Sustentabilidade dos edifícios é um tema já muito discutido em meios especializados, divulgado junto de leigos como nós, mas ainda assim urgente na compreensão e aplicação nos projectos de arquitectura em Portugal. Criar na arquitectura não deveria ser apenas pensar na beleza das linhas do objecto imaginado e no enquadramento com a orografia envolvente, mas também na sua interacção com as características sociais e climáticas do local de implantação. Quere-se um edifício resistente a "ataques", exteriores e interiores, sejam provocados pela utilização normal do edifício, por vandalismo ou factores naturais como intempéries, exposição solar e grandes amplitudes térmicas.
Um projecto de arquitectura deveria prever todos estes "ataques" e incluir soluções defensivas, na escolha apropriada dos materiais ou na configuração da casa. Num mundo em crise económica pela escassez dos combustíveis fósseis, em colapso ambiental pelos disparates continuamente repetidos, é fundamental que as soluções encontradas sejam viáveis. Sejam sustentáveis. E ecológicas.
É esse o mérito de um arquitecto experiente. Não se limita a copiar um modelo que resultou noutro local, mas contextualiza-o no novo espaço, adaptando-o às novas condições.
Vasculhando na internet sobre este assunto encontrei um interessante documento apresentado há dois anos no âmbito dos Seminários de Inovação, realizados no Instituto Superior Técnico. Tem 66 páginas de leitura muito acessível, com diagramas e fotografias que ilustram as questões abordadas. Explica os fundamentos de um edifício ecologicamente equilibrado e apresenta soluções para os problemas que muitas das casas em Portugal têm com o nosso clima.
Deixa-nos porém a cismar, se pensarmos aqui na Alta, nas razões de alguns dos edifícios que tão bem conhecemos não terem estores (como o são os da Colina de S. Gonçalo, Jardins de S. Bartolomeu e em parte os do Condomínio da Torre). Porque foram projectados já no séc.XIX edifícios com problemas graves de sobreaquecimento, de luminosidade excessiva, deixando para os habitantes o fardo de procurar soluções, e despender com as soluções mais do que foi poupado na construção.
Tenho curiosidade em saber se os futuros projectos dos Arq.º João Paciência, Arq.º Tomás Rebelo de Andrade e Arq.º Frederico Valsassina aproveitarão a experiência adquirida entretanto com os irmãos mais velhos.
11 comentários:
Bem, o caso dos estendais é paradigmático. Em Portugal, com um Sol destes, com o calor que temos, secar roupa dentro de casa numa máquina apropriada para o fim, é um bom exemplo de um gasto supérfluo de energia e dinheiro. Venham os estendais!
Penso que há arquitectos que apenas consideram o design dos edifícios. Depois quem vai habitar as casas é que se trama: tem que gastar dnheiro para não ficar frito dentro de casa, pois não é muito agradável ter uma sala com 35º numa tarde de Verão!
Tiago,
É muito interessante o documento. Mostra como vivo numa casa mal orientada face à exposição solar. Só por isso o projecto térmico deveria ter chumbado todo o edifício. Mas para que serve o conhcimento científico face à voracidade dos lucros imobiliários?
Resta saber, Tiago, quanto do projectado foi realmente concebido pelos arquitectos que assumiram a autoria dos projectos. Para alguma coisa hão-de servir os estagiários que trabalham de borla nos ateliers...
E quanto à queixas acerca da qualidade arquitectónica e de materiais de muitos dos edifícios da Alta, registo a mudança de tom dos intervenientes neste blog face aos protestos com que comentaram os meus primeiros posts por aqui. Não é com satisfação que o faço - preferia ter-me enganado - mas aí estão.
Estive a reler os teus primeiros textos (aqui, aqui e aqui), muito acertivos e interessantes, mas não encontro por aqui quem os protestou e defendeu então a qualidade da construção. Não vejo por isso mudança de tom. Ainda.
Quanto aos arquitectos que assinam projectos desenhados pelos escravizados estagiários; pois... Não deve sersó isso, mas como sarcasmo não está mal.
Passo a contar uma história.
Certo dia de Verão na Finlândia dois arquitectos conversavam sobre o facto de não se verem "sem abrigos" nas ruas, ao que o Finlandês respondeu:
"É muito simples, com o frio que faz no Inverno ninguém tem coragem para ficar na rua. Eu tenho vidro triplo nas janelas da minha casa."
Ora esses senhores que têm essa tão boa oportunidade de fazer arquitectura, parecem regular-se pelos moldes nórdicos, em que as habitações têm grandes vãos envidraçados para receberem o pouco sol que recebem durante o ano, e também não se vêem estendais, pois com tanta chuva, não há roupa que seque.
Numa época em que o prazo para redução da emissão de gases poluentes está a aproximar-se cada vez mais (ver Protocolo de Quioto), em que ano após ano se divulgam mais cursos e conferências sobre sustentabilidade e em que surge mais uma versão do "Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa", eu pergunto-me se esses arquitectos andam a dormir!
É curioso que quando me preparava para criticar o tom do comentário do sr. João Correia ele retirou-o.
Concordo com practicamente tudo o que foi dito anteriormente, não concordo com ataques pessoais agressivos sem bases ou sem informação.
O sr. João Correia ataca ferozmente o Arq. Valsassina pela escolha dos materiais do condominio da Torre, pergunto se tem a certeza que a escolha dos materiais foi feita pelo arquitecto. Sabia que muitas vezes não serem respeitadas as escolhas dos arquitectos e os materias são substituidos por outros de qualidade inferior? sabia que acontece os arquitectos não fazerem o acompanhamento da obra?
Parece-me bem que se critique a escolha de materiais ou mesmo a SGAL, não me parece nada bem que se insulte o Arquitecto sem saber se é ele ou não pela escolha dos materias.
João,
Compreendo o que dizes, mas permite-me acrescentar, que tendo ou não tendo sido o Sr. Arqº Valssassina a escolher os materiais poderia no mínimo vir a público defender a sua jovem criação. Haja Coragem!!!
A assinatura do Arqº Valssassina ajudou concerteza a vender bastantes fracções em planta. Para para o bem ou para o mal (e nem tudo está mal), o seu bom nome profissional está envolvido nesta questão.
Deixem-me que vos diga e isto para terminar: Até hoje (Já lá vão quase dois anos de solicitações pelo menos no meu lote), nenhuma entidade, seja ela o Gab de Arqª, a SGAL ou até mesmo a UPAL (um atrevimento meu), se dirigiu oficialmente aos moradores, no sentido de tentar solucionar este problema. Isto apesar das mais variadas solicitações já efectuadas. Proponham Soluções!!!
João,
A verdade é que se não foi o Sr. Arqº Valssassina a decidir dobre o material, tb nãoo refutou nos variados contactos que muitos moradores fizeram directamente com o gabinete de arquitectura. Tb acredito que tenha sido uma opção condicionada pelo orçamento.
Seja como for, independentemente de quem foi a opção, li algures que legalmente não se pode usar aquele tipo de revestimento do CT em pisos térreos, precisamente devido à sua fragilidade. Ora se estamos perante uma situação ilegal, não é responsabilidade da SGAL em conjunto com o gabinete de arquitectura, mudar o revestimento?
Eu, sinceramente, não percebo porque é que as coisas continuam assim. Ou melhor, até percebo que ainda não o tenham feito, mas que haja lata para se descartarem de responsabilidades? Parece aquela desculpa de que os danos na parede do 8º andar eram devido a vandalismo e não defeito/fragilidade do material...
E dentro das nossas casas, é a mesma atitude. Refilamos que a bancada tem uma mancha amarela e a resposta da SGAL é "É natural da pedra, é mesmo assim... Se fosse um condominio de luxo...". Se fosse de luxo era defeito, mas como não é, é feitio.
Onde foi esse acidente?
Tiago,
O acidente foi ontem à hora de jantar no cruzamento E. da Torre com Helena Vaz da Silva. Ouviu-se da minha casa. Não sei se foi grave. Curiosamente ainda ontem à tarde te mandei um e-mail sobre este cruzamento. Como ves, é um caso urgente.
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