domingo, 27 de novembro de 2005

Bicicletas


Amsterdão, 2000

Tentando justificar um pouco as motivações que levam um conjunto de moradores da Alta de Lisboa a organizarem encontros ou a promoverem a realização de passeios de bicicleta mensalmente no seu bairro, e que começou aqui, apresentam-se algumas considerações sobre este assunto.


A Bicicleta nas cidades



Embora se esteja a verificar uma procura cada vez maior da bicicleta para fins utilitários, como meio de transporte ou forma de mobilidade para o dia-a-dia, por quem pretende rapidez, em trajectos relativamente curtos ou em conjunto com os transportes colectivos, e uma utilização sustentável tendo por base preocupações com o ambiente e a saúde, estou convencida do potencial de utilizadores que ainda não a utiliza por falta de algumas condições facilitadoras.

A procura da bicicleta está já quase "massificada" nas áreas do lazer, manutenção física ou desporto, quer em passeios de grupo em estrada ou de BTT quer individualmente. No entanto, considero que estas vertentes da bicicleta ficariam também a ganhar com a criação de condições que favorecessem o uso para as deslocações diárias.

Assim, podem identificar-se algumas razões que têm atrasado a utilização da bicicleta para a mobilidade em Portugal, em cidades de média ou grande dimensão:

- Percepção do risco de acidentes e sensação de insegurança rodoviária, que na maioria das vezes existe de facto, devido principalmente à velocidade excessiva de circulação dos veículos motorizados, mesmo em bairros residenciais (onde a velocidade limite poderia ser de 30km/h);

- Um Código da Estrada que não é favorável (apesar de algumas alterações recentes introduzidas por proposta da FPCUB como a prioridade de circulação nas rotundas) e a falta de fiscalização do cumprimento das regras, nomeadamente de estacionamento;

- Ocupação indevida do espaço público (passeios, praças e espaços canal pedonalizados) por automóveis estacionados, espaço esse que poderia ser partilhado por peões, velocípedes sem motor e pessoas de mobilidade reduzida em cadeiras de rodas, por exemplo;

- Atraso na criação de ciclovias ou pistas cicláveis (estas últimas segregam o tráfego ciclista do motorizado e são aconselháveis em vias rodoviárias com veículos a circular a “alta” velocidade), falta de infra-estruturas para parqueamento (junto a estabelecimentos de ensino, comércio ou serviços e interfaces de transportes colectivos), inexistência de bicicletas de uso público (gratuitas ou não) ou sistemas de "park and ride".

Há tendência para exemplificar a pouca utilização da bicicleta nas deslocações pendulares em cidades como Lisboa, apesar de diariamente serem cada vez mais os utentes, como referi. Mas temos no nosso país bons exemplos da utilização da bicicleta dos quais Aveiro não é o único. É necessário desmitificar que pelo facto de Lisboa ser uma cidade com declives acentuados não é possível o uso da bicicleta ou ele não está mais generalizado, pois por um lado muitas zonas da cidade são planas (avenidas novas, por exemplo) e por outro muitas pessoas estariam dispostas a circular mesmo em terrenos de maior declive desde que existissem determinadas condições, já que uma utilização continuada da bicicleta gera uma performance a que qualquer pessoa sem limitações físicas ou problemas de saúde especiais pode aceder (as actuais bicicletas são cada vez mais leves e têm mudanças que podem ser desmultiplicadas facilitando a sua utilização). Seria possível utilizar a bicicleta em zonas mais planas e em integração com os transportes colectivos noutras de maior declive (a FPCUB já propôs à Carris, por exemplo, a colocação de suportes para bicicletas em algumas carreiras, como por exemplo nas que têm como destino Monsanto, e existem outras soluções como calhas do tipo das dos eléctricos, onde a pessoa pode colocar a roda da bicicleta e ser accionado um mecanismo que a transporte até ao topo – são apenas alguns exemplos de soluções adoptadas em outros países). Ainda o facto de muitas das vias dedicadas existentes não terem continuidade, como é exemplar o caso da ligação Telheiras – Campo Grande – Entrecampos, leva a que não sejam utilizadas por maior número de pessoas.

Seria necessário, portanto, para se promover o uso da bicicleta e gerarem-se mais valias – melhorias no ambiente e na saúde, diminuição dos gastos de energia e contributo local para a inversão da tendência das alterações climáticas, criação de emprego e de negócios favorecedores da economia, entre outras – criarem-se infra-estruturas e devolver-se o espaço público ao cidadão, permitindo-se uma deslocação segura, rápida e confortável.

Num país com um clima como o nosso, ultrapassadas algumas barreiras sócio-culturais que ainda persistem e que têm por base o entendimento errado que a utilização do automóvel privado é um sinal (ainda que falso) de um bom estatuto económico; vencido o fortíssimo lobby do automóvel e dos combustíveis, aceite pelo próprio Estado que vem beneficiando das receitas que daí advêm sem no entanto internalizar os custos a longo prazo (quer ambientais quer sobre saúde pública) do impacte das medidas que tem implementado a favor da sua utilização, não se investindo mais em meios de transporte colectivos (quer públicos quer privados) fornecendo aos utentes soluções com rapidez, segurança, frequência, conforto articuladas com outros modos sustentáveis como o andar a pé ou de bicicleta; todos beneficiariam com a implementação de medidas políticas que ao nível das administrações públicas (central ou locais) e dos privados, e de forma eficaz, influenciassem positivamente o uso da bicicleta e respeitassem o direito de cidadania daqueles que a pretendem escolher, independentemente das motivações. Também por um “Portugal ciclável”, mais justo e equilibrado.


A Bicicleta e a Saúde

Muitos estudos têm demonstrado que a saúde é o factor chave que leva as pessoas a escolherem utilizar a bicicleta, quer para o lazer quer como forma de mobilidade diária. A utilização da bicicleta tem um elevado potencial para melhorar a saúde pública.

Um estudo do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade de Oxford (Institute of Health Sciences at Oxford University) relatou a importância da actividade física e do desporto para a saúde pública. Uma actividade física regular ajuda a prevenir as doenças coronárias (coração), embolias, diabetes, tensão arterial elevada, cancro e obesidade e tem uma influência positiva na saúde mental e no bem estar, nas funções cognitivas, ossos e músculos.

Diversos projectos de investigação produziram evidências de conexão entre a mortalidade e a actividade física: mais de 36% de todas as mortes por doenças coronárias em Inglaterra estão relacionadas com um estilo de vida sedentário. O referido estudo mostrou que o número de mortes por doenças coronárias relacionadas com a falta de actividade física é dez vezes mais que o número de mortes em acidentes rodoviários. As pessoas que para além do lazer ainda utilizam a bicicleta para se deslocarem para o trabalho têm 28% menos risco de mortalidade e vivem pelo menos mais um ou dois anos em média que os outros (figura 1).



Figura 1 – Comparação entre o número de mortes de utilizadores de bicicleta e atribuídas à inactividade (Fonte ECF, 2003)

Um outro estudo sobre o impacte de diversas medidas políticas no sector dos transportes mostra que a promoção da utilização da bicicleta é uma medida altamente eficiente. Se se considerar o impacte da melhoria da qualidade dos combustíveis, da eficiência dos veículos motorizados, da redução das necessidades de mobilidade, e se se investir mais na promoção de infra-estruturas de transporte público, para andar a pé e para utilizar a bicicleta, tudo isto para compensar os acidentes rodoviários, as emissões de gases poluentes da atmosfera e de ruído, a obesidade e as alterações climáticas, somente as medidas para induzir alterações modais têm um impacte positivo em todas as frentes (figura 2).



Figura 2 – Impacte na saúde de diferentes intervenções ao nível da política de transportes (Fonte: ECF, 2003)

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Ainda Campo de Ourique


(Jardim da Parada, 1979, fotografia de Cecília Ferreira Alves)

Continuando a conversa sobre bairros novos e bairros velhos, urbanismo de geração espontânea, ou planeado de raiz, o artigo do Miguel Sousa Tavares sobre Campo de Ourique suscitou uma análise interessante do Pedro, a ver aqui.

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sábado, 26 de novembro de 2005

Um Olhar sobre o projecto "Alta de Lisboa"

Passado

Presente

Futuro (?)Imagem retirada do site: www.altadelisboa.com/

Tenho esperança de que vamos ver a "A Alta em Alta"...

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Encontro de bicicletas - ponto de encontro



Para quem quer saber qual é a Rua Adriana Vecchi, onde está marcado o ponto de encontro do passeio de bicicletas, aqui fica o mapa com a localização assinalada a vermelho. Vê-se à direita o Condomínio da Torre, à esquerda a Quinta das Conchas e o grande triângulo que é a malha 5. Ao centro existe a Colina de S. João de Brito. A Rua Adriana Vecchi é uma rua sem trânsito automóvel que tem um parque infantil.



Visto mais de longe, aqui ficam os caminhos desde a 2ª circular, à esquerda, desde a Alameda das Linhas de Torres em cima, e da estação de Metro da Quinta das Conchas ao centro.

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sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Bancos com encosto



O projecto do Alto do Lumiar tem como uma das grandes virtudes a preocupação em dotar a zona de inúmeros espaços verdes. Encontramo-los entre dos blocos de apartamentos, na arborização das ruas, e em grandes parque como a Quintas das Conchas e dos Lilazes, em fase de reabilitação, e no Parque do Vale Grande, ex-Parque Oeste, construído de raiz.

Curiosamente, neste dois grandes espaços verdes não existem bancos como este que aqui vemos na fotografia, tirada no recém-estreado espaço verde entre o Condomínio do Parque e Jardins de S. Bartolomeu. Os arquitectos paisagistas a quem foi encomendado o planeamento dos jardins preferiram optar por bancos de pedra, sem encosto, e mesmo assim em número limitado para a quantidade de utentes dos parques.

Ora um jardim é um elemento essencial para a vivência dos bairros, para a melhoria da qualidade de vida, e a sua utilização quer-se activa e não passiva. Não basta observarmos os jardins de fora, para os viver é importante passear-se lá dentro, ver as árvores, ouvir os pássaros, cheirar as flores. Haver bancos com encosto permite um usufruto ainda mais completo do jardim, podendo ser passada uma manhã de Domingo a ler o jornal, a ver os filhos ou os netos brincar, ou simplesmente a apanhar Sol. Jardins como o Príncipe Real ou o Jardim da Estrela têm uma utilização maciça de todas as faixas etárias, servido assim toda a população, precisamente porque estão dotados de equipamento urbano para toda a gente: parques infantis para as crianças, extensões de relva para quem quiser sentar ou deitar-se no chão, mesas com bancos para os velhotes jogarem às cartas, e bancos com encosto para quem gostar de fruir calma e descontraidamente o tempo que dispõe.

É por isso que seria interessante ver até que ponto os futuros utilizadores destes espaços gostariam de ver mais bancos com encosto nos jardins. Porque acredito que se o interesse das populações for esse não existem razões para que não se proponha essa pequena alteração nos projectos paisagísticos.

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terça-feira, 22 de novembro de 2005

Passeio de Bicicleta No Próximo Domingo

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Para devolver a cidade às pessoas...


...é necessário parar com esta insanidade de termos verdadeiras auto-estradas em zonas urbanas, onde deveriam existir ruas com pouco tráfego. É necessário devolver os passeios às ruas, promover a circulação pedestre. Humanizar a cidade, torná-la mais saudável, menos barulhenta e agressiva.

Os moradores do Bairro Azul estão dispostos a lutar por isto, alterando o que existe actualmente na R. Ramalho Ortigão, através deste abaixo-assinado.


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segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Inundação

A chuvada que caiu durante a noite de Sábado fez estragos num edifício do Parque São João de Brito. Segundo a policia que estava no local a garagem ficou bastante inundada, os bombeiros mantiveram-se no local até ao fim da tarde de ontem. Há 2 anos este edifício teve exactamente o mesmo problema, segundo me lembro ouve vários carros que ficaram completamente debaixo de água, na altura chegou mesmo a ser noticiado em jornais e na televisão.

Não entendo como é possível que um situação tão grave como esta possa voltar a acontecer, será falta de manutenção? um erro estrutural? quem paga os danos dos veículos que ficaram submersos?

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Jaime Lerner, o homem que ama as cidades

A 15 de Setembro de 2003, Jaime Lerner concedeu uma entrevista no Pessoal e... Transmissível, da TSF. Falou sobre cidades, sobre conhecer cidades andando a pé, conhecendo as pessoas, os seus hábitos. Falou sobre os problemas da coabitação das diferentes classes sociais, os perigos dos guetos, os bairros pobres e os condomínios fechados, as redes de transportes públicos, as soluções para uma cidade propiciar qualidade de vida ao seus habitantes. A ouvir, em três partes:

Primeira parte

Segunda parte

Terceira parte


Obrigado, Joana! :-)

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domingo, 20 de novembro de 2005

Mais uma zona verde aberta ao público



O jardim situado entre os Jardins de S. Bartolomeu e o Condomínio do Parque já está aberto público. Fiquei muito contente ao ver que ao contrário do Parque Oeste, o "conceito" deste jardim inclui bancos para as pessoas se sentarem e poderem descansar, ler um jornal ou apenas apanhar Sol. Futuramente será também aberta ao público a zona Sul dos Jardins de S. Bartolomeu, à direita ao fundo na fotografia.

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sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Mais vale ser "beur" em Paris que negro em Nova Orleães

Mais vale ser "beur" em Paris que negro em Nova Orleães

THE NEW YORK TIMES (excertos), via Courrier internacional
Nova Iorque


Há dois meses, os franceses olhavam com um fascínio horrorizado o caos de Nova Orleães e viam os membros mais desfavorecidos da sociedade americana a pilhar lojas e a desafiar a polícia após o furacão Katrina. Hoje, enquanto os arruaceiros queimam automóveis e saqueiam lojas nos subúrbios franceses, com uma elevada densidade de população imigrada, as imagens de jovens enfurecidos e de automóveis em chamas vêm infelizmente recordar à França que também ela tem os seus desfavorecidos e o número está a aumentar.

A coincidência dos dois acontecimentos é, sob certos aspectos, reveladora, mas também enganadora. O fosso que existe nos EUA entre os brancos e as minorias, nomeadamente os afro-americanos, é produto de vários séculos de escravatura e de ciclos de pobreza e exclusão racial, que privaram gerações sucessivas daquilo que os EUA tinham de melhor para lhes oferecer. A França também começa a lutar com uma variante do mesmo problema: a fúria dos muçulmanos de origem norte-africana que, há três gerações, estão presos na armadilha da discriminação étnica e religiosa. Mas a França ainda está longe de ter uma classe desfavorecida estrutural — uma classe passível de gerar o extremismo e problemas sociais duradouros.

Milhares de veículos foram incendiados e dezenas de lojas devastadas, em actos de violência, que se estenderam a muitas cidades francesas. Porém, neste momento, a maioria dos arruaceiros parece ter mais interesse em ser protagonista da comunicação social do que em transmitir uma mensagem política coerente.

Por outro lado, estes actos de violência reflectem algo que qualquer americano, que tenha conhecido os levantamentos urbanos dos anos 6o ou os motins de Los Angeles em 1992, reconhecerá: uma parte crescente da população, em particular os jovens, sente-se perigosamente isolada.

Embora muitos americanos pensem que o seu país ainda tem muito a fazer para colmatar o fosso entre os negros e os brancos, os movimentos sociais e os levantamentos dos anos 6o produziram um fluxo de medidas destinadas a melhorar rapidamente as perspectivas políticas e económicas dos membros dos grupos minoritários e a sublinhar a importância da diversidade para a democracia. Por sua vez, o modelo francês tem multiplicado até agora as medidas dispendiosas para alimentar, alojar e educar os muçulmanos pobres, mas ainda não atacou verdadeiramente o problema do isolamento social e político desta minoria, limitando a sua capacidade para se definir a ela própria como um grupo de interesse político. A discriminação positiva, a pedra angular do método americano, é tabu em França. No entanto, como as dificuldades da França são relativamente recentes, talvez tenha uma possibilidade de escapar à gravidade dos problemas dos EUA.

As diferenças

Em primeiro lugar, as condições de vida nos subúrbios franceses não têm nada em comum com as das zonas urbanas pobres dos Estados Unidos. Mesmo nos piores bairros sociais franceses, existem relvados verdes e canteiros de flores, que quebram a monotonia cinzenta do betão. O país tem mais de 700 destes bairros, que agrupam cerca de cinco milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente oito por cento da população. O desespero que aí reina é equilibrado por um ensino de bem melhor qualidade do que aquele a que têm direito os bairros pobres habitados pelas minorias americanas, assim como por vastos programas de ajuda social. Mesmo que tenha trabalho, uma família de quatro pessoas que vive em França num apartamento subsidiado pelo Estado, paga, em geral, apenas algumas centenas de dólares de renda por mês e pode receber mais de mil dólares mensais de ajudas diversas. Os desempregados recebem mais apoios, e os cuidados de saúde, assim como a escola, são gratuitos para todos.

A delinquência existe, mas não atingiu o nível de violência gratuita tão temido nos bairros pobres das cidades americanas. As armas de fogo são proibidas e ainda relativamente raras. Quando um adolescente foi abatido, num subúrbio parisiense, por indivíduos armados, no ano passado, o acontecimento fez a primeira página de to dos os jornais do país. A família continua a ser um valor forte nos imigrados, tal como os laços com o país de origem. Mas este tecido social está a desfiar-se, enquanto a segunda e, hoje, a terceira geração de imigrantes nasci dos em França atingem a maioridade.

Muitos jovens originários da imigração interrogam-se sobre o seu verdadeiro lugar a dois níveis. Mantêm com o país dos seus antepassados laços mais fracos do que os pais, mas apercebem-se de que, contrariamente ao que lhes ensinaram na escola não são completamente franceses. E um dos elementos que faz com que certos especialistas temam a emergência em França de uma classe desfavorecida estrutural. Os franceses-árabes e os franceses-africanos já representam a maioria dos detidos nas prisões, tal como as pessoas oriundas das minorias constituem uma parte desproporcionada da população prisional nos Estados Unidos. A concepção francesa de cidadania levanta igualmente problemas. Enquanto os EUA insistem no pluralismo, a França continua a desencorajar tudo o que possa dividir o corpo político francês, segundo linhas étnicas: para todos os franceses, o «communautarisme*» [COMUNITARISMO] sinónimo de guetização, é uma força destrutiva, que aflige, todos sabemos, os Estados Unidos.

Craig S. Smith
* Em francês no texto

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ainda Chelas...


Andava à cata de fotografias de Chelas no google e fui dar a'o céu sobre Lisboa. Este post vale a pena ler, tal como este, este, e ainda este, sobre o Metro de Chelas

(fotografia tirada d'o Céu sobre Lisboa)

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in DN, Domingo, 13 de Novembro de 2005

O mal bem conhecido das soluções rápidas
O urbanismo pode ser causa deste tipo de confrontos?
Paula Lobo

Os erros foram identificados há mais de duas décadas, mas a pressão das soluções rápidas e do lucro fácil tem levado a melhor sobre opinião de urbanistas e arquitectos. “Se o urbanismo pode ser uma causa para os confrontos? Com certeza! A concentração do realojamentos de famílias pobres em bairros isolados do resto do tecido urbano é um disparate”, responde Nuno Teotónio Pereira.

Segundo o arquitecto, uma das vozes mais activas pela defesa da qualidade de vida nas cidades, “desde cedo se viu que não ia dar grande resultado aquela construção a que os franceses chamaram, pomposamente, grand ensemble, o grande conjunto, de que muitos portugueses que viviam em bairros de lata beneficiaram nos anos 60 e 70”. O mal, acrescenta, é que em Portugal se fez mesmo e de pior forma. Pensando-se primeiro no alojamento, e só depois nos espaços públicos e arranjos exteriores, e num conjunto de equipamentos fundamentais para a boa integração das famílias, como creches, escolas ou centros de saúde.

António Fonseca Ferreira, engenheiro com vários estudos publicados sobre urbanismo e presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região de Lisboa e Vale do Tejo (CCDRLVT), é da mesma opinião e aponta o dedo aos realojamentos massificados tios anos 90, em “zonas urbanísticas desenvolvidas sem condições habitacionais, por défice ou falta de qualidade”.

Na região de Lisboa, recorda, “muito desse crescimento fez-se sem os planos directores municipais, que datam de meados de 90, e sem o Plano Regional de Ordenamento do Território, só aprovado em 2002”. Os “atropelos”, reconhece, têm sido muitos. No entanto, está “convencido” de que, “estruturalmente, as coisas vão mudando para melhor”. De forma nem sempre perceptível, porque em urbanismo “os fenómenos são muito pesados”. É preciso tempo.

Para Nuno Teotónio Pereira, “as famílias pobres e muitas vezes excluídas” não deveriam ser aglomeradas em blocos de grande altura, mas inseridas na malha urbana. Em Lisboa, conta as boas excepções pelos dedos: Graça, Olaias e zona do Areeiro. E no Porto, os bairros camarários “até estão metidos dentro da cidade mas sempre muito concentrados, isolados, uma espécie de ilhas”.

A mistura de classes, idades e culturas “é um dos factores mais importantes”, lembra o arquitecto, que pela mesma razão classifica de “tumores” os condomínios fechados, “guetos dos ricos, que deve riam ser pura e simplesmente proibidos dentro das cidades”. Teotónio Pereira, que condena igual mente o licenciamento sem restrições dos grandes centros comerciais, diz que o futuro terá de passar pela reabilitação urbana do edificado. Penalizando em termos fiscais quem tiver casas devolutas, para estimular o mercado e fazer descer os preços do arrendamento. Criando estacionamento preferencial para residentes. E melhorando os espaços públicos.

Se a “metropolização” clássica — a chamada expansão em mancha de óleo — foi também um erro que contribui para a degradação da vida nos subúrbios, assiste-se agora à “metapólis”, o desenvolvimento de novos pólos urbanos regionais. Um fenómeno que o presidente da CCDRLVT não vê como negativo, desde que “se ocupe o território sem degradação urbanística ou ambiental”. A dificuldade, admite, é o controlo: “Não há, infelizmente, uma sensibilidade generalizada dos cidadãos e dos agentes envolvidos, há tendência para o lucro imediato.” E na raiz do problema, conclui, está o peso das taxas fundiárias e imobiliárias nos cofres das autarquias.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Os dispensáveis.

A ler, aqui.

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quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Entrada Sul no Alto do Lumiar, às 18h



Este é um filme que os moradores do Alto do Lumiar bem conhecem. Passa duas vezes por dia, uma de manhã e outra ao anoitecer e promete ser um sucesso de audiências, um verdadeiro blockbuster, até a que Av. Santos e Castro fique finalmente concluída.

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segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Viver o bairro

Se há coisa que me assusta no Alto do Lumiar, concretamente na zona nova, a dita Alta de Lisboa, é a falta de cristalização social, humana e urbana que podemos ver nos bairros antigos. Nestes, toda a rede de vizinhança, comércio, serviços e transportes está já sedimentada. Na Alta de Lisboa é urgente tratar de acessos, habitar rapidamente as novas urbanizações, incentivar o comércio, estabelecer condignamente a rede de transportes públicos, dotar o bairro dos serviços necessários à população. Só assim a Alta de Lisboa deixará de ser uma cidade-dormitório para se tornar numa cidade dentro de Lisboa, para que as pessoas se sintam a viver o seu bairro e não apenas a morar.

Na edição do PÚBLICO de 6ª feira o artigo do Miguel Sousa Tavares é dedicado ao seu bairro, Campo de Ourique. E deixo-o aqui, sem link, porque o site do PÚBLICO é só para assinantes. É interessante ver a diferença entre Campo de Ourique descrita e o que existe hoje na Alta de Lisboa.





Viva Campo de Ourique!
Miguel Sousa Tavares

Tarde na manhã de sábado vou ao mercado de Campo de Ourique, um quadrado ocupando todo um quarteirão e com entradas por cada um dos lados dos pontos cardeais. Cheira a fruta e a legumes, ainda orvalhados da terra, cheira a cebolas, a coentros, a maçãs e a laranjas: nenhum supermercado cheira assim. Uma peça de fruta nunca é igual à outra, há que escolhê-las uma a uma, porque algumas têm bicho e outras não, algumas estão maduras de mais e outras ainda verdes. Saboreio este prazer de escolher peça a peça a fruta e os legumes, as saladas e os temperos, sem ter de levar, e sem poder escolher, embalagens já prontas de fruta asséptica e normalizada, legumes de sabor sempre igual trazidos de Espanha em camiões TIR pelas auto-estradas que construímos para lhes facilitar a vida. Aqui, até há pêras de Alcobaça, grandes e castanhas, em que se tem de pegar delicadamente para que o seu sumo não escorra pelas mãos, há tangerinas e laranjas que não vêm de Israel já com o selo colado na casca, mas dos pomares que ainda restam à volta de Lisboa, há uvas tardias, mas moscatel ou D. Maria genuínas, e não aquelas uvas monstruosas e que não sabem rigorosamente a nada, que vêm da África do Sul e que encontramos inevitavelmente, como sinal de boas-vindas, nos quartos de hotel em qualquer paragem do mundo. E há frutos secos a granel e a peso: figos, passas, castanhas, ameixas, amendoins, pinhões, nozes. E azeitonas verdadeiras e tremoços, meu Deus! Depois vou até às bancas de mármore das peixeiras, onde o peixe vindo de madrugada de Sesimbra ou de Peniche brilha com uma humidade prateada, misturada com uma quase imperceptível camada de gordura ainda à flor da pele, sinal iniludível da frescura do dia. O sol da manhã de Outono entra disfarçado pelas janelas altas do mercado e reflecte-se nos olhos dos peixes, que repousam nas bancas como se ainda estivessem vivos. E eis o peixe mais fantástico do mundo, esse verdadeiro luxo que ainda nos resta: pregados, linguados, imperadores, salmonetes, besugos, carapau francês, peixe-galo, garoupa, cherne, lulas e choquinhos com tinta: tenho pena do resto do mundo dito civilizado, onde nem sequer se conhecem os peixes pelo nome!

Um bairro para viver tem de começar assim: com um mercado que é uma festa para os sentidos, um regresso aos sabores e aos cheiros que nos educaram. Campo de Ourique começa assim e continua depois, com tudo aquilo que faz deste bairro quase um milagre de espaço urbano perfeito: ruas largas, onde se passeiam casais, carrinhos de crianças e empregados no intervalo do almoço; comércio tradicional e personalizado, com algumas lojas ainda conhecidas pelo nome dos donos - a florista, o cabeleireiro, a loja de comida feita, o electricista, o oculista, a loja de ferragens, a papelaria-tabacaria, a casa das fechaduras, a loja de surf; e os cafés, com esplanadas conquistadas ao passeio e ao Millenium-BCP, com os seus quiosques de jornais cujos donos nos conhecem já tão bem que os dias nem sequer começariam sem o bom-dia deles. Campo de Ourique tem tudo isso, mais o jardim central, os seus pequenos restaurantes de culto, os seus excêntricos ou loucos já familiares a todos. Outras coisas felizmente não tem e muito do prazer de andar nestas ruas deve-se a essas ausências: prédios em altura e de fachadas preconceituosas, porteiros e seguranças de prédios, polícias de trânsito a tentar tornar a vida impossível. Aqui funciona como que uma auto-regulação da via pública, com um sentido natural de comunidade, em que ninguém se mete com os outros e toda a autoridade se torna dispicienda graças ao respeito mútuo pela liberdade de cada um. O melhor exemplo deste espírito de liberdade e tolerância mútua que aqui presenciei é um exemplo muito politicamente incorrecto, ocorrido manhã cedo, no café onde sempre tomo o pequeno-almoço. Uma senhora, cliente habitual, pediu um café e acendeu um cigarro. Nessa altura, um sujeito que eu nunca ali tinha visto e nunca voltei a ver, empertigou-se todo e, rico de novos conhecimentos adquiridos, interpelou-a: "Minha senhora, o cheiro do seu cigarro está-me a incomodar!" E ela, sem sequer se voltar, soltou de lado, mas alto e bom som: "Olhe, também o seu cheiro me está a incomodar, mas eu não lhe ia dizer nada." E o intruso saiu, de rabo entre as pernas e perante os sorrisos cúmplices dos habituées (oh, eu sei, um bando de selvagens!).

Pensando na explosão de ódio e de revolta que agora se vive à roda das cidades francesas, naquelas comunidades inteiras de populações imigrantes que não se sentem ligadas cultural e afectivamente aos locais onde vivem, que vêem o bairro como uma prisão e a rua como um terreno de confronto, dou-me conta até que ponto Campo de Ourique (não sei se por gestação espontânea, se porque alguém planeou e previu bem as coisas) é um bairro modelar, em termos de integração social interclassista e intergeracional, de justo equilíbrio entre comércio, serviços e habitação, entre espaços públicos e privados. E, afinal, este tão raro exemplo de harmonia e qualidade de vida urbana não precisa de nenhuma grande construção de referência, nenhuma urbanização de encher o olho, nenhum centro comercial (antes pelo contrário, o segredo é não o ter), nenhuma piscina municipal nem pavilhão gimnodesportivo, nenhuma rotunda com canteiros e estátuas pseudomodernas, enfim, nada que encha o olho e que mostre dinheiros públicos ou fortunas privadas. Apenas bom senso, sentido de equilíbrio e proporção humana. Depois, as pessoas fazem o resto: andam na rua sem pressa nem atropelos, param para conversar à porta das lojas, saúdam-se nas esquinas, passeiam as crianças, os velhos ou os cães, namoram ou lêem o jornal nas esplanadas, almoçam a horas certas na sua mesa de sempre dos seus pequenos restaurantes, numa palavra, vivem a cidade, não se limitam a sofrê-la ou a passar por ela. Certamente que aqui também há gente triste, sozinha, com vidas terríveis. Mas, pelo menos, a rua não os agride: conforta-os, distrai-os e, acima de tudo, dá-lhes um sentido de pertença a uma comunidade - que hoje é coisa tão rara e tão preciosa numa cidade, como o são o peixe, a fruta e os legumes do mercado de Campo de Ourique.

Sei que este texto pode parecer um bocado absurdo, no meio desta eterna agitação em que vivemos. Mas trata-se de uma dívida de gratidão para com o "meu" bairro, que eu precisava de saldar um dia. E também, já agora e aproveitando a oportunidade, trata-se igualmente de um apelo que faço a quem manda e a quem pode: por favor, não estraguem Campo de Ourique! Não é preciso muito: basta não fazerem nada.

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Entrem nos Carris!




Passei por aqui e lembrei-me disto, mais de cinco meses depois da primeira vez que perguntámos à Carris e CML para quando os abrigos das paragens.

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quinta-feira, 10 de novembro de 2005

O outro lado da moeda

"Para África se dirigir para um futuro radioso, o investimento estrangeiro continuará a ser necessário, pelo menos durante algum tempo. O custo de uma ajuda perpétua ou de uma intervenção militar em África é milhares de vezes mais elevado do que a verba indispensável para solucionar problemas de saúde e apoiar o desenvolvimento local. Não apenas os africanos, mas todos nós, seremos mais saudáveis e estaremos mais seguros, se as nações africanas ocuparem crescentemente os seus lugares como membros pacíficos e prósperos da comunidade mundial."

Jared Diamond, O Pulso de África, in National Geographic, Setembro de 2005


O outro lado da moeda, contrastes no mesmo planeta, a ver, aqui.

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segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Motins em França



Dois textos a ler, no Canhoto e n'a barriga de um arquitecto.

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