Reabriu na passada segunda-feira a Quinta dos Lilazes, após muitos meses de requalificação. Em conjunto com a adjacente Quinta das Conchas, constitui-se como o terceiro maior espaço verde da cidade de Lisboa. Na Quinta dos Lilazes é possível ouvir o chilrear dos passarinhos, sentir uma calma e paz difíceis de encontrar no rebuliço de uma cidade. A requalificação feita está na linha da que conhecemos na Quinta das Conchas. Os bancos (poucos) e candeeiros são iguais, daqueles de madeira, mas os caminhos são de terra, como os da Mata da Conchas, havendo alguns com lages de pedra embutidas no chão, entre o prado. A não utilização do cimento preserva algum do lado mais íntimo da natureza, sem invasões demasiado artificiais. Neste sentido gosto mais deste arranjo do que o da Quinta das Conchas.
Os conceitos de Parque Urbano aplicados na Quinta das Conchas e dos Lilazes e o criado de raiz no Parque Oeste são claramente opostos. No Parque Oeste tudo é controlado, austero e frio, a meu ver. Não há bancos, não há iluminação, as árvores crescem em zonas demarcadas, a relva constantemente aparada. Nota-se demasiado a intervenção do Homem. Na Quinta dos Lilazes a fusão entre Homem e Natureza tem 100 anos de avanço sobre o Parque Oeste, é certo, mas há ali uma qualquer vontade que nos transcende, que torna tudo tão fresco. Espero estar completamente enganado, talvez se visse a Quinta das Conchas há cem anos ou o Parque Oeste daqui a outros cem, chegaria a outras conclusões.
António Prôa, vereador dos Espaços Verdes, presente na cerimónia de inauguração, referiu que se prevê a instalação de uma esplanada no local, num acordo que implicará a manutenção do espaço verde por parte do concessionário. Adoro esplanadas, algumas, porque gosto de beber um café e ler o jornal ou simplesmente ver o rio a passar-me entre os dedos, mas as novas tendências são-me bastante desagradáveis. Espero que esta esplanada não inclua música. A música tornou-se nesta nossa sociedade um elemento tão descartável como uma fralda recheada ou um papel de parede barato. Serve cada vez mais de fundo, de apetrecho ou acessório, começando aos poucos a deixar de ser um fim em si. Há música em elevadores, em centros comerciais, em supermercados, no metro, até em parques de estacionamento. Não a pedimos, não a escolhemos, é-nos imposta. Até nalguns centros históricos de aldeias por este país fora, governadas por autarcas pimba, a música ecoa a cada esquina, sem critério, sem motivação, sem cabimento. Lixo, poluição, se tornou. O silêncio deixou de existir nas nossas vidas; deixámos de o apreciar, mete-nos medo, faz-nos sentir sós. Pobres de nós… Concessionar uma esplanada igual a tantas outras, com música (seja qual for) a impor-se ditatorialmente, seria um erro crasso na preservação do ambiente que se consegue fruir na Quinta dos Lilazes. A avançar com esta ideia, voto numa esplanada Zen, onde o silêncio seja audível.
A ver vamos. Por enquanto, abrir a Quinta dos Lilazes foi uma boa ideia e irá directamente para a lista das de 2007 já realizadas.
15 comentários:
" (...)centros históricos de aldeias por este país fora, governadas por autarcas pimba, a música ecoa a cada esquina, sem critério, sem motivação, sem cabimento" - estavas a pensar no Chiado da era Santana Lopes, certo?
Pois, já nem me lembrava dessa...
Sim, foi uma boa ideia e é aproveitá-la bem sobretudo enquanto for sem música ambiente.
Tiago,
Gosto muito da primeira fotografia! O nevoeiro fica mesmo bem!
A primeira foto é realmente muito zen.
Pois já sabia que tinha finalmente aberto ao público, tão aguardado espaço.
Tenho dúvidas quanto à esplanada... para ser zen, e de maneira que se ouça o silêncio, só se não tiver copos, nem chávenas, nem ajuntamentos de pessoas à conversa.
Mais valia porem só as mesas e cadeiras confortáveis para leitura. Eu preferia sofás ao ar livre...
Bom seria que esse fosse um jardim dedicado ao silêncio!
Sim senhor. Este post até "faz crescer água na boca".
E que tal uma passagem por aqueles lados no próximo passeio de bicicleta? dia 28?
Há uma ideia para fazer essa ligação, só que ainda é só uma ideia...
Linda a primeira fotografia!
Mais um voto para a esplanada zen!
Rui Filipe
eu gosto tanto de não ouvir música....
apoiado o conceito de esplanada zen!
agora um problema, eu tenho o sentido de orientação de uma criança de 3 anos...alguém me explica onde fica a Quinta dos Lilazes? Tem entrada a partir da Alta ou só a partir da Alameda das Linhas de Torres?
Tem entrada pela Quintas das Conchas. A fronteira que divide Quintas das Conchas e Quintas dos Lilazes é o muro que vai desde a Alameda das Linhas de Torres até ao Condomínio das Conchas. Os portões de entrada são nesse muro.
Não me parece que passeios de bicicleta sejam os mais apropriados a um jardim zen...
A pé o passeio é mais rico em pormenores e silêncio.
A 1ª foto está simplesmente fantástica - tão boa que acabei por a colocar no meu blogue. Gostaria de divulgar a autoria pelo que se puder dar-me essa informação...
Aliás, o blogue versa precisamente sobre as questões relativas à Quinta das Conchas e dos Liláses, e bem poderia ser também a Quinta dos Ulmeiros, não fosse a pressa de inundar Lisboa de betão!
A fotografia é minha, obrigado. E qual é o seu blog?
Em http://istoeumaespeciedeblogue.blogspot.com/ dou os 1ºs passos no mundo bloguístico.
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