quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

CML não esclarece munícipes

O leitor e vizinho Pedro Pinto reparou que o prédio que está a ser construído na Rua Manuel Marques, mesmo em frente à SGAL, ali já na zona da Quinta do Lambert, não tem nem o perfil nem a altura dos seus prédios contíguos.

Procurou obter esclarecimentos mas o email enviado para a CML a 6 de Janeiro não mereceu até hoje qualquer resposta.

O Viver não estranha o silêncio. Os contactos com a CML, salvo rara e honrosas excepções, costumam ser frustantes. Com sorte, dependendo de quem se apanha ao telefone, consegue-se conversas hilariantes como aquela do "Arq. Manuel Salgado? Não conheço... É mesmo para este departamento que deseja ligar?"

Segue então o mail enviado por Pedro Pinto para a UPAL:


De: Pedro Pinto
Enviada: terça-feira, 6 de Janeiro de 2009 17:55
Para: 'DMGU - UPAL'
Assunto: Edifício em construção na Rua Manuel Marques



Exmos. Senhores,

Após ter já estabelecido contacto com a arquitecta Sara Godinho, venho por este meio apresentar por escrito algumas questões relativas à construção do futuro edifício número 17 da Rua Manuel Marques. Apesar de ter acompanhado desde Março de 2008 as movimentações no terreno, não me foi possível encetar um contacto com o departamento da UPAL antes do mês de Dezembro, já que não tinha conhecimento do projecto do imóvel.

1. No passado dia 28 de Dezembro, fui averiguar com mais algum detalhe o edital do edifício, havendo constatado que se encontrava incompleto. Em primeiro lugar, é referido que o imóvel possuirá 12 pisos, embora não se indique se esse número se refere aos pisos acima da cota soleira ou ao total, encontrando-se apenas entre parêntesis letras que deverão remeter para uma legenda que não acompanha o edital. Seguidamente, não só o espaço relativo à cércea não foi preenchido como também o prazo da obra se refere a 2009, e não a um dado número de meses, conforme é usual.

2. Tenho a lamentar que o edital dite que o alinhamento da cércea do edifício seja feito com base no lote de gaveto, com o número 23, onde se encontra instalado o Millennium BCP. Dever-se-ia ter em conta que a Rua Manuel Marques apresenta uma continuidade para sul, caracterizando-se os imóveis numerados de 1 a 15 por apresentarem apenas 7 pisos acima da cota soleira, razão pela qual o edifício em construção deveria seguir o alinhamento do lote contíguo, com 9 pisos acima da cota soleira, fazendo-se assim uma ponte mais harmoniosa entre um e outro lado da rua.

3. De acordo com o projecto do edifício publicado numa brochura publicitária da imobiliária que o deverá comercializar, o imóvel em construção adquire uma estética totalmente diferente tanto do lote contíguo como do edifício que serve de base ao seu alinhamento. Por exemplo, note-se que a partir do piso 7 a fachada do novo edifício apresenta uma saliência bastante pronunciada, algo que apenas ocorre no piso 9 no lote que acolhe o Millennium BCP. Além disso, a arquitectura do imóvel em construção é totalmente diferente nos pisos 7 a 10 face aos inferiores, não se revelando uma solução minimamente harmoniosa.

4. O número de pisos previstos acima da cota soleira prevê a edificação de 10 pisos de habitação, bem como de outro para a acesso ao edifício, totalizando 11 pisos na fachada principal. No entanto, de acordo com as indicações recolhidas junto da arquitecta Sara Godinho, o número de pisos acima da cota soleira deverá ser de 12, não se respeitando uma vez mais os 9 pisos que o lote contíguo apresenta acima da cota soleira.

5. Com a estética adoptada, pode verificar-se que o edifício em construção irá avançar mais alguns metros ao passeio público do que o lote contíguo, apesar de não utilizar o comprimento total do terreno que se encontrava vedado há já alguns anos. No entanto, com a largura em excesso, desde logo se pode deduzir que a implantação do imóvel não é agradável em vários ângulos, especialmente visto da zona do Millennium BCP e do Pingo Doce, uma vez que não tem em conta de que a rua apresenta uma continuidade para sul.

6. Foi ainda edificado a poente do edifício um pequeno escritório há cerca de 15 anos, com apenas 4 pisos acima da cota soleira. Com a construção desde novo imóvel, que apresenta mais 7 ou 8 pisos do que o escritório e mais 2 do que o lote contíguo, não só não parece ser cumprida a regra dos 45 graus como também a distância entre o edifício em construção e o escritório é francamente diminuta, devendo rondar os 6 metros. Caso se prolongue a cércea do lote contíguo ao terreno onde se encontra em construção o novo edifício, obter-se-ia, sem quaisquer avanços, uma distância de mais de 10 metros, de acordo com as medidas efectuadas através do site Lisboa Interactiva.

Pede deferimento.



Agradecendo desde já a vossa atenção, subscrevo-me com os melhores cumprimentos,

Pedro Pinto

3 comentários:

Pedro Veiga disse...

Esta tem sido a política seguida em muitas zonas urbanas já consolidadas. Encher ao máximo todo o espaço disponível com apartamentos a preços de luxo. As ruas ficam intransitáveis, não há estacionamento e assim se faz uma cidade de "alta qualidade". Vende-se gato por lebre e ninguém quer saber disto para nada. A qualidade do espaço urbano público é a essencial e não a que está dentro do apartamento ou no lugar de estacionamento subterrâneo privado.

Anónimo disse...

Mas alguém me sabe dizer como posso embargar essa obra?

Por menos do que as questões aqui levantadas, a CML se prontificou a mandar parar o Condominio Lx, pois entrava em conflito com os interesses do empreendimento na construção do qual está envolvido familiar do vereador do pelouro (ah! ooops... isto não era para dizer...)!

Anónimo disse...

Pedro, será possível fazer um "post" com a imagem do projecto que vem na brochura que menciona? Confesso ter alguma curiosidade em ver como vai acabar por ficar aquele mastodonte de betão.