Toda Amesterdão impressiona pela harmonia entre edifícios e espaços verdes. Qualquer área não utilizada com edifícios, estrada, passeio ou ciclovia é destinada a um espaço verde. Se na zona histórica de Amesterdão isto é possível, a zona Norte de Amesterdão, construída em meados do séc. XX, surpreende pela quantidade de parques, jardins e bosques. Nesta zona existem edifícios com mais de dez andares, blocos construídos em linha, mas que distam cerca 100 metros entre si, devidamente rodeados de árvores.
Amsterdão depara-se neste momento com a necessidade de expansão, por haver maior procura do que oferta de habitação, e o tema tem sido alvo de aturada reflexão. É sintomático que não seja sequer equacionada sacrificar a enorme área de espaço verde que existe na periferia da cidade para construção de novas urbanizações. Aparentemente uma árvore na Holanda é tão sagrada como uma vaca na Índia.
E quanto mais tempo passa mais me interrogo pelas razões de termos o Portugal que temos, com as zonas históricas das cidade a serem desfiguradas para substituir alguns prémios Valmor por mamarrachos de 10 andares, as zonas novas a serem construídas sem qualquer planeamento, ao sabor dos interesses imobiliários e à velocidade da corrupção dos autarcas. Interrogo-me onde estarão as diferenças entre dois países, se nas leis, se na consciência cívica e estética que passa de geração em geração, se na preparação académica da sua população, ou numa cadeia de valores mais difícil de perceber, fundamentar e formar. Seja como for, a democracia na Holanda funciona em moldes semelhantes aos nossos, há pessoas eleitas para governar, planear e gerir as coisas durante um mandato limitado no tempo, mas as diferenças começam na qualidade dos eleitos e na vigilância constante dos eleitores.
O que faria um autarca português, com os seus vinte anos de carreira política, num país como a Holanda? Que profissão teria, até onde conseguiria chegar?
Amsterdão depara-se neste momento com a necessidade de expansão, por haver maior procura do que oferta de habitação, e o tema tem sido alvo de aturada reflexão. É sintomático que não seja sequer equacionada sacrificar a enorme área de espaço verde que existe na periferia da cidade para construção de novas urbanizações. Aparentemente uma árvore na Holanda é tão sagrada como uma vaca na Índia.
E quanto mais tempo passa mais me interrogo pelas razões de termos o Portugal que temos, com as zonas históricas das cidade a serem desfiguradas para substituir alguns prémios Valmor por mamarrachos de 10 andares, as zonas novas a serem construídas sem qualquer planeamento, ao sabor dos interesses imobiliários e à velocidade da corrupção dos autarcas. Interrogo-me onde estarão as diferenças entre dois países, se nas leis, se na consciência cívica e estética que passa de geração em geração, se na preparação académica da sua população, ou numa cadeia de valores mais difícil de perceber, fundamentar e formar. Seja como for, a democracia na Holanda funciona em moldes semelhantes aos nossos, há pessoas eleitas para governar, planear e gerir as coisas durante um mandato limitado no tempo, mas as diferenças começam na qualidade dos eleitos e na vigilância constante dos eleitores.
O que faria um autarca português, com os seus vinte anos de carreira política, num país como a Holanda? Que profissão teria, até onde conseguiria chegar?
18 comentários:
Tiago,
de conversas com um amigo que viveu 5 anos na Holanda, enquanto lá estive a passar uma semana de férias, deu para perceber que a sociedade holandesa é toda extremamente organizada e planeada. O que não deixa de ser um pouco contraditório com a imagem de "liberdade" que transparece para o exterior.
É de facto impressionante e agradável todo o cuidado que colocam no arranjo urbanistico; basta referir que nenhum projecto avança sem que estejam garantidas as necessidades básicas das pessoas, seja em termos de comércio, serviços, organismos públicos, etc. Cada conjunto habitacional tem o seu "centro".
Do que consegui perceber do pouco tempo que lá estive, tem muito a ver com a mentalidade do povo. É um facto que levam essa organização, essa "normalização" de todos os aspectos da vida, levam-na um pouco longe demais, a meu ver; para mim, o exemplo mais caricato é o facto de aos 13 anos um aluno já ter o seu futuro praticamente traçado em termos do que vai seguir na faculdade, se é que vai para lá...
Das informações que recolhi junto desse meu amigo, é um estado demasiado controlador e demasiado presente na vida dos cidadãos.
Não quero com isto de alguma forma desvalorizar o cuidado urbanistico que é vísivel em boa parte da Holanda. Viajei de comboio entre Bruxelas e Amsterdão, e deu para ver muito.
Claramente temos muito a aprender com eles, como dizes, em termos dos eleitos mas também em termos dos eleitores.
Um abraço,
Ricardo
Da Holanda só conheço Amsterdão e durante uma semana que lá passei mas que serviu para compreender que é uma cidade onde se pensa nas pessoas.
Existe um espirito civico que se pode observar nos transportes públicos. Se cá é obrigatório entrar nos autocarros junto ao condutor para validar o bilhete, lá as pessoas entram nos electricos por qualquer porta e picam o seu bilhete.
Numa rua assisti a uma obra de canalização que foi efectuada em cerca de 24 horas, por cá vemos os nossos passeios esventrados durante semanas a fio.
Infelizmente, por cá, vivemos com a politica do não é para ser feito, é para se ir fazendo e com a esperteza saloia do consegui fugir às minhas obrigações.
Li algures que para chegarmos economicamente à média da europa são precisos 100 anos, pode ser que faltem menos anos para atingir a média cultural...
Perguntas soltas de alguém que dentro de pouco tempo morará na ALTA DE lISBA, no condomínio da Torre:
-Apesar de ser uma zona de PER, os autocarros nocturnos são aconselháveis? Pelo que me informei o 108 funciona até bastante tarde.
-Há relatos de assaltos ou algo no género na zona?
-Durante a noite é uma zona calma, ou temos a companhia de "discotecas ambulantes"?
Caro Paulo Henriques,
Gostaria de responder à segunda pergunta enviando-lhe precisamente para o blog do Condomínio da Torre. Leia este 'post' e os seus comentários. Mas não se assuste em demasia. Estamos a fazer por que a situação seja resolvida:
http://condominiodatorre.blogspot.com/2005/08/segurana.html
Já agora, os comentários começam a ficar esclarecedores a partir do feito por "Vanessa Amaro, Segunda-feira, 15 Agosto, 2005 ". Daí para baixo, a coisa é realmente interessante. Prepare-se
Como anda a Alta de Lisboa
Tiago, ja viste a cor do ceu?
que maravilha o nosso Portugal a beira mar plantado, com o anti-ciclone dos acores sempre a funcionar.
:)
E a cor da relva???
É verdade que o clima do norte da Europa ajuda a manter os espaços verdes, mas o planeamento urbanístico não tem nada a ver com isso. A não ser na escolha do tipo de zonas verdes. A relva, por exemplo, é um exemplo de uma escolha errada. Exige demasiada água para um país que apenas sabe recolher 10% da que cai dos céus. Mas, mais uma vez, isto deve-se também à manifesta incapacidade dos vários governos de planear e preparar o futuro do país.
Harmonizar os espaços urbanos com zonas verdes é possível em Portugal, não depende de um céu plumbeo em Agosto. E os benefícios são não só no disfrute visual, na frescura das ruas, mas também na qualidade do ar e, caso a mancha verde seja suficiente, num arrefecimento da cidade, na criação de humidade.
Não pretendo fazer muitos comentários que desvirtuem o sentido deste post, mas este tenho que o fazer.
O comentário da relva foi uma forma sarcástica de expressar o meu total desacordo em relação ao comentário do Sr. Anonymous! Num ano de seca extrema e de incêndios como nunca visto é um comentário extremamente infeliz...
Quanto ao último comentário tens toda a razão. Se calhar somos os únicos a estranhar o facto dos canteiros existentes por esta cidade estarem a ser substituídos por relvado, com é o caso da Av. Rio de Janeiro junto aos bombeiros. No entanto discordo quando dizes que o problema esta nos governos. Eu penso que está nos pseudo-defensores da nação. Num país em que não há água para beber não fazer uma barragem por causa de meia dúzia de rabiscos numas pedras é ridículo.
O Foz Coa é problemático, sim. É um dilema. Mas o que me choca mesmo é a qustão do Alqueva que demorou décadas a ser construído, com a agravante dos canais de rega estarem ainda por fazer. A cereja em cima do bolo é a promessa de que a água da barragem não ir servir para rega de campos de golf estar à beira de não ser cumprida.
A meu ver os vários governos que temos tido, independentemente da cor política, são responsáveis para o estado calamitos que atravessamos hoje. Pela falta de capacidade de discutir e planear o futuro prevejo, infelizmente, que piores dias virão.
Cabe-nos falar, dizer o que pensamos, exigir competência e medidas sérias para que Portugal não morra de sede nos próximos anos.
É urgente planear melhor a floresta, criar mais espaços verdes nas urbes, recolhar mais água no Inverno.
Reconheço vantagens na Holanda, mas se fico lá mais de 10 dias começo a entrar em paranóia pois lá nada se passa nada se faz, poucos espaços verdes, poucas actividades ao ar livre, eles têm pouco de tudo... têm muito de pessoas por todo o lado, por m2, mas de resto nada têm.
A nível geral Portugal dá cartas à Holanda a vários níveis.
Ricardo
rabiscos?????!!!!!!!!!!!!!
Ja visitou Foz Coa?
Portugal nao e ainda um deserto e a barragem no Coa nao ia resolver as questoes da agua no nosso pais.
Quantas vezes lava o seu automovel?
Porque e que nao se proibe a utilizacao de mangueiras e passa-se a usar sistemas de rega gota a gota, como na Alta?
...
Quanto a luz de Lisboa talvez so quem nao a tem e que lhe sente a falta.
Não, não visitei. Mas a minha liberdade de visitar ou não acaba muito antes da liberdade que as pessoas da região têm de abrir a torneira e sair água. Portugal não é ainda um deserto mas para lá caminha e toda a água que se puder armazenar é importante.
Conhece o templo de Abu Simbel? Sabe o que foi feito ao templo para construir uma barragem? Certamente que é muito mais fácil fazer o mesmo a um conjunto de pedras.
Quantas vezes lavo o carro? Uma vez por mês se tanto, acha muito? Sabe quantos carros dá para lavar com a quantidade de água que se gasta para regar um campo de golfe? A minha liberdade de lavar o carro é menos importante que a liberdade de alguém ir jogar golfe? Já agora, e perdoe-me a minha ignorância, come se rega relva em sistema de gota-a-gota?
Sabe que na Europa a produtividade e a riqueza são inversamente proporcionais à quantidade média de luz por dia? Curioso, não é? Dá que pensar...
Ricardo
Acontece que as rochas com rabiscos e a paisagem envolvente nao se podem dissociar. E isso que e maravilhoso e unico em Coa!
Em Abu Simbel cortaram os templos da montanha e moveram-nos para uma zona acima do nivel da agua.
Nao esta a querer comparar a necessidade de agua que o Egipto tem com a de Portugal, pois nao? Nem a barragem de Aswan com a de Foz Coa?
Concordo consigo quando fala em campos de golf. Acho uma aberracao usarmos agua preciosa em campos de golf quando na Irlanda ou Holanda se pode ter uma imensidao de relva quase sem esforco. O pior e que os golfistas gostam de sol!
A grande diferenca entre o norte e o sul da Europa nao e a luz do sol. E a nossa historia!
Compare a produtividade de paises/economias com a mesma quantidade media de luz por dia. (ex.:California/Portugal)
Ricardo
leia isto.
vai gostar!
http://geography.about.com/od/specificplacesofinterest/a/nile.htm
Em Colónia na Alemanha, cidade fundada pelos romanos, todos os vestígios dos mesmos forma guardados num museu bastante interessante e de grande proporção. (não moveram grandes edificios, mas sim peqeunas casas, zulejos, mármores, estátuas, etc)
Não vejo qual o problema de se tirar as coisas do local de origem e meter num museu, onde vão mais pessoas ver pois tem outro tipo de condições como sofás, bar, folhetos, guias, etc, e ao mesmo tempo deixar a sociedade evoluir. Ainda mais Foz Coa que no fundo são pedras com desenhos onde faz muito menos efeito ver dentro de um edifício do que ao natural.
jvieira
para si esta leitura:
http://www.uc.pt/fozcoa/gravuras.html
depois de ler compreendera a minha primeira frase:
...."rochas com rabiscos e paisagem envolvente nao se podem dissociar"... ou seja o rio, o vale, a agua e os rabiscos sao um todo.
Enviar um comentário