Lembei-me dos posts do Tiago referentes às declarações do vereador José Sá Fernandes sobre as tentativas de suborno de que foi alvo e que tão poucas reacções tiveram neste blog, quando li ontem no Público e a propósito da crise na Polícia Judiciária, os diversos casos "melindrosos" que estão pendentes de decisões. (uf! que grande período!)
Relembrando (já que o Público apenas dispõe online para tesos meia-dúzia de notícias):
- Licenciamento do Freeport Alcochete (com a alteração da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, de modo a viabilizar o empreendimento, 3 dias antes das legislativas);
- Vale da Rosa / Nova Setúbal (projecto urbanístico a desenvolver na zona oriental de Setúbal; suspeita de tráfico de influências);
- Amadora (suspeitas da existência de uma complexa rede de troca de favores entre políticos e construtores civis);
- Caso Portucale (autorização governamental para abate de 2600 sobreiros; suspeita de tráfico de influências);
- Bragaparques e negócios camarários (negócio Parque Mayer e outras transacções efectuadas ou negociadas entre a CML e a empresa; suspeita de tentativa de corrupção);
- Fuga a impostos / bancos.
Continuar a ler
O que torna esta notícia relevante para a discussão urbanística que temos vindo a fazer é a esmagadora maioria de casos ligados ao imobiliário. É pública a percentagem (anormalmente elevada para os padrões europeus)que a actividade imobiliária ocupa na economia portuguesa. Será natural que, gerando tanto dinheiro, a possibilidade de ocorrência de ilegalidades seja maior.
Mas não se sentem a caminhar sobre gelo fino de cada vez que passam por zonas novas da cidade? Não olham sempre com desconfiança para novos empreendimentos?
E de cada vez que vêem um atropelo urbanístico, uma distracção com as regras legais instituídas, uma aparente asneira, não ficam com a muito grande impressão de que um gordo envelope passou de mão num canto escuro de uma garagem pública?
Relembrando (já que o Público apenas dispõe online para tesos meia-dúzia de notícias):
- Licenciamento do Freeport Alcochete (com a alteração da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, de modo a viabilizar o empreendimento, 3 dias antes das legislativas);
- Vale da Rosa / Nova Setúbal (projecto urbanístico a desenvolver na zona oriental de Setúbal; suspeita de tráfico de influências);
- Amadora (suspeitas da existência de uma complexa rede de troca de favores entre políticos e construtores civis);
- Caso Portucale (autorização governamental para abate de 2600 sobreiros; suspeita de tráfico de influências);
- Bragaparques e negócios camarários (negócio Parque Mayer e outras transacções efectuadas ou negociadas entre a CML e a empresa; suspeita de tentativa de corrupção);
- Fuga a impostos / bancos.
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O que torna esta notícia relevante para a discussão urbanística que temos vindo a fazer é a esmagadora maioria de casos ligados ao imobiliário. É pública a percentagem (anormalmente elevada para os padrões europeus)que a actividade imobiliária ocupa na economia portuguesa. Será natural que, gerando tanto dinheiro, a possibilidade de ocorrência de ilegalidades seja maior.
Mas não se sentem a caminhar sobre gelo fino de cada vez que passam por zonas novas da cidade? Não olham sempre com desconfiança para novos empreendimentos?
E de cada vez que vêem um atropelo urbanístico, uma distracção com as regras legais instituídas, uma aparente asneira, não ficam com a muito grande impressão de que um gordo envelope passou de mão num canto escuro de uma garagem pública?
13 comentários:
Completamente, Pedro. E continuo a achar que este crimes são muito mais danosos para o país do que a punição que merecem. Talvez pela própria natureza do crime também a justição seja levada por parques estacionamento e malinhas pretas recheadas. Merda de país, é o que é.
Então pessoal, pomos a bandeirinha portuguesa na janela em Junho? É o Mundial, meus amigos, é a nossa selecção!
Grande confusão, aquela primeira frase... Queria dizer que são muito mais danosos para o país do que a punição que acabam por ter.
É o que dá dormir 3 horas.
Então? O resultado do benfica deu-te pesadelos?
E será que é por o negocio imobiliário gerar muito dinheiro que é mais propenso à corrupção, ou o contrário? Não sei se se consegue encontrar a causa e o efeito.
Seja como for, devia era haver mais denúncias como a do Sá Fernandes. Às vezes custa-me compreender como é que algumas pessoas conseguem dormir de consciência tranquila. Eu sei que é uma frase bastante ingénua, não precisam de me apontar, mas continuo sem perceber.
Não, o Benfica até me deu sono.
Vamos a apostas? A denúncia do Sá Fernandes, grava em video, com provas irrefutáveis, com vereadores implicados, terá alguma consequência? Eu aposto que não. Um péssimo sintoma disso foi o ar ofendido do Fontão de Carvalho a dizer que o pedido de investigação de todos os negócios da BragaParques com a CML, pedido pelo JSF, punham em causa a idoneidade dos 10000 (dez mil) funcionários da CML, desde o o presidente ao paquete a recibo verde.
Então que sugeres? Cruzar os braços? Não denunciar? Mudar de país? O que podemos "nós" fazer mais para além da denúncia comprovada?
Eu acho que tu tens razão, que tudo ficará em águas de bacalhau. Mas para que a máquina burocratica se mexa, para que as coisas cheguem a um ponto em que não seja possível desviar o olhar, acho que só continuando a denúncia atrás de denúncia. É frustrante, mas há outro caminho?
epah!...Merda de país? Eu não chegaria a tanto...Portugal têm os seus defeitos e as suas virtudes tal como qualquer outro país do mundo. Corrupção, -infelizmente- todos a teem e a mesma é independente do sistema político vigente.
Há que apertar com a fiscalização e no combate à corrupção e pôr de uma vez por todas a justiça a funcionar. A ambição desmesurada que provoca estes actos é transversal a qualquer país.
Quanto às bandeiras...Existe um grande défice de orgulho dos portugueses em Portugal e isso têm que ser na minha opinião melhorado pois somos tão bons ou iguais a todos os outros.
Eu não sugiro cruzar os braços. Sugiro que as pessoas se indignem, falem, denunciem em voz alta esta corrupção. No fundo sugiro que deixem de ser grunhos e gastem pelo menos tanta energia a lutar por um país justo e não corrupto como a puxar pela selecção nacional com as pífias bandeirinhas nas janelas.
Rodrigo, o orgulho em ser português não se mede pelas bandeiras. Mas enfim, como nós por cá achamos isso veio o Pedro Santana Lopes aumentar o numero de pirilaus do parque eduardo vii com aquela bandeira gigantesca. Mas ai de quem disser mal daquilo, está a atentar contra a pátria!
Eu indigno-me, mas infelizmente sinto-me impotente para mais. O que fazer? O caso do Freeport foi mais uma batalha perdida de um dos movimentos a que orgulhamente pertenço, embora não me orgulhe da forma como tem perdido as guerras por alguma falta de cooperação e não só.) Quanto às bandeiras acho que não é por aí que se define o interesse pela pátria. Não pendurei nenhuma nem o farei e isso não quer dizer que não "apoie" a selecção, mas não faço disso o meu escape do dia-a-dia.
Quanto à corrupção o que dizer quando um governo quer alegadamente controlar a PJ?
E apesar de tudo Portugal ainda é um belo país (ainda por cá estou).
Tiago,
Claro que o orgulho não se mede pela bandeira Tiago, não quero ser assim tão ligeiro e se assim fosse eu tb seria um dos "não orgulhosos"...
Porquê criticar um acto que acabou por ser de certa forma espontaneo, positivo e que não fez mal a ninguém? Não está aqui em causa quem colocou ou não colocou bandeiras (não é uma questão de moda). O que está em causa é que os portugueses teem de ter mais orgulho no seu pais, participar mais activamente (cidadania) no mesmo, ter mais confiança nas suas próprias capacidades e potêncialidades como povo e de uma vez por interiorizar que isto não é um "país de sargeta" como muitas vezes se dá a entender. Há povos melhores tal como os há piores...Foi aqui que nascemos...é isto que temos e é isto que deveremos tentar mudar.
Reforço o que disse em termos internos....mais fiscalização, um combate à corrupção mais eficaz e arranjar de uma vez por toda a confusão que é a nossa justiça. Junto outra coisa que nos falta muito que é transparência na politica, nos processos de gestão, concursos públicos, etc...
Concordo com o que a Ana disse: "Quanto à corrupção o que dizer quando um governo quer alegadamente controlar a PJ?". A nossa classe política têm de mudar e muito rápidamente...
Rodrigo,
não se trata de fazer bem ou mal a alguém. Chama-se snob ou pedante, se quiseres, mas há qualquer coisa nas exaltações histéricas que temos tido que me dá a sensação sermos um país de diletantes, de patetas alegres. Lembro-me de Timor, por exemplo. Alguém fala de Timor agora? Alguém faz ideia de como se está a viver agora por lá? Pior do que há 10 anos, sabias? E eu fui um dos que andei na rua a gritar à frente das embaixadas. Mas até aí vi cenas degradantes como a de um rapaz que queria chegar à maternidade Alfredo da Costa, tinha a mulher à beira de parir dentro do carro, e queria passar pela multidão que se aglomerava em frente à ONU. Como não o deixavam passar, porque "se estava a lutar por Timor", o rapaz começou a enervar-se. Acabou por ser espancado sob insultos de "indonésio" e o carro vandalizado. É este orgulho português, estas manifestações "espontâneas" de grande fraternidade que dizem fazer de nós um povo especial que me dão a volta ao estômago.
E acho que o país não precisa de um psicólogo, de palmadinhas nas costas e palavras de incentivo. Precisa de rotinas, de método, de disciplina de trabalho. Precisa de inteligência, de conhecimento, de valores. E isso está a ser descurado pela escola, a nível científico, e pela família, a nível da formação cívica. É preciso mais tempo para as pessoas, e para isso acontecer são necessárias cidades melhor organizadas que não façam as pessoas perder tempo em deslocações, empresas mais eficazes que não necessitem de trabalhadores 8 hora com níveis de produtividade baixos.
Voltando ao futebol, tens o exemplo do Mourinho. Quem está de fora diz que ele é sobretudo um bom psicólogo, um gajo porreiro que induz os jogadores a pensarem que são os melhores do mundo. E esquecem-se de toda a revolução metodológica que ele tem operado ao nível do treino de equipa, da preparação exaustiva que faz, do conhecimento profundo do adversário seguinte que o condiciona no treino ao longo da semana. E sim, diz ao jogadores que eles são muito bons, mas eles aprenderam na prática que o são porque fazem por isso, não apenas por uma hipnose psicológica.
Agora se me dizes que há povos melhores e outros piores é que me assusta. Achas que isso é questão determinista? Não acreditas no condicionamento, não estás convicto que o povo é aquilo que quiser ser? Eu acho que si, leva é muito tempo. Demasiado, infelizmente. Mas a cena das bandeiras, a meu ver, não ajuda nada. É areia para os olhos. Pão e circo. Como foram as manifestações por Timor.
Quanto ao resto que dizes, ao combate fiscal, à transparência de processos, à independência e justiça da Justiça, estamos de acordo.
O que eu dizia é que a malta só se mobiliza em manada e de forma ébria. E nunca pelas questões estruturais. Vês manifestações à porta da PGR? No Tribunal de contas? A exigir prisão aos corruptos, penas pesadas para os que lesam a Pátria? Não. Porque a Pátria passou a ser palmadinhas nas costas, psicologia barata, e o orgulho demonstrado pela bandeira.
E vez alguma coisa ser feita nas eleições para que "a classe política mude muito e rapidamente"?
E como não gosto de mandar piadas que não são minhas, e como às vezes não se percebe a referência, aqui fica a descrição de Pirilauland.
Sim, Portugal tem as suas qualidades! Um bom exemplo: vão até à Fundação Calouste Gulbenkian ouvir a última versão da Paixão segundo S. Mateus de J. S. Bach. Ouçam com atenção a riqueza das vozes portuguesas que não ficam nada atrás das vozes estrangeiras! Para além do mais esta versão dirigida pelo M. Corboz é a melhor que já ouvi! Sublime! Ainda estou a ouvir mentalmente esta obra. Ajuda a manter um bom passo na rua e anima qualquer espírito mais sombrio!
Tiago
Entao em Timor vive-se pior agora?
Quando alguem e livre pode sempre sonhar e lutar por aquilo que quer para o seu pais.
Olha o que se discutiu ate aqui neste post. Tudo fruto da liberdade de um ou mais cidadaos.
Quanto ao nosso pais. Ja a minha avo dizia: Nao digas mal do nosso pais, e um pais tao lindo! Uma mulher que viveu exilada porque o marido era contra o regime. E que nem sequer se atrevia a chamar a um utensilio de cozinha: Salazar!
A nossa democracia esta na primeira infancia. Temos que lutar para que o sistema judicial seja autonomo do politico e mil e uma outras coisas.
Mas nao nos devemos abater pelo tamanho da tarefa. Gosto de pensar na historia do David e do Golias, que um aluno meu minusculo passa a vida a dramatizar.
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