quinta-feira, 1 de maio de 2008

Luta de classes ou luta de classe?

Hoje é o Dia do Trabalhador.

É dia de invocar a Luta de Classes de Karl Marx (1818-1883). Resumindo: Opressores contra Oprimidos; Capital contra Trabalho.

É também oportuno lembrar uma divisão de “Classes Pensadoras”, que Fernando Pessoa (1888-1935) classificou em “três camadas distintas”. Na sua análise da realidade Portuguesa, Fernando Pessoa publicou um artigo no nº1 da “Fama”, em 30 de Novembro de 1932, portanto, há mais de 75 anos. A actualidade de tal artigo impressiona, pelo que se transcreve parte:
“ (…)

Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vida mental - a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto, neste caso por engano, burguesia; e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensão, por elite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui e em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás, que sejam sempre erradas.
Por natureza, forma o povo um bloco, onde não há mentalmente indivíduos; e o pensamento é individual.
O que caracteriza a segunda camada que não é a burguesia, é a capacidade de reflectir, porém sem ideias próprias; de criticar, porém com ideias de outrem. Na classe média mental, o indivíduo, que mentalmente já existe, sabe já escolher – por ideias e não por instinto - entre duas ideias ou doutrinas que lhe apresentem; não sabe, porém, contrapor a ambas uma terceira, que seja própria. Quando, aqui e ali, neste ou naquele, fica uma opinião média entre duas doutrinas, isso não representa um cuidado crítico, mas uma hesitação mental.
O que caracteriza a terceira camada, o escol, é, como é de ver por contraste com as outras duas, a capacidade de criticar com ideias próprias. Importa, porém, notar que essas ideias próprias podem não ser fundamentais. O indivíduo do escol pode, por exemplo, aceitar inteiramente uma doutrina alheia; aceita-a, porém, criticamente, e, quando a defende, defende-a com argumentos seus - os que o levaram a aceitá-la - e não, como fará o mental da classe média, com os argumentos originais dos criadores ou expositores dessas doutrinas.
Esta divisão em camadas mentais, embora coincida em parte com a divisão em camadas sociais - económicas ou outras - não se ajusta exactamente a essa. Muita gente das aristocracias de história e de dinheiro pertence mentalmente ao povo.
Bastantes operários, sobretudo das cidades, pertencem à classe média mental. Um homem de génio ou de talento, ainda que nascido de camponeses, pertence de nascença ao escol.
Quando, portanto, digo que a palavra «provincianismo» define, sem outra que a condicione, o estado mental presente do povo português, digo que essa palavra «provincianismo», que mais adiante definirei, define a mentalidade do povo português em todas as três camadas que a compõem. Como, porém, a primeira e a segunda camada mentais não podem por natureza ser superiores ao escol, basta que eu prove o provincianismo do nosso escol presente, para que fique provado o provincianismo mental da generalidade da nação.
(…) “
Ler mais em
http://omj.no.sapo.pt/obras/Ocasomentalportugues.pdf

Atrevo-me a considerar que estas “Classes Pensadoras” também encerram entre si uma luta: nesta fase civilizacional que atravessamos, as “camadas” primeira e segunda vão predominando e oprimindo, calcando, esmagando a “terceira camada”. Mas caros leitores, estaremos a falar simplesmente de luta de classes ou antes de luta de classe?

2 comentários:

Luís Lucena disse...

Mas o que é que isto tem a ver com o PUAL?

Anónimo disse...

"Pessoa", "classe"... humm...

...PESSOAS, classe ou falta dela, Alta de Lisboa, PUAL.
;)