Rachmaninoff revelou desde cedo uma aptidão extraordinária para a música e para o piano, o que o levou, apesar dos parcos recurso financeiros da família, a ter como professores os melhores mestres da altura. Aos 19 anos compôs um prelúdio que ouvimos aqui pelas suas próprias mãos.
Prelúdio em Dó# m, opus 3, nº2 - Sergei Rachmaninoff
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O estilo de composição de Sergei Rachmaninoff está muito mais próximo do romantismo do séc. XIX do que das novas correntes estéticas do séc. XX, o que vale a Rachmaninoff algum desprezo junto de críticos mais eruditos que não lhe perdoam o anacronismo.
Essa repulsa não é só de agora. Após a estreia da sua 1ª sinfonia em 1897, Rachmaninoff, então com 24 anos, mergulhou numa profunda depressão e crise de auto-confiança com as críticas cruéis feitas na altura. Reza a História que o insucesso se deveu mais à direcção desajeitada do maestro do que à falta de qualidade da obra, mas isso pouco peso teve na rudeza dos cronistas.
Na esperança de o animar, alguns amigos levaram-no a visitar Leon Tolstoi, já um consagrado escritor. Este, ao ouvir o jovem compositor tocar algumas das suas peças no piano, perguntou, desagradado: "Haverá necessidade de compor música dessa?" o que afundou ainda mais Sergei na tristeza e reclusão.
Rachmaninoff saiu finalmente desse estado letárgico depois de ser tratado por hipnose pelo Dr. Nikolai Dahl. Durante as sessões o Dr. Dahl repetia incessantemente "Vais compor um concerto de piano, ser-te-á muito fácil compor, o concerto terá excelente qualidade".
Aparentemente a terapia resultou e Rachmaninoff escreveu o seu 2º concerto, que dedicou ao Dr. Nikolai Dahl.
Rachmaninoff tocando o seu 2º concerto para piano e orquestra
Sem as técnicas modernas de gravação, muita da riqueza e clareza do som perde-se, mas é impressionante ouvir os arpejos vigorosos e confiantes a sobreporem-se ao tutti da orquestra, na apresentação do primeiro tema, depois dos acordes iniciais do piano. Depois vem uma forma de tocar plena de lirismo e naturalidade, como se a música estivesse a nascer naquele preciso momento. Uma das coisas que mais me fascina é o maravilhoso fraseado da mão esquerda, que a torna tão independente da mão direita como se estivessemos a ouvir uma ópera com várias personagens.
A segunda sinfonia, composta entre 1906 e 1907, revela já uma grande evolução no domínio da orquestração e da criação de texturas mais densas. A introdução desta sinfonia resume na perfeição uma característica em que Rachmaninoff é exímo: a construção de clímaxes. Uma construção feita por camadas, por patamares, por tentativas goradas até à escalada final da montanha. E, logo a seguir, uma descida inevitável até ao sopé.
A introdução começa num fio musical, numa melodia apenas nas cordas graves, violoncelos e contrabaixos. Depois uma longa construção com avanços e recuos até ao clímax. O crescendo é feito não só na intensidade sonora como também num movimento melódico divergente entre instrumentos agudos (violinos) e graves (contrabaixos e tuba) que dão espaço para a entrada das trompas no ponto culminante.
Depois de atingido esse máximo, a música recolhe novamente, exausta, esvaíndo-se outra vez numa melodia só, agora feita pelo corne inglês. É assim como uma chegada ao ponto de partida
Sinfonia nº2 em Mi m, opus 27 - Orquestra Filarmónica de Roterdão sob a direcção de Edo de Waart
3º concerto para piano e orquestra em Ré m, op.30
Orquestra Filarmónica de Berlim dirigida por James Levine
Acabou por falecer em Beverly Hills, em 1943, e foi sepultado em Nova York, no Kensico Cemetery.