quarta-feira, 20 de junho de 2007

Lx2007 - Cidadania (VII)

É uma hora e vinte da manhã. Gostava de ter um gravador com um bom microfone para aqui colocar a chinfrineira provocada pelos trabalhos ininterruptos de betonagem do tabuleiro do eixo Norte-Sul.

É nestas coisinhas de arrogância que se vê o quanto os organismos públicos deste país estão afastados da população para o bem da qual supostamente estão a trabalhar.

Em que é que uma auto-estrada de 6 pistas a atravessar a cidade contribui para o afastamento do trânsito da cidade?

Como é que um engenheiro do ambiente pode, em honestidade, subscrever a opinião de que é admissível uma auto-estrada de 6 pistas a passar em viaduto ao nível de um terceiro andar no meio de um núcleo urbano consolidado?


Em nome de que pressas autárquicas se sujeitam os cidadãos a estes decibeis à uma da madrugada? Que bem comum é este que justifica o incumprimento dos limites configurados na lei?

12 comentários:

Unknown disse...

Realmente é muito desagradável essa situação!
No entanto mesmo que se apresente queixa, a autarquia pode refugiar-se na alinea da legislação do novo regulamento geral do ruído de que a obra é de utilidade publica com carácter urgente, bla, bla bla!

Na grande maioria dos casos o técnico de ambiente pouco ou nada pode dizer ou fazer para alterar estas situações. Simplesmente não é ele que toma essas decisões e mesmo não concordando vai dar ao mesmo.

Esperemos que a situação se resolva rapidamente e que o ruido acalme.

Pedro Veiga disse...

O ruído não acalmará. Será substituído pelo dos automóveis ao qual se juntará mais poluição atmosférica.
O debate de ontem sobre Lisboa deu para perceber como a maioria dos candidatos está interessado em continuar a defender a primazia do automóvel sobre o pobre do peão.
As pessoas adoram comodidade. Isto de andar com o rabo sentado num "sofá como rodas" é muito melhor do que andar a pé. Eu dou razão a esta preferência porque andar em Lisboa a pé nos dias de hoje é coisa de aventureiro e de desportista. Quem for deficiente, acompanhante de criança pequena, ou estiver pouco treinado tem muita dificuldade em vencer os obstáculos desta cidade. Em consequência disto Lisboa está a morrer aos poucos porque as medidas de fundo para devolver a rua ao peão tardam a ser postas em prática.
Ainda não entendi como é que os nossos políticos, tão viajados que são por essa Europa fora, ainda não aplicaram as boas soluções que estão em vigor em muitas cidades por eles visitadas. É estranho!

Pedro Cruz Gomes disse...

Luís,

O engenheiro do ambiente pode fazer muito. Por exemplo no Estudo de Impacto Ambiental defender que a obra não deveria ser realizada em virtude dos impactos negativos que tem sobre a população residente, ao invés de afirmar que, com as barreiras anti-ruído, o incómodo é menor face aos benefícios. Quais benefícios - os dos honorários que recebeu?

(E pronto, para não acharem que lhe estou a chamar corrupto eu explico a afirmação: não conheço nenhum EIA que não confirme na generalidade a validade das propostas que apreciadas. Será que quem as contrariasse voltaria a ter encomendas?)

susana disse...

Mas que raio de alínea é essa?
Se tem urgência comessasse mais cedo, se agora é que é urgente não se atrasassem!

Urgente é mudar esta cidade e estes políticos de ocasião que aparecem em de(comb)ates sem sequer terem lido as propostas que apresentam.

Qual dos senhores irá apresentar aqui um post sobre o debate de ontem?

Anónimo disse...

Walk to work. It's fantastic. ( Luis, I agree it might with small children)
http://mytechvision.wordpress.com/2007/05/22/no-tech-legs/

Unknown disse...

É triste realmente portugal dar prioridade aos carros, auto-estradas, portagens e tudo o mais, em vez de melhorar as acessibilidades, transportes públicos etc!

Exactamente como referiram o contrário da europa.

Estive à pouco tempo em barcelona (onde a ONCE tem um peso enorme) e a cidade é um espectaculo em termos de acessibilidades para pessoas menos capacitadas, já para não falar dos excelente transportes públicos. Buracos? falta de passadeiras, automóveis nos passeiso e outros que tais são personagens de ficção.

Sem querer alongar a história do ambiente, quantos estudos de impacto ambiental que apontam para verdadeiros atentados ecológicos e urbanisticos que ficam fechados nas gavetas por motivos políticos e pressões do império do cimento. E isto só para dar um exemplo.

A verdade é que neste caso há ainda um longo caminho a percorrer, mas não por causa do profissional de ambiente...

Ah e há uma diferença muito grande entre um ambientalista e um profissional formado em ambiente (não tem nada a ver um com o outro).

Eu sou grande adepto dos transportes públicos e assim que estiver instalado na alta irei continuar a usa-los.

Além do mais adoro descobrir lisboa a pé!

Cumps

Cininha disse...

Com a cidade que temos já quase só posso fazer as minhas caminhadas até ao Parque das conchas, lá dentro e de regresso. Mas nesta história das obras do eixo até ir e vir do Parque se transforma numa verdadeira aventura, ideal para praticantes de orientação. Senão vejamos: quem quer circular junto às antigas instalações da JF Lumiar (o cruzamento na imagem) tem de dar uma volta enorme ou sujeitar-se às surpresas do trânsito (reduzido a 1 faixa em cada sentido). Não há passadeiras alternativas e não há avisos, só uma faixa a bloquear o acesso... Todas as semanas aquele passeio transforma-se: antes existia, depois foi reduzido a um 'nico que mal se vê', depois alargou-se até entrar estrada dentro e agora pura e simplesmente deixou de existir. Desconfio que p'rá semana sempre vamos ter uma daquela passagens com protecção em madeira, não vá alguma coisa cair em cima dos transeuntes...

Anónimo disse...

Com franqueza! Então agora não queriam que o Eixo Norte Sul (que eu acho fundamental para tirar carros da esgotadissima 2a circular) não fosse acabado? Acham que vai haver mais poluição do que já há na Padre Cruz ou na Calçada do Carriche. De facto somos sempre o velho país dos Velhos do Restelo.
Nascemos todos para dizer mal de tudo. Quem não quizer viver na cidade pode sempre ir para o campo, que bem precisa de ser reocupado.

Pedro Cruz Gomes disse...

FRCouto,

Claro que no Lumiar, após a conlusão da N-S, vai haver mais poluição do que havia, assim como é claro que não vai haver menos poluição em Lisboa - apenas irá mudar de sítio. Neste caso, de zonas com menor densidade construtiva do que no Lumiar.

A questão não é a conclusão da Norte-Sul: é a da solução encontrada para o seu atravessamento no Lumiar. Para além disso, há ainda o facto do desenho inicial da mesma, do início dos anos 70, se basear numa morfologia urbana que o tempo e o atraso da sua implantação inviabilizou completamente. Se a função principal da N-S é a da ligação entre a A1 e a ponte 25Abril porque não escolher um traçado mais curto fazendo a ligação na CRIL junto a Monsanto? Porquê retalhar ainda mais a cidade?
Se isto é ser velho do Restelo, o que chamar àqueles que insistem em defender soluções ultrapassadas ? Persistentes?

Cininha disse...

Sai da frente que atrás vem gente ou melhor tirem daqui este carro que atrás vêm mais 3 ou 4.
Epá, construam à vontade. Aliás, o (único) mal desta cidade é não haver mais estradas para desbloquear as que já existem... Quem quer comboios ou autocarros movidos a outro combustível que não o (quase esgotado, poluente e caro) petróleo? Quem quer ar puro e qualidade de vida? Nah, isso é para os velhos do restelo...
Meus amigos, não há nada como o progresso.

Anónimo disse...

Concordo com o FRCouto. O Eixo N/S será fundamental para desimpedir a Calçada de Carriche, um dos pontos de maior tráfego de Liboa (entrada e saída). Sendo óbvio que o númerod e carros será o mesmo e a poluição não diminuirá, não vos parece óbvio que ter o trânsito fluido será muito melhor que ter o transito parado?

Anónimo disse...

As betonagens à noite têm razão de ser, desde a homogeneidade do betão no tramo a betonar (são betonagens que duram mais de 12h), até ao fecho do trânsito de modo a minimizar impacto ocorrido no trânsito local, que é mais intenso de dia, ou mesmo para acesso das autobombas ao local.

Cumps.