quarta-feira, 29 de março de 2006

Discutindo o Parque Oeste



Sinto-me bem em espaços verdes e era óptimo que mais houvessem por toda a cidade para atenuar ruído e poluição e para tornar agradáveis as ruas por onde passamos. Mas gostava de perceber algumas opções na criação do Parque Oeste. Gostava de saber quanto custa sustentar tanto relvado, quanta água é necessária para os manter verdes durante o Verão. Portugal não é propriamente como a Holanda, onde chove durante todo o ano, e a água começa a ser aqui um bem dramaticamente escasso. A sombra das árvores poderia atenuar esse problema, mas para além de levarem muitos anos a crescer, não se vê plantadas em toda a área do Parque. Porque será?

Mais dois "conceitos" deste parque que me intrigam:

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1 - não haverá qualquer iluminação nocturna no Parque para além do eixo pedonal. A ideia, segundo nos disse recentemente a UPAL, é dissuadir o uso do Parque à noite para evitar que as pessoas corram riscos. O trajecto nocturno desde a estação de metro da Ameixoeira até à Alta de Lisboa, cerca de um kilómetro de distância, terá de ser feito por estradas se se quiser ter iluminação.

2 - a ausência de bancos com encosto. Segundo sabemos, também através da UPAL, o projecto do Parque não engloba bancos com encosto. Não me vou cansar de dizer isto, mas acho um disparate o argumento de que o banco com encosto é uma imposição inaceitável do arquitecto. Acho preferível sujeitar-me a essa imposição do que não ter o conforto do apoio nas costas. E um jardim é para ser usado de mais formas do a mera circulação ou contemplação exterior. É para parar, para sentar, para ler, para ouvir passarinhos, apanhar Sol, ver pessoas. Para viver.

E já agora, ficamos para quando na abertura do Parque? Tem sido constantemente adiada e é visível a continuação dos trabalhos. Mas nesse caso porque foi apontada como primeira data Setembro de 2005, depois passou para Fevereiro de 2006 e estamos agora à beira de Abril e não se vê fim às obras. Espero também que se lembrem de salvaguardar a continuidade do Eixo Pedonal para que esta barreira entre as zonas Norte e Sul da Alta de Lisboa não se mantenha depois com o início da malha 6.


Finalizando, reparem como são já visíveis as obras do LX Condomínio, por trás do Bairro da Cruz Vermelha.

10 comentários:

Unknown disse...

Às vezes é-me difícil compreender algumas opções, como a ti. A "usabilidade" deveria ter um peso mais forte na formação dos arquitectos. E não te parece que há também pouca humildade nas opções? Pq não admitir que quem vai usar os espaços saberá melhor o que é conveniente e onde é conveniente?

Agrada-me aquela ideia para os trilhos pedonais, de não os fazer de todo, dar um tempo às pessoas e ver onde surge o trilho naturalmente - e então, sim, formalizá-lo.

Mais uma vez, adaptar os projectos às pessoas e não as pessoas aos projectos.

Pedro Veiga disse...

É sem dúvida um parque de luxo! O luxo está nesta reduzida área estar em obras há quase 2 anos. Imagine-se o que custa uma obra destas. A rega, a relva, os camimnhos empedrados, as árvores exóticas, a alameda com água, o dique, os canteiros de flores, a pérgola,...
Isto tudo para quê? Nunca mais abre, não se sabe quando é que terá um caminho pedonal seguro que possa servir de atravessamento. Será que os responsáveis não sabem que há muitas crianças que moram na zona a norte do parque e que têm a sua escola situada a sul? Já terão reparado na alternativa de atravessamento que se resume a um caminho cheio de pó (ou de lama) atravessado diariamente pelas crianças e pais a caminho da escola?
Será isto possível num país da União Europeia? Até quando? Até estarem construídas mais torres de apartamentos a preços de luxo no lado sul do parque?
Será só isto a razão? Porque havemos de estar condenados a esta forma errada de fazer urbanismo?

Pedro Cruz Gomes disse...

Eu entendo as intervenções urbanas dos anos pós-adesão à UE como o equivalente autárquico do novo-riquismo pato-bravo das antenas parabólicas e dos video-porteiros: muita parra e pouquíssima uvapara tanto dinheiro investido.
São as rotundas repetidas ad nauseum porque, no início, algum iluminado engenheiro de tráfego explicou a um senhor presidente que elas eram a solução ideal para os cruzamentos perigosos e um ainda mais iluminado assessor descobriu que uma rotunda era uma maneira rápida e pouco onerosa para os dinheiros partidários de mostrar serviço e alcançar nova maioria nas eleições seguintes.
São os metropolitanos de superfície espalhados de Oeiras a Mirandela passando pelas (más) reconversões portistas de caminhos-de-ferro suburbanos.
E são os parques p'ra-português-ver-ao-longe cheios de relvas sequiosas e inventivas conjugações de materiais e segmentos de recta que tão bem ficam no software de desenho e no cartaz publicitando a obra e o génio do autarca que os autorizou.
É um facto que Lisboa precisa de espaços verdes.
Mas precisa de espaços verdes fruíveis, disfrutáveis.
Para um Monsanto produtor de oxigénio e espaços pouco recomendáveis à noite já contribuimos há muito.
Um Parque Oeste que - oh tão bonito que fica na planta de venda! - designa um recolher obrigatório após o pôr-do-sol por via da inexistencia de iluminação artificial (e que bem que ficará daqui a um ano, pejado de seringas utilizadas e vandalismos vários!); que desdenha ocupações prolongadas dos passantes por via dos bancos desconfortáveis que implantará; que constituirá um sorvedouro de dinheiro caso a autarquia decida manter em bom estado de saúde os extensos relvados que apresenta, não é uma mais-valia para a Alta - é uma punheta de quem o inventou.

Pedro Veiga disse...

Nem mais!

Tiago disse...

Tal e qual, Pedro. Mas parece estar na moda este tique de gastar muito dinheiro com soluções irrealistas, dispensdiosas e ostentatórias. Portugal tem muito disto, fruto das classes médias com pretensões de ascenção social já tornadas complexo de inferioridade. Vive-se na ilusão que tudo se compra, tudo se paga, tudo se faz, mas é preciso pensar nos custos das coisas e optar por soluções que a longo prazo não se tornem um peso insuportável.

Como digo, os espaços verdes são bemvindos, sobretudo por estarmos tão sequiosos deles. Mas a verdade é que muitos dos espaços verdes cosntruídos recentemente no âmbito do Parque Periférico de Lisboa têm extensões de relvado completamente desprotegidas do Sol. Gostava de saber quanto custa à autarquia a rega desses espaços, se plantar mais érvores atenuaria o problema e se não valeria a pena a longo prazo esse esforço financeiro.

susana disse...

ALguém me sabe dizer se foi planeada alguma ETAR para a zona da Alta de Lisboa?

Sabiam que para cada aeródromo é necessária a implantação de uma ETAR? E Normalmente não têm espaços verdes, só um ou outro hangar e uma torre de controlo que também serve de aerogare!

Gostava realmente de saber se, para tão grande empreendimento e tão almejados e "pretensiosos?" espaços verdes, foi pensada alguma etar?

Pedro Cruz Gomes disse...

Ó Susana, livre Deus nosso Senhor a SGAL de tal ideia!!! Se a ETAR fosse como a da avenida de Ceuta então nem com ofertas "compre-um-leve-dois-apartamentos" conseguiria despachar os condomínios de luxo...!

Pedro Cruz Gomes disse...

E, já agora, quanto às regas: sabiam que, devido ao acordo de concessão da exploração do abastecimento de água que a CML celebrou com a EPAL, aquela está proibida de utilizar as INÚMERAS NASCENTES da cidade para usos não potáveis como sejam a rega ou a lavagem das ruas? Têm consciência que a água utilizada para estas actividades é tão dispendiosa de tratar e de pagar quanto a bacteriologicamente quase pura que usamos para beber?
Esta relva devia ser vendida nos mercados de agricultura biológica, tal é a pureza dos meios postos ao serviço do seu crescimento e tal a nossa burrice para aturarmos esta aplicação do erário municipal...

Tiago disse...

Por acaso o livro da SGAL diz que a água dos laguinhos do Parque Oeste será usada para a rega dos relvados. Resta saber é onde se vai buscar a água para os laguinhos no Verão.

Pedro Cruz Gomes disse...

Se assim é, Ricardo, é uma revolução! Há uns anos propus à CML a utilização da água freática retirada da cave de um prédio e ela obrigou-me a canaliza-la para o caneiro de Alcântara com o orgumento de que a não podia utilizar. (E uns anos depois os meus colegas camarários confirmaram-me a impossibilidade)