terça-feira, 24 de julho de 2007

Hortas comunitárias


Em La Garde Adhémar, região de Rhône-Alpes, no Sul de França, uma aldeia medieval muito bonita e bem preservada, existe uma horta pública com ervas aromáticas e plantas medicinais. É a própria população que a trata e que decide que ervas plantar, conforme a necessidade.

Há na Alta de Lisboa alguns canteiros com salsa e coentros plantados por moradores. Uma excentricidade, infelizmente. As cidades têm pouco espaço e oportunidade para uma ligação artesanal com a natureza. Gostamos de jardins assépticos, e a partilha, o cooperativismo é um conceito utópico, distante das nossas vidas. É assim com transportes, ligações à net, televisão, espaços públicos e condomínios fechados.

Será porque numa cidade os anonimatos são fáceis e o vandalismo impune? Porque considera tantas gente que não vale a pena investir num bem comum que mais cedo ou mais tarde será destruído durante a noite sem explicação nem culpa formada? E depois desiste-se da procurar razões para isso, buscar soluções, responsabilizar quem atenta contra o bem comum. Mas essa desistência será o nosso fim.

Ora lança-se então aqui a ideia de se juntar as várias escolas da zona, as públicas e as privadas, primárias e secundárias, de aproveitar-se um canteirinho no Parque Oeste, na Quinta das Conchas, na dos Lilazes, e plantar-se e cuidar-se de ervas aromáticas, couves, hortaliças e alfaces.

Se todas as escolas aderirem ao projecto, organizando-se em muitos pequenos grupos, podem inclusivamente tratar dos canteiros todos os dias, numa rotina periódica que não só não afectará os estudos dos alunos com fortalecerá o sentimento de comunidade e a ligação à natureza e introduzirá uma vivência diferente da cidade.

Um projecto que terá muito mais força e viabilidade se instituições como ARAL, CSM, K’Cidade ou CML (Espaços verdes) lhe aderirem. Aqui o blog está inteiramente disponível para levar isto adiante e aceita colaboração.

5 comentários:

Ana B. disse...

Olha, que ideia gira...
Não sei se os Espaços Verdes da CML aprovariam este tipo de utilização dos jardins da Alta ou se os arquitectos paisagistas que delinearam os parques o permitiriam, mas vejo muitas vantagens numa iniciativa destas.

Desde logo um aumento do conhecimento. Já estou a imaginar as crianças do Jardim de Infância ou do 1º ou 2º ciclo a aprender imensas coisas sobre botânica e a assistirem não só à plantação de uma árvore no dia da Primavera mas também a todo o seu desenvolvimento posterior.

Ao nível dos hábitos e das competências seria também uma experiência muito interessante. Aprender a "cuidar". Das plantas, das ervas e dos vegetais neste caso. De um compromisso, de uma amizade, de uma relação, de uma vizinhança, de um bairro, de um "outro", para o resto da vida. E fazê-lo de forma sistemática e consistente, que é o que custa mais, mas a repetição faz com que os hábitos se interiorizem e se tornem naturais.

Depois seria sempre uma maneira dos moradores se "apropriarem" dos espaços. Espaços que são seus mas que não os sentem ainda como sendo seus. Porque nada construiram. Tenho a certeza que seria um motivo de orgulho ter um canteiro bem tratado, com várias espécies, diferenciado, fruto do esforço diário dos mais novos.

É também uma actividade ao ar livre, e como tal, muito saudável.

E torna os espaços vivos e vividos. Personalizados também.

Sei que o Centro Social da Musgueira (CSM) alinharia numa coisa assim.

Anónimo disse...

Bela ideia!

Susana disse...

Sempre em sintonia.

Ainda ontem me lembrei disso e simplesmente por ver hortas junto a uma via rápida.
Não cheguei a pensar aplicá-la na Alta, mas sim transformá-las de forma a serem mais aprazíveis ao olhar.
Estas têm ar de jardim, as outras com uma organização mais cuidada já seriam mais bonitas.

É que há couves que são bonitas de se ver!

Sobreda disse...

Sobre o assunto em epígrafe ler o artigo “O ‘défice’ das hortas ‘clandestinas’” publicado no URL http://cdulumiar.blogs.sapo.pt/tag/hortas+urbanas.
Sabiam que, por ex., que a direcção da Culturgest chegou inclusive, em 2000, a atribuir um prémio “à melhor horta - cujos critérios incluíam ecologia, organização, eficácia dos meios em relação ao terreno e interesse científico -, tendo o vencedor arrecadado um vale de dois mil euros em material agrícola” !?
E ainda sobre o tema, conhecem a tese de mestrado “Um quadradinho de verde na aldeia de Telheiras : caso e metáfora”, de Ana Contumélias, editado o ano passado na Plátano Editora? E a reportagem “Uma horta em Telheiras”, ambas as notícias inseridas no boletim ‘ART informação’ nº 25 (Jun. 2007), no URL www.artelheiras.pt/pages/index3.php?page=boletins
E ainda, para vosso conhecimento, anotem que a Junta de Freguesia de Carnide vai realizar um Colóquio com várias (6 ou 7) Associações de Moradores, possivelmente em 28 de Setembro, sobre “Olhar o futuro” incluindo a temática das hortas urbanas. O arquitecto G. R. Telles poderá ser um dos convidados.
Porque não contactam a Junta de Carnide e aderem também ao debate? Os moradores só têm a ganhar.

Anónimo disse...

No grande Porto e Espinho existe um projecto da LIPOR em conjunto com as Câmaras Municipais chamado "Horta à Porta" (www.hortadaformiga.com), que consiste na cedência de espaços por parte das câmaras para serem cultivados por utentes, desde que não haja abandono e que o cultivo seja 100% biológico. Inês