Há uns meses, já lá vão mais de dois anos, acompanhei uma jornalista de um dos mais conceituados diário nacionais num périplo pela Alta de Lisboa. Expliquei-lhe a génese, as motivações do projecto, o que estava feito e o que faltava, o que correu bem e o que correu mal. Ela só perguntava e criminalidade, não há? Vocês andam à vontade na rua?. Não estamos à vontade na rua? Sente-se insegura?, respondi. A visita terminou na parte mais alta, na zona da Feira das Galinheiras, com vista para a Alta, ainda em esboço, mas com visível plano de urbanização subjacente, e à direita o caos suburbano de Odivelas e Santo António dos Cavaleiros.
Confessou-se impressionada, que Lisboa precisa de planos de urbanização assim, pensados de raiz, que evitem os erros dos subúrbios e das cidades-dormitório. Que era incrível a CML estar tão alheada de um projecto que tinha lançado e que dependia dela. Espere uma semana, Tiago, faço um artigo daqui a uma semana.
Passaram mais de dois anos. Lembro-me que cerca de um ou dois meses depois a mesma jornalista assinou um artigo sobre a inauguração de uma clínica dentária no centro comercial Twin Towers, em Sete-Rios.
Ontem, no PÚBLICO, saiu mais um artigo de grande interesse jornalístico: a abertura do Starbucks em Lisboa. Assinado por outra jornalista igualmente jovem, igualmente a recibos verdes, igualmente igualmente.
Também o Diário de Notícias, desde que tem João Marcelino como director (ex-Correio da Manhã), substituiu a secção Cidades, que abordava temas como transportes, urbanismo, cidadania, por uma secção dedicada a crimes de faca e alguidar.
Confessou-se impressionada, que Lisboa precisa de planos de urbanização assim, pensados de raiz, que evitem os erros dos subúrbios e das cidades-dormitório. Que era incrível a CML estar tão alheada de um projecto que tinha lançado e que dependia dela. Espere uma semana, Tiago, faço um artigo daqui a uma semana.
Passaram mais de dois anos. Lembro-me que cerca de um ou dois meses depois a mesma jornalista assinou um artigo sobre a inauguração de uma clínica dentária no centro comercial Twin Towers, em Sete-Rios.
Ontem, no PÚBLICO, saiu mais um artigo de grande interesse jornalístico: a abertura do Starbucks em Lisboa. Assinado por outra jornalista igualmente jovem, igualmente a recibos verdes, igualmente igualmente.
Também o Diário de Notícias, desde que tem João Marcelino como director (ex-Correio da Manhã), substituiu a secção Cidades, que abordava temas como transportes, urbanismo, cidadania, por uma secção dedicada a crimes de faca e alguidar.
8 comentários:
Boa malha!
Vale mais cair-se em graça do que ser-se engraçado. O Público e o DN têm aquele ar institucional mas são tão compráveis quanto os restantes. Ao menos os de distribuição gratuita mantêm uma página sobre Lisboa com notícias actualizadas sobre a Alta (M. se nos estás a ouvir, temos uma cacha para ti)
Caro Tiago
Só alguém com um profundo desconhecimento do funcionamento interno de qualquer orgão de informação (o que, creio, não é o seu caso) é que pode meter no mesmo saco o esquecimento a que acha ter sido votado e a atenção dada à abertura em Portugal (muitissimo antecipada, aliás) de uma das maiores cadeias mundiais do ramo da restauração.
Como sabe, os critérios para definir o que é tema de "notícia" nem sempre corresponde ao nosso "quintal", por mais que isso nos custe - ninguém quer ter um bairro social à porta de casa, mas será que isso é, necessariamente, motivo de "agenda" noticiosa? Toda a gente odeia a Teresa Guilhereme, mas será que o sucesso das audiências do hediondo "O Momento da Verdade" não é motivo para desperdiçar tinta nuns quantos milhares de caracteres, nem que seja de reflexão sobre a mentalidade dominante no país em que nos tornámos?
A diferença entre ignorância e ingenuidade e, só, a idade do "portador", e parece-me que o seu discurso não é o de uma criança de 8 anos. Por isso, Tiago, e respeitosamente, peço-lhe que seja mais ponderado, justo e "adulto" nos seus pareceres. O direito de expressão não deve ser confundido com o direito ao disparate. En passant, aproveito para lhe comunicar que o Pai Natal não existe e que até o coelho da páscoa é uma farsa dos capitalistas, esses biltres.
Caro André Freitas,
não sei se representa a Starbucks, a Clínica Dentária das Twin Towers, o PÚBLICO ou o DN, mas parece-me que não entendeu parte do que escrevi. O foco de interesse da Alta de Lisboa está longe de ser o englobar um plano de realojamento. As citações que coloquei visavam mostrar o preconceito e limitação de análise da jornalista, que vinha muito mais à procura de casos de sangue do que uma peça sobre urbanismo, desenvolvimento de Lisboa ou o compromisso da CML com os seus munícipes. Mas precisamente porque estes assuntos extravasam em muito os problemas de "quintal", dificilmente terão interesse para respeitáveis diários.
Grande Tiago,
É de facto aflitivo o quão desinteressante é a edição jornalística no nosso País. Dos jornais, da televisão.
Talvez seja um problema de falta de eventos. País do fim da estrada. Terra do nunca. Acontece pouco - ou nada - de tudo. E quando acontece, é lento ou muito lento.
Por isso muitas vezes a "notícia" é a tricazinha. Aquela que mantém a atenção de uma audiência desinteressante, mas boa quota, boa "share", interessante apenas (ou talvez nem tanto) para o anunciante do detergentezinho; esse público vai fazendo o mercadozinho publicitariozinho e, portanto, o mercadozinho editorialzinho.
Mas é bom saber que a "Starbucks" chegou a Alfragide. Era mesmo por isso que eu ansiava desde há uns 10 anos. Ai mas que bom, que bom, que bom... Ainda bem que deste seguimento à notícia da inauguração.
E é igualmente tão bom saber que a coragem e a luta de tempos passados resultou na liberdade de expressão, extremamente importante para a elevadíssima categoria dos "nossos" (entre aspas, claro, não são bem meus) media.
É ainda gratificante perceber que temas de enorme relevância política, camarária e cívica, com implicações nas vidas de tantas pessoas, são classificados de “temas de quintal” por parte dos media.
Devo confessar que não odeio a Senhora Dª Teresa Guilherme, embora não lhe dê qualquer importância. Tu odeias?
Quanto ao coelhinho da Páscoa e dos biltres (já sei o que é, fui ao dicionário do “Word”, é forte, não deves usar...) capitalistas (mas devem ser boas pessoas se gostam de coelhinhos) não posso adiantar nada. Pode ser que o sindicato dos coelhinhos se possa manifestar quanto à farsa.
Mas o Pai Natal existe sim senhor. Não restam dúvidas!
andré: não sei o que é mais irritante, o seu tom paternalista ou o facto de vir a este blogue lançar uma série de aldrabices como se fossemos todos um bando de néscios.
a abertura das lojas que vendem café reles a preços estupidamente caros não tem qualquer relevância jornalística.
não existiu qualquer tipo de antecipação relativamente à abertura destas lojas a não ser na sua cabeça.
a cobertura excessiva dada à entrada desta marca no nosso mercado foi um caso de bom trabalho da CGI, agência de comunicação e um mau trabalho dos jornalistas.
por isso lhe peço andré, cresça e veja se deixa de escrever comentários tontinhos como este.
Caro Senhor "Garanhão":
Perdoar-me-á a tradução literal do seu nick, mas como acérrimo defensor que sou da língua portuguesa e da ausência de anonimato na internet (sim, um nick é sempre anónimo, e sim, o nome que me assina o BI é o mesmo com que me manifesto aqui), não resisti.
Quanto ao pedido que me fez, no sentido de ampliar os meus horizontes verticais, lamento informá-lo que é tarde demais - há uma boa década que me estabeleci nuns muito pouco respeitáveis metro e setenta. Quanto à forma como adjectivou o meu comentário, aí, lamento, mas a porca torce o rabo:
- Não imagina como a expressão que escolheu (i.e., "tontinho") é a mais fiel descrição possível da minha personalidade, e de como isso é um motivo de tremendo orgulho para mim.
- É infinitamente melhor ser "tontinho" do que me levar demasiado a sério, como decerto concordará.
- O meu amigo "Garanhão" pertence, claramente, ao segundo grupo. Os meus pêsames.
- Concordo com tudo o que disse (excepto umas patetices avulsas, nada de mais), e mesmo assim, discordo inteiramente de si. É muito menos kafkiano do que parece, é só (e não é pouco) uma postura, uma forma de estar na vida.
- Decidi deixar o meu comentário sem nenhum tipo de "agenda" nem fundamentalismo. Não defendo a classe jornalística (não lhe pertenço), nem a classe política (haverá defesa possível?), muito menos a forma como os temas passíveis de serem noticiados são escolhidos (para quixotismos, bastam-me os de eleição - a ingenuidade, essa, deixa-as para as crianças e os néscios, esses coitaditos). Defendo a tão "old fashioned" liberdade de expressão, esse direito adquirido, que alguns (poucos) usam e do qual outros (demasiados) abusam.
- Em tom de conclusão, e de alívio para si (presumo), asseguro-lhe, a si, amigo "garanhão", ao Tiago e a outros defensores de Lisboa (que não eu, alfacinha de gema, mas dos de "segunda", que não se preocupam, de facto, com os temas "essenciais" à cidade), que não regressarei aos comentários. Eu sei, a tristeza é inominável, tente controlar-se, por favor.
- Feliz Natal, boa Páscoa e um grande bem haja.
André, em tudo o que escreveu, confirmou o que lhe disse antes.
Paternalista, arrogante e tontinho.
Ainda bem que é acérrimo defensor da língua portuguesa porque está visto que da inglesa não percebe peva ao confundir Steed com Stud.
Eu sou muito mais modesto e limito-me a gostar do português.
Quanto à história dos nomes e do anonimato, deixe-se de tretas.
De caras lhe digo que o meu nick tem muito mais valor do que o seu "andré freitas" que pode ser " Anacleto Barradas" ou "Simplício Antunes" ou qualquer outro nome que queira colocar.
A velha lengalenga do "eu uso o meu nome" e do defensor da liberdade de expressão já não resulta. Aqui, tal como na maior parte dos blogues.
Sobre a sua ausência apenas uma frase:
and there will be much rejoicing
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