quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Troncos


Por onde anda a razão? Mais prosaicamente, quem é que tem razão?

No presente, a razão, a certeza, fica sempre com o lado vencedor, só o tempo permite esse distanciamento que abranda paixões e permite um discernimento outro, uma desempatia que liberta a investigação desprovida de emoção.

E hoje? Na espuma dos dias o que permite dizer, com alguma certeza, qual o campo a eleger, qual dos lados a apontar, não como vencedor, antes como o que a posteridade ditará como a mais justa, a mais certa?

Hoje à tarde e há bocado em todos os serviços noticiosos televisivos, uma turba hululante e contidamente violenta ameaçou todos os que, publicamente ou na sua imaginação, ao estarem contra a expansão do parque de contentores do Porto de Lisboa, estavam contra o seu trabalho.


Parecia ter voltado aos delírios de 1975 e ao cerco da Assembleia Constituinte, com uma mesma manipulada e ignorante turba a ofender e ameaçar fisicamente (quase) todos os deputados. Faltou ver o Presidente da Câmara a entrar em greve como o Primeiro-Ministro da altura, mas ainda deu para ver um Miguel Sousa Tavares visivelmente perturbado pelo apertão acabado de levar, com a sua tonitruante voz tremelicando adaptada à situação acabada de viver.

E a verdade? E a razão? É a extensão do porto revestida da leveza e inoquidade com que a APL a pinta ou o retorno do divórcio com a cidade que caracterizou a margem durante muitas décadas?

Lisboa pode viver sem porto? Bom, Lisboa pode sobreviver sem porto... Mas não se poderá reformular tudo aquilo de um outro modo, que conjugue rentabilidade com urbanismo? E não nos poderemos entender todos para além deste diálogo de surdos?

Quanto aos troncos... por onde andarão e o que dirão hoje em dia todos aqueles que, de capacete de obra e atrás dos bulldozers acamparam por uns dias em S. Bento?

Mais subtilmente, onde andarão os que incentivaram o cerco de há 33 anos e o que comentarão os óbvios beneficiários da manifestação de hoje? O lumpen é o mesmo, os puppeteers é que são completamente diferentes... Ou não?

14 comentários:

Mr. Steed disse...

compreendo a ideia mas são situações diferentes camarada pedro.

ainda bem q escreveste sobre isto. era para o fazer mas hoje já não havia energia para mais.

podemos gostar mais ou menos do mst. nada na vida é a preto e branco. neste caso o que ele fez é de elogiar. levantar o rabo da cadeira e dar o corpinho ao manifesto por uma ideia é mais do que a maior parte da elite nacional faz. e depois, tudo o que chateie a APL tem o meu apoio.

sobre o cerco da constituinte falamos em privado :)))))

Anónimo disse...

....mesma manipulada e ignorante turba a ofender e ameaçar fisicamente ....

O que está o Srº Pedro a fazer? Não ofende fisicamente mas chama turba ignorante a quem defende a sua ideia, o seu posto de trabalho!
Não lhe chegam os 15 ou 16Km de frente ribeirinha que lisboa tem?? Preocupe-se com a restante zona dotada ao abandono ... a doca pesca por exemplo? por que não criticam esse desleixo da CML?
Existem tantas zonas para se preocuparem ... experimente fazer o percurso Expo/Praça do Comercio ou Algés/Cais do Sodré e vai ver como está a nossa dita frente ribeirinha!

Só digo uma coisa à nossa classe de "políticos" ...Creche e Aparece!

Preocupem-se com o que se devem preocupar e não com mesquinhices.

Anónimo disse...

creche e aparece? que têm os miúdos a ver com isto?

Anónimo disse...

NEM MAIS!
Avante camarada, avante...
Junta a tua à nossa voz!!!

Mr. Steed disse...

Vamos lá responder ao anónimo:

O que está o Srº Pedro a fazer?

A exercer o seu direito de opinião. É a democracia.

Não ofende fisicamente mas chama turba ignorante a quem defende a sua ideia, o seu posto de trabalho!

Chamem-me parvo mas continuo a preferir que me chamem "turba ignorante" ou mesmo "cara de cócó" a que me dêem um enxerto de porrada. São maneiras de ver a coisa, eu sei.

Os estivadores não estavam a defender posto de trabalho coisa nenhuma. Venderam-lhes essa ideia e eles deixaram-se manipular.

Não lhe chegam os 15 ou 16Km de frente ribeirinha que lisboa tem??

Não. Queremos mais frente ribeirinha. Queremos a frente ribeirinha toda para a cidade. E queremos que a APL deixe de agir como dona da dita cuja.

Preocupe-se com a restante zona dotada ao abandono ... a doca pesca por exemplo? por que não criticam esse desleixo da CML?

Porque agora estamos a criticar este assunto. Não somos muitos e por isso só conseguimos criticar uma coisa de cada vez.

Existem tantas zonas para se preocuparem ... experimente fazer o percurso Expo/Praça do Comercio ou Algés/Cais do Sodré e vai ver como está a nossa dita frente ribeirinha!

Exactamente. É por isso que não queremos que fique pior do que está.

Só digo uma coisa à nossa classe de "políticos" ...Creche e Aparece!

Boa piada essa do trocadilho com a palavra "creche".

Preocupem-se com o que se devem preocupar e não com mesquinhices.

Vamos combinar uma coisa. Você não diz com o que nos devemos ou não preocupar e eu respeito a sua opinião. Boa?

Outra vez, agora todos juntos:

É A DEMOCRACIA!!!!

E em democracia não se ameaçam os outros meninos de porrada só porque eles têm ideias diferentes das nossas.

Pedro Cruz Gomes disse...

Só uma achega:

A turba de ontem era, no meu texto, "hululante e contidamente violenta". A "ignorante" era a de 75 (por isso me interrogava, no final do texto, por onde andariam hoje os seus componentes e o que teriam a comentar em relação ao passado).

Manipuladas, isso sim, tanto uma como outra.

E sim, se defender o posto de trabalho é ameaçar com uma carga de porrada quem tem ideias contrárias, achincalhá-lo (ouvir registo sonoro dos epítetos utilizados ontem via link do texto), então "turba" é um apodo carinhoso.

Mais umas parecenças retiradas do baú: os mineiros romenos vindos do Vale Jiu para afinfar petardões em quem se atrevia a ser da oposição, já na era Pós-Ceausescu. Aparentemente também desciam à capital para defender os seus postos de emprego, bateram que se fartaram e acabaram com a liberdade dos que se atreviam a pensar de maneira diferente.

Anónimo disse...

mr. Steed;

Ofender não é democrático se não qq dia vão lhe à cara e segundo o sR. é a democracia; a democracia de cada um acaba onde começa a do outro.

Que provas tem que estavam a ser manipulados? Está a fazer uma afirmação sem conhecimento de causa ... mera suposição ... continuemos ...

"Queremos a frente ribeirinha toda para a cidade." ... nem comento ... não sabe que os portos marítimos são importantes para a sustentabilidade económica de uma cidade? O mal de Portugal é não produzir e não deixar ninguém produzir! m Portugal virou moda há muito tempo destruir tudo o que produz riqueza ... por isso estamos como estamos e temos a economia que temos..


Deixo-lhe um conselho, preocupe-se com a sua Alta que está cada vez mais em baixa e deixe concretizar obras que vão permitir modernizar um espaço que está un nojo neste momento!

É a DEMOCRACIA: Felizmente vozes de burros não chegam ao Céu.

Este País lentamente vai andando ... contra a maré de muito "boa" gente ... veja-se o túnel do Marquês; temos um Sr. que tanto dinheiro dos contribuintes esturrou aos tugas e agora anda caladinho que nem um rato. Deram-lhe um tacho!

Agora vem um segundo Sá Fernandes (de nome qq coisa Tavares ...) armar-se aos cuqos, quem sabe para ver se ganha também mais um tachito ... já temos tão poucos!

Faça-se obra! Evolua-se! Produza-se!

Anónimo disse...

Isto está porreiro. O Sindicato dos Estivadores linkou o Viver?

Mr. Steed disse...

Meus caros.

Não há aqui estivadores.

É o tipo do costume. O troll de serviço ao Viver na Alta.

Anónimo disse...

A prorrogação por 27 anos do contrato de concessão do terminal de contentores de Alcântara foi hoje justificada pelo presidente da Mota-Engil Ambiente e Serviços, Gonçalo Martins - num encontro marcado só para esse efeito com jornalistas - com a necessidade de amortizar o investimento feito pelo concessionário nas obras de ampliação daquela estrutura portuária.

Por seu lado, Rocha Morais, o representante da Liscont (a empresa da Mota-Engil que tem a concessão do terminal) explicou o porquê de se avançar com a ampliação agora.

Segundo Rocha Morais, os armadores estão a comprar navios cada vez maiores por ficar mais barato transportar cada vez maiores quantidades de contentores.

Se nada se fizesse, adiantou aquele responsável, «a partir de 2009, os navios iam ter de procurar alternativas», disse, sublinhando as potencialidades de outros concorrentes como o porto de Valência. Segundo Rocha Morais, só assim Lisboa poderá continuar na rota dos grandes armadores internacionais.

Os responsáveis das duas empresas quiseram deixar claro que não vai haver nenhuma «muralha de aço», sublinhando o facto de os contentores terem uma grande rotatividade e não serem empilhados mais de cinco de cada vez.

Lembraram ainda o facto de os edifícios que serão demolidos serem mais altos que os contentores.

Diaz

Mr. Steed disse...

é uma boa explicação. espero agora pela resposta.

A Mota-Engil está a fazer o seu papel e neste caso, visto sob uma perspectiva de relações públicas, procedeu da forma correcta.

No entanto, não me parece que seja um obra tão inócua como a pintam. Aguardemos pelos desenvolvimentos.

Anónimo disse...

Espero que finalmente desapareçam aquelas pontes horríveis metálicas na docas

Pedro Cruz Gomes disse...

A Mota-Engil acaba por evitar o ponto principal da contestação que é o de se ter iludido o princípio de todas as concessões do Estado aos privados serem transparentes, devendo, por isso, ser feitas com base em concursos públicos.

Quanto às justificações técnicas de prolongamento da área, são como as contas dos economistas: para cada tese à sempre uma antítese defendida por número igual de especialistas.

Como sempre, foge-se ao essencial: deve continuar Lisboa a ter um porto? É o local actual, face às novas exigências urbanas da cidade, às expectativas dos seus habitantes (consubstanciadas nos resultados das eleições), à visão do futuro da cidade, o melhor local para a localização da actividade portuária (considerando a relação ganhos/custo de relocalização)?

Nada disto se discute. Ficamos pelo folclore duplo das meias-verdades e da meia-demagogia de um e do outro lado.

Anónimo disse...

esta imagem vem hoje no expresso...
estão mesmo à frente...