quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

O futuro passado

Valerá a pena discutir a viabilidade da Alta numa altura em que o bairro se constitui como o futuro dos milhares de habitantes que aí compraram casa? Isto é, valerá a pena discutir o futuro quando, para eles (a possibilidade de ele vir a acontecer) já é discussão passada (tendo-se baseado a decisão de compra no pressuposto - ou dogma? - da sua existência benigna)?

O que é Lisboa-cidade? Uma metrópole pujante, em crescimento económico e populacional ou uma cidade envelhecida, centro terciário de dia gerador de fluxos de tráfego de centenas de milhar de pessoas mas que viu perder para a periferia nos últimos 30 anos cerca de metade da sua população? O que é Lisboa-cidade para além de um cadáver adiado?

A Alta de Lisboa no seu conceito original despido de galões publicitários glamorosamente fim-de-século - ou seja, o "Alto do Lumiar" - foi a proposta do presidente Abecassis para a erradicação da chaga urbana e social que os bairros de barracas e habitações clandestinas formavam na zona extrema da cidade, junto ao aeroporto. Numa época pré-União Europeia e sem os milhões que chegaram depois, com uma Câmara Municipal sem muito dinheiro mas com uma perspectiva de crescimento populacional que, ainda que não comprovada nas estatísticas, era admissível face aos fluxos de migração interna para a capital, o "ovo-de-colombo" de uma operação urbanística megalómana que permitisse pagar a demolição do existente e a edificação de habitação social para os desalojados com parte das mais-valias realizadas com o loteamento e a construção parecia ter sido encontrado. Em sintonia com o programa politico-económico do presidente da Câmara, a intervenção seria conduzida por entidades privadas.

À boa maneira portuguesa passaram os anos até que o projecto arrancasse. Passaram vereações de outros quadrantes políticos. Passaram os milhões europeus. Passaram os habitantes cada vez mais em direcção à periferia. Passou-se tanta coisa e só a ideia inicial de construir um polo gigantesco - numa cidade que já tem mais fogos vagos que a velocidade dos serviços camarários em os contabilizar - se manteve.

O Alto, crismado em "Alta" (não é tão mais apetecível morar em alta do que num alto?) aguentou-se nos primeiros anos de vendas com a ilusória corrida de promitentes compradores que mais não passavam, na sua grande maioria, de promitentes especuladores, robustecidos por operações semelhantes de compra e trespasse de posições de compra nas Amoreiras, Parque dos Príncipes, Laranjeiras dos selvagens anos oitenta de crescimento da economia e das novas-ricas classes emergentes. Só que, com a crise da balança de pagamentos e com o pântano subsequente de que Guterres pressurosamente se demitiu, a procura diminuiu e, com ela, os cash-flows necessários ao prosseguimento do plano traçado em gabinete e vendido aos futuros moradores. E nem o dinheiro fresco trazido pela compra da sociedade por um capitalista chinês parece poder recuperar o dinamismo dos primeiros anos.

A verdade é que não há compradores para tanta habitação.

Como pode haver, quando a população decresce, o poder económico baixa e o mercado imobiliário estagna por falta de novos compradores que, a montante, permitam a permuta de habitações?

E a Lisboa? Interessa-lhe que a Alta atinja os resultados iniciais? Sendo os meus dados correctos, numa Alta "completa" viverão cerca de 40.000 pessoas, um décimo da população actual da cidade. De onde virão? Dos subúrbios? Como, se não têm a quem vender os apartamentos actuais e a diferença de preço por metro quadrado ainda é significativa? De outros pontos da cidade? E se sim, de apartamentos próprios ou arrendados? E à cidade interessa-lhe esvaziar ainda mais as zonas centrais para uma periferia pouco servida de transportes públicos com o consequente aumento de deslocações automóveis para o centro e a desertificação ainda mais acelerada do mesmo? E onde fica a política de reabilitação urbana? Para quem? Para as populações envelhecidas e carenciadas? Com que sustentabilidade futura?

Tantas perguntas e nenhuma resposta oficial. Pior, nenhuma tentativa das entidades oficiais para - ao menos! - equacionar os problemas.

Não sendo uma mais-valia para a cidade em termos globais, não tendo hipótese de, a curto-prazo, criar mais-valias para cobrir os investimentos, que futuro resta então à Alta?

O de cumprir o fado lusitano e lá ir sobrevivendo numa apagada e vil tristeza?

16 comentários:

Sérgio disse...

Certamente que vale a pena a reflexão.
E no entanto as respostas que o seu texto ensaia apontam sentidos que a prática não confirma em definitivo.

Uma premissa que parece subjacente a toda a sua argumentação é a de que a Alta de Lisboa é um polo habitacional comum, de contornos similares a tantos outros da cidade de Lisboa. Mas a realidade é algo distinta.

Desde logo, estamos em presença de 300 hectares para os quais foi elaborado um projecto único, ao qual está subjacente uma estratégia clara e objectiva, onde estão previstos com detalhe os usos e funções das diferentes malhas que o compõem bem como as métricas a aplicar no planeamento e edificação dos empreendimentos. Estamos em presença de um projecto que determina com rigor a localização das artérias e dos espaços verdes. Estamos, igualmente, em presença de um plano que permite aos interessados conhecer com razoável dose de certeza a realidade projectada. E o que este plano prevê é um todo diverso na ocupação mas equilibrado, sustentado.

Estaremos, neste sentido, muito mais perto do Parque das Nações do que do Parque dos Principes e, sem dúvida alguma, muito longe das Amoreiras: a Alta não é nem um conjunto de lotes disponível para arremate individual pelos construtores civis, uma licença para o caos urbanístico, e muito menos um condomínio de luxo fechado sobre si mesmo (uma cidade dentro da cidade?), indiferente à integração com o tecido urbano envolvente e um entrave à promoção da vivência da cidade.

Qual a importância desta orientação? Fundamental.

A cidade de Lisboa está cheia de bairros mas pouco serão os que possuem condições para rivalizar com as propostas da Alta, seja no que respeita às infra-estruturas seja no que respeita à visão. A maioria destes bairros apresenta limitações básicas: as vias são estreitas assim como os passeios, não existem parques de estacionamento, não existem áreas de lazer ou jardins, as casas são pequenas e não dispõem das comodidades actualmente disponibilizadas nos novos imóveis (aquecimento, garagem, arrecadação, elevador).
É possível a reconversão? Concerteza, mas os custos desta operação cobrem apenas o imóvel e não a envolvente. Por outro lado, equiparam-se ao da compra de andares novos, noutras zonas da cidade ou nos subúrbios. Sendo assim, para quê investir? Apenas por uma certa ideia de cidade?

E no entanto, a Alta oferece valores para habitação acessíveis (T1 por € 125.000; T3 por €228.000)...
E oferece as condições referidas...
Não será esta combinação mais do que viável?

Refere ainda o texto as periferias mal servidas de transportes.
A que periferias se refere?
A que transportes se refere?
Dá como certa a manutenção da situação actual?
Ou considera possíveis evoluções?
De que centro se fala quando se fala do centro?
Será que o centro vai continuar a ser 'o centro'?

Seja como for, a Alta será servida por uma rede de vias que a coloca numa situação privilegiada. Com o eixo norte-sul e a 2a circular, a Alta está ligada às principais entradas/saídas de Lisboa.
Quanto aos transportes: a Carris possui, já hoje, uma presença evidente na zona de intervenção e o metro poderá servir a Alta em 2 frentes, através da Linha Amarela (já em operação) e da Linha Vermelha (num futuro próximo).
Não se percebem, assim, as reticências.

Talvez o texto tivesse o intuito de questionar as grandes opções para a cidade, talvez seja uma chamada de atenção para o que noutras zonas e domínios corre menos bem, mas, sinceramente, parece-me que, independentemente do contexto, é erróneo descrever a Alta como uma menos-valia.
Tendo em conta o projecto, não o é certamente para os seus moradores, e tendo em conta a visão, não o é certamente para a cidade.
Vai-se concretizar no curto-prazo? Não é o curto prazo que interessa! É o futuro! E há que fazer tudo para que não seja um choradinho.

Rodrigo Bastos disse...

Pedro,

Não estás a ter uma visão um pouco negativa da coisa :)). Compartilho quase na totalidade a opinião do Sérgio mas estou muito mais moderado no que toca á "euforia" e nalguns pontos pontuais.

«««Não é o curto prazo que interessa! É o futuro! »»» É neste ponto onde a nossa divergência é maior, pois sou da opinião que um projecto desta magnitude e caracteristicas, deverá construir o "seu futuro" em função do "seu presente". Note-se, que o impacto da sua evolução é sentido em tempo real em quem nele mora e trabalha; Este projecto é uma aposta pública -o privado é um empreiteiro- do Governo de Portugal e da Câmara Municipal de Lisboa e como tal os moradores não são números -NÂO SÂO NÚMEROS-, são pessoas -SÂO PESSOAS-, e tem o direito de viver a sua vida com dignidade. As actividades privadas devem ser veemente controladas pelos organismos de fiscalização pública.

A SGAL (ou a UPAL), definiram mal a sua estratégia?...na minha opinião teem sido cometidos erros: Erros nos atrasos da entrega das fracções, erros na gestão das grandes obras, erros na gestão dos processos das expropriações e muita inércia -pré e pós venda- da SGAL na sua relação com os moradores, o que provoca naturalmente um grande desgaste de comunicação. Espero mesmo que 2006 seja um ano de viragem.

Gabo a paciência de quem se candidatou e/ou recebeu fracções PER, pois já há largos anos que estão a viver nas suas novas fracções e não lhes foi dada até curto prazo as minímas condições. E não me venham dizer que mesmo assim tiveram um salto qualitativo!

Temos falta de estruturas de suporte à nossa comunidade. Não se pode pensar só na construção dos imoveis, agora é necessário -na minha humilde opinião- consolidar o que já está feito, "deixar respirar" e construir-se as infra-estruturas de apoio à comunidade: vias, saúde, segurança, serviços, cultura, lazer, etc. Em tom de brincadeira quem já jogou Simcity (jogo onde se constrói e mantém uma cidade) sabe muito bem do que estou a falar. :)

Por exemplo, porque é que o campo de futebol ainda não está operacional? Digo isto porque já acho a situação aberrante pois à quase um ano que já está construido e ninguém ainda o está a utilizar!. É necessário, criarem-se programas para fomentar a integração social. É importante esbater a ideia que está intrinseca na mente dos habitantes da Alta dos "uns e dos outros"...não tapemos o sol com a peneira pois nesta zona ainda está muito a "água e azeite" e estas questões tem de ser dismistificadas\resolvidas (e levam tempo...).

Na minha opinião neste momento as questões sociais/comunidade são um dos factores mais preponderantes para o sucesso deste projecto.

Com o presente se constrói o futuro.

Pedro Cruz Gomes disse...

Sérgio:

Para bem dos moradores, espero que a Alta não se "aproxime" do Parque das Nações! É aquele caos de trânsito, são aqueles índices de ocupação que são desejáveis para a cidade? Felizmente que a Alta não é o Parque dos Príncipes - concordo em absoluto (e, aliás, ainda hoje não percebo como foi possível a CML ter aprovado aqule tipo de loteamento). Mas já que fala em P.Principes e em planeamento e conhecimento da realidade projectada deixe-me relembrar o exemplo próximo de Telheiras: se falar com algum dos moradores iniciais, eles terão muito (des)prazer em lhe referir as promessas de espaços verdes e de equipamentos que lhes foram "prometidos" pela EPUL no início e os que efectivamente existem; e, se por acaso divino, ainda fosse possível encontrar uma cópia do plano original para o bairro seria interessante assinalar as diferenças entre o tão pensado espaço a urbanizar e a realidade actual. Porque é que houve esta densificação? Pelas mesmíssimas razões que o meu texto subentende: o metal, o vil metal e a necessidade de equilibrar contas e encontrar receitas adicionais para equilibrar financeiramente o empreendimento (e é por isso que o Parque das Nações se transforma cada vez mais depressa numa mole sufocante de altas construções).

No que concerne às acessibilidades dispenso-me de apresentar mais razões: basta ler os posts e comentários colocados desde sempre neste blog. Quanto aos transportes públicos considero que duas estações periféricas do metro não são solução - ainda para mais pelo afluxo de tráfego e pelo aumento da procura de estacionamento que deslocam para o Lumiar e Ameixoeira - e o prolongamento da linha vermelha é ainda um ponto de interrogação no horizonte.

Percebo que se sinta deslumbrado com o admirável mundo novo que o jargão tecnológico promete para a Alta: edifícios que cumprem os regulamentos actuais, áreas verdes, vias rápidas que ligam rapidamente - assim o permitam as filas nos acessos às mesmas - ao resto da cidade ou às auto-estradas. Esquece-se - talvez involutariamente, talvez porque o conforto do novo lar o impeça de olhar em volta - daquilo que é de facto a mais-valia de uma cidade: a história da pedra e das gentes que a habitaram e usaram, o lento consolidar de estruturas e de cumplicidades do viver, os espaços, as vistas. E isto não terá importância nenhuma para quem tranquilamente sai do elevador directamente para o carro estacionado na garagem subterrânea que o conduz abrigado pelas vias rápidas até a uma nova cave do reluzente edifício tecnologicamente avançado que o aguarda para mais um dia de trabalho mas tem decisiva importância para uma cidade. Se bem percebi as suas palavras defende que toda a cidade antiga deve ser abandonada na sua decadência aos infelizes que não se apercebem das vantagens de viver na cidade nova e arquitectónica e tecnologicamente perfeita. Não de todo.
E já agora:tem a certeza da qualidade das qualidades que lhe disseram possuir o seu edifício, da sua rua, do seu bairro?

E porque é que a Alta é uma mais-valia para a cidade? Porque esvazia ainda mais as zonas mais antigas e já consolidadas? Porque desviou verbas que poderiam ter sido aproveitadas para melhorar as zonas existentes? Porque desloca os habitantes da cidade para zonas periféricas aumentando com isto o tempo de transporte para os locais de emprego?

Se faz sentido, porque é mais fácil, rápido e barato fazer de novo noutro lado ao invés de reabilitar, que o sismo que se aguarda há anos chegue rápido: poupa-me o desgosto de assistir à agonia da cidade que aprendi a amar.

Felizmento que não acredito nisso.

Rodrigo:

A "paciência de quem recebeu habitações no âmbito do PER"??? Paciência? Eu diria que quem tem de ter paciência é a esmagadora maioria da classe média deste país que compra gato por lebre no que à habitação diz respeito.
Paciência? Por ter recebido quase de borla uma habitação que cumpre os regulamentos, que foi fiscalizada durante a construção e que está - a maior parte das vezes - nas zonas mais favoráveis das zonas "mistas" onde foram implantadas? Não abusemos do nosso politicamente correcto...
Parece-me que o discurso apelando ao reforço dos apoios e incentivos sociais foi o adoptado pelo Ruben de Carvalho na última campanha para a autarquia. Ainda que o achasse mais programatico que pragmático dele não discordei na altura, dele não vou discordar agora. Assim hajam verbas!

A todos:

Apesar de achar que (e como referi) nas condições actuais de decrescimento demográfico e de dificuldades económicas um projecto como a Alta de Lisboa não constitui uma mais valia para a cidade não deixo de reconhecer a sua importância e a necessidade de, já que está construída, a dotar com as infra-estruturas físicas e sociais prometidas e necessárias. Não sou Catão. Esta Cartago deve em absoluto ser bem acabada. Para brilhar.

Pedro Veiga disse...

Pedro,

Concordo em grande parte com essa visão da Lisboa que habitamos. Infelizmente os problemas que esta cidade hoje enfrenta são consequência da ausência de políticas habitacionais dignas de nome.
É bom que a SGAL e a UPAL se preocupem em consolidar e dotar de boas infraestruturas as zonas já construídas. Só assim poderão salvar os investimentos já feitos do colapso. De facto a crise imobiliária veio para ficar, pois a classe de pessoas que podia comprar casas de preços médios está invariavelmente individada a pagar empréstimos à banca e impostos ao estado. Sobram os muito ricos que esgotam sempre os andares de luxo (ou a preços de luxo?), e os muito pobres que vivem em barracas ou em bairros de realojamento e que não podem comprar casas.
Vir viver para Lisboa (na Alta de Lisboa), representou um regresso à minha cidade depois de 11 anos a viver na linha de Sintra. Fui "expulso" da minha cidade por não ter capacidade económica para pagar uma casa com condições de conforto. Saí de um bairro com mais de 40 anos pertencente a uma zona da freguesia de Queluz cheio de placas "vende-se". Hoje vivo num empreendimento da Alta de Lisboa habitado há menos de 1 ano e cheio de placas "vende-se". Alguma coisa está mal neste país!

Sérgio disse...

Não conheço o plano original do Parque dos Principes mas conheço com profundidade suficiente o Plano de Urbanização da Alta de Lisboa.

Se o Pedro tiver oportunidade de o ler fica a perceber porque é que algumas das afirmações que profere carecem de fundamento.

Depois, se percorrer a área de intervenção, vai ter oportunidade de testemunhar a concretização desse plano nas suas mais diversas vertentes, desde a rede viária às zonas verdes, passando pela organização dos espaços públicos e privados e pelas edificações de habitação.

Poderá argumentar que muito falta fazer. Que o que existe é ainda pouco. Pois sim. Mas a grelha de evolução já lá está e o concretizado bate certo com o previsto. São passos inequívocos no sentido do melhor desenvolvimento.

Isto não quer dizer que a SGAL é a Santa Padroeira e que as obras andam a par e passo com os desejos e aspirações de quem já habita naquela zona. Certamente que não - os comentários feitos neste e noutros blogs são o eco disso mesmo.

Mas se por um lado há as obrigações do promotor, por outro lado há os deveres dos moradores, nomeadamente o dever de lutar por aquilo que lhes foi vendido, algo em que este blog é igualmente um exemplo a seguir. E foram já algumas as vezes em que a opinião dos moradores teve impacto sobre o andamento das obras.

No capítulo dos transportes, há razões para o optimismo. São já várias as carreiras da Carris que servem a Alta (1,3,17,77,106,108). Os traçados são discutíveis? A frequência é reduzida? Eventualmente. Mas então questione-se a Carris, faça-se saber o descontentamento, pressione-se a CML - mas isso não é nada de novo, pelo menos a avaliar pela quantidade de mails e cartas que os moradores reclamam ter enviado. Haja perseverança.

E quanto ao metro, sejamos francos, que outro caminho pode a Linha Vermelha tomar depois de chegar ao Aeroporto? Seguir a 2a Circular? Para onde..Alvalade? E no que diz respeito à Linha Amarela, está assim tão longe? Não está evidentemente à porta da maioria dos empreendimentos mas também não estamos a falar de distâncias astronómicas.

Seja como for, o metro não pode estar em todo o lado.

E não está, por exemplo, na maioria dos bairros históricos de Lisboa, como não está em Campo de Ourique ou em Benfica ou na Ajuda. E no entanto são muitas as pessoas que aí moram. Como eu tambem moro. E vivo. E uso transportes públicos, e ando de bicicleta e reconheço nas pedras a minha história.

Mas infelizmente, essa é uma zona da cidade que não me pode oferecer o que preciso: mais divisões, arrecadação, garagem, elevador, acessos rápidos; pelo menos não por um preço que eu possa pagar ou em condições em que eu queira pagar.

Não o defendo como um dogma e não o prescrevo aos outros mas, para mim, neste momento, a cidade terá necessariamente que seguir noutro lugar, onde espero vir a partilhar com outras gentes o lento consolidar de novas estruturas.

Rodrigo Bastos disse...

Sergio,

Discordo da "velocidade" que impões ao teu discurso, pois acho que algumas das prioridades devem ser desde já aceleradas ou mesmo redifinidas. Já temos na Alta de Lisboa uma comunidade. Não podemos ver a Alta só de um ponto de vista técnico, temos a de ver também na sua complexidade social. A decisão política foi tomada, agora é necessário que arranjem os instrumentos necessários para que a mesma se torne no sucesso que todos desejamos e esse sucesso para na minh aopinião por uma avaliação do presente e não só pela visão do futuro deixando o projecto desenrolar tal como foi definido no "inicio".

Pedro Veiga,

Pois...esses cartõezinhos do "vende-se", já são fruto de especulação imobiliária ou do descontentamento dos próprios proprietários por causa do meio envolvente. Acho que estamos todos de acordo que com mais ou menos problemas, as nossas habitações até são de qualidade. Digo eu...

Pedro,

Vou voltar a ser politicamente incorrecto e a afirmar que as pessoas que foram alvo do programa PER têm tido paciência e muita. Teem eles paciência, tal como teem tido as pessoas que compraram casa na Alta ofuscadas pelas iluminadas ilustrações deste projecto.

No ponto PER, estamos a entrar numa questão muito mais profunda e que a meu ver passa muito pela análise do papel do Estado na sociedade e acho que é algo que podemos perfeitamente deixar para ser aprofundado num outro post.

A realidade de hoje da nossa zona não é inequivocamente a realidade que muitos estavam à espera de encontrar. Se teem razão ou não, isso já são outras cantigas pois todos sabemos que iriamos viver num estaleiro (mas não tanto) e um local com uma grande complexidade social e cultural. Não estou aqui a defender nada, estou a constatar pois só o futuro dirá se socialmente este projecto vai ser um sucesso ou não.

Agora Lisboa, uma análise ligeira diz-me que lisboa está doente por causa dos mais variados virus que constantemente a atacam: o da especulação imobiliária, o camarário, o das politicas de arrendamento. E quantas famílias detém prédios inteiros em Lisboa a cair de podre e que tudo não fazem para que os seus inquilinos saiam de lá?

A Lisboa "antiga" também me fascina e era um prazer redobrado para mim ver essa Lisboa co-habitar pacifica e positivamente com a Alta de Lisboa. Tenho fé que o futuro mude a ordem das coisas.

A Alta de Lisboa já é uma realidade...tomaram uma decisão -não fomos nós- e agora temos é que andar para a frente e cívicamente dentro das nossas limitações tentar ajudar para que Lisboa e a Alta brilhem.

É assim infelizmente a nossa sociedade portuguesa...cada um olha para o seu umbigo. Mas calma... não estou de inteiramente negativista, primeiro porque quero acreditar na nossa Lisboa e no projecto da Alta de Lisboa e depois porque sinto que a sociedade portuguesa está verdadeiramente em mutação para melhor.

E que saudades que eu já tinha de uma tertúlia destas sobre a Alta de lisboa :)

Um Abraço a todos.

José Rodrigues disse...

Pedro,

o que quer dizer com o seu comentário relativamente às pessoas que habitam os edíficios designados por PER? Antes de mais clarificar que eu habito no Alto do Lumiar à 30 anos mas não nos novos edíficios. E o seu comentário trouxe-me à memória alguns comentários anteriores em vários blogs dos novos residentes desta zona relativamente a quem foi realojado nesta zona. Gostaria de perceber a sua opinião.

José Rodrigues

Pedro Cruz Gomes disse...

Pedro (o trabalho que vai dar a um futuro editor do blog desembrulhar este emaranhado de comentários!):
Eu não queria dizer, mas vou escrever à mesma - as tabuletas que referes são o q.e.d. do meu post e, como escreve o Rodrigo, significam uma de (ou ambas) duas situações: os orfãos da D.Branca que sinalizaram a compra na perspectiva de vir a realizar mais-valias com a venda de posição e que agoram esperam ansiosos não vir a ter de comprar o que prometeram ou os desiludidos do projecto que se fartaram de esperar pelo dia prometido e se querem mandar para outras paragens mais consolidadas. Para estes, a "desilusão" cai mais sobre as suas próprias expectativas do que sobre as "ilusões" vendidas pelos mediadores... Toda a gente deveria saber que a Alta seria uma urbanização "mista" com a integração de blocos PER no meio das construções para a classe média-alta e que, à boa maneira portuguesa, mesmo sem problemas de tesouraria, as obras se iriam prolongar muito mais que o previsto.

Sérgio:

É óbvio que o plano de urbanização da Alta está - pelo menos em teoria, só a prática o poderá confirmar - bem pensado. Não é isso que puz em causa - mal de nós se nem isso estivesse bem feito! O que ponho em causa é o do interesse - nas presentes condições - da Alta no contexto de Lisboa-cidade e da sua evolução enquanto urbe e capital do país, bem como da sua viabilidade - da viabilidade do projecto e da capacidade dos seus promotores em cumprirem na totalidade o planeado. Daí a referência a Telheiras. E olhe que o Plano de Urbanização de Telheiras foi, à época, o mais pensado, integradao,detalhado e organizado estudo urbanístico feito em Lisboa (Portugal) depois da experiência dos Olivais (esqueça-se o flop de Chelas). E já que falo dos Olivais: socialmente, a integração da população carenciada foi um desastre até que a segunda geração vinda dos realojamentos cresceu e ganhou juízo. O problema foi que, entretanto, a segunda geração "dos outros" descobriu o lado atraente da marginalidade e lá continuaram os problemas...
Penso que é este tipo de confusões em que o Rodrigo pensa quando fala da "paciência", será Rodrigo?

E Rodrigo:

Estás a ser politicamente correctíssimo (lá porque o Cavaco ganhou não quer dizer que o pc tenha saído da esfera da esquerda...)!
Quem é incorrecto sou eu, ao achar que é um bocadinho demais, depois de passarem a ter apartamentos com todas as comodidades e a baixo preço continuarem no choradinho dos apoios. E o dito cujo lavado com água de rosas, já agora?
É que penso em todos os desgraçados que vivem nos subúrbios, que perdem mais de duas horas por dia nas deslocações casa-emprego-casa, que vivem em prédios aldrabados e se esfalfam por pagar a tempo e horas o empréstimo que lhes vai consumir as preocupações até depois de - finalmente! - conseguirem chegar à futura idade da reforma e que nenhuma força política defende e começo a achar que os termos estão trocados...

A todos - que as tertúlias continuem!

Pedro Cruz Gomes disse...

José,

O meu comentário referia-se às pessoas que viviam em barracas e foram realojadas em edifícios bem construídos; que antes da mudança não tinham nem saneamento básico nem fornecimento de água potável nas habitações; que viviam em condições inferiores às que nós - como país "desenvolvido" que nos gostamos de considerar - consideramos não serem dignas para qualquer ser humano. Essas pessoas a quem o Estado - e bem - reconheceu o direito à cidadania e a verem a si aplicados os direitos consignados na Constituição e a quem o Rodrigo louvava a "paciência". Vou repetir - não me choca nada a melhoria de vida que os Estado lhes garantiu - choca-me que - face à classe média que tem de trabalhar a sério e que é defraudada nas suas expectativas de qualidade de vida, tendo de pagar um preço elevado por porcarias - continue a exigir mais e mais, como se a condição oficial de "pobre" lhe garantisse um tratamento de excepção. É tempo de acabar com tanta choraminguice - se os direitos são iguais (volto a reafirmar: são, sim senhor) os deveres também o são: por exemplo - o dever de trabalhar para sustentar a família.

Unknown disse...

Pedro,

Acho que esta discussão estava mais gira quando se estava a discutir Lisboa "velha" e Lisboa "nova", estava a gostar muito de ler. No entanto cada um toca-se mais com diferentes assuntos e, para mim, a tua última frase é daquelas que me faz mesmo querer deixar um comentário. No entanto espero que a conversa volte ao rumo inicial e não retomemos aqui o velho debate social de tantos outros posts.

Mas o acusar alguém de não cumprir "o dever de trabalhar para sustentar a família" pressupõe a culpa e responsabilidade. Pressupõe que x ou y não trabalham pq não querem. Ainda que com certeza existam esses casos - desde o "chulo" dos subsidios por indigência, ao rico "playboy" (a atitude é a mesma!) - não me parece q seja o caso da maioria. O desemprego existe efectivamente; algumas minorias étnicas são tb mais afectadas que outras. O mundo é mesmo injusto, infelizmente. E é uma ilusão achar que a sorte de cada um depende exclusivamente de si. Além do mais esse perfil do "malandro" (sensu Chico Buarque) acho que se encaixa mais numa determinada faixa etária, independentemente da classe socio-económica, do que precisamente dessa classe socio-economica.

Obviamente que se pode/deve criticar o sistema. As vezes geram-se situações irreais. Por exemplo, pergunto-me onde raio me encaixo eu socio-economicamente: prossegui a carreira académica com bolsas de estudante para, agora, já não ter bolsa, continuar sem emprego, ser sobrequalificada para a maioria das coisas e nem sequer fazer parte das estatisticas de desemprego pq na verdade nunca tive nenhum. Será que posso pedir o rendimento minimo garantido? :-)

João Tito Basto disse...

Joana esse é o problema de textos como este que mexem com as pessoas, segue-se uma serie grande de comentários e passado algum tempo os temas que se discutem já não têm a ver com o tema original (e por vezes passa-se para o insulto, o que felizmente não é o caso).

Por essa razão vou comentar exclusivamente o texto e não os comentários.

Pedro parece-me que é sempre válido discutir o futuro de uma zona onde está previsto em 2010 viverem 56000 habitantes. Parece-me que também é válido saber qual o impacto que a Alta de Lisboa vai ter para o resto da cidade.Já não me parece interessante partir do principio que a Alta de Lisboa é logo à partida um projecto falhado. As razões que apresentas (permite-me tratar-te por tu já que somos colegas de blog) para esse falhanço são (no minímo) muito discutiveis.

Não sei se a única e esclusiva motivação para este projecto terá sido "pagar a demolição do existente e a edificação de habitação social para os desalojados" mas parece-me uma ideia demasiado redutora, será que aquela zona (e sim estamos a falar de Lisboa)não necessitava urgentemente um plano de requalificação? Será que não faz sentido transformar um local perfeitamente degradado com pessoas a viver em condições deploráveis e uma criminalidade alta numa zona aprazível? O "ovo-de-colombo" que tu falas provavelmente foi uma boa solução, é importante não esquecer que a "operação urbanística megalómana" também vai criar novas acessibilidades, novos espaços verdes (são 70 dos 300 hectares da Alta de Lisboa)e principalmente novos equipamentos para a cidade. Estamos a falar de 15 unidades de ensino, 36 parques infantis, 6 centros de dia, 2 centros de saúde 2 salas de espectaculos, 1 museu, 29 unidades desportivas (Piscinas, pista de atletismo,campos de jogos,etc,etc,etc), 1 mercado de productos biológicos,3 esquadras.

Claro que tudo isto vai demorar tempo a construir, quem vive na Alta de Lisboa sabe que vai ter que "gramar" obras durante muito tempo, mas talvez valha a pena, talvez sejam argumentos para muita gente optar por esta zona em detrimento de uma casa com 30 anos (claro sem estacionamento ou com canalizações podres) mais cara na "Lisboa-cidade".

As questão relacionadas com o Marketing do empreendimento são completamente irrelevantes no meio de isto, falares da "Alta" ou "Alto" até dá piada ao texto mas acredita não adianta nada para o tem a central que aqui apresentas. A parte comercial se vende ou não vende também não, posso mesmo dizer-te que neste momento não se vende nada em nenhuma zona da Lisboa.

O não ser "uma mais-valia para a cidade", é mais uma vez uma opinião discutivel, penso que ter um local de 300 hectares (é o tamanho de Coimbra) que convém não esquecer é em Lisboa com tudo o que já falei anteriormente, em vez de barracas e tudo ainda por cima ser pago por privados, não me parece mal. Se cobre ou não os investimentos é um problema da SGAL mas uma coisa é certa em 2010 contratualmente toda a parte de infra-estruturas e equipamentos tem que estar pronta.

Quanto ao futuro da Alta, mais que "cumprir o fado lusitano e lá ir sobrevivendo numa apagada e vil tristeza?" penso que vive lá muita gente para quem o "fado" e do conformismo não fazem parte das suas vidas.

A Ver Vamos!

Ponto Verde disse...

A reflexão vale a pena, mas veja o que foram os ultimos 30 anos em termos de Ambiente no www.a-sul.blogspot.com.

Só que nessa altura não havia esta opinião publica e estes meios que há hoje em dia. Vale a pena a cidadania!

Rodrigo Bastos disse...

Claro que a reflexão vale sempre a pena :)...Ainda para mais quando se têm a capacidade de discutir temas e não pessoas :))

Que continue sempre assim...

Nota: E então o que se dirá dos meus João ehhehehehe

João Tito Basto disse...

O meu comentário está com alguns erros, não levem a mal mas escrevi à pressa e acabei por não o rever.

Ana Louro disse...

Considero que vale a pena reflectir sobre o presente e o futuro de Lisboa e a viabilidade da Alta. Receio que a concretização das infra-estruturas e equipamentos projectados para a “Alta de Lisboa” esteja dependente da construção e venda dos empreendimentos habitacionais e que o projecto não seja concluído naqueles aspectos com a desculpa de que foi planeado para x habitantes e na realidade somos bastante menos.

Talvez a necessidade de demolição das zonas degradadas e a sua reconversão não tivessem que implicar um projecto desta envergadura, que pensado como uma nova centralidade da cidade pecou pelo atraso, pois ter-se-ia evitado a saída de tantas pessoas para a periferia (justificada pelo preço das habitações em Lisboa) e não estaríamos agora a questionar se haverá compradores/habitantes (aliás mesmo sem crise sabemos que nunca haverá compradores para o que foi previsto em termos de PDM para todo o país). Também não gosto de ver Lisboa a cair aos pedaços e a crescer sem um programa concreto de futuro. E custa-me ver a falta de concertação de políticas de solos, de habitação e de transportes ou pior, a falta de qualquer política sustentável nestes sectores.

Talvez a crise não tenha só desvantagens, porque é capaz de implicar uma baixa de preços (e até aumento da qualidade), refrear a pressão urbanística (apesar dos atentados já terem sido cometidos e o desordenamento territorial estar aí) e diminuir a área edificada ou o número de fogos ou a altura das construções. Chamem-me inocente, mas não quero acreditar que a única forma de viabilizar intervenções urbanas seja a construção em altura. Se a crise implicar uma alteração do projecto a este nível talvez não seja tudo mau. No entanto será muito mau se no resto o projecto não se concretizar e a Alta de Lisboa se transformar em mais um dormitório suburbano como tantos outros. Quero continuar optimista, pois se assim não fosse nem sequer comentava, mas não posso deixar de ser também realista.

Só não concordo que sejam “deveres dos moradores, nomeadamente o dever de lutar por aquilo que lhes foi vendido”. Preocuparmo-nos, agir, lutar pelos direitos e pela melhoria da nossa qualidade de vida acho que é mais um direito que infelizmente temos que usar. Tive que lutar pelo que me foi vendido e não me foi entregue em tempo por incumprimento de um contrato por parte de quem prometeu vender. Preferia não ter que continuar a lutar pela conclusão de algumas obras ou pela simples colocação de passadeiras que já deviam existir. Será que é necessário alguém ser atropelado para as coisas evoluírem, será que sou só eu que dou pela falta da passadeira, e cada um de vós pela falta do abrigo na paragem de autocarro, do passeio digno ou do buraco por tapar e do jardim ou rua por concluir. Para onde olham os outros moradores da Alta de Lisboa? Basta-lhes esperar pelo final do projecto para aferir se tudo foi concretizado? E depois lutarão? Não será já tarde demais nessa altura? E para onde olham os responsáveis da UPAL. Não terão, eles sim, deveres a cumprir. Preferia usar o meu tempo a ajudar a dinamizar o bairro noutras vertentes e não a chamar a atenção para o que já devia existir. Certamente há muitas pessoas preocupadas com o presente e com o futuro da Alta, mas que, por uma ou outra razão, ainda não se manifestaram...

d. disse...

Os bairros ganharam o seu valor pelo que as pessoas fizeram deles. Resistindo à tentação de encontrar um bode expiatório pela insegurança que temos e vamos continuar a ter por termos tido suficiente coragem para comprar casa num projecto de futuro, reitero que quanto mais não seja, olhemos para a restante Lisboa e principais capitais do Mundo. Vamos continuar com a sensação de que somos inferiores, toda a gente nos engana e só em Portugal é que há atrasos e erros nas obras? É impressão minha ou a SGAL vende lugares no céu e eu não me apercebi disso? Algum de vós foi enganado no processo de compra de casa? Não está claro há bastante tempo o que a Alta vai ter e, por exclusão de partes, o que não vai ter?
Por que é que não dão uma hipótese ao pensamento de que o que vai fazer a Alta diferente já não está nas mãos da SGAL, mas sim nas nossas? Porque é que as questões de condomínio são por natureza e obrigatoriamente de conflito contra tudo e todos? São pura e simplesmente questões que se resolvem.
Quem dos que já está a viver convidou os vizinhos para um café em casa? Com quantas pessoas meteram conversa na rua? Tirando o passeio de bicicleta, quantas actividades mais existem para familias? Espero que muitos, pois ficarei ainda mais ansioso pela mudança.
Criticar, criticar e criticar. Ter voz activa não é só isso. É fazer, é sobretudo CRIAR. E CRIAR está muito mais ao nosso alcance do que se possa julgar. Eu (ainda) moro em Alvalade muito perto do aeroporto. E estou-me nas tintas para o barulho dos aviões. Estou-me nas tintas para o trânsito ( ele não vai nunca desaparecer), não quero saber se nos outros países é diferente (como é possível relacionar coisas assim?).
Desculpem este teor mas eu acho difícil viver assim.
Claro que há coisas a mudar, mas não é hoje. Tanto se critica que não se repara nesta ocidentalização do pensamento. Tem de ser hoje e já!
Fomos todos enganados?