terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Balanço de vida no Alto do Lumiar (ano de 2005)

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Mais um ano que terminou ficando as grandes promessas para o Alto do Lumiar ainda por cumprir.
Para mim foi um ano da mudança, pois, finalmente, consegui fazer a escritura do meu apartamento depois de mais de quatro anos de espera e de muito dinheiro pago em juros ao banco.
Quando assinei o contrato de promessa compra e venda, em Julho de 2001, fiquei impressionado com a qualidade do projecto de urbanização do Alto do Lumiar, nomeadamente, com a promessa da construção de muitos equipamentos educativos, sociais, desportivos e de lazer. Foi isso que me convenceu a trocar de morada deixando de ser um habitante dos subúrbios de Lisboa para regressar à cidade onde nasci.
Uma vez ultrapassada a fase de adaptação a uma nova rotina já estou em condições de fazer um pequeno balanço sobre as impressões dos dias vividos neste bairro de Lisboa.
São muitos os dias em que me desloco de transportes públicos para o meu local de trabalho. Nestes momentos facilmente deparo com os absurdos de um bairro novo onde tudo deveria ter sido pensado para quem nele habita, trabalha ou está, simplesmente, de visita. Apesar da frequência dos autocarros ser muito aceitável (nas horas de ponta), é possível verificar que ao longo do percurso das carreiras são muitas as paragens ainda sem qualquer abrigo. Há também ainda grandes extensões de ruas e avenidas sem passeios: Krus Abecassis, Eduardo Covas, Sérgio Vieira de Mello, isto só para citar as mais próximas do meu apartamento. Passagens de peões nem vê-las!
O famoso parque oeste (ou do vale grande) continua em obras, constituindo um obstáculo entre a zona norte e a zona sul desta Alta de Lisboa. É estranho habitar um bairro cuja propaganda diz ser planeado ao pormenor, a pouco mais de 500 metros de uma estação de metropolitano e, nas horas de ponta da manhã, ter que frequentemente perder cerca de meia hora para fazer 500 metros enfiado num autocarro ou num automóvel, no insuportável pára e arranca!
Já fiz a experiência e aconselho-a vivamente a todos os que gostam de andar e sabem os benefícios que esta actividade dá ao nosso corpo: por vezes, saio do autocarro na zona do condomínio da torre e vou a pé até à estação de metropolitano da quinta das conchas. Não são mais do que uns 15 minutos a andar calmamente, o que significa que a zona central da Alta de Lisboa está a menos de 30 minutos a pé do Campo Grande! Perante isto questiono: para quando a existência de caminhos pedonais e cicláveis? Para quê este sofrimento do transporte rodoviário que se amontoa nas horas de ponta em cruzamentos de azinhagas com meias avenidas cheias de buracos? Será que é assim tão dispendioso criar alternativas ao ineficaz transporte rodoviário que circula em ruas sempre esburacadas? Infelizmente, urbanizações com este tipo de redes viárias existem por todo o lado no nosso país e, por isso mesmo, a Alta de Lisboa já devia marcar a diferença neste aspecto!
Foi em Dezembro último que tive a feliz oportunidade de contactar com um alto responsável da UPAL. Fiquei a saber, entre muitas coisas, que: o parque oeste só abrirá (na sua primeira fase) lá para o Carnaval de 2006; a Avenida Santos e Castro só estará pronta daqui a um ano ou mesmo ano e meio, na melhor das hipóteses; o eixo norte-sul está pendurado pela conclusão do viaduto do Lumiar cuja sua construção só agora dá os primeiros passos (e ainda há expropriações a fazer!); o passeio central ainda vai levar mais uns bons anos até ser construído; a construção da entrada sul da Alta está dependente do fim do bairro das calvanas cujos realojamentos ainda não começaram (as novas casas estão em fase de acabamento). Perante este cenário a SGAL está a planear lançar mais empreendimentos de venda livre durante 2006. Ora, pelo que se vê, esta empresa está a apostar em vender, vender e vender sem se aperceber dos desequilíbrios urbanos que existem neste empreendimento que se pretende que tenha qualidade acima da média.
Apesar de todos estes problemas ainda penso que daqui a cinco anos esta área de Lisboa poderá estar mais equilibrada, apesar da densidade de construção prevista. Desejo que não se torne num bairro fantasma e inseguro à semelhança dos que pululam um pouco por todo o mundo. Oxalá a aposta da Alta tenha sucesso! Desejo a todos os votos de um excelente ano de 2006!

P. Veiga

3 comentários:

Sérgio disse...

Caro Pedro,
Apesar de ainda não habitar a Alta, percebo o seu desabafo e frustração.
É sabido que uma coisa é conhecer o projecto e ver as ilustrações que antecipam a obra acabada; outra, bem diferente, é viver quotidianamente o processo de concretização do mesmo projecto.
Nas brochuras, como na argumentação dos vendedores, os jardins, os passeios, o estacionamento, as artérias, a iluminação, os transportes e as escolas, as farmácias e os mercados, as esquadras e os centros de saúde, já estão feitos. É sedutor pensá-los assim: uma realidade inteira pronta a disfrutar. Mesmo que a razão insista em temperar o entusiasmo.
Mas depois há os promotores e a respectiva agenda comercial, os empreiteiros, também eles com as suas necessidades, os políticos e os ciclos eleitorais. Há também dificuldades técnicas não antecipadas, conjunturas desfavoráveis, entraves jurídicos, conflitos institucionais. É todo um mundo de variáveis a condicionar o ritmo do projecto.
E quanto maior o projecto, maior o número de variáveis.
A Alta de Lisboa é claramente um projectão. Tudo nela grita 'PROJECTÃO'. É um colosso de milhares de hectares, milhares de fogos, milhares de pessoas. É um projecto habitacional, social, comercial, estrutural. É uma nova Lisboa e uma cidade em si mesmo. Não tem comparação com nada do que foi ou está a ser feito noutros sítios do país. É um desafio imenso. É uma grande oportunidade.
Passaram 17 anos desde que começou, no papel.
Hão-de passar mais 20 até que consiga ultrapassar as expectativas criadas pelas brochuras.
Mas vai consegui-lo, não tenho dúvidas.
Cabe-nos continuar a trabalhar nesse sentido. Parabéns.

Pedro Veiga disse...

Antes de me comprometer com a Alta de Lisboa fui avisado que iria viver numa zona em estaleiro de obras permanente durante vários anos. O problema é que quando se começa a sentir o peso da realidade no dia a dia o nosso sentimento muda. Parece que tudo se torna mais urgente, apesar de observarmos os progressos diários no terreno. É com este sentido que eu escrevi este pequeno texto.

Rodrigo Bastos disse...

Comprendo o Pedro.

Sérgio, acho que resumir esta questão a uma brochura é de certa estar a aligeirar e (indirectamente e sei que não é essa a intenção) desresponsabilizar as entidades que responsáveis pela edificação este projecto.

Sejemos pragmáticos. Este projecto não têm e até agora cumprido minimamente os timmings a que se propõe atingir. Quando se anunciam prazos é necessário ter em conta -prévimamente- os factores indicados ti. Análise de Risco(?!)

Penso ser mais do que visível, que queremos ver na Alta de Lisboa um "projectão" de sucesso e por isso só espero que 2006 seja efectivamente o ano da viragem.