sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Jornalismo felattio

Há uns meses, já lá vão mais de dois anos, acompanhei uma jornalista de um dos mais conceituados diário nacionais num périplo pela Alta de Lisboa. Expliquei-lhe a génese, as motivações do projecto, o que estava feito e o que faltava, o que correu bem e o que correu mal. Ela só perguntava e criminalidade, não há? Vocês andam à vontade na rua?. Não estamos à vontade na rua? Sente-se insegura?, respondi. A visita terminou na parte mais alta, na zona da Feira das Galinheiras, com vista para a Alta, ainda em esboço, mas com visível plano de urbanização subjacente, e à direita o caos suburbano de Odivelas e Santo António dos Cavaleiros.

Confessou-se impressionada, que Lisboa precisa de planos de urbanização assim, pensados de raiz, que evitem os erros dos subúrbios e das cidades-dormitório. Que era incrível a CML estar tão alheada de um projecto que tinha lançado e que dependia dela. Espere uma semana, Tiago, faço um artigo daqui a uma semana.

Passaram mais de dois anos. Lembro-me que cerca de um ou dois meses depois a mesma jornalista assinou um artigo sobre a inauguração de uma clínica dentária no centro comercial Twin Towers, em Sete-Rios.

Ontem, no PÚBLICO, saiu mais um artigo de grande interesse jornalístico: a abertura do Starbucks em Lisboa. Assinado por outra jornalista igualmente jovem, igualmente a recibos verdes, igualmente igualmente.

Também o Diário de Notícias, desde que tem João Marcelino como director (ex-Correio da Manhã), substituiu a secção Cidades, que abordava temas como transportes, urbanismo, cidadania, por uma secção dedicada a crimes de faca e alguidar.

8 comentários:

Mr. Steed disse...

Boa malha!

Pedro Cruz Gomes disse...

Vale mais cair-se em graça do que ser-se engraçado. O Público e o DN têm aquele ar institucional mas são tão compráveis quanto os restantes. Ao menos os de distribuição gratuita mantêm uma página sobre Lisboa com notícias actualizadas sobre a Alta (M. se nos estás a ouvir, temos uma cacha para ti)

Anónimo disse...

Caro Tiago

Só alguém com um profundo desconhecimento do funcionamento interno de qualquer orgão de informação (o que, creio, não é o seu caso) é que pode meter no mesmo saco o esquecimento a que acha ter sido votado e a atenção dada à abertura em Portugal (muitissimo antecipada, aliás) de uma das maiores cadeias mundiais do ramo da restauração.

Como sabe, os critérios para definir o que é tema de "notícia" nem sempre corresponde ao nosso "quintal", por mais que isso nos custe - ninguém quer ter um bairro social à porta de casa, mas será que isso é, necessariamente, motivo de "agenda" noticiosa? Toda a gente odeia a Teresa Guilhereme, mas será que o sucesso das audiências do hediondo "O Momento da Verdade" não é motivo para desperdiçar tinta nuns quantos milhares de caracteres, nem que seja de reflexão sobre a mentalidade dominante no país em que nos tornámos?

A diferença entre ignorância e ingenuidade e, só, a idade do "portador", e parece-me que o seu discurso não é o de uma criança de 8 anos. Por isso, Tiago, e respeitosamente, peço-lhe que seja mais ponderado, justo e "adulto" nos seus pareceres. O direito de expressão não deve ser confundido com o direito ao disparate. En passant, aproveito para lhe comunicar que o Pai Natal não existe e que até o coelho da páscoa é uma farsa dos capitalistas, esses biltres.

Tiago disse...

Caro André Freitas,

não sei se representa a Starbucks, a Clínica Dentária das Twin Towers, o PÚBLICO ou o DN, mas parece-me que não entendeu parte do que escrevi. O foco de interesse da Alta de Lisboa está longe de ser o englobar um plano de realojamento. As citações que coloquei visavam mostrar o preconceito e limitação de análise da jornalista, que vinha muito mais à procura de casos de sangue do que uma peça sobre urbanismo, desenvolvimento de Lisboa ou o compromisso da CML com os seus munícipes. Mas precisamente porque estes assuntos extravasam em muito os problemas de "quintal", dificilmente terão interesse para respeitáveis diários.

Luís Lucena disse...

Grande Tiago,

É de facto aflitivo o quão desinteressante é a edição jornalística no nosso País. Dos jornais, da televisão.

Talvez seja um problema de falta de eventos. País do fim da estrada. Terra do nunca. Acontece pouco - ou nada - de tudo. E quando acontece, é lento ou muito lento.

Por isso muitas vezes a "notícia" é a tricazinha. Aquela que mantém a atenção de uma audiência desinteressante, mas boa quota, boa "share", interessante apenas (ou talvez nem tanto) para o anunciante do detergentezinho; esse público vai fazendo o mercadozinho publicitariozinho e, portanto, o mercadozinho editorialzinho.

Mas é bom saber que a "Starbucks" chegou a Alfragide. Era mesmo por isso que eu ansiava desde há uns 10 anos. Ai mas que bom, que bom, que bom... Ainda bem que deste seguimento à notícia da inauguração.

E é igualmente tão bom saber que a coragem e a luta de tempos passados resultou na liberdade de expressão, extremamente importante para a elevadíssima categoria dos "nossos" (entre aspas, claro, não são bem meus) media.

É ainda gratificante perceber que temas de enorme relevância política, camarária e cívica, com implicações nas vidas de tantas pessoas, são classificados de “temas de quintal” por parte dos media.

Devo confessar que não odeio a Senhora Dª Teresa Guilherme, embora não lhe dê qualquer importância. Tu odeias?

Quanto ao coelhinho da Páscoa e dos biltres (já sei o que é, fui ao dicionário do “Word”, é forte, não deves usar...) capitalistas (mas devem ser boas pessoas se gostam de coelhinhos) não posso adiantar nada. Pode ser que o sindicato dos coelhinhos se possa manifestar quanto à farsa.

Mas o Pai Natal existe sim senhor. Não restam dúvidas!

Mr. Steed disse...

andré: não sei o que é mais irritante, o seu tom paternalista ou o facto de vir a este blogue lançar uma série de aldrabices como se fossemos todos um bando de néscios.

a abertura das lojas que vendem café reles a preços estupidamente caros não tem qualquer relevância jornalística.

não existiu qualquer tipo de antecipação relativamente à abertura destas lojas a não ser na sua cabeça.

a cobertura excessiva dada à entrada desta marca no nosso mercado foi um caso de bom trabalho da CGI, agência de comunicação e um mau trabalho dos jornalistas.

por isso lhe peço andré, cresça e veja se deixa de escrever comentários tontinhos como este.

Anónimo disse...

Caro Senhor "Garanhão":

Perdoar-me-á a tradução literal do seu nick, mas como acérrimo defensor que sou da língua portuguesa e da ausência de anonimato na internet (sim, um nick é sempre anónimo, e sim, o nome que me assina o BI é o mesmo com que me manifesto aqui), não resisti.

Quanto ao pedido que me fez, no sentido de ampliar os meus horizontes verticais, lamento informá-lo que é tarde demais - há uma boa década que me estabeleci nuns muito pouco respeitáveis metro e setenta. Quanto à forma como adjectivou o meu comentário, aí, lamento, mas a porca torce o rabo:

- Não imagina como a expressão que escolheu (i.e., "tontinho") é a mais fiel descrição possível da minha personalidade, e de como isso é um motivo de tremendo orgulho para mim.

- É infinitamente melhor ser "tontinho" do que me levar demasiado a sério, como decerto concordará.

- O meu amigo "Garanhão" pertence, claramente, ao segundo grupo. Os meus pêsames.

- Concordo com tudo o que disse (excepto umas patetices avulsas, nada de mais), e mesmo assim, discordo inteiramente de si. É muito menos kafkiano do que parece, é só (e não é pouco) uma postura, uma forma de estar na vida.

- Decidi deixar o meu comentário sem nenhum tipo de "agenda" nem fundamentalismo. Não defendo a classe jornalística (não lhe pertenço), nem a classe política (haverá defesa possível?), muito menos a forma como os temas passíveis de serem noticiados são escolhidos (para quixotismos, bastam-me os de eleição - a ingenuidade, essa, deixa-as para as crianças e os néscios, esses coitaditos). Defendo a tão "old fashioned" liberdade de expressão, esse direito adquirido, que alguns (poucos) usam e do qual outros (demasiados) abusam.

- Em tom de conclusão, e de alívio para si (presumo), asseguro-lhe, a si, amigo "garanhão", ao Tiago e a outros defensores de Lisboa (que não eu, alfacinha de gema, mas dos de "segunda", que não se preocupam, de facto, com os temas "essenciais" à cidade), que não regressarei aos comentários. Eu sei, a tristeza é inominável, tente controlar-se, por favor.

- Feliz Natal, boa Páscoa e um grande bem haja.

Mr. Steed disse...

André, em tudo o que escreveu, confirmou o que lhe disse antes.

Paternalista, arrogante e tontinho.

Ainda bem que é acérrimo defensor da língua portuguesa porque está visto que da inglesa não percebe peva ao confundir Steed com Stud.

Eu sou muito mais modesto e limito-me a gostar do português.

Quanto à história dos nomes e do anonimato, deixe-se de tretas.

De caras lhe digo que o meu nick tem muito mais valor do que o seu "andré freitas" que pode ser " Anacleto Barradas" ou "Simplício Antunes" ou qualquer outro nome que queira colocar.

A velha lengalenga do "eu uso o meu nome" e do defensor da liberdade de expressão já não resulta. Aqui, tal como na maior parte dos blogues.

Sobre a sua ausência apenas uma frase:

and there will be much rejoicing