sexta-feira, 28 de abril de 2006

O Viver vai ao CCAL - Rachmaninoff

Continuando os posts sobre música, no âmbito da nova rubrica "O Viver vai ao Centro Cultural da Alta de Lisboa", mostramos hoje um bocadinho da música de Sergei Rachmaninoff, um compositor russo nascido em 1873 e que foi também um dos grandes pianistas do séc. XX.



Rachmaninoff revelou desde cedo uma aptidão extraordinária para a música e para o piano, o que o levou, apesar dos parcos recurso financeiros da família, a ter como professores os melhores mestres da altura. Aos 19 anos compôs um prelúdio que ouvimos aqui pelas suas próprias mãos.


Prelúdio em Dó# m, opus 3, nº2 - Sergei Rachmaninoff

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O estilo de composição de Sergei Rachmaninoff está muito mais próximo do romantismo do séc. XIX do que das novas correntes estéticas do séc. XX, o que vale a Rachmaninoff algum desprezo junto de críticos mais eruditos que não lhe perdoam o anacronismo.

Essa repulsa não é só de agora. Após a estreia da sua 1ª sinfonia em 1897, Rachmaninoff, então com 24 anos, mergulhou numa profunda depressão e crise de auto-confiança com as críticas cruéis feitas na altura. Reza a História que o insucesso se deveu mais à direcção desajeitada do maestro do que à falta de qualidade da obra, mas isso pouco peso teve na rudeza dos cronistas.

Na esperança de o animar, alguns amigos levaram-no a visitar Leon Tolstoi, já um consagrado escritor. Este, ao ouvir o jovem compositor tocar algumas das suas peças no piano, perguntou, desagradado: "Haverá necessidade de compor música dessa?" o que afundou ainda mais Sergei na tristeza e reclusão.

Rachmaninoff saiu finalmente desse estado letárgico depois de ser tratado por hipnose pelo Dr. Nikolai Dahl. Durante as sessões o Dr. Dahl repetia incessantemente "Vais compor um concerto de piano, ser-te-á muito fácil compor, o concerto terá excelente qualidade".

Aparentemente a terapia resultou e Rachmaninoff escreveu o seu 2º concerto, que dedicou ao Dr. Nikolai Dahl.




Rachmaninoff tocando o seu 2º concerto para piano e orquestra

Sem as técnicas modernas de gravação, muita da riqueza e clareza do som perde-se, mas é impressionante ouvir os arpejos vigorosos e confiantes a sobreporem-se ao tutti da orquestra, na apresentação do primeiro tema, depois dos acordes iniciais do piano. Depois vem uma forma de tocar plena de lirismo e naturalidade, como se a música estivesse a nascer naquele preciso momento. Uma das coisas que mais me fascina é o maravilhoso fraseado da mão esquerda, que a torna tão independente da mão direita como se estivessemos a ouvir uma ópera com várias personagens.


A segunda sinfonia, composta entre 1906 e 1907, revela já uma grande evolução no domínio da orquestração e da criação de texturas mais densas. A introdução desta sinfonia resume na perfeição uma característica em que Rachmaninoff é exímo: a construção de clímaxes. Uma construção feita por camadas, por patamares, por tentativas goradas até à escalada final da montanha. E, logo a seguir, uma descida inevitável até ao sopé.

A introdução começa num fio musical, numa melodia apenas nas cordas graves, violoncelos e contrabaixos. Depois uma longa construção com avanços e recuos até ao clímax. O crescendo é feito não só na intensidade sonora como também num movimento melódico divergente entre instrumentos agudos (violinos) e graves (contrabaixos e tuba) que dão espaço para a entrada das trompas no ponto culminante.

Depois de atingido esse máximo, a música recolhe novamente, exausta, esvaíndo-se outra vez numa melodia só, agora feita pelo corne inglês. É assim como uma chegada ao ponto de partida


Sinfonia nº2 em Mi m, opus 27 - Orquestra Filarmónica de Roterdão sob a direcção de Edo de Waart


Rachmaninoff abandona a Rússia em 1917, em consequência da revolução bolchevique, estabelecendo-se nos Estados Unidos onde recolhia grande admiração fruto do grande sucesso que obtivera na digressão realizada em 1909 para a qual compôs propositadamente o seu 3º concerto para piano, considerado uma das mais difíceis obras da literatura pianística.


3º concerto para piano e orquestra em Ré m, op.30
Arcadi Volodos, piano
Orquestra Filarmónica de Berlim dirigida por James Levine


Rachmaninoff não mais tornou à sua pátria, deixando gradualmente de compor, por nostalgia, por lhe faltar a ligação à terra onde nasceu.



Acabou por falecer em Beverly Hills, em 1943, e foi sepultado em Nova York, no Kensico Cemetery.

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Para quem quiser...

ver como chegar ao ponto de encontro.

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quinta-feira, 27 de abril de 2006

Vamos todos pedalar!

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Amesterdão, 7 de Abril de 2005


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Lisboa, 23 de Abril de 2006


Para um mundo melhor, vamos todos pedalar!

Hipóteses em Lisboa:

Amanhã, dia 28, no âmbito da massa crítica, concentração no Marquês de Pombal, pelas 18 horas.

Domingo, dia 30, no Alto do Lumiar, Rua Adriana de Vecchi, Colina de S. João de Brito, pelas 10 horas.


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Eixo Central = Passeio de Lisboa

No plano do Eixo Central/Passeio de Lisboa (um projecto do Arq. Manuel Salgado) prevê-se que uma das vias rodoviárias seja reservada a transportes colectivos (e venha a existir também uma pista ciclável - via destinada à circulação de velocípedes segregada do trânsito motorizado). Neste eixo e na sua ligação até Calvanas (porta sul) seria de equacionar a viabilidade de um eléctrico rápido e frequente que em complemento com o interface da estação do Metropolitano no Campo Grande permitisse o acesso ao resto da cidade. Aliás esta hipótese foi admitida no n.º 2 do artigo 53.º do PUAL onde se lê: «No projecto prestar-se-á especial atenção ao transporte público, estabelecendo, ao longo do eixo, um corredor com direito de passagem reservada para um modo de transporte a implantar: metro ligeiro de superfície, eléctrico ou autocarro». Por enquanto resta-nos imaginar. A sul do Eixo Central (no Campo Novo) propomos igualmente acessos pedonais e cicláveis que possam completar uma ligação com o nó da via reservada a bicicletas no Campo Grande e com o jardim aí existente.

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quarta-feira, 26 de abril de 2006

Alguns números e prazos...

Residentes actuais no Alto do Lumiar - 10.000 pessoas
fonte: Junta de Freguesia do Lumiar (JFL)

Residentes em 2015 no Alto do Lumiar - 30.000 pessoas (JFL)

Residentes com mais de 60 anos em 2015 na Freguesia do Lumiar - 15.000 pessoas (JFL)

Av. Eng. Santos e Castro - final de 2006 (fonte: UPAL) ou início de 2007 (JFL). Será aberta ao trânsito sem a nova rotunda em Calvanas, com os mesmos acessos à 2ª Circular hoje existentes.

Viaduto do Eixo Norte Sul (da responsabilidade do IEP) – Outubro de 2006 (UPAL) ou demorará um ano a construir desde a adjudicação da obra (JFL). A zona do Lumiar envolvente à Junta de Freguesia do Lumiar "vai ficar completamente diferente", sendo privilegiada a utilização pedonal. "O mercado permanecerá no mesmo local" (JFL).

Eixo Central - final de 2007 excepto o tramo final (junto à rotunda norte) que só estará pronto em 2008 (UPAL). Tem uma importância estratégica não só para a fluidez do tráfego e funcionamento dos acessos, mas também como atractivo para a comercialização das malhas habitacionais e instalação do comércio.

Esquadra - a obra estará concluída no início de 2007 (JFL), mas não se sabe quando estará a funcionar porque isso depende do Governo.

Extensão do Centro de Saúde do Lumiar - será transferida para uma loja na Malha 15 (Condomínio da Torre) em Julho/Agosto de 2006 (o barracão será demolido para permitir a construção do Eixo Central) (UPAL).

Centro de Saúde da Alta de Lisboa - conclusão da obra no final de 2007 (UPAL).

Quinta dos Lilases - abrirá em Maio/Junho (JFL) aumentando para 26 ha a área verde já oferecida pela Quinta das Conchas.

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terça-feira, 25 de abril de 2006

Barbaridades urbanísticas

25 de Abril de 2006, 10 horas da manhã

Saindo do território da Alta de Lisboa pela azinhaga de S. Bartolomeu depara-se com este absurdo:

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Está em construção um prédio de habitação com 7 pisos acima da cota soleira …

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Mesmo em cima do nó da Ameixoeira do eixo Norte-Sul!

Por sua vez, a azinhaga de S. Bartolomeu está definitivamente estrangulada!

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Que confiança podemos ter nesta Câmara Municipal que autoriza estas enormes barbaridades urbanísticas mesmo ao lado de uma área planeada?
Quem comprar estes andares poderá apreciar o bom cheiro e o harmonioso som de uma auto-estrada que ligará a ponte Vasco da Gama à ponte 25 de Abril.
Responsabilidades?

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Iluminação nocturna nos jardins



Esclareça-me uma dúvida, quem puder, porque, sem ironia, não estou mesmo a perceber.

O Parque Oeste, sem qualquer vedação ou hora de fecho, aberto 24 horas por dia, não terá iluminação nocturna. Diz a UPAL que o objectivo é dissuadir a utilização depois de o Sol se pôr, que é mais seguro assim.

O Parque das Conchas totalmente murado e com horário de funcionamento das 6h à 1h, tem iluminação.

A sério, alguém sabe porquê? Alguém sabe porque não se experimentou também deixar o Parque das Conchas às escuras de noite e, já agora, aberto 24 horas por dia poupando-se nos guardas nocturnos?

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Quartel dos Bombeiros

Este quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) situado junto ao Centro Comercial Colombo foi construído pela SGAL para servir também a Alta de Lisboa e embora inicialmente a UPAL nos tenha dito que não havia cabimentação orçamental para um quartel na Alta de Lisboa, a pedido do RSB, que defenderam que o tempo de resposta do socorro não seria adequado, será construído um edifício para o novo quartel do Lumiar junto ao Complexo Desportivo. O programa preliminar do edifício está a ser analisado pela UPAL e será a CML a executar o projecto.

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segunda-feira, 24 de abril de 2006

O direito à diferença

Há uns tempos atrás fui à mercearia no Bairro da Cruz vermelha. Era Sábado, hora de almoço, e precisava de algumas pequenas coisas, entre as quais, hortelã. Já não tinham. Mas era mesmo importante: há temperos que a minha costela alentejana não dispensa. O meu desconsolo traduziu-se num “Ohhh, não tem?!...” tão desolado que chamou a atenção de um outro cliente. Simpático, indicou-me onde podia encontrar o que queria. Alguém tinha plantado hortelã num dos canteiros das árvores que ornamentam a rua pública. Eu podia servir-me e voltar quando quisesse, era de todos. Já lá voltei de novo, bastante tempo depois deste episódio, e quem por ali estava voltou a confirmar: “Leve, que não se importam”.

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Naquele dia levei para casa mais do que a hortelã. O “calorzinho” de uma gentileza, o revivalismo da infância em que ia ao quintal, em casa dos meus avós, apanhar qualquer coisa fresca para ser usada na hora, e esta pequena história que tem sido ponto de partida de muitas conversas com amigos. Há várias coisas que se podem discutir aqui. O espaço público versus espaço privado, por exemplo. É engraçada a forma como o espaço público foi utilizado, por iniciativa individual, mas como se mantém o carácter “comum” daquele canteiro, embora resultado do esforço de apenas um (ou de poucos).

Mas nem foi isso que me fez pensar mais. Imaginei as consequências se aparecesse alguma coisa plantada em algum canteiro da minha rua (apenas a uns escassos 200 ou 300 metros da “rua da hortelã”). Não precisa de ser uma horta, podem imaginar rosas. Antevi os comentários no elevador, nos halls dos prédios, nestes blogs, talvez. Surgiria o argumento da apropriação indevida do espaço público, é certo, mas apenas para camuflar o que realmente incomoda: a heterogeneidade. A diferença entre um canteiro “custumizado” (poderei usar esta palavra?), e os outros do lado, estéreis. Se fossem todos iguais, então sim.

É adaptar-me a isto que mais me custa. A intolerância das expressões individuais, o conceito vigente de que a homogeneidade é absolutamente detentora de superioridade estética, a obsessão com a regulamentação de tudo, ao ponto de interferir na vida de cada um. Já hoje ouço sugestões sobre a necessidade peremptória de todos terem uma palavra a dizer sobre o tipo de plantas que eu posso ter na minha janela (quiçá contratar um arquitecto paisagista para decidir...). Parece-me próximo o dia em que decidirão a cor das minhas cortinas (em Bruxelas já é assim há muito tempo, são todas brancas). E temo que um dia seja decretado que não tenho a altura e cor de cabelo regulamentar para aparecer à janela! Esta ideia de que temos que viver numa maquete gigante, a mim, oprime-me.

Tudo isto me faz lembrar a fruta normalizada que nos apareceu nos supermercados há 20 anos atrás, quando entrámos para a (então) CEE. Era grande, bonita e luzidia, mas a saber a água. Hoje, já todos aceitamos com naturalidade que uma cereja bicada é sinal de ser mais doce. As bananas da Madeira, cheias de moças e manchas por fora, também são geralmente consideradas melhores, por dentro. Os legumes de agricultura biológica, são cada um de seu tamanho, mas ninguém duvida da sua superioridade. E tal como na fruta se tem que fazer concessões à imagem para receber, em troca, sabor, nos bairros teremos que o fazer um dia também, se queremos vislumbrar vida, pessoas e humanização.

E voltando ao princípio da história, bem sei que as coisas não caminham para aí. Mas gostava mesmo de um dia, se estivesse a dar indicações a amigos sobre como chegar a minha casa, lhes pudesse dizer que era no Nº12, a porta em frente ao canteiro das...não sei, talvez papoilas, acho que gostava de papoilas.

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Calvanas - Destruir Primeiro Negociar Depois

Depois do Bairro das Calvanas estar praticamente demolido a Vereadora Maria José Nogueira Pinto propõe renegociar o protocolo celebrado entre a C.M.L., a Associação de Moradores do Bairro das Calvanas e a Sociedade Gestora da Alta de Lisboa. Segundo parece o protocolo negociado pelo anterior executivo (curiosamente são os mesmos partidos) atribuía a certos moradores casas “com mais divisões do que as necessárias“ .

Não entendo como é possível renegociar um protocolo de realojamento depois de se destruir as casas dos moradores. Parece-me um abuso usar os mais fracos para corrigir os erros dos mais fortes, mas enfim, o problema deve ser mesmo só meu porque a proposta ( nº. 161/2006 ) foi aprovada com 15 votos a favor e 1 abstenção.

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domingo, 23 de abril de 2006

Impermeabilização do solo


Restelo

Em dias de chuva torrencial é isto que acontece. Não sei se são os colectores que são estreitos demais ou estão entupidos, se é a falta de zonas verdes onde os caudais de água possam ser absorvidos, mas sempre que chove um bocadinho esta situação é cada vez mais frequente. E como se poderia aproveitar esta água para os meses de seca?

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sábado, 22 de abril de 2006

Dá licença?

Parece que a TIS fez um estudo de mobilidade rodoviária para a Alta de Lisboa. Um dos pontos altos da apresentação feita à UPAL foi, disseram-nos fontes oficiais, o funcionamento do modelo da futura Porta Sul, que ligará a Av. Santos e Castro à 2ª circular. Disseram-nos que a demonstração, feita em computador, com carrinhos fictícios a rolar segundo as condições impostas pelos técnicos, tinham escoamentos muito diferentes conforme havia duas ou três faixas de rodagem, semaforização das entradas, sinais de cedência de prioridade, entre outras possibilidades. Eu que gosto tanto de jogos de computador em que se pode brincar aos Deuses fiquei com imensa vontade de ver essa maravilha a funcionar, mas ainda não consegui.

O melhor que se arranja é este video filmado algures na Índia, onde não podemos interagir, mas que assuta pela interactividade vista.

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quinta-feira, 20 de abril de 2006

Um vício para pagar vícios

(Confesso que estive para chamar a este post "Depois disto, venham as putas". Mas sendo este um blog colectivo não quis aborrecer ninguém)

Abriu o casino de Lisboa. Já não me bastava ter apanhado de raspão com a imagem de tudo quanto quer ser colunável, é colunável ou apenas gosta de arquitectura grega, de flute na mão e croquete boçal num ruminar pretensamente elegante, acabo de ter de ouvir o senhor Ho a explicar aos governantes portugueses que o segredo para um superavit governamental está em expandir ab infinito as salas de jogo do país.

Que os chineses gostem de trocar a qualidade de vida ocidental pelo frémito arruinante de ganhar ou perder ao jogo é lá com eles. Que os portugueses se abonequem em surtidas de sábado à noite até ao Estoril para ganhar um Domingo mais amuado pelos euros perdidos nas slots do casino é, também, lá com eles.

Mas que, para pagar megalomanias de campanha eleitoral e pretensos melhoramentos na vida museológica e turística da capital se promova - numa conjuntura em que o sobrendividamento da famílias é um facto estatístico - com primetime e encómios oficiais, uma actividade puramente alienante, sem vantagens para o consumidor que não sejam, para a esmagadora maioria, a ilusória e derrotada esperança de resolver a vida sem ter de trabalhar para isso, é prova cabal do estado de bandalheira de valores a que a classe política e, por reflexo, nós próprios chegámos.

E por isso digo - se, para arranjar dinheiro para pagar aventuras vale tudo, então deixemo-nos de hipocrisias e entremos no jogo a sério. Refaça-se a campanha do trigo dos anos quarenta e dedique-se o Alentejo ao cultivo de papoilas para exportação. Declare-se todo o país como um imenso porto franco e abram-se lupanares para turistas nas zonas nobres das cidades. Concentrem-se as atenções do choque tecnológico na criação de novas armas para vender às guerrilhas de todo o mundo. E façam-se parcerias - pra frente e em força! - com as elites dos países africanos nossos irmãos por forma a bem explorar os recursos tão apetecíveis que eles têm para oferecer. Afinal só irá sem quiser...

(E perguntam-me vocês espantados com tanta verborreia: o que diabo tem isto a ver com o viver na Alta de Lisboa? Bom, se calhar nada, a Alta não é a Expo... Mas não é verdade que a Alta é uma boa ideia a que cada vez - por via da quebra nas vendas - vão faltando mais fundos para acabar as infraestruturas prometidas? Ah sim... e como é que se chama o dono da dona da Alta?...)

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quarta-feira, 19 de abril de 2006

Passeio junto ao Parque das Conchas



Depois de ter sido destruído e refeito duas ou três vezes, está praticamente concluído o passeio que ladeia o Parque das Conchas na fronteira com a futura malha 5, o badalado projecto do arq. Tomás Taveira.

Aparentemente valeu a pena a indecisão. De um passeio mais estreito para os peões e lugares de parqueamento automóvel em espinha, passou-se para um passeio mais largo, com árvores alternadas com a iluminação, uns bancos de pedra e estacionamento em fila. Ganham as pessoas. Boa opção.

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terça-feira, 18 de abril de 2006

As Paixões de Bach



J.S. Bach escreveu duas Paixões para evocar a morte de Cristo nas celebrações religiosas da Páscoa. Para isso inspirou-se nos evangelhos de S. João e de S. Mateus. As obras foram escritas para coro, orquestra e cantores solistas e são contituídas por momentos narrativos, onde o evangelista canta acompanhado por um grupo reduzido de instrumentos, chamado baixo-contínuo, normalmente cravo, viola da gamba, alaúde ou orgão, as possibilidades são muitas, e outros momentos de reflexão poética entre a narrativa através de árias, cantadas por solistas e acompanhadas pela orquestra, e corais a quatro vozes cantados pelo coro. Personagens como Jesus, Pedro ou Pilatos são representadas pelos cantores solistas. A obra não é encenada, tendo sido originalmente escrita para ser tocada durante a liturgia. No entanto, é agora executada em salas de concerto.

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Não querendo detalhar apenas uma Paixão, optei por mostrar uma pequeníssima parte de cada uma delas, tentando motivar quem não conhece a ouvi-las na íntegra. Deixo-vos porém um conselho, procurem ouvir a obra com a tradução do texto. Bach usou o evangelho em alemão, nas directivas da Reforma Luterana, para aproximar a liturgia dos crentes. Apesar da música ser deslumbrante por si só, escutá-la sem conhecer o significado das palavras cantadas e privar-se da genialidade que Bach colocou à nossa disposição fazendo corresponder de forma tão intíma a música com o texto, é um desperdício incompreensível. Ouvir uma obra como esta é uma experiência profundamente espiritual, mesmo que não se professe uma religião cristã.




Na Paixão segundo S. João, a abertura é feita pela orquestra e coro, de uma forma semelhante às tragédias gregas. Ainda antes da narrativa começar, é criado um ambiente denso, pessimista, premonitório. O efeito é conseguido através das constantes dissonâncias criadas nos sopros (flautas e oboés) que vão chocando num compasso para resolver essa tensão no seguinte, e aumentada pela nota pedal dos violoncelos (a nota mais grave) que se mantém cerca de 30 segundos, depois ouve-se uma marcha harmónica até perto da entrada do coro, com as palavras:

Herr, unser Herrscher, dessen Ruhm
In allen Landen herrlich ist!

Zeig uns durch deine Passion,
Daβ du, der wahre Gottessohn,
Zu aller Zeit,
Auch in der gröβten Niedrigkeit,
Verherrlicht worden bist!


Senhor, nosso Soberano, cuja Glória
Resplandece em toda a Terra!

Mostra-nos por meio da tua Paixão,
Que Tu, o verdadeiro Filho de Deus,
Sempre foste glorificado,
Mesmo nos tempos mais sobrios!




De salientar o tratamento dado por Bach à palavra Herrscher (Soberano), estendendo-a no tempo, cantada em 34 notas, como forma de a enfatizar.




Outra cena pungente da Paixão segundo S. João é a da negação de Pedro. Jesus tinha-o já previsto e dito a Pedro: "Em verdade te digo que esta mesma noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes.", a que Pedro e os restantes apóstolos responderam: "Ainda que tenha de morrer contigo, não te negarei."

A cena começa com um recitativo onde o Evangelista João diz, depois da prisão de Jesus: "E Anás levou-o, manietado, ao Pontífice Caifás. Simão Pedro estava lá também, aquecendo-se. Perguntaram-lhe: Não és tu um dos seus discíplos?"

De salientar a forma como Bach atribui ao coro a função da pergunta a Pedro. Uma turba inquisitória e desordenada, como se ouve pelas entradas das quatro vozes (soprano, contralto, tenor e baixo) interrogando-o: "Bist du nicht seiner Jünger einer?"

A narrativa passa de novo para o Evangelista: "Ele negou e disse:"

Pedro Ich bin's nicht! (Não sou eu!)
Evangelista Disse-lhe um dos servos do pontífice, perante aquele a quem Pedro cortara a orelha:
Servo Não te vi eu com ele no horto?
Evangelista Pedro negou de novo e imediatamente o galo cantou. Então Pedro lembrou-se das palavras que Jesus lhe tinha dito e, saindo, chorou amargamente.

Todo o ambiente musical se altera a seguir ao galo cantar, antes da recordação e arrependimento de Pedro. É dilacerante o contraponto cromático entre as palavras weinete bitterlich (chorou amargamente), cantadas pelo Evangelista, e a parte de baixo contínuo realizada pela orquestra.




Esta cena também existe naturalmente na Paixão segundo S. Mateus. A ária que se segue a esta dor de Pedro é inesquecível.



Meu Deus, tende compaixão de mim e das minhas lágrimas. Vede como choram o meu coração e os meus olhos.



Continuando na Paixão segundo S. Mateus, vamos directamente ao clímax emocional, o momento de fraqueza de Jesus e a morte, logo após. Uma passagem de grande dor e tristeza. O ambiente quente e pesado é acentuado pelo baixo contínuo lento e pastoso feito pelo cravo, violoncelos e orgão.

Evangelista Desde a hora sexta e hora nona as trevas cobriram toda a terra. E à hora nona Jesus chorou e gritou:
Jesus Eli, Eli, lama sabachthani?
Evangelista Que significa: "Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?" Alguns dos que ali estavam, ao ouvi-lo, disseram:
Povo Ele clama por Elias.
Evangelista E imediatamente um deles tomou uma esponja, embebeu-a em vinagre, pô-la sobre uma cana e deu-lha a beber. Outros, porém, diziam:
Povo Deixa-o, vejamos se Elias vem salvá-lo!
Evangelista Jesus, soltando de novo um grande brado, e expirou (und verschied).






Segue-se um comovente coral de redenção.



Quando eu tiver de partir, não te separes de mim!
Quando eu tiver de morrer, pelo teu sofrimento não me deixes sofrer.

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segunda-feira, 17 de abril de 2006

Coisa em jeito de adeus

Caminhava hoje por um bairro antigo de Lisboa e, de repente percebi, ao olhar as casas decrépitas, ao tristemente olhar os anos e anos de fado penurioso inscritos nos rebocos fracturados, nos telhados abaulados, nos ferros corroídos e nas tintas desbotadas, percebi - estou a despedir-me.

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(Talvez me esteja a despedir de uma imagem criada pela esperança programática de uma geração que não se deu bem com a realidade, espécie de SNI esquerdista em final de ideologia. Talvez me esteja a despedir das minhas esperanças em ver a história não só reconquistada mas viva, lutando por se ligar à realidade do presente e sobreviver.)

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Mas é uma despedida.

Mesmo desprogramados, mesmo aleatoriamente dependentes da vontade de promotores alheios a preocupações urbanísticas, de negócios de ocasião, de oportunidades criadas por decisões desligadas de um percurso coerente, os processos urbanísticos desenvolvem-se e com eles a cidade. Lisboa desenvolveu-se assim, fugindo primeiro ao rio e fugindo nas últimas décadas aos bairros que a iniciaram.

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Fugiu por pavor, enquanto a memória de um Tejo Adamastor perdurou; continuou por hábito, quando esta esmoreceu; persistiu por inércia quando, nos novos aterros ribeirinhos, se optou pela instalação de incipientes indústrias ou actividades navais; e insistiu, porque se tornou um hábito.

E depois fugiu de medo. Medo de desfear, medo de perder, medo de ousar.

No princípio do século vinte, na febre de um desconhecido chamado progresso, quis-se abrir espaçada avenida entre o Chafariz de Dentro e o Castelo. Públicos nomes puxaram das suas insígnias olisipógrafas e trouxeram para o medo público a oposição. E o "boulevard" não se fez. E nada se fez, porque o importante - manter a ideia romântica de um bairro de ruas apertadas, casas pequenas e habitantes modestos, fadistas e apaixonados - tinha sido garantido (bem como a insalubridade dos espaços, a pobreza do bairro, a decadência dos edifícios).

Desde então, pela cidade histórica, pela cidade núcleo, pela cidade intrínseca, nada mais se fez.

Mesmo a política preconizada pelas vereações de Sampaio e Soares nada poderia fazer, condenada que estava pela incompatibilidade entre duas das suas ideias-chave: auto-sustentabilidade e anti-gentrificação.

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Mas tudo isto é passado. Tudo isto poderia ser facilmente ("facilmente"...) alterado caso houvesse coragem, vontade, percepção correcta dos problemas e das soluções.

Se...

Se o crescimento populacional do país fosse um facto e se não se tivesse apostado (ou deixado apostar) nas novas urbanizações no interior da cidade como forma de resolver o problema dos bairros de lata e a falta de fundos nos cofres edis. Não deixando espaço para novas ideias, não abrindo caminho para novas ocupações. Não abrindo caminho ao futuro.

E assim, despeço-me lentamente (porque é uma morte lenta) dos restos da cidade antiga. Abandonados ou sujeitos à ocupação pontual por outras culturas (talvez seja este o seu melhor fim - a revitalização por uma população que se mexe), os bairros antigos perecerão por falta de população suficiente para tantos fogos. Os liceus fecharão por falta de jovens caras ocupantes, seguidos dos hospitais centrais, cada vez mais reduzidos a paliativos prestadores de cuidados geriátricos. O comércio será uma miragem, ao longe, nos periféricos e emprendedores centros-comerciais. A vida, na luminosa atmosfera da beira-Tejo, deprimente e sem futuro, um gigantesco cemitério de vidas passadas, de pensionistas abandonados por um Estado iludido e em penúria e de jovens esparsos envelhecidos antes de tempo.

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Enquanto isso, no extremo da cidade, os cidadãos da nova esperança do viver esperam, entre o reivindicativo e o conformado, pelo cumprimento das promessas, pelos acessos, pelas infra-estruturas, pelo policiamento, pela urbanidade dos vizinhos, pela qualidade de vida inscrita no contrato-promessa mas estranhamente esquecida nos acabamentos do apartamento.

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quarta-feira, 12 de abril de 2006

Anti-paisagem

Os critérios, funções e motivações do urbanismo e arquitectura, a ler, n'a barriga de um arquitecto.

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segunda-feira, 10 de abril de 2006

Como tudo tem um fim...

Chegou o dia em que achei que deveria dar como terminada a minha participação no Viver na Alta de Lisboa.

Ao Tiago, deixo o meu obrigado pela oportunidade que me deu em participar neste blog de referência sobre a Alta de Lisboa.

Aos(Às) ex-parceiros(as) de blog, que continuem com a qualidade que vos é característica e sempre com vontade de alterar e identificar o que nos vão tentando erradamente instituir.

Ao Viver, que continue a ser um espaço de excelência, de referência e acima de tudo plural sobre a Alta de Lisboa.

A todos, que continuemos civicamente a -tentar- dissipar as constantes névoas que se vão deparando no -nosso- caminho da Alta de Lisboa.

Quanto a mim, serei um leitor\comentador assíduo deste blog e continuarei com as minhas "ruminações" por aqui.

Até já... :)

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Vale de Odivelas



Este é o vale de Odivelas. Uma longa faixa de terra que passa por Póvoa de Santo Adrião, Ramada, Santo António dos Cavaleiros, e se estende até Loures. A impermeabilização do solo, com a construção sucessiva de urbanizações e ruas de alcatrão, interrompendo linhas de água é motivo de preocupação. Este é, aliás, um dos cavalos de batalha do Gonçalo Ribeiro Telles. Com todo o vale impermeável, com poucos espaços verdes, a capacidade de absorção de água no solo diminui. Assim, a água das chuvas é levada a descer na cota até à zona de Odivelas, onde se concentrará provocando cheias. É uma questão de tempo, diz-se, dado o planeamento errado. Houve já episódios de precipitação abrupta que provocariam esta situação: em 1967, em 1983 e 1997.

O cartaz à direita, colocado pela Câmara Municipal de Loures, diz: "Mantenha o concelho limpo. Melhor ambiente, mais saúde."

Ingenuidade ou ironia?

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sexta-feira, 7 de abril de 2006

Argumento de autoridade

"É importante o jogador trabalhar bem, com um tempo útil de treino elevado, com intensidades altas, mas com tempo para o repouso, tempo para a família, tempo para que possa fazer outras coisas. Fala-se muito na fadiga física e na recuperação física, mas eu falo na fadiga do sistema nervoso central."

José Mourinho, à revista Dragões de Janeiro de 2002
in Mourinho - porquê tantas vitórias?, edições Gradiva, 2006



E se pensássemos nisto aplicado às empresas e às escolas? Se se percebesse de uma vez por todas que interessa mais a produtividade do trabalho do que as horas passadas à secretária a conversar com colegas, ligado ao messenger, a desempenhar tarefas inúteis, ou na escola com disciplinas inventadas para ocupar o tempo às crianças porque os pais não têm tempo e não querem os filhos a brincar na rua ou sozinhos em casa?

É por isso também que interessa pensar na cidade como o local onde as pessoas vivam com qualidade de vida, uma cidade onde habitação, comércio e emprego coabitem harmoniosamente e não como um aglomerado desordenado e caótico de estábulos e currais sujos e inóspitos onde a existência se resume a esperar pelo último dia das nossas vidas numa febre autista e individualista.

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quinta-feira, 6 de abril de 2006

CORRUPÇÃO

Lembei-me dos posts do Tiago referentes às declarações do vereador José Sá Fernandes sobre as tentativas de suborno de que foi alvo e que tão poucas reacções tiveram neste blog, quando li ontem no Público e a propósito da crise na Polícia Judiciária, os diversos casos "melindrosos" que estão pendentes de decisões. (uf! que grande período!)
Relembrando (já que o Público apenas dispõe online para tesos meia-dúzia de notícias):

- Licenciamento do Freeport Alcochete (com a alteração da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, de modo a viabilizar o empreendimento, 3 dias antes das legislativas);
- Vale da Rosa / Nova Setúbal (projecto urbanístico a desenvolver na zona oriental de Setúbal; suspeita de tráfico de influências);
- Amadora (suspeitas da existência de uma complexa rede de troca de favores entre políticos e construtores civis);
- Caso Portucale (autorização governamental para abate de 2600 sobreiros; suspeita de tráfico de influências);
- Bragaparques e negócios camarários (negócio Parque Mayer e outras transacções efectuadas ou negociadas entre a CML e a empresa; suspeita de tentativa de corrupção);
- Fuga a impostos / bancos.
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O que torna esta notícia relevante para a discussão urbanística que temos vindo a fazer é a esmagadora maioria de casos ligados ao imobiliário. É pública a percentagem (anormalmente elevada para os padrões europeus)que a actividade imobiliária ocupa na economia portuguesa. Será natural que, gerando tanto dinheiro, a possibilidade de ocorrência de ilegalidades seja maior.

Mas não se sentem a caminhar sobre gelo fino de cada vez que passam por zonas novas da cidade? Não olham sempre com desconfiança para novos empreendimentos?

E de cada vez que vêem um atropelo urbanístico, uma distracção com as regras legais instituídas, uma aparente asneira, não ficam com a muito grande impressão de que um gordo envelope passou de mão num canto escuro de uma garagem pública?

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Bairro Alto e Príncipe Real



Bairro Alto. Aqui não há leis do urbanismo modernista. Não há esquadros que determinem a largura das ruas em função da altura dos prédios. Tudo foi construído muito tempo antes de se pensar nessas coisas. As ruas são estreitas, dá para passar apenas um carro. A certa altura, o trânsito era tanto que a CML decidiu vedar o trânsito nalgumas ruas. Pôs também pilaretes para impedir o estacionamento em cima dos passeios.

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Com todos os defeitos que o Bairro Alto possa ter, como ter bares nocturnos a funcionar até às duas da manhã a coexistir com os moradores, existe uma vida extraordinária durante o dia. Parece-me que não é alheio a este facto a existência de comércio tradicional de loja e as características de rua que fazem com que as pessoas tenham de se deslocar a pé. É uma das coisas que mais me assuta na Alta de Lisboa. A facilidade com que as pessoas podem viver sem por um pé na rua, saíndo de carro da garagem até a um hipermercado, voltado hermeticamente de volta para subir de elevador aos seu condomínios com segurança privada para evitar o contacto com "estranhos". Precisamente por isto, por esta vivência inexistente da rua, o comércio tardará a desenvolver-se.



Mudamos de assunto. Perto do Bairro Alto existe também um jardim secular, o Príncipe Real.



É um jardim muito frequentado pelos reformados do bairro. Estes estão sentados, chateadíssimos com o arquitecto paisagista que ali pôs os bancos.



E estes jogam à "sueca".




Na rua da Escola Politécnica, que liga o Largo do Rato à Rua D. Pedro V, com dois sentidos, um para cada lado, pode observar-se o trânsito espesso que passa à hora de almoço. Ao fundo vê-se um autocarro a andar lentamente, à velocidade de escoamento possível para tantos automóveis. Pára, arranca, pára, arranca.

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quarta-feira, 5 de abril de 2006

O impiedoso progresso

Os moradores do Bairro Azul há muito que se debatem pela recuperação da qualidade de vida que um dia tiveram, mas que outro foi roubada nesta abrasiva autoestrada aberta no meio do seu bairro.


A luta pela reconquista do espaço pedonal na Ramalho Ortigão sofreu entretanto um duro revés. Mas não é esta a única preocupação das pessoas que vivem no Bairro Azul. Com as obras do metro, da ligação da linha vermelha da Alameda até S. Sebastião, as árvores que servem de tampão acústico e visual para o movimento da Av. António Augusto Aguiar e do centro comercial El Corte Inglés estão em vias de ser deitadas abaixo. Diz o presidente do Metro, Mineiro Alves, que "ou serão abatidas ou morrem". Não vejo grande diferença, mas a escolha proposta é esta.

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terça-feira, 4 de abril de 2006

Urbano, suburbano e antiurbano

Urbano, suburbano e antiurbano
«Condomínio fechado» - o marketing acode aos terrores da classe média

Texto de Manuel Garça Dias




O que é a cidade? O que é viver na cidade?

A cidade será, provavelmente, o modo mais solidário que o homem inventou enquanto formalização da possibilidade do viver colectivo.

Viver numa cidade é uma forma sofisticada de trocarmos o produto do nosso esforço individual, dividindo tarefas, conjugando empenhos, encostando as casas lado a lado ou sobrepondo-as (e, simbolicamente, partilhando as mesmas paredes e as mesmas lajes).

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Viver numa cidade, numa grande cidade, é garantir oportunidades de trabalho e conforto a todas as minorias, a todas as diferenças, a todos os grupos. Queremos ser iguais perante a lei, mas sabemos que nascemos diferentes. A diferença é a nossa especificidade, a nossa riqueza e a riqueza da cidade; a cidade, o enorme e fantástico mosaico que resulta de todos os diferentes cidadãos e vontades postos lado a lado. As leis, os códigos, a negociação, servindo para nos salvaguardar, e aos outros, dos atropelos que as demasiadas individualidades tendessem a querer tentar sobrepor. O território desta negociação é a cidade. É lá que mais recorrentemente plasmamos os exemplos que nos encantam e ilustram esta capacidade que criámos de, equilibradamente, estar juntos, viver juntos, juntos ensaiarmos os diálogos contrastados e constantes que as dificuldades da vivência colectiva propõem.



Cidade múltipla e misturada, então, de raças, classes sociais, gastronomias, idades, sexualidades, profissões, culturas, religiões, sensibilidades, expressões, capacidades físicas ou de resistência, conhecimentos, gosto e manias.

Cidade que medimos, complexa, pela capacidade de surpresa ou de imprevisto que cada dobrar de esquina, ou canto, ou beco, nos vai trazer de novo, proporcionar.

Cidade onde aprendemos a tolerância de que a nossa excessiva individualidade irá continuadamente precisar. Cidade como o lugar geométrico perfeito para as nossas mais completas ambições, porque povoada de muitos outros homens diferentes de nós ou iguais a nós; onde crescemos com experiências outras (que herdamos); onde evitamos ou sobrepomos erros; onde construímos, em conjunto, a continuação dessa ou de outras cidades.

Onde passeamos, livres, no meio do espaço público que as diversas moradas deixam vazio e significante entre elas: nas ruas, nas avenidas, nas praças, nos largos, nos parques, nas travessas, nas escadarias, nas marginais, sob as pontes, nos miradouros, à sombra nas esplanadas, ao sol nos terreiros, nos mercados, nos cafés, nas livrarias abertas à noite, nos cinemas, nos teatros, nos passeios ou nas alamedas de algum escondido jardim.




Um dos perigos da cidade actual seria a massificação. A massificação não é produto de consensos, é antes uma programação concertada para adormecer desejos, pulsões e subversão, encaminhando as «massas» para «paraísos» prontos, fáceis, baratos, garantindo não ser necessário preocuparmo-nos com muito mais, porque, agora, o acessível consumo (e a «escolha») seria o máximo a que a espécie humana poderia ter tentado alguma vez almejar chegar. Estão nesta categoria, e nesta lógica, os automóveis, as auto-estradas, os «pacotes de férias», a programação das televisões, o monopólio narrativo e ideológico do cinema americano, as cadeias de «fast-food», os centros comerciais e... os «condomínios privados» (ou «fechados», ainda não percebi como é que gostam mais).

«Condomínio fechado» é o nome de um mais ou menos recente truque de marketing que se aproveita das desinteressantíssimas aspirações da «classe média», pelo lado dos pavores que lhe povoam os sonhos, «terrores» que os «media» divulgam e exploram e cujas causas (ou pelo menos a localização) são geralmente atribuídas à cidade («selva de betão»): criminalidade, pedofilia, sinistralidade viária, sida, toxicodependência, violações, terrorismo, etc.

Em «Especial EXPRESSO Dossiês - Condomínios de qualidade - a chave do seu conforto», saído recentemente com o EXPRESSO para vender publicidade imobiliária, lê-se a seguinte «definição»: «O conceito 'condomínio privado' assenta num princípio de qualidade de vida proporcionada por um conjunto de características que lhe são inerentes e que poucos lhes garantem.» Depois de La Palisse, sucedem-se algumas das inerentes e publicitadas pouco usuais (?) características: «privacidade; tranquilidade; segurança; superior qualidade de construção que garanta conforto através de uma boa exposição solar; áreas amplas; excelentes isolamentos térmico e acústico; facilidade de manutenção; facilidade de acessos; infra-estruturas de lazer e bem-estar; zona envolvente atractiva», seguindo-se, depois, a promoção de mais umas quaisquer «villas» ou «varandas» ou «residences».

Todos os anúncios oscilam sempre entre o «verde» (ou uma certa ideia de «verde», geralmente muito mais artificial que a vilipendiada «selva de betão») e as «portas blindadas», que, numa simbólica fácil, poderíamos fazer coincidir com um desejo de não comunicação, contacto, «infecção».

Assim, são recorrentes os «oásis», os «jardins com bosque», as «amplas zonas verdes completadas com piscina» - um estranho caso, referia um «átrio interior (com) uma piscina envolvida por zonas verdes» -; a proximidade de algum clube de golfe também é bastante repetida e encontrei ainda uma «zona verde com pinhal, circuito de manutenção e 'putting green'», que, não sabendo o que é, associo a jardineiros de rabo para o ar a «pôr o verde», pacientemente, laboriosamente (embora o relato também me assegure, a dado ponto, que «todas as áreas dispõem de rega automática», o que só teria como inconveniente poder vir a molhar desnecessariamente os esforçados jardineiros).

Quanto ao capítulo segurança, as opções são imensas e os «condomínios têm sempre segurança 24 horas por dia», as portas são «de aço» embora «disfarçadas» com PVC (plástico) ou «madeira maciça», as janelas são «reforçadas a aço» (e têm «vidros duplos e laminados nos pisos 0»), «os portões exteriores são em aço»; há mesmo um caso de uma «porta de entrada das moradias de aço, com fechos de segurança ...», o que, a ser assim, convenhamos, é levar a obsessão pelo aço um pouco longe.

Numa entrevista informal é atribuído a uma tal Patrícia Santos, «25 anos, gestora de projectos ('account')» - personagem fictício? -, a seguinte frase: «Apesar de ter alguns prédios à volta, quando se está dentro do condomínio não se percebe, dando a sensação que estamos isolados e longe da confusão da cidade.»

Esta parece ser, finalmente, a grande vantagem promocional destas «coisas»: «Pode desfrutar do que mais valoriza na vida: a família, o conforto, a tranquilidade e a segurança», o slogan para estes «novos» modos antiurbanos, anticidade, anti-solidários e muito, muito monoclassistas.

A mesma jovem «account» (que, significativamente, recorde-se, se chamaria «Patrícia») termina o seu depoimento aconselhando-nos a viver em condomínios privados, mas clarificando, do alto dos seus preconceitos de classe: «As pessoas têm que se lembrar que, por vezes, não é bom para toda a gente. A uma pessoa mais suburbana se calhar não lhe interessa muito.»

Esta Patrícia, portanto, não gosta de suburbanos; já vimos, também, que não gosta de urbanos; do que ela gosta, mesmo, é de estar sozinha, «isolada» da cidade, numa espécie de redoma, em «conforto, tranquilidade e segurança».

Esclarecedor.

Texto e fotografias de Manuel Graça Dias, publicadas no semanário Expresso

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domingo, 2 de abril de 2006

Da Alta até à 7.ª Colina, pedalando

Andar pelas ruas de Lisboa é um exercício terrível para os nervos, sobretudo em horas de ponta. Ora bem, depois de alguns meses de reflexão decidi arriscar a minha vida e lá fui para o trabalho de bicicleta! Sim, a bicicleta! É um transporte tão usado em qualquer cidade europeia civilizada. Pois, em Lisboa não é! Porque Lisboa é, em horas de ponta, um “mar de automóveis”!

Saio de casa por volta da 9 horas da manhã (terça-feira, 28 de Março) a fim de evitar a hora de ponta mais frenética.
Estou na Alta de Lisboa, mais propriamente numa rua que se cruza com a Avenida Sérgio Vieira de Mello, avenida que ainda não tem direito a placa identificadora.

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Aqui vou, pedalando pela Avenida Eng. Nuno Kruz Abecassis acima paralelamente ao famoso Parque Oeste da Alta de Lisboa, que tarda em abrir ao público.
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Atravesso um caminho pedonal improvisado que serve de ligação entre a zona norte e sul da Alta de Lisboa. Caminho que só é utilizado pelas crianças e pais que necessitam de se deslocar até à escola (se calhar é por isso que a CML, UPAL e SGAL ainda não se preocuparam com isto).

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Rua José Cardodo Pires. Em frente, ao fundo, já se nota um esboço do Parque das Conchas
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Avenida que ladeia a famosa malha 5 para a qual o Arquitecto Tomás Taveira projectou uns grandes blocos de habitação, comércio e serviços. Do lado que me encontro estão erguidos alguns empreendimentos recentes da zona sul da Alta de Lisboa.

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Este cruzamento é terrível, embora na fotografia seja difícil de ver. Fala-se na transformação em rotunda (lá se vão mais umas árvores…).
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Descida até ao Parque das Conchas passando ao lado do empreendimento de luxo com o mesmo nome.
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Parque das Conchas, verde e mais verde!
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Subida para a zona da Quinta do Lambert (Lumiar), para evitar a congestionada e poluída Alameda das Linhas de Torres, para tomar a Avenida Maria Helena Vieira da Silva.
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Passagem pelo Parque Europa (o primeiro empreendimento da SGAL, lançado nos finais da década de 1980), mais propriamente pela Rua Manuel Marques (rua bem conhecida de todos os clientes da SGAL).
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Já estou perto da interface do Campo Grande ao descer a Rua Agostinho Neto.
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Finalmente alcanço uma pista para velocípedes: Telheiras - Campo Grande – Entrecampos.
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Agora é sempre a andar bem (apenas parando nos semáforos da Alameda da Universidade)
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Pedalando em boa velocidade até Entrecampos
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A pista acabou e é com perícia que tomo a Avenida 5 de Outubro, utilizando o passeio como solução de recurso para evitar acidentes com automóveis!
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Viro para zona dos hotéis da Avenida 5 de Outubro com o objectivo de chegar à Avenida de Berna.
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Eis a Avenida de Berna com a sua igreja!
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Ao lado da Fundação Calouste Gulbenkian
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Continuo a contornar a Fundação em direcção à catedral de consumo do El corte inglês, passando pela Avenida António Augusto de Aguiar e depois pela Rua Dr. Nicolau Bettencourt.
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Aqui houve um problema: devido às obras o local está intransitável! Foi má opção ter vindo por aqui!
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Ultrapassadas as dificuldades cá vou eu subindo para o topo do Parque Eduardo VII via Rua Marquês de Fronteira. Subida difícil. Muito trânsito no sentido descendente.
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Chegado ao topo inicio a descida pela Rua Castilho na zona de influência do Parque Eduardo VII. É preciso ir travando para controlar a velocidade.
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Cruzamento com a Rua Joaquim António de Aguiar. Esperar pela abertura dos sinais. Como esta cidade ficou completamente desfigurada com a construção deste maldito túnel! Muitas árvores desapareceram e a zona está mais parecida com uma auto-estrada permanentemente engarrafada! O império do automóvel esmagou o peão!
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Chego finalmente ao Largo do Rato!
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Agora tomo a Rua da Escola Politécnica. A rua é estreita o que requer muita perícia e controlo.
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Finalmente cheguei ao Museu de História Natural da Universidade de Lisboa, depois de uma viagem de aproximadamente 70 minutos!
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Algumas reflexões finais:

Tudo seria mais simples se em Lisboa existissem pistas para velocípedes ligadas entre si, respeitando o relevo natural da cidade.

Apesar de ser uma cidade com colinas é possível andar de bicicleta e vencer os declives ao escolher os melhores trajectos. Por essa razão já existem estudos de implementação de uma rede para bicicletas (http://www.isa.utl.pt/ceap/ciclovias/new_page_15411111.htm).

As condições de circulação nesta cidade são muito más. O automóvel domina em todas as ruas e cruzamentos, está atravessado em todo lado, estaciona nos passeios e ameaça qualquer espaço pedonal livre daqueles incómodos pilares “evita estacionamento”. Nas horas de ponta as ruas desta cidade mais parecem artérias entupidas de colesterol!

Por que razão temos que viver o nosso dia a dia encafuados em caixas metálicas com rodas, queimando restos orgânicos de seres vivos que foram nossos antepassados há muitos milhões de anos?

Não será possível inverter esta tendência de aumento da supremacia do automóvel na cidade? Não será possível parar com a transformação das praças e largos em auto-estradas (exemplos do Largo do Rato e da Praça Duque de Saldanha)? Será possível acabar de vez com o abate de árvores para o alargamento das faixas de asfalto (exemplo do Marquês de Pombal)? Que alternativas existem para devolver a cidade à população que nela habita, trabalha ou simplesmente passeia? Por quanto tempo mais vamos ter que esperar para que as pessoas com mobilidade reduzida possam usufruir de passeios e passagens de peões seguras e eficientes? Por quanto tempo mais vamos ter que viver sem a existência de uma rede de eléctricos de superfície que complemente a ineficaz e cara “rede” de metropolitano?

Se calhar só a força da natureza através dos efeitos nefastos do “pico do petróleo”(http://www.lifeaftertheoilcrash.net/ http://www.peakoil.ie/downloads/newsletters/newsletter63_200603.pdf ) e das alterações climáticas ( http://www.exploratorium.edu/climate/index.html ) poderá pôr travão a este desenvolvimento totalmente insustentável.

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