenção que, entre outras ocorrências, poderia ter evitado ou minimizado um acontecimento como o de ontem? Estaremos à espera de uma outra ocorrência nocturna para entendermos que, com ou sem luz, o parque - como caminho mais curto entre dois pontos - continuará a ser utilizado depois do pôr-do-sol e, como tal, precisa de ser bem iluminado?
Persistirão projectista, SGAL e CML na ideia de que são os utentes que se devem cingir às condicionantes do parque e não a inversa? Quantos mais acidentes e baixos índices de ocupação serão necessários para vos convencer do contrário?
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