04.06.2008, Catarina Prelhaz
Sociedade gestora mobiliza cinco milhões de euros para reparar erros nas habitações. Principais acessos deverão estar prontos em três anos
O empreendimento da Alta de Lisboa vai ser retomado ao fim de quatro anos de inoperacionalidade do seu mecanismo de gestão. A revelação foi feita ontem pelo presidente da comissão executiva da Sociedade Gestora da Alta de Lisboa (SGAL), Amílcar Martins, para quem aquele projecto de urbanização de 300 hectares é "uma oportunidade para a cidade que não pode ser perdida".
O relançamento do plano, da responsabilidade da SGAL (sociedade privada) e da Câmara de Lisboa, inclui a disponibilização de uma verba de cinco milhões de euros para fazer face a deficiências nos prédios já construídos, onde habitam cerca de 32 mil pessoas, menos de metade da população que pretende atingir na próxima década (65 mil). "Vamos ter no próximo ano e meio um investimento de cinco milhões de euros para responder a tudo o que existe de menos conseguido, nos apartamentos e nas áreas comuns dos edifícios", revelou ao PÚBLICO Amílcar Martins, adiantando que a sociedade gestora já tem uma equipa no terreno para se inteirar das reclamações.
A instalação de comércio e serviços também já está em marcha, garante o presidente da SGAL. "Ao longo do último ano foram sendo criadas condições para atrair investidores para o projecto. Se ainda não construímos o centro comercial (está previsto um com área equivalente à do Centro Comercial Vasco da Gama), escritórios e hotéis é porque estes empreendimentos têm de ser desenvolvidos com os investidores", explicou Amílcar Martins, acrescentando que conta solidificar parcerias ainda este ano. "Estamos em negociações, umas preliminares e outras em fase de conclusão. Há cinco a seis investidores para cada valência."
A SGAL e a Câmara apostam ainda na conclusão das principais vias de acesso - Avenida Santos e Castro, Eixo Central e Porta Sul -, que deverão estar prontas durante os próximos três anos. "As obras nas duas primeiras estão a decorrer, e quanto à Porta Sul, estamos a analisar com a CML a melhor solução para assegurar a ligação entre a 2.ª Circular e o Campo Grande", adiantou Amílcar Martins, para quem a atracção de novos investidores não tem sofrido com as acessibilidades. "Os investidores não se preocupam com os acessos porque pôr de pé um centro comercial demora três ou quatro anos entre projecto e obras. Ora, as vias vão estar prontas antes dos três anos."
Para o responsável da SGAL, também não é correcto falar em atrasos, antes em "deslizamentos". "Este plano de urbanização conseguiu aprovação em 1996 e foi desde logo pensado para 20 anos, por isso temos de estar abertos às vicissitudes e às desactualizações. Se as vias de acesso ainda não estão prontas [a inauguração estava prevista para o final de 2004] é porque extravasam a parceria com a câmara e têm a ver com problemas com terceiros, seja pelas expropriações, seja no que respeita à tutela do território. A própria câmara não tem tido a estabilidade necessária para ultimar soluções", sublinhou. Também o mecanismo de gestão que junta a CML e a SGAL esteve inactivo desde 2004.
O PÚBLICO solicitou esclarecimentos adicionais à câmara, mas, três semanas depois de formulado, o pedido não recebeu qualquer informação.
E o aeroporto?
04.06.2008
O complexo habitacional da Alta de Lisboa é um "projecto fechado" e, por esse mesmo motivo, não teme o destino que for dado ao vizinho aeroporto da Portela. Ainda assim, Amílcar Martins reconhece que o melhor para os residentes do Alto do Lumiar ainda seria a solução preconizada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa: um espaço verde de 500 hectares. "Mas se for tudo loteado e tiver uma densidade desgraçada, também não vejo mal para a Alta de Lisboa, porque ela tem espaços verdes e não depende do exterior".
Alta com equipamentos a caminho mas com esquadra vazia
04.06.2008
A SGAL diz perceber que os moradores se sintam defraudados com a demora pela conclusão do projecto, mas assaca responsabilidades às mutações da realidade social que acompanham um plano com um longo prazo de execução. "O projecto aprovado prevê mercados. Alguém acha que hoje em dia faz sentido pôr praças na Alta de Lisboa? Não, temos de optar por superfícies comerciais com outras características."
"Há também deficiências no equipamento escolar: é preciso creches para fixar os casais jovens. O Ministério da Educação não aprova o que temos no plano, porque está desactualizado, e muito menos estas substituições, porque não constam dele. Ora, não nos é permitido instalar este equipamento sem que o plano seja redesenhado e é isso que estamos a fazer", disse.
Quanto ao Colégio de São Tomás, a SGAL garante que ele não foi substituir nenhuma das escolas públicas previstas e que está fora do plano da Alta. "O colégio, ainda que desejável, é um equipamento negociado entre uma instituição privada e a câmara e ao qual somos alheios", sublinhou.
Já no que respeita à instalação da esquadra de polícia, de 3900 m2 de construção e 2800 m2 de arranjos exteriores, que acolhe a Divisão de Trânsito da PSP, o presidente da SGAL diz-se "esperançado" em que a direcção nacional da polícia reveja a escolha. "Divisão? Estão lá duas pessoas do trânsito quando gastámos 3,5 milhões de euros para a pôr de pé. Entregámo-la em Outubro ao Ministério da Administração Interna e não está a ser devidamente utilizada, o que vai fazer com que se degrade. Não acredito que a PSP vá continuar a desperdiçar uma esquadra assim. O policiamento é essencial para a Alta e para a zona contígua, onde vive parte substancial dos habitantes da cidade."
Ainda sem solução definida, mas em discussão com a câmara, está o centro cultural. "Será um equipamento implantado na Alta, mas pensado para a cidade", garantiu Amílcar Martins. "O arquitecto Siza Vieira poderá vir a desenhar o centro cultural, mas ainda não se avançou com um projecto porque é preciso primeiro definir um programa. Não vamos fazer algo a partir do abstracto."
Outra das reclamações dos moradores, a melhoria da rede de transportes, está também nos planos da SGAL, ainda que não no imediato. Uma vez que o eixo central vai promover a ligação ao coração da cidade, é ao longo dessa via que idealiza que sejam instaladas estações de metro e interfaces de outros transportes públicos. "Mas não passam disso mesmo, de ideias não consolidadas", salvaguardou Amílcar Martins.
Gerir equipamentos
Quanto aos problemas dos arruamentos - há até um cruzamento com 18 faixas de rodagem - e falta de sinalética, a SGAL promete soluções a curto prazo. "São precisamente essas situações que agora pretendemos resolver uma a uma, dado que o mecanismo de gestão está novamente operacional", assegurou.
Aliás, a SGAL pretende aumentar a sua influência na Alta de Lisboa, encarregando-se da gestão de alguns equipamentos, até agora da responsabilidade da câmara. "Vamos propor que possamos nós mesmos fazer a exploração de equipamentos que, caso contrário, simplesmente não são programados e não têm vida, como o Parque Oeste, que estará pronto ainda este ano".
Números
04.06.2008, Catarina Prelhaz
300
hectares é a área destinada para construção (habitação, comércio e serviços) na Alta de Lisboa
32
mil habitantes é o actual número de residentes do complexo, que pretende captar 65 mil residentes
5
milhões de euros é a dotação da sociedade para fazer face, no imediato, a reparações em estruturas ou habitações com deficiências de construção
2016
é a data da conclusão do projecto
3,5
milhões de euros foram gastos para erguer uma esquadra da PSP (Divisão de Trânsito) com 3900m2 de construção
O atraso nas infra-estruturas viárias e a falta de comércio e serviços são as principais queixas dos habitantes da Alta de Lisboa. "Os problemas da Alta são os problemas da cidade: sem vias de acesso não há sector terciário e sem terciário somos apenas mais um dormitório", sintetiza Tiago Figueiredo, morador e editor do blogue Viver na Alta de Lisboa.
A falta de equipamentos projectados, a insegurança do Parque Oeste - "morreu uma criança afogada no lago e a Câmara Municipal de Lisboa apenas lá pôs cartazes dissuasores da natação" -, a falta de patrulhamento policial, as lacunas na sinalização dos arruamentos e as deficiências no sistema de transportes públicos que servem a zona são outras das reclamações.
"Precisamos de equipamentos que dinamizem o Parque Oeste e do tão falado centro cultural. São precisos mais transportes. Às 18h, a Alta de Lisboa já morreu. E que dizer da superesquadra? A área que concentra 70 por cento da população de Lisboa - os bairros da Alta de Lisboa, Chelas, Olivais e Benfica - tem um terço das esquadras da cidade. É um erro", censura Pedro Gomes, residente e co-autor blogue de intervenção cívica.
Catarina Prelhaz
Há 5 anos
10 comentários:
Mais uma prenda para o Viver?
Vamos por partes.
RELAÇÃO COM O CLIENTE
"Vamos ter no próximo ano e meio um investimento de cinco milhões de euros para responder a tudo o que existe de menos conseguido, nos apartamentos e nas áreas comuns dos edifícios", espero que corresponda a uma consciência efectiva sobre a verdadeira natureza dos problemas. Será necessária muito boa vontade, verdadeira disponibilidade e sentido de autocrítica por parte da ter a SGAL para se aproximar dos Clientes, Condomínios, e espaços como a Alameda da Música.
Do investimento que vão ter em “Marketing”, Imagem, Comunicação, está previsto alguma dotação para a formação numa orientação “pró-Cliente” dos colaboradores? É absolutamente crítico. Sem isso não vale a pena tentar potenciar o Valor da Imagem.
RELAÇÃO CML-SGAL
“Também o mecanismo de gestão que junta a CML e a SGAL esteve inactivo desde 2004.”
Isto explica muita coisa. Moro no Alto do Lumiar desde 2004 e sempre tenho interrogado muita gente pelo acompanhamento por parte da CML. Projectos, Aprovação, Fiscalização, Recepção de obras, etc. Não há dúvida que isto (“mecanismo de gestão” inactivo desde 2004) explica muita coisa. Alameda da Música, Embasamentos (revestimento exterior) dos Condomínios da Torre (CTs), vento nos apartamentos por debaixo dos rodapés, materiais escolhidos e acabamentos nas áreas comuns dos CTs, “parques infantis” “instalados” na “Alameda da Música” (cada uma, entre aspas), etc.
MERCADOS
"O projecto aprovado prevê mercados. Alguém acha que hoje em dia faz sentido pôr praças na Alta de Lisboa?
Bem sei que em negócio o que lá vai lá vai. Mas há uma responsabilidade: o mercado esteve disponível durante muito tempo. A SGAL poderá ser acusada de um certo “sobranceirismo”, “desdém pelo Cliente e pelo mercado” mesmo, numa postura de que “tudo se vende, mais cedo ou mais tarde”? Em resumo, o mercado esteve presente durante muito tempo e simplesmente não foi aproveitado. Agora “chora-se” por Clientes.
ESQUADRA.
Posição oficial da SGAL de condenação da entrega da Esquadra à Divisão de Trânsito. Muito positivo. Alguma clarividência, incluindo a os interesses da própria SGAL. É assumido. É sempre bom ser assumido. Qualquer que seja a opção. Bravo.
É importante que os Altenses se continuem a manifestar no repúdio da “solução” da entrega da esquadra à Divisão de Trânsito.
CRESCES
Para quando?
O que dizer? Já pagamos (pelo menos) duas vezes a educação, a saúde, a justiça, a segurança…
CENTRO CULTURAL
Esperemos sentados.
PORTA SUL E ACESSOS ESTRUTURANTES (PELO SUL)
“"As obras nas duas primeiras [Eixo Central e Santos e Castro] estão a decorrer”
Não entendo o conteúdo, já rebobinei a cassete 87 vezes mas não dá para entender.
“e quanto à Porta Sul, estamos a analisar com a CML a melhor solução para assegurar a ligação entre a 2.ª Circular e o Campo Grande"
Lá vamos nós ter mais prazos. E somar mais atrasos.
"Os investidores não se preocupam com os acessos porque pôr de pé um centro comercial demora três ou quatro anos entre projecto e obras. Ora, as vias vão estar prontas antes dos três anos."
Eu temo que signifique “enquanto os investidores não se preocupam com os acessos, nós, na SGAL, também não” ou seja, apenas haverá preocupação com os acessos após o arranque da Malha 5 (a tal do Centro Comercial, hotel, etc).
CAUSA MAIOR
"Se as vias de acesso ainda não estão prontas [a inauguração estava prevista para o final de 2004] é porque extravasam a parceria com a câmara e têm a ver com problemas com terceiros, seja pelas expropriações, seja no que respeita à tutela do território. A própria câmara não tem tido a estabilidade necessária para ultimar soluções", sublinhou.”
SGALe CML alegam causa maior? Estão já a preparar a defesa jurídica?
PRAZOS
O ónus da prova é da CML-SGAL. Legitimamente, todas as reservas serão pouco.
ATRASOS
“Para o responsável da SGAL, também não é correcto falar em atrasos, antes em "deslizamentos".
Também já rebobinei a cassete 93 vezes e não entendi mesmo nada. Não compreendo. Algum aspecto certamente muito técnico.
Mas resumidamente, é positivo termos o Presidente Executivo da SGAL a dar a cara. A respeitar uma certa orientação para o Cliente. Será suficiente?
Estou cansada de ouvir dizer que um menino morreu e a camara nao fez nada.
O menino que morreu era um menino. A camara nao toma conta de meninos. Quem toma conta dos meninos sao as suas familias. Se nao ha familia entao ha instituicoes que tomam conta de meninos.
Bem ou mal e outra historia.
O que a CML tem de fazer e disponiblizar verbas para as escolas e as instituicoes na Alta trabalharem bem.
Tem de por os seus funcionarios a trabalhar ou po-los a andar.
E trabalhar com os seus parceiros (ex. SGAL)
Quanto aos mercados. Caro Sr. Martins ja visitou Union Square ao sabado pela manha?
Ou Boston ao sabado? ou Londres?
Ha mercados e pracas. Ha feiras e vendedores ambulantes.
E ha compradores!
ana
Porquê mais uma prenda para o Viver?
obrigado,
Miguel Lemos
sim porquê?
será que está implicito algum "polo/núcleo" partidário que felicita???
Miguel Lemos,
Porque o Viver fez anos há dois dias e uma (aparente) boa notícia para o desenvolvimento do PUAL pode ser considerada uma "prenda de anos". De qualquer modo, "Mais uma prenda para o Viver?" está na forma interrogativa, propondo implicitamente uma reflexão.
A reflexão que proponho é a seguinte:
Se, nesta comunicação, às promessas (mensagens) corresponderem acções com resultados verdadeiros e em tempo útil, então muito bem. Se for mais um jogo de gestão de expectativas então é uma prenda envenenada e devemos ter consciência disso.
O “ónus da prova” está todo do lado de que vem agora, novamente, prometer algo mas que já mostrou no passado um trabalho “menos conseguido” (para usar as palavras dos próprios promitentes) que havia sido de prometido num passado mais longínquo (na forma contratual ou através de criação/gestão de expectativas). Já não é a primeira vez que nos prometem qualquer coisa; quanto à credibilidade, cada um que avalie por si.
e também na edição de hoje do gratuito Oje. 2 páginas inteiras
IsabelP
Moreu hoje uma menina de dez anos frente à Escola D. José...como o Viver na Alta tinha já prevenido, uma escola deixada ao abandono pela CML (e SGAL). Sr Vereador Sá Fernandes, voltou a não ter palavra (ou só palavras vâs...).
Os meus sentimentos à família e amigos.
É uma tragédia lamentável, não porque não possa acontecer, mas porque não há ali condições mínimas para uma Escola. O S J Brito tem o luxo de um tapete de retardamento da velocidade (a vermelho)...mas essa é 'outra freguesia' provavelmente...
Lamento muito.
Quanto à notícia da SGAL:
METRO:
Se o Metropolitano Lisboa não contempla, de que serve o PUAL ou boas intenções da SGAL?
CENTRO:
Há um projecto de Siza Vieira não são propostas no ar. Parece é já não haver vontade ou ser mais rentável construir algo com mais valor eco´nómico com vista para o Parque Oeste...
ESCOLA:
Da proposta CML que aprovou o colégio STomás constava ispsi verbis isto:
«Proposta n.º 268/2006
Considerando a necessidade de, em prazos de tempo compatíveis, dotar as zonas da cidade em que se verifica intervenção municipal, de equipamentos necessários procurando uma integração eficaz das populações no ambiente em que se inserem;
Considerando constituir importante preocupação do Município fazer com que as novas zonas edificadas disponham de equipamento escolar suficiente, atempado e de qualidade, pela importância que eles revestem na integração de grupos populacionais diversos, quanto aos níveis sociais, culturais e económicos;
Considerando que o ritmo de execução da zona da Alta de Lisboa impõe a disponibilização e entrada em funcionamento no mais curto prazo de tempo dos equipamentos escolares previstos no respectivo Plano de Urbanização (PUAL), sendo que, no que respeita à Escola Básica Integrada da Quinta das Conchas, apenas existe previsão de construção pelo Estado, através da Direcção Regional de Educação de Lisboa (DREL) no ano de 2009;
Considerando que a DREL não vê objecção a que o Município ou Entidade privada leve a cabo a execução e gestão do equipamento, propondo-se executar, logo que para tanto tenhas condições financeiras, a Escola que integra este conjunto, denominada EB 1,2,3 – 2, que dista daquela cerca de 250 m2;
Considerando que a APECEF – Associação para a Educação, Cultura e Formação, associação sem fins lucrativos, criada com a finalidade de prestar serviços educativos, culturais e sociais de interesse para comunidades em que intervém, se propôs tomar a seu cargo a construção e gestão da escola, desenvolvendo um projecto educativo de qualidade, adaptado às necessidades da população local, socialmente aberto e inserido na comunidade, para cujo desenvolvimento se propõe contribuir;...»
REPARAÇÕES:
Se a SGAL me responder à reclamação por carta registada enviada por mim há um ano, de sua própria iniciativa, acredito. É que já me aconselharam a «intimidar» com carta de advogado... Pode ser esse o meio legal adequado. Mas esperava ética da SGAL, tendo pago o «luxo» do meu condomínio e acabamentos a preço por m2 de luxo efectivo! Ver para crer.
O Viver até tem a planta do Centro!:
http://viveraltadelisboa.blogspot.com/2005/12/centro-cultural.html
CONVERSA DA TRETA
BREVEMENTE NUM BLOG PERTO DE SI!
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