terça-feira, 26 de setembro de 2006

O design de Daciano da Costa no Eixo Central

Também na mesma revista arquitecturas, donde copiei na íntegra a notícia da pista de ski que está no post abaixo, vem um artigo bastante interessante sobre mobiliário urbano, a propósito do projectado no atelier de Daciano da Costa, recentemente falecido, para o futuro Eixo Central, a correspondência da Avenida da Liberdade na Alta de Lisboa. Quem nos guia nas razões da opção entre um ou outro tipo de objecto é Ana Costa, filha de Daciano.

Os bancos desenhados na ilustração que acompanha o artigo têm encosto. Obrigado aos arquitectos e designers que se imaginam a usar as suas próprias criações!




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MOBILIÁRIO URBANO
Alta de Lisboa inova na mobília
O atelier Daciano da Costa desenhou diferentes famílias de objectos de mobiliário urbano, para povoar o principal eixo urbano da Alta de Lisboa. A natureza das peças varia mas a continuidade não sai comprometida.


O Projecto de Equipamento, Mobiliário Urbano e Padronagem de Pavimentos para o Eixo Central do novo bairro da Alta de Lisboa nasce de uma parceria entre os ateliers Daciano da Costa e Risco. Diferentes famílias de objectos vão adornar praças e ruas neste novo pedaço de cidade, garantindo a continuidade, mas também a identidade de cada espaço urbano, O projecto foi concluído recentemente e aguarda aprovação na Câmara Municipal de Lisboa.

Com o convite feito pela Sociedade Gestora da Alta de Lisboa, em 1999, o atelier Daciano da Costa ganhou a oportunidade de abordar o design do mobiliário urbano, num novo pedaço de cidade, como uma disciplina complementar dos estudos urbanísticos. Da necessidade de desenvolver uma escala intermédia de detalhe urbano surgiu a colaboração com o atelier de arquitectura Risco.

Para evitar o aparecimento de uma cidade fragmentada e desconexa, foram definidas bases e regras racionais para determinar um contexto cromático representativo da arquitectara da Alta de Lisboa. “E a única forma de conseguirmos com que todos os projectos de arquitectura tenham uma linguagem comum, nem que seja na proximidade com o espaço urbano”, refere a arquitecta Ana Costa, do atelier Daciano da Costa. Desta carta de recomendações, salientam-se normas relacionadas com “os planos de cor, as características dos materiais utiliza dos, os planos de fachadas, a própria modelação dos cheios e dos vazios”, entre outras.

A imagem de urna cidade agregadora começa a construir-se no Eixo Central, identificado como avenida principal da Alta de Lisboa, à semelhança da Avenida da Liberdade ou dos Champs Elysées, em Paris. Depois de se corrigir a fragmentação inicial da frente da Alameda da Europa, foi introduzido neste eixo o conceito de Parque Linear, uma revisão que alterou o seu perfil transversal.

A existência de elementos diferenciadores na cidade, como praças, fontes ou bebedouros, levou a equipa de projectistas a distinguir, também, a natureza do mobiliário urbano. “Definimos à partida que nas zonas das praças ou das fontes o mobiliário deve ser protagonista, deve provocar, causar efeito. Noutras zonas, mais de passagem, o mobiliário é de acompanhamento, surge na continuidade de uma rua, relaciona-se com a arquitectura”, descreve a arquitecta.

Segue-se a mesma lógica na padronagem dos pavimentos. Assim se chegou à conclusão que a típica calça da portuguesa, padronizada, assumirá o papel de protagonista por se aplicar apenas nas chamadas “zonas especiais”. Na restante área aplicar-se-á um pavimento betuminoso, ainda que caracterizado pela mesma cor clara. “Dada a morosidade na aprovação do projecto, aproveitámos para dar passos em frente e um deles está na escolha de um pavimento mais regular, adequado às necessidades das pessoas com mobilidade condicionada, o que não aconteceria se colocássemos calçada em toda a área do percurso urbano”, explica Ana Costa.

A natureza do mobiliário urbano varia ainda consoante o estilo das praças, que podem ter uma escala mais doméstica ou urbana. “A ideia do banquinho de réguas de madeira, com a perna de ferro, que se justifica nas zonas de jardim, de estar, e um mobiliário com um ar mais duro, em aço, ou com umas linhas mais simplificadas nas zonas de grande percurso urbano”, diferencia.

O desenho e os vários sistemas de equipamento e mobiliário urbano, devidamente registados como desenhos de mobiliário de autor, permitem, assim, criar diferentes famílias de objectos, que se sucedem, estimulando e animando os vários percursos do Parque Linear

Favorece-se a continuidade, mas não a repetição, garantindo a identidade dos espaços urbanos. “Encontras-te comigo naquela zona do parque em que os bancos têm as pernas tortas? Esta é a prova de que o próprio mobiliário urbano pode servir de estímulo e de referência para sabermos onde estamos”, exemplifica Ana Costa.

O Projecto de Equipamento, Mobiliário Urbano e Padronagem de Pavimentos do Eixo Central da Alta do Lumiar espera, agora, aprovação na Câmara Municipal de Lisboa, para, posteriormente, se poder avançar para a criação de protótipos.

Ana Cristina Ferreira

2 comentários:

Unknown disse...

“Encontras-te comigo naquela zona do parque em que os bancos têm as pernas tortas?"

Eu gosto desta parte :-)

susana disse...

Isso da garantia de qualidade vinda do atelier do Daciano, leva a algumas dúvidas, na medida em que o Senhor já lá não está para dar o seu aval - o que é uma pena, pois não estou a reconhecer este equipamento nos Seus traços.
A parceria com o Risco, parece-me bastante inteligente, pois podem contar com a cabeça do Manuel Salgado - isto se ele se disponibilizou para este projecto...
Quanto ao desenpenho da Ana Costa, como arquitecta de interiores, não tenho qualquer dúvida - sou fã -, mas daí a design de equipamento, que era o que o Senhor fazia, vai um salto muito grande de escala...
Veremos...