quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A periferia a fazer-se cidade

Aos poucos, à velocidade dos que vão chegando e usando as ruas, surgem também empreendedores com espírito de negócio, que abrem lojas onde trocam serviços ou produtos. No Condomínio do Parque já existe um banco, com caixa multibanco, um café, e futuramente abrirá um atelier de tempos livres para crianças que promete ser uma excelente forma de as estimular com actividades extra-curriculares realmente enriquecedoras.

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Também nos Jardins de S. Bartolomeu irá abrir um minimercado, uma loja que já existe do outro lado do Parque Oeste, provando que a aposta na zona está a valer a pena.


Na Colina de S. Gonçalo existe já um café com bolos muito bons, um clube de video com últimas novidades, uma parafarmácia e futuramente uma farmácia.


Mas comércio já existia, nos blocos de realojamento, há muito tempo. Uma loja de peixe congelado, aqui.


Um talho e um café.


Um pequeno mercado, o chamado "lugar", onde se pode comprar frutas, hortaliças e derivados, segundo avisa o toldo.


E ainda um snack bar que também vende frangos para fora.


As fronteiras entre edifícios de habitação social e de venda livre são notórias, e a guetização também se reflecte nalgum comércio. A desconfiança mútua adia a homogeneização do espaço público, e o estigma dos "ricos" e dos "pobres" persiste. Um estigma que não se sente na cidade antiga, já mais cristalizada, como Alfama ou Bairro Alto, onde junkies, castiços de bairro, jovens casais arrendatários e dondocas "queques" partilham passeios, jardins, cafés e esplanadas e compram alfaces nos mesmos lugares. Falta isto ainda à Alta de Lisboa: humanizar o espaço público, homogeneizá-lo, torná-lo de todos, ensinando e aprendendo permanente e pacientemente a tolerância, civismo e cidadania. De todos, sem excepção, porque há bons e maus exemplos em todo o lado. Talvez seja por isto a minha desconfiança perante os condomínios fechados; pela demissão e desistência de lutar por um espaço público seguro e saudável. Abdicando do usufruto do espaço público, marginalizamo-lo, tornando-o dia após dia menos convidativo e menos seguro. E andamos depois histéricos com o número de rondas diárias do segurança da empresa privada que faz a vigilância do condomínio. Bah! Uma cidade só é segura se não a vivermos hermeticamente fechados num automóvel entre as garagens do escritório e do T2. É por isso também que me assustam os avanços de alguns moradores em tornar menos público algum do espaço que viram vandalizado. São compreensíveis as motivações, mas duvido que sejam os muros a solução para o problema.

9 comentários:

Pedro Veiga disse...

Nem mais, Tiago!
A pouco e pouco começa a surgir o comércio de rua tão essencial à vivência das ruas. É fundamental que as pessoas usem a rua mas os caminhos, os passeios, as azinhagas também devem ser convidativas. Já era tempo de arranjarem de vez o caminho pedonal que atravessa o Parque Oeste, porque a cidade não vive só das placas a anunciar as lindas inaugurações. Diariamente percorro as ruas da Alta a pé e continuo a sentir a falta dos bons caminhos sem lama. Já agora para quando a inauguração de um caminho pedonal para a estação de metro da Ameixoeira?

Anónimo disse...

Que cidade para ser vivida, quando não deixou de lá haver razões para dela beneficiar?

Eu sou dos que concordo em "tornar menos público algum do espaço que viram vandalizado", já que há gente que opta por simplesmente estragar o que lhes foi dado (pago por outrem) para delas poderem beneficiar...

Exemplos há muitos, começando pelas fotos do comercio patentes no blog. Veja-se como se proteje o comério de "há muito tempo" e compare-se com os novatos.
Dê-se uma volta pelos parques infantis da zona (em especial da zona a norte) e pergunte-se se pretende deixar os seus filhos crincarem com equipamentos partidos, no meio de "caca" (perdoem-me o calão) que não será de cão e outros objectos um pouco mais perigosos (se é que me faço entender...)

Paguei para estar num local aprazivel com uma razoável qualidade de vida...
Se a isso me obriga a levantar muros, para manter algo que TODOS possam utilizar prazenteriamente sem vandalismo e sem incómodos para terceiros... só posso dizer: que venham eles... e rapidamente, antes que não haja nada mais para beneficiar.

Tiago disse...

Lá está, compreendo as preocupações, o desalento de querer ver as coisas em bom estado e ser confrontado com o vandalismo. Mas gostava de saber quem são os TODOS a que se refere e como os destingue dos vandalizam, sem recorrer novamente ao estigma dos PER e dos não PER.

O que me preocupa é ver querer-se tornar a Alta de Lisboa numa Palestina cheia de colonatos. O resultado disso também está à vista.

susana disse...

Pois eu tenho cá p'ra mim, que é pela falta de convivência entre os PER e os PMQ (pessoas com mania que são queques)que reina a insegurança...

É muito salutar que o comércio de bairro se comece a desenvolver na Alta para que os PER e os PMQ possam ir comprar fruta na mesma loja e se digam bom-dia (de certeza que se se conhecerem um vai-se lembrar de não assaltar o carro do outro e o outro vai se lemnbrar que há pessoas simpáticas, mas com educação diferente!).
A creche e os centros de apoio à população são das melhores formas de educar civicamente tanto PER como PMQ.
Resta saber se quem presta esse serviço tem a formação adequada...

Anónimo disse...

A responabilidade nao sao so dos prestadores de servico (professores, medicos, assistentes sociais...), mas sim da sociedade em geral. Se os PMQ colocarem os filhos so em colegios privados e os PER nas escolas publicas, Se os PMQ so se dirigirem as clinicas privadas e os PER aos centros de saude. Adivinhem que sociedade teremos.
Quanto a referencia da Palestina, quando fazemos comentarios tambem estamos a formar. A Palestina nao esta cheia de colonatos.
http://worldatlas.com/webimage/countrys/asia/il.htm
Gostava de saber como se comportariam se os espanhois invadissem Portugal e de forma regular se fizessem explodir em casamentos, autocarros, restaurantes e ate escolas primarias?
Talvez lhes devolvessemos o pais inteiro, uma vez que em tempos fomos todos so um pais!

susana disse...

Não andas longe da realidade!

Li em tempos no Metro que foi efectuada uma sondagem a portugueses e espanhóis sobre a união dos dois territórios, Portugal/Espanha, e apenas 30% dos Portugueses punha essa possibilidade, contra 60% dos Espanhóis.
Deve bastar um homem bomba para dar inicio à "Ibéria"...

Pedro Veiga disse...

O método da bomba não é, certamente, o caminho certo para a harmonia das nações e dos povos. Os desafios próximos (diria mesmo muito próximos) são enormes. Os recursos do planeta são escassos e em breve vamos ter que nos adaptar a um estilo de vida muito diferente do actual. Se começarmos com guerras de rua por causa das classes sociais não vamos longe como sociedade.

Anónimo disse...

Eu não teria dito de melhor maneira.

:-D

Baci

Pedro Cruz Gomes disse...

Mas alguém tem dúvidas de que não vamos longe como sociedade?
Quanto aos condomínios privados, privatizações do espaço e outros guetos: eles só acontecem porque os poderes públicos são incapazes de promover a segurança do espaço público, de garantir uma fruição sem perigos ou ameaças. O que acontece entre nós é o cinismo habitual: a autarquia e o Estado mostram-se inoperantes para resolver os problemas de contribuintes e não-contribuintes mas mantêm a soberba de continuar a achar que os estão a resolver, o que abre um campo infindo para a iniciativa privada - por um lado o erguer de barreiras de quem tem medo, por outro, o derrubar de quem o não tem. No meio, os do costume.