segunda-feira, 18 de setembro de 2006

A solução dos engarrafamentos?



Os moradores da Alta de Lisboa têm passado parte do seu dia, desde a última semana, num enervante pára-arranca suburbano que aparentemente só terá solução com a entrada em funcionamento da Av. Santos e Castro.

A redacção aqui do blog aproveitou a manhã de Sábado para ver como iam as obras desta circular que ligará o Eixo Norte-Sul, também ainda em construção, a partir das Galinheiras, à 2ª Circular, em Calvanas. E o diagnóstico feito por um leigo não é muito animador, sobretudo quando comparado com o estado da obra em Dezembro de 2005, quando nos foram adiantados alguns prazos.

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O nó de Calvanas, que supostamente iria ser iniciado em Março passado, e terminado no próximo mês de Dezembro, ainda nem sequer está adjudicado.






A ligação à central de camionagem da Barraqueiro, prevista para Janeiro de 2006, e necessária para terminar o troço de Santos e Castro que está tapado pelo actual acesso dos autocarros, não está circulável ainda.




(Aqui, precisamente na futura ligação à central de camionagem, foi colocada uma paragem de autocarro provisória)


A Rotunda Este, que dependia de expropriações e grandes movimentos de terra, é uma miragem ainda.










O viaduto que faltava fazer junto ao Campo das Amoreiras, que liga finalmente com o Eixo Norte-Sul pela Rotunda Norte, adiantou bastante, mas mesmo assim ainda falta qualquer coisa.






Voltamos aos engarrafamentos que os moradores da Alta de Lisboa vivem desde há uma semana, à semelhança de qualquer morador do Cacém, Massamá ou Queluz. As causas de um engarrafamento são duas:

o gargalo é demasiado estreito para a quantidade de carros a atravessar.

o destino desses automóveis, mesmo que o gargalo não represente problema de escoamento, está já saturado, impedindo a passagem do caudal.

O licenciamento de terrenos para construção de habitação revelou-se ser a galinha-dos-ovos-de-ouro dos autarcas que levavam à ruínas os cofres da várias câmaras. Sem qualquer projecto urbanístico sustentável a longo prazo, engordou-se as cidades. Abusou-se do conceito "cidade-dormitório". Os empregos e as habitações não coexistem, estão separados por uma teia de rodovias que exalam diariamente gases responsáveis pela degradação da vida no planeta. E os vários governos das grandes cidades têm resolvido o problema do trânsito da maneira mais óbvia e fácil: onde há engarrafamentos, alarga-se o gargalo, aumenta-se o caudal, repondo o fluxo. Foram feitas vias-rápidas, auto-estradas, circulares, alargadas avenidas, encurtados passeios, abatidas árvores.

Estamos a chegar a um ponto sem retorno. É necessária uma postura menos egoísta, não só preocupada com a luz das escadas que não foi paga pela administração de condomínio corrupta e incompetente, com o elevador que não funciona, com o estendal do vizinho, mas também com o espaço que fica para além da porta de casa ou do prédio, com a responsabilização política e judicial dos culpados pelas cidades que temos. Cidades que nos roubam tempo e dinheiro, nos roubam saúde e qualidade de vida.

Os que desesperam hoje em filas intermináveis no trajecto casa-emprego são vítimas dos vários governos que desincentivaram o uso dos transportes colectivos por não pensarem nas medidas necessárias para a sua eficácia. Mas serão vítimas também da sua própria incompetência cívica se se limitarem a exigir uma auto-estrada mais larga. Não é essa a solução. É um apenas um adiamento da solução com custos elevados a longo prazo.

São precisas alternativas ao transporte individual. São necessários mais autocarros, mais metro, mais comboios, para que as pessoas não viagem ensardinhadas. São necessários corredores BUS contínuos e invioláveis para que os horários sejam cumpridos. Se necessário, silos-automóvel gigantescos nas entradas da cidade. Viajar no conforto do automóvel particular é muito mais agradável que nos actuais transportes colectivos, mas não só é um gasto irracional de recursos económicos, como está a ser imensamente prejudicial à saúde do planeta e dos que o habitam.

A Av. Santos e Castro, como o Eixo Norte-Sul, são fundamentais para acabar com o pesadelo que alguns dos moradores da Alta de Lisboa vivem desde há meses, agravados na última semana. Mas não são suficientes. Um movimento cívico, um abaixo-assinado dos moradores, não deveria incluir apenas reivindicações de infra-estruturas mas também uma mudança de mentalidade na aposta honesta dos transportes colectivos.

4 comentários:

Unknown disse...

Pois, tens toda a razão. E nos comentários aos posts anteriores, estou com o Pedro Veiga: vias exclusivas, mesmo que temporárias para os transportes públicos que já existem. Por exemplo, a E. da Torre tem uma via de 2 faixas construida que está fechada. Pq não abrir só para os autocarros? Sei que o troço é pequeno, mas ao ritmo actual devem ser alguns 20 minutos no trajecto!

Acho que a Associação de Moradores que está a surgir vem em boa altura. Isto deveria ser o primeiro cavalo de batalha.

Pedro Veiga disse...

Os moradores do Alto do Lumiar (nos quais eu me incluo) estão mesmo entalados. São obras e mais obras sem fim à vista. As entidades competentes sabem disto e já podiam ter emitido alguns comunicados e ter simultaneamente tomado algumas precauções que poderiam evitar o caos diário que se vive por estas bandas. Hoje de manhã por volta das 8:30 horas o engarrafamento da Av. Kruz Abecassis, no sentido W-E já chegava ao cruzamento com a rua Melo Antunes … e estava Sol! Assim que começar a chuva, lá para 5ª ou 6ª vamos ver até onda vai este caos (eu aposto que irá até à rotunda Cardeal António Ribeiro, pelo menos).
Vou continuar a sair de casa a pé, a caminho do metro, sempre que a minha actividade diária não implique o uso do automóvel (trabalhos fora de Lisboa ou regressos muito tardios). A pé demoro entre 20 e 25 minutos até à estação do metro Parque das Conchas, seguidos de mais 10-12 minutos de viagem de metro, complementados com mais 5 minutos a pé. No regresso saio na Ameixoeira ou no Lumiar para apanhar um autocarro até casa. É muito melhor demorar 45 minutos entre casa e trabalho tendo o prazer de andar metade do tempo a pé, do que demorar 1h e 30 minutos encafuado num automóvel no pára e arranca!
E diz a propaganda da SGAL: “O segredo que Lisboa guardou para o fim”. Isto é mesmo o fim, nisso têm eles razão.
Parabéns Tiago pelo texto. Toca bem no fundo da alma de quem sonha com uma cidade mais equilibrada.

Pedro Veiga disse...

E da chuva que está também prevista para este dia de greve (http://web.meteo.pt/pt/previsaoGeral.jsp)

Miguel Carvalho disse...

Apoiado a 99%!
O 1% que falta está relacionado com o ensardinhamento nos autocarros. Este deve-se mais ao trânsito provocado pelo excesso de automóveis (obviamente com especial culpa para os que levam uma ou duas pessoas) que obriga os autocarros a circularem a um média de 10km/h, do que ao reduzido número de autocarros a circular.