terça-feira, 6 de novembro de 2007

O meu mundo a preto e branco

O nosso mundo seria tão mais tranquilo se pudessemos obrigar os nossos semelhantes a usar na testa os cartões com que os pré-julgamos.


Um post-it verde para todos os muçulmanos - todos eles obviamente apostados em aniquilar a civilização ocidental. Um post-it amarelo para todos os comerciantes de fancaria oriental - todos eles obviamente apostados em levar à falência honestos comerciantes e europeus países. Um post-it vermelho para todos os habitantes dos blocos de realojamento social - todos eles perigosos atiradores de pedras e perseguidores de crianças, mandriões que só vivem dos nossos impostos, gamadores de carteiras, facínoras, escrevinhadores de paredes, destruidores de placas de parede manhosas de condomínios privados.

Uma flor-de-lis tatuada no ombro de todos os condenados pela justiça portuguesa.

Uma estrela bordada no casaco de cada membro de uma religião diversa da maioritária (incluindo agnósticos e ateus os quais, como toda a gente sabe, são os mais perigosos de todos).

Um triângulo côr-de-rosa invertido tatuado na bochecha de cada homossexual.

O cabelo rapado com uma navalha romba em todas as mulheres adúlteras.

Um chip sob a pele de todos os habitantes de bairros problemáticos para a polícia os facilmente poder identificar depois de cada desacato surgido no final de convívios em centros sociais.

Como seria bom esse mundo seguro onde poderíamos chamar a polícia sempre que um desses post-its se aproximasse perigosamente do nosso território, onde poderíamos materializar seguramente no post-it mais próximo o papão com que assustamos as nossas crianças prodígio sempre que elas se recusam a comer a sopa, onde estaríamos sempre certos na nossa opinião.

Como seria bom não termos de enfrentar os nossos medos, confrontar as nossas opiniões com a realidade ou reconhecer que nos enganamos muitas vezes, a maior parte das vezes, nas nossas apressadas e generalizadas apreciações do outro.

Agora apareceram um senhores que, não sei se por idiotice se por inteligente marketing promocional, decidiram promover um negócio de autocolantes coloridos de acordo com o cadastro de cada automobilista e com colocação obrigatória em cada viatura. Não sei se me choca mais a proposta se a apatia com que os jornalistas de todos os media a transmitiram.

Provavelmente o que me choca mais é a percepção de que, desde que não seja no seu carro, a maior parte dos meus compatriotas até está de acordo com a sua aplicação. Não é assim tão diferente apontar o dedo ao senhor do carro do autocolante vermelho de apontar o dedo ao vizinho que é diferente de mim.

16 comentários:

Unknown disse...

Que coisa horrível! Não sabia de nada... Sou mesmo cabeça no ar. Mas quando ponho os pés na terra só de caras com novidades destas. A ignorância é mesmo uma benção.

Anónimo disse...

Fiquei chocada mal ouvi a notícia, sexta-feira passada... para que é que existem multas, apreensões de carta? A primeira comparação que fiz foi que, já agora, porque não
"etiquetar" ex-presidiários que terão cumprido a sua pena pelo crime que cometeram, e assim avisar os cidadãos de onde vieram eles? Não terão todos a opinião de que isto é ridículo?!
E, de facto, ainda não ouvi ninguém contestar isso.

Anónimo disse...

Julgo que essa medida morreu à nascença e não foi aceite. No entanto, falar dessa hipótese já é muito mau. Penso que nem sequer se devia ter considerado a ideia.

Anónimo disse...

Pois, mas ninguém contesta a base de dados do adn de imigrantes, feita para mandar para os eua... (são cidadãos de segunda e o terrorismo é um grande papão)

Sobreda disse...

Apenas um pequeno esclarecimento para a leitora anónima das 9h50 de hoje, que afirma “ainda não ouvi ninguém contestar isto” referindo-se aos ‘autocolantes coloridos de acordo com o cadastro de cada automobilista e com colocação obrigatória em cada viatura’.

Por acaso a sugestão já tinha sido ‘contestada’ noutros dois blogues, há um par de dias atrás.

Ver http://cdulumiar.blogs.sapo.pt/152605.html e também http://osverdesemlisboa.blogspot.com/2007/11/abram-alas-pr-noddy-mais-os-teletubbies.html e respectivos links de rodapé.

Cumprimentos.

Pedro Veiga disse...

São sinais dos tempos que estamos a viver. É mais fácil acusar e rotular do que prevenir as situações.

Anónimo disse...

nao acho nada ma ideia.
outra ideia e criar uma base de dados com o nome e onde moram pedofilos condenados

Anónimo disse...

a mesma anonima anterior
refiro-me obviamento ao cadastro dos automobilistas e nao a estranha comparacao que o autor do post faz com muculmanos, judeus ou homossexuais.
atropelar uma pessoa E crime ou passar um sinal vermelho
ser muculmano NAO!!!!!!!

Pedro Veiga disse...

Cara anónima,

Esse caminho é muito perigoso!

Anónimo disse...

e ja agora NEM ser homossexual ou judeu!
anonima anterior

Anónimo disse...

perigoso para quem?

Pedro Veiga disse...

Perigoso para o caminho que uma sociedade pode levar. A partir do momento em que começarmos a etiquetar as pessoas já estaremos a caminhar para uma ditadura.

Anónimo disse...

Já lá estamos: a base de dados de adn dos imigrantes na europa JÁ é uma realidade.

Anónimo disse...

desculpem la, mas sou so eu que vejo a diferenca entre um criminoso ou um cidadao comum (seja ele muculmano, cristao, homosexual, marreco, cego, whatever)?
Continuo a dizer que a ideia de uma base de dados sobre onde moram pedofilos condenados, nao era ma ideia e um autocolante vermelho no carro de malta que gosta de passar stops e sinais vermelhos e uma ideia engracada

Anónimo disse...

Para um criminoso há um sistema judicial, há prisão, etc... Outra coisa é marcar uma pessoa por um acto pelo qual já teve qualquer tipo de pena. Não gostaria de andar num mundo onde as pessoas fossem eticadas pelos actos que cometem e pelos quais já foram condenadas. Que caminho existiria então para a reintegração?

Anónimo disse...

tenho na familia 4 pessoas que morreram de acidente de automovel. uns vitimas da sua propria inexperiencia na estrada, outros vitimas da inexperiencia de outros.
Nao e suposto os automobilistas caloiros terem um autocolante? nunca ouvi ninguem falar desses autocolantes.