Até quando vamos poder continuar a discutir e optar por soluções economicamente irracionais como secar roupa numa máquina ou arrefecer com ar condionado uma casa envidraçada exposta ao Sol directo? Até quando vamos continuar a esbanjar recursos sem pensar no futuro? Será a subida das taxas de juro mais eficaz no controle das despesas e recursos do que uma consciência ambiental colectiva?
O Destaque do PÚBLICO de hoje é sobre esta subida:
Juros devem voltar a subir hoje
Preocupado com a inflação e confiante na retoma europeia, o Banco Central Europeu deve aumentar hoje, pela quinta vez em menos de um ano, a sua taxa de juro directora. Alguns governos temem que taxas mais altas prejudiquem a retoma. No crédito à habitação, a factura dos juros fica mais pesada. Por Pedro Ribeiro
O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar hoje ao final da manhã mais um aumento na sua taxa de juro de referência. Quase todos os especialistas dos mercados financeiros esperam que, pela quinta vez desde Dezembro, o banco aumente o preço do dinheiro na zona euro em 0,25 pontos percentuais - e há quem espere mesmo uma subida mais abrupta, de 0,5 pontos.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, deverá anunciar um novo aumento porque a instituição continua preocupada com a inflação. Em 2006, a variação dos preços tem estado sistematicamente bastante acima da referência de 2 por cento fixada pelo BCE.
No final do mês passado, o agregado monetário M3 registou um crescimento de 8,2 por cento relativamente ao mesmo mês do ano anterior - um crescimento muito para lá do esperado. O BCE acompanha o M3 como previsor da inflação a médio prazo; o aumento deste agregado, que mede a quantidade de dinheiro em circulação na economia da zona euro, torna quase inevitável que o BCE suba as taxas hoje.
E os aumentos podem não ficar por aqui. Os dados mais recentes sobre o crescimento da economia europeia deram ao banco de Frankfurt confiança em que a retoma na zona euro é sólida e irá necessitar de taxas de juro mais altas. Os mercados esperam que a taxa directora do BCE - que está actualmente nos 3 por cento - acabe 2006 nos 3,5 por cento.
Ora, qual é o significado de o BCE subir as taxas? Significa que pedir dinheiro emprestado fica mais caro na zona euro. As empresas pagam mais para obter financiamentos; os particulares (especialmente os que têm crédito à habitação indexado a taxas variáveis, caso de centenas de milhares de pessoas em Portugal) pagam mais pelas suas prestações mensais; os Estados pagam mais pelos juros das suas dívidas públicas.
Além disso, taxas de juro mais altas significam um euro mais forte - e isso prejudica a competitividade cambial das exportações da zona euro. Todos estes factores contribuem para inibir algum crescimento económico. O BCE argumenta, no entanto, que isto é necessário para evitar um mal maior - a inflação. Há quem não concorde.
Um dos críticos é o ministro das Finanças francês, Thierry Bréton, cujo país será, aliás, o anfitrião da reunião do conselho de governadores do BCE de hoje (que se realiza em Paris, e não como habitualmente na sede do banco em Frankfurt).
"O banco não deve prejudicar" a incipiente retoma europeia, disse Bréton no final de Setembro, sugerindo que os quatro aumentos determinados pelo banco nos últimos dez meses já foram suficientes para controlar a inflação.
Axel Weber, governador do Bundesbank alemão, discorda - argumentando que o aliviar dos preços do petróleo (e portanto da inflação) a partir do Verão pode ser meramente temporário: "É prematuro presumir que a redução das pressões inflacionárias é permanente", disse Weber à Reuters na semana passada.
A Reserva Federal (Fed, banco central) dos Estados Unidos começou a subir as taxas ainda mais cedo e a um ritmo ainda mais vertiginoso que o BCE. No entanto, perante a expectativa de um abrandamento da economia americana, a Fed interrompeu as subidas da sua taxa directora durante o Verão.
Portugal é especialmente vulnerável
Normalmente é bom sinal que um banco central suba as suas taxas de juro. A subida costuma vir associada a um crescimento robusto da economia. Se as taxas subirem mas o produto interno bruto (PIB) também, os rendimentos de empresas e particulares crescerão tanto ou mais que os encargos com juros.
A zona euro encetou uma retoma, tímida mas aparentemente sustentada, desde o final de 2005. Mas a retoma não beneficia todos os Doze por igual. E Portugal é dos países da zona euro que crescem menos.
Pior: Portugal é um dos países da zona euro onde as empresas têm um grau de endividamento mais alto; a dívida pública portuguesa não é muito alta para padrões europeus mas está numa trajectória ascendente; e virtualmente todo o crédito à habitação em Portugal está indexado a taxas variáveis, o que significa que muitas famílias irão sentir directamente o impacto das taxas mais altas no bolso, através de prestações mensais mais altas.
Prestações da casa mais caras levam a riscos de sobreendividamento
A subida das taxas levou a um aumento nas prestações mensais de pelo menos 15 por cento - um "apertar do cinto" significativo, num país endividado
Desde Dezembro do ano passado, a taxa directora do Banco Central Europeu (BCE) já subiu quatro vezes; deve subir outra vez hoje. Os aumentos do BCE têm impacte directo sobre as taxas Euribor, que são as indexantes de quase todo o crédito à habitação em Portugal.
Sobem as taxas, sobe a prestação mensal da casa. Numa simulação pedida pelo PÚBLICO à Deco (ver tabela abaixo), o impacte das subidas é notório. Num empréstimo mais ou menos típico (150 mil euros, prazo de 25 anos, spread de 0,8 pontos), a subida das taxas implicou, no lapso de um ano, um aumento de 110 euros na prestação mensal - ou 15,6 por cento.
Se as taxas subirem mais 0,5 pontos percentuais (um cenário relativamente provável no médio prazo), o aumento em relação ao cenário-base é de 21,6 por cento. E se houver um aumento de mais dois pontos (um cenário menos provável, mas concebível e com precedentes históricos), a prestação dispara 40,6 por cento em relação ao valor inicial.
Para as centenas de milhares de portugueses com crédito à habitação indexado, estes valores significam um "apertar do cinto" dramático. Sobretudo numa conjuntura em que a economia - e os salários - crescem muito pouco.
O endividamento dos particulares em Portugal representava 70 por cento do produto interno bruto (PIB) no final de 2005. Um valor que, no contexto europeu, não é especialmente alto. E, como o Banco de Portugal tem notado, o aumento do nível de endividamento é suportado pelo aumento no património das famílias (os particulares endividam-se sobretudo para comprar casa, e têm portanto esse valor na sua posse); os encargos com a dívida mantiveram-se mais ou menos estáveis na última década.
No entanto, a tendência dos níveis de endividamento e das taxas de esforço (a quantidade do rendimento dedicada a pagar os juros da dívida) é de crescimento. Ainda esta semana, a Comissão Europeia mostrou-se preocupada com o risco de sobreendividamento.
O gabinete comissário europeu para os Assuntos Monetários, Joaquín Almunia, divulgou dados "preocupantes": em seis países da zona euro os níveis de endividamento dos particulares estão acima dos 60 por cento do PIB.
A Comissão nota que "taxas de juro mais elevadas terão um impacte maior nas famílias que contraíram créditos a taxas variáveis", situação que "tende a ser predominante em Espanha, Irlanda, Itália, Finlândia e Portugal".
O que é que as pessoas podem fazer para se proteger? Essencialmente, procurar renegociar os seus empréstimos. Os bancos não querem que os seus clientes deixem de poder pagar a prestação - isso levaria os bancos a ter de executar a hipoteca, deixando-os com imóveis na mão.
Os bancos portugueses já estão a renegociar os seus créditos, aliás - sobretudo através da extensão dos prazos dos empréstimos. Isso explica que, nos dados mais recentes, as taxas homólogas de crescimento do crédito à habitação continuem na casa dos 10 por cento - não é tanto que haja muitos novos empréstimos, é mais que muitos créditos estão a ser alargados. É também isso que explica que o nível de créditos à habitação malparados tenha continuado muito baixo ao longo de 2006 (abaixo dos 2 por cento). P.R.
DESTAQUE
*Fale com o seu banco.
Explique a sua situação financeira e procure renegociar o seu contrato em termos mais vantajosos. Não interessa aos bancos ter clientes que não consigam comportar a sua prestação mensal.
"Pessoalmente, recomendaria tentar fixar a taxa, não digo até ao infinito, mas ter um regime de taxa fixa para os próximos quatro ou cinco anos", disse ao PÚBLICO António Júlio Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Consumidores e Utilizadores de Produtos e Serviços Financeiros (Sefin). Outra hipótese é exigir ao seu banco que o arredondamento da taxa de juro seja feito, "no máximo", ao oitavo de ponto percentual: "Isso traduz-se num valor de uns três, quatro, sete contos por mês, ainda é dinheiro."
*Diminua o spread
Proponha ao seu banco uma redução do spread do seu empréstimo.
"É a solução menos onerosa", disse ao PÚBLICO João Fernandes, da Deco. "Pode ser possível mostrando argumentos como o nível de antiguidade como cliente, ou o grau da relação comercial."
*Fale com outros bancos
É possível que outras instituições financeiras, interessadas em obter um novo cliente, lhe ofereçam condições mais vantajosas.
Isto é também uma forma de exercer pressão sobre o seu banco. O crédito à habitação em muitos casos funciona como "âncora" de clientes; o banco tem margens de lucro maiores em outros serviços associados obrigatoriamente ou não à concessão do crédito à habitação, como seguros, algumas contas de poupança ou cartões de crédito. O seu banco quer tê-lo como cliente, lembra João Fernandes: "Coloque a hipótese de levar a sua "vida bancária"" para outro lado.
*Estenda o prazo do empréstimo
Proponha ao seu banco aumentar o prazo do empréstimo. Isto implica aumentar o valor em dívida, mas a curto prazo pode proporcionar-lhe uma prestação mais acessível.
"Essa é talvez a opção mais difícil", porque significa ficar a dever mais dinheiro ao banco, diz António Júlio Almeida, mas é também uma das mais viáveis porque "esbate as mensalidades". P.R.
Glossário
Taxa de juro
É a percentagem, que costuma ser expressa anualmente, de quanto um devedor tem de pagar a um credor por um empréstimo – é o “preço do dinheiro”
O Destaque do PÚBLICO de hoje é sobre esta subida:
Juros devem voltar a subir hoje
Preocupado com a inflação e confiante na retoma europeia, o Banco Central Europeu deve aumentar hoje, pela quinta vez em menos de um ano, a sua taxa de juro directora. Alguns governos temem que taxas mais altas prejudiquem a retoma. No crédito à habitação, a factura dos juros fica mais pesada. Por Pedro Ribeiro
O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar hoje ao final da manhã mais um aumento na sua taxa de juro de referência. Quase todos os especialistas dos mercados financeiros esperam que, pela quinta vez desde Dezembro, o banco aumente o preço do dinheiro na zona euro em 0,25 pontos percentuais - e há quem espere mesmo uma subida mais abrupta, de 0,5 pontos.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, deverá anunciar um novo aumento porque a instituição continua preocupada com a inflação. Em 2006, a variação dos preços tem estado sistematicamente bastante acima da referência de 2 por cento fixada pelo BCE.
No final do mês passado, o agregado monetário M3 registou um crescimento de 8,2 por cento relativamente ao mesmo mês do ano anterior - um crescimento muito para lá do esperado. O BCE acompanha o M3 como previsor da inflação a médio prazo; o aumento deste agregado, que mede a quantidade de dinheiro em circulação na economia da zona euro, torna quase inevitável que o BCE suba as taxas hoje.
E os aumentos podem não ficar por aqui. Os dados mais recentes sobre o crescimento da economia europeia deram ao banco de Frankfurt confiança em que a retoma na zona euro é sólida e irá necessitar de taxas de juro mais altas. Os mercados esperam que a taxa directora do BCE - que está actualmente nos 3 por cento - acabe 2006 nos 3,5 por cento.
Ora, qual é o significado de o BCE subir as taxas? Significa que pedir dinheiro emprestado fica mais caro na zona euro. As empresas pagam mais para obter financiamentos; os particulares (especialmente os que têm crédito à habitação indexado a taxas variáveis, caso de centenas de milhares de pessoas em Portugal) pagam mais pelas suas prestações mensais; os Estados pagam mais pelos juros das suas dívidas públicas.
Além disso, taxas de juro mais altas significam um euro mais forte - e isso prejudica a competitividade cambial das exportações da zona euro. Todos estes factores contribuem para inibir algum crescimento económico. O BCE argumenta, no entanto, que isto é necessário para evitar um mal maior - a inflação. Há quem não concorde.
Um dos críticos é o ministro das Finanças francês, Thierry Bréton, cujo país será, aliás, o anfitrião da reunião do conselho de governadores do BCE de hoje (que se realiza em Paris, e não como habitualmente na sede do banco em Frankfurt).
"O banco não deve prejudicar" a incipiente retoma europeia, disse Bréton no final de Setembro, sugerindo que os quatro aumentos determinados pelo banco nos últimos dez meses já foram suficientes para controlar a inflação.
Axel Weber, governador do Bundesbank alemão, discorda - argumentando que o aliviar dos preços do petróleo (e portanto da inflação) a partir do Verão pode ser meramente temporário: "É prematuro presumir que a redução das pressões inflacionárias é permanente", disse Weber à Reuters na semana passada.
A Reserva Federal (Fed, banco central) dos Estados Unidos começou a subir as taxas ainda mais cedo e a um ritmo ainda mais vertiginoso que o BCE. No entanto, perante a expectativa de um abrandamento da economia americana, a Fed interrompeu as subidas da sua taxa directora durante o Verão.
Portugal é especialmente vulnerável
Normalmente é bom sinal que um banco central suba as suas taxas de juro. A subida costuma vir associada a um crescimento robusto da economia. Se as taxas subirem mas o produto interno bruto (PIB) também, os rendimentos de empresas e particulares crescerão tanto ou mais que os encargos com juros.
A zona euro encetou uma retoma, tímida mas aparentemente sustentada, desde o final de 2005. Mas a retoma não beneficia todos os Doze por igual. E Portugal é dos países da zona euro que crescem menos.
Pior: Portugal é um dos países da zona euro onde as empresas têm um grau de endividamento mais alto; a dívida pública portuguesa não é muito alta para padrões europeus mas está numa trajectória ascendente; e virtualmente todo o crédito à habitação em Portugal está indexado a taxas variáveis, o que significa que muitas famílias irão sentir directamente o impacto das taxas mais altas no bolso, através de prestações mensais mais altas.
Prestações da casa mais caras levam a riscos de sobreendividamento
A subida das taxas levou a um aumento nas prestações mensais de pelo menos 15 por cento - um "apertar do cinto" significativo, num país endividado
Desde Dezembro do ano passado, a taxa directora do Banco Central Europeu (BCE) já subiu quatro vezes; deve subir outra vez hoje. Os aumentos do BCE têm impacte directo sobre as taxas Euribor, que são as indexantes de quase todo o crédito à habitação em Portugal.
Sobem as taxas, sobe a prestação mensal da casa. Numa simulação pedida pelo PÚBLICO à Deco (ver tabela abaixo), o impacte das subidas é notório. Num empréstimo mais ou menos típico (150 mil euros, prazo de 25 anos, spread de 0,8 pontos), a subida das taxas implicou, no lapso de um ano, um aumento de 110 euros na prestação mensal - ou 15,6 por cento.
Se as taxas subirem mais 0,5 pontos percentuais (um cenário relativamente provável no médio prazo), o aumento em relação ao cenário-base é de 21,6 por cento. E se houver um aumento de mais dois pontos (um cenário menos provável, mas concebível e com precedentes históricos), a prestação dispara 40,6 por cento em relação ao valor inicial.
Para as centenas de milhares de portugueses com crédito à habitação indexado, estes valores significam um "apertar do cinto" dramático. Sobretudo numa conjuntura em que a economia - e os salários - crescem muito pouco.
O endividamento dos particulares em Portugal representava 70 por cento do produto interno bruto (PIB) no final de 2005. Um valor que, no contexto europeu, não é especialmente alto. E, como o Banco de Portugal tem notado, o aumento do nível de endividamento é suportado pelo aumento no património das famílias (os particulares endividam-se sobretudo para comprar casa, e têm portanto esse valor na sua posse); os encargos com a dívida mantiveram-se mais ou menos estáveis na última década.
No entanto, a tendência dos níveis de endividamento e das taxas de esforço (a quantidade do rendimento dedicada a pagar os juros da dívida) é de crescimento. Ainda esta semana, a Comissão Europeia mostrou-se preocupada com o risco de sobreendividamento.
O gabinete comissário europeu para os Assuntos Monetários, Joaquín Almunia, divulgou dados "preocupantes": em seis países da zona euro os níveis de endividamento dos particulares estão acima dos 60 por cento do PIB.
A Comissão nota que "taxas de juro mais elevadas terão um impacte maior nas famílias que contraíram créditos a taxas variáveis", situação que "tende a ser predominante em Espanha, Irlanda, Itália, Finlândia e Portugal".
O que é que as pessoas podem fazer para se proteger? Essencialmente, procurar renegociar os seus empréstimos. Os bancos não querem que os seus clientes deixem de poder pagar a prestação - isso levaria os bancos a ter de executar a hipoteca, deixando-os com imóveis na mão.
Os bancos portugueses já estão a renegociar os seus créditos, aliás - sobretudo através da extensão dos prazos dos empréstimos. Isso explica que, nos dados mais recentes, as taxas homólogas de crescimento do crédito à habitação continuem na casa dos 10 por cento - não é tanto que haja muitos novos empréstimos, é mais que muitos créditos estão a ser alargados. É também isso que explica que o nível de créditos à habitação malparados tenha continuado muito baixo ao longo de 2006 (abaixo dos 2 por cento). P.R.
DESTAQUE
*Fale com o seu banco.
Explique a sua situação financeira e procure renegociar o seu contrato em termos mais vantajosos. Não interessa aos bancos ter clientes que não consigam comportar a sua prestação mensal.
"Pessoalmente, recomendaria tentar fixar a taxa, não digo até ao infinito, mas ter um regime de taxa fixa para os próximos quatro ou cinco anos", disse ao PÚBLICO António Júlio Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Consumidores e Utilizadores de Produtos e Serviços Financeiros (Sefin). Outra hipótese é exigir ao seu banco que o arredondamento da taxa de juro seja feito, "no máximo", ao oitavo de ponto percentual: "Isso traduz-se num valor de uns três, quatro, sete contos por mês, ainda é dinheiro."
*Diminua o spread
Proponha ao seu banco uma redução do spread do seu empréstimo.
"É a solução menos onerosa", disse ao PÚBLICO João Fernandes, da Deco. "Pode ser possível mostrando argumentos como o nível de antiguidade como cliente, ou o grau da relação comercial."
*Fale com outros bancos
É possível que outras instituições financeiras, interessadas em obter um novo cliente, lhe ofereçam condições mais vantajosas.
Isto é também uma forma de exercer pressão sobre o seu banco. O crédito à habitação em muitos casos funciona como "âncora" de clientes; o banco tem margens de lucro maiores em outros serviços associados obrigatoriamente ou não à concessão do crédito à habitação, como seguros, algumas contas de poupança ou cartões de crédito. O seu banco quer tê-lo como cliente, lembra João Fernandes: "Coloque a hipótese de levar a sua "vida bancária"" para outro lado.
*Estenda o prazo do empréstimo
Proponha ao seu banco aumentar o prazo do empréstimo. Isto implica aumentar o valor em dívida, mas a curto prazo pode proporcionar-lhe uma prestação mais acessível.
"Essa é talvez a opção mais difícil", porque significa ficar a dever mais dinheiro ao banco, diz António Júlio Almeida, mas é também uma das mais viáveis porque "esbate as mensalidades". P.R.
Glossário
Taxa de juro
É a percentagem, que costuma ser expressa anualmente, de quanto um devedor tem de pagar a um credor por um empréstimo – é o “preço do dinheiro”
Taxa directora
O conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) fixa “taxas directoras” para a zona euro como instrumento de política monetária; a taxa considerada mais importante é taxa mínima de proposta das operações principais de refinanciamento – que regula operações entre bancos. Esta taxa directora influencia directamente todas as taxas praticadas por instituições financeiras na zona euro.
Euribor
A Euribor (Euro Interbank Offer Rate) é determinada por um painel de 57 bancos de países da União, e calculada diariamente para diversos prazos do mercado financeiro. A Euribor (a três, seis ou doze meses) é a taxa indexante usada no cálculo da taxa de juro dequase todo o crédito à habitação em Portugal.
Spread
É a taxa adicional acrescentado pelos bancos à taxa indexante – grosso modo, constitui o “lucro” dos bancos. Alguns bancos têm actualmente planos de “spread zero”, que, no entanto, implicam encargos adicionais.
TAE (taxa anual efectiva)
Além da taxa de juro e do spread, há uma série de custos associados ao crédito à habitação (despesas de avaliação, seguros, etc.); a TAE reflecte a taxa “real” que o devedor terá de pagar.
3 comentários:
Não, subiu 0.25% e os bancos já tinham antecipado esta subida. O valor de 15 euros é indicativo para um empréstimo de 150.000 euros a 25 anos e com um spread de 0.8%. Mas atenção quem tiver euribor a 6 meses ou a 12 meses os efeitos dos vários saltos de 0.25% somam-se. No meu caso, da última vez que foi revista a taxa, o empréstimo aumentou 40 euros! E o pior é que muito provavelmente os bancos vão subir já a euribor outra vez antecipando-se à nova subida de 0.25% prevista para Dezembro de 2006. Assim, de patamar em patamar, o objectivo será chegar aos 4,5% a 5,0% lá para o início de 2008. Isto se o petróleo não subir a pique. Por isso é que é importante que se faça uma vida mais racional no que se refere ao consumo dos combustíveis fósseis e outros recursos importantes. A globalização tem dois lados: um bom que é o acesso a bens de consumo mais barato e o outro, menos bom, que é o aumento do consumo de recursos. Este lado negativo faz aumentar o preço das matérias primas (energia e materiais), que por sua vez puxa a inflacção para cima. Esta é controlada com o aumento do preço do dinheiro (aumento das taxas de juro).
Quando a economia está em crescimento, que é o que se passa actualmente no clube dos países do euro, é natural que haja pressões para conter a natural subida da inflação, aumentando os juros . Mesmo que Portugal esteja estagnado ou em recessão estes juros podem estar a aumentar porque são os grandes países, como a Alemanha, a França ou mesmo a Espanha, que controlam o crescimento da União Europeia e "ditam" as regras do mercado financeiro.
O que pode fazer Portugal? Tem que racionalizar muito bem os seus gastos a começar pelos energéticos. Pelo vistos não é só por motivos ambientais (a meu ver fundamentais) que devemos acabar com esta estupidez dos engarrafamentos de trânsito automóvel nas nossas cidades e tomar urgentemente medidas mais racionais. E devemos não esquecer que toda a nossa economia (mundial) tem pés de barro porque está assente na exploração incessante de recursos não renováveis (energéticos e materiais). Dá que pensar, não dá?
O problema é que por cada bem de consumo não pagamos o que ele realmente custa. Compramos um livro, pagamos o custo de "produção", mas não se contabiliza no preço (alguém paga?) o quanto custa plantar e esperar por uma nova árvore para substituir a que se usou em papel. São "externalidades".
Parecemos aquelas crianças a quem os pais oferecem todos os brinquedos que querem e não têm qq noção do quanto as coisas custam...
E qto às taxas de juro, eu estou a pagar mais 160 euros do que em Agosto de 2005! A solução para mim é amortizar o que poder no empréstimo (para além das sugestoes de renegociação, etc, etc, sugeridas no artigo). Atacar a dívida agressivamente é a melhor maneira de ter paz de espírito.
Outra coisa que penso que seria importanta ver discutida em Portugal eram os arredondamentos feitos pelos bancos. Em Espanha foram declarados ilegais.
E, por último, gostava de saber como é que se vende a ideia de consciência ambiental (e consciência social...) colectiva à banca!
A banca pode tudo em Portugal: pagar impostos baixos, arredondar os juros, impor spreads, criar taxas de manutenção de contas, etc. O aumento destas taxas é escandaloso pensando na economia de meios que hoje é possível ter com o desenvolvimento da internet!
Tal como eu, muita gente hoje faz quase todas as operações simples de pagamentos, transferências, etc., através da internet e assim o banco economiza muito em meios humanos. Isto não se traduz na diminuição das taxas, antes pelo contrário. Assim se precebe de onde vem a "gordura financeira" dos bancos.
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