segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Arrumar a casa

Quis, nos dois últimos posts, lançar duas questões que me parecem fundamentais para Lisboa, ainda que só paralelamente relevantes para um blog como é este Viver. Feliz ou infelizmente, temos sempre a tendência de traduzir o que lemos de acordo com as nossas preferências / preocupações e - mesmo sendo extremamente salutar a discussão que se gerou nos comentários - parece-me que, para alguns, as questões passaram ao lado.

Ponto prévio: as minhas palavras não visavam atacar a Alta - antes lançar um debate que me parece relevante para o futuro da cidade - e muito menos menorizar o "produto" imobiliário que a maior parte dos participantes adquiriu - antes torná-los mais conscientes dos "riscos" que correm ao tornarem-se proprietários de imobiliário em Portugal - e, como tal, consumidores mais exigentes e intervenientes.

Deste modo, vou relançar as questões de uma forma mais directa (se é que isso é possível em alguém que - vá-se lá saber porquê... - parece fazer do gongorismo imagem de marca das suas intervenções):

1. Numa cidade em acentuado decréscimo populacional, com uma zona histórica em que é consensual a necessidade de preservação e consequente reabilitação e com uma rede de transportes de superfície sufocada pelo trânsito automóvel de privados, fará sentido criar uma nova polarização habitacional na periferia da mesma com uma perspectiva de ocupação que atingirá quase 15% da população actual?

e

2. Dados os preços cobrados por metro quadrado e o tipo de construção realizado será que se está a pagar um preço justo? Sendo - ao contrário do que já vi referido - a "qualidade" da construção um dado fisicamente mensurável e comparável com o previsto na regulamentação nacional, não terá chegado o momento de exigir essa comprovação?

5 comentários:

Tiago disse...

Ricardo: obrigado pela sugestão da sondagem, é uma excelente ideia e estará disponível em breve. É um ponto interessante também a análise dos custos de uma habitação conforme os custos e tempo de deslocaçao. Infelizmente estamos a ser confrontados da pior forma com esse problema.

Anónimo disse...

Em relação ao ponto 2, não sei. Quanto ao ponto 1, para mim a resposta é sim, faz todo o sentido. Lisboa tem uma densidade populacional bastante baixa em relação às outras grandes cidades europeias e está a tornar-se numa espécie de buraco vazio no meio duma grande aglomeração. Pode e deve crescer até ao milhão e meio de habitantes. O que não implica, claro, que seja urgente resolver o problema das dezenas de milhares de casas desocupadas. Não são coisas incompatíveis.

Rodrigo Bastos disse...

Já viram o projecto que a EPUL está a fazer ao pé da antiga feira popular? Se não então aqui está: http://www.epul.pt/pentrecampos/

"
Lançado pela EPUL – Empresa Pública de Urbanização de Lisboa no final de Julho, este concurso registou o recorde de inscrições, para um só empreendimento, de toda a história destes Programas para habitação exclusivamente dirigida a jovens, o que justificou a expectativa com que as cerca de sete centenas de presentes assistiram a todo o sorteio na esperança de verem o seu nome aparecer nos ecrãs.

Com mais de 9.100 inscrições para 305 apartamentos, decorreu ontem, dia 8 de Setembro, no Mercado da Ribeira, o sorteio relativo ao concurso EPUL Jovem para a Praça de Entrecampos.(...)"

"(...)Com uma área de construção bruta que ascende a 238 mil m2, o empreendimento Praça de Entrecampos vai compreender na totalidade, mais de 700 fogos distribuídos por três edifícios, e cerca de 24 mil m2 de escritórios e 11 mil m2 de comércio, estes localizados essencialmente nos níveis de rés-do-chão dos vários edifícios do conjunto.(...)"

Assim se vão trazendo pessoas para Lisboa.... 9.100 inscrições para 305 apartamentos. E quem não ganhar o sorteio para onde é que vai? Sgallllll?...A EPUL a concorrer com a SGAL ;)

Pedro Cruz Gomes disse...

Eh, eh, eh, Ricardo, se os teóricos da reabilitação urbano te ouvissem já estavam a preparar a fogueira... Como tu já pensaram muitos no passado - por exemplo, a alta de Coimbra foi arrasada com as mesmas justificações nos anos 40. No final do século XiX esteve quase a avançar o projecto d eum grande "boulevard" que ligaria o largo do Chafariz de Dentro em Alfama ao Castelo - à custa do arrasar de toda a construção da colina. E... eu acho a comparação de mau gosto mas não resisto: o Ceasescu fez o mesmo em Bucareste para albergar o seu palácio - nada de monos velhos a estragar a paisagem!
Continuo a não ver respondida a pergunta: onde se vai buscar gente para "reencher " Lisboa? Às populações envelhecidas dos bairros históricos? À classe média da Grande Lisboa? E quem recompra? Fica o Estado co elas de volta para demolir e fazer florestas? Quem paga? Nós, no intervelo das prestações ao banco?

Tiago disse...

Caro Hugo Sousa, venham daí essas fotografias. O email é viveraltadelisboa@gmail.com