quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Entrevista ao Dr. Nuno Caleia (na íntegra) - VII

Viver na Alta de Lisboa: Continuando perto do Eixo Central, temos o Centro Social da Musgueira que é um edifício ainda do antigo bairro e que está por realojar desde 2001. Em que situação é que estamos, tendo em conta a importância social que o Centro tem?

Nuno Caleia: O Centro Social da Musgueira (CSM) tem um projecto desenvolvido na Malha 2 de implantação de um Jardim de Infância, de um ATL e de um espaço lúdico, de lazer, desportivo, que teve as resistências que foram públicas por parte da população da Malha à recepção daquela estrutura e tem algumas questões de sobredimensionamento da estrutura dentro daquele espaço. Não sendo necessariamente uma solução óptima, nós não a quisemos deitar borda fora e continuamos com aquela decisão. Estamos à espreita, no entanto, se existirem outras oportunidades que sejam mais vantajosas para as poder decidir já em vez de as decidir depois. Essa questão foi abordada de acordo com a Vereação no sentido de saber se houver outra localização que seja mais satisfatória para a população e para o CSM do que aquela, é este o momento, porque nós vamos dar ordem para a execução da estrutura. Encontrei um projecto estabilizado. Para mim, havia dois óbices fundamentais: o primeiro era a definição matricial da parcela; o segundo, era que o projecto não previa nenhum lugar de estacionamento nele próprio, o que me parecia excessivo para a Malha que é. Para o desenvolvimento do Eixo Central, o CSM não inviabiliza essa obra. O que não faz sentido é manter uma estrutura que é para relocalizar e eternizá-la naquele sítio.


Viver na Alta de Lisboa: Mas ainda estão à procura de alternativas?

Nuno Caleia: Foram equacionadas alternativas. Mas independentemente das alternativas virem ou não a andar, o que é fundamental é que isso não implique atrasos do ponto de vista da realização. Ou seja que sejam coisas realizáveis no mesmo tempo previsto para o outro. Senão não é uma alternativa.

Viver na Alta de Lisboa: Quanto tempo até ter um Centro Social novo?

Nuno Caleia: Eram 22 ou 24 meses de execução. Temos uma obra de cerca de 2 anos pela frente.

Viver na Alta de Lisboa: Há consciência por parte da CML da necessidade de pensar em colocar o CSM próximo das suas outras valências, por exemplo, o Centro de Dia?

Nuno Caleia: É importante garantir essas proximidades, até por uma questão de gestão do próprio Centro. Ainda que a população que o Centro serve não se resuma à Malha 2.


Viver na Alta de Lisboa: Um dos locais em que pensaram não terá sido o local previsto para o projectado Palácio de Cristal, no Parque Oeste, rejeitado por todos os serviços da CML, e aproveitar essa âncora? Isso tinha várias vantagens: uma delas era a de dar alguma vida ao Parque Oeste, que é um Parque que tem sido criticado precisamente por isso. Tem sido criticado pela pouca vivência, por um vandalismo associado a essa pouca vivência e pelo perigo para os utentes, sobretudo crianças, que podem mergulhar nos lagos e ficar lá presas, como infelizmente já aconteceu. Colocar o CSM aqui poderia dar uma vida muito maior ao Parque e o próprio CSM poderia desenvolver até uma esplanada ou um bar, por exemplo.

Nuno Caleia: Não equacionei essa hipótese. Até porque a Direcção Municipal do Ambiente têm em mãos a perspectiva de lançar as acções no Parque Oeste para que não fique no ponto em que está. Cenicamente é muito bonito, tem alguns atravessamentos, mas não tem um ponto-âncora de vivência, por exemplo. E isto porque a estrutura dessa âncora é periférica em relação ao Parque.

Viver na Alta de Lisboa: Mas a UPAL tem o poder de desenvolver esta ideia e de a levar à CML?

Nuno Caleia: Posso fazê-lo, sim. Eu acho que é uma ideia interessante. Acho que a UPAL tem esse papel, de ser interlocutor e de levar as ideias aos próprios serviços que estão a gerir porque temos a sorte de só nos termos que preocupar com um território muito mais pequeno da cidade. Nesse aspecto podemos criar sinergias para capitalizar ideias. Mas é uma hipótese, sim. Seja para o CSM ou seja para uma função desta natureza. Ou seja, a ideia de aproveitar o Palácio de Cristal para um equipamento desta natureza. Para alem da relocalização deste equipamento e a relocalização da sua função, porque o CSM é uma estrutura que tem utentes e desempenha o seu papel dentro desse tecido e fá-lo com mais dificuldade enquanto está numa situação provisória porque está numa situação precária e poderá faze-lo com mais eficiência numa situação definitiva. Melhor servido de infra-estruturas. Neste momento está assente numa pseudo-via que lhe faz ligação e que é o remanescente da via existente e portanto tem dificuldades, quando se aproxima o Inverno é difícil de lá chegar e compreende-se que não se possa fazer um investimento do outro mundo para garantir aquela ligação mas algum investimento tem que ser feito para que possa viver com alguma qualidade.

Viver na Alta de Lisboa: E o próprio Centro não investe já no edifício porque sabe que é um edifício que está provisório.

Nuno Caleia: Nós temos tido reuniões com o CSM de acompanhamento. Houve agora um interregno. Nenhuma dessas alternativas foram de facto consubstanciadas ao ponto de nós a discutirmos com o Centro Social da Musgueira para ver se seria ou não uma opção. Nós estamos na Malha 2 com um projecto para aquela localização. Esse ponto não foi ainda abandonado mas é importante perceber, mesmo desenvolvendo este projecto e implantando aqui o CSM, perceber se é a melhor hipótese ou se é a única.

2 comentários:

Pedro Veiga disse...

Isto parece complicado, muito complicado. Com tanto terreno livre será que não existe uma solução viável a curto prazo? Mesmo alterando pontualmente o plano geral de desenvolvimento da Alta?
Penso que o novo CSM é urgente!

Pedro Cruz Gomes disse...

Numa gíria da caserna, chamar-se-ia a isto "encher chouriços":

"Não sendo necessariamente uma solução óptima, nós não a quisemos deitar borda fora e continuamos com aquela decisão", quererá dizer que a CML, via UPAL, endossa a solução licenciada (por si) e quer a sua implementação - imediatamente (recorde-se que a obra foi licenciada, o estaleiro foi montado e foi interrompida por "pressão dos moradores" - qualquer coisa entre a exigência de "respeito" que um dos dirigentes da associação de moradores aqui indicou em comentário e os acidentes nocturnos que, inexplicavelmente, foram ocorrendo no estaleiro enquanto a obra não foi suspensa).

Já a frase que se segue "estamos à espreita, no entanto, se existirem outras oportunidades que sejam mais vantajosas para as poder decidir já em vez de as decidir depois" quer dizer que a CML não vai fazer tudo ao seu alcance para que a obra seja retomada, antes procrastina, na ânsia de que um anjo caído do céu lhe indique uma solução alternativa que lhe permita limpar-se junto da comunicação social (sim, em ano de eleições ter uma população de um bairro camarário a gritar desventuras à frente das câmaras das televisões, é mau para uma vereação de esquerda...).

Logo a seguir, no entanto, vem o " nós vamos dar ordem para a execução da estrutura." É certo que o dr. Nuno Caleia não diz quando é que essa ordem irá ser dada. Nem se percebe se o "nós" é majestático ou colectivo - pode ser sempre "nós" CML e assim, estes 4 meses em que a ordem ainda não foi dada, serem justificáveis pela dificuldade em reunir todos os "nós" que dão a ordem.

Finalmente, a questão dos prazos: "independentemente das alternativas virem ou não a andar, o que é fundamental é que isso não implique atrasos do ponto de vista da realização. Ou seja que sejam coisas realizáveis no mesmo tempo previsto para o outro. Senão não é uma alternativa."

Convém esclarecer que se um qualquer projecto de arquitectura é concebido em função do espaço e da envolvente em que vai ser inserido, este projecto em particular está pensado para a situação especial de topografia não plana onde iria ser implantado. Pretender-se que as alternativas de localização não induzam atrasos é reduzir as mesmas a terrenos idênticos ao previsto. Se considerarmos que a maioria do espaço de intervenção do CSM se situa em zonas planas, percebemos que qualquer alternativa será sempre motivadora de - no mínimo - uma readaptação do projecto ao local (a qual custará quase tanto tempo e trabalho quanto um novo projecto) com o consequente processo de relicenciamento (e nós sabemos os meses que os processos demoram a ser apreciados na CML - veja-se o que se passa com o LX Condomínio). A não ser que se queira instalar o Centro longe das populações com quem trabalha.

Subentender que o novo espaço estará pronto daqui a 2 anos (neste momento dois anos menos quatro meses...) é, ou uma falácia ou uma ingenuidade. Ou o director da UPAL acreditava sinceramente que o novo edifício iria ser implantado no local previsto ou os 24 meses eram poeira para disfarçar a realidade.

Sendo a realidade que continuaremos a ter um conjunto de edifícios com manifesta e demonstrada importância social a degradar-se sem opção à espera de uma decisão e umas obras que hão-de chegar um dia.
É mau para os seus utentes, é mau para a população em geral, é mau para uma urbanização que se queria exemplar, é mau para uma autarquia que se queria de palavra. E é mau para quem tem esperança num país com instituições desenvoltas a resolver problemas e sem medos de ofender estes ou aqueles porque, mediaticamente, parece mal.