quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Das memórias e outros lugares


A vida, às vezes, surpreende-nos com estas coincidências. Há três posts abaixo o Tiago relembrava-nos a esquina da sua rua de infância; do prédio que por lá feneceu até que um (in)oportuno incêndio lhe precipitou a partida; das memórias que deixou.

Das memórias que nos deixam.

Pois a tal coincidência aconteceu ontem à tarde, na minha esquina, numa das esquinas da zona que o PUAL entendeu incluir na Alta do Lumiar, um incêndio entreteve a tarde dos que passavam ociosos e complicou a vida (pelo corte das vias) aos que queriam passar.



Um incêndio num prédio devoluto há muito, presumivelmente causado por uma vela mal apagada. Nada de muito inabitual nesta Lisboa que morre, esquecida pelos proprietários e pela Câmara Municipal.


Esperem... esquecida? Coincidência das coincidências, a memória hoje em dia já não é o que era, desde que se electronizou é muito menos volátil, permite recordar com mais propriedade e melhor acuidade os factos do passado.

No dia 3 de Maio de 2004, afixou a CML na porta deste edifício um edital em que, face ao grave risco de segurança que o edifício apresentava (rigorosamente o mesmo que apresentava 3 meses antes, 1 ano antes ou na altura em que foi parcialmente demolido) se intimava o proprietário a iniciar obras de demolição num prazo máximo de 5 dias, sob pena de ser a CML a iniciar obras coercivas para o mesmo fim, com as respectivas custas e coimas a serem suportadas pelo referido proprietário. Esta história, acompanhada de alguns comentários acerca da vacuidade dos processos de obras coercivas, contei-a eu no meu finado blog a 5 de Junho do mesmo ano, constatando não se terem ainda iniciado as mesmas.




2004, 2005, 2006, 2007... Nem obras de conservação, nem intervenção camarária, apenas uma apagada e vil senilidade imobiliária que hoje se desfez parcialmente em fumo.

Pois... memórias.

6 comentários:

Anónimo disse...

O site do Tom - Uptown -lisbon também tem esta notícia e, percorrendo-o, é interessante notar como tem um olhar diferente do noso sobre a mesma Alta. Senão, vejam como ele retrata (e promove tão bem) o Condomínio da Torre, com belas fotos e uma perspectiva positiva, embora sem escamotear as facetas menos boas.
Algum sociólogo nos consegue explicar este pseudo-gene de antes do que é bom, realçarmos sempre o copo meio vazio (também sérei um desses espécimes de Tugas, reconheço à contre-coeur)???
Aprendamos com o Tom outros olhares sobre a cidade (como ele, há outros estranhos/estrangeiros a viver por cá - uma pol multicultural? «Your high-fives« and «your low-fives»?

Anónimo disse...

um olhar mais atento,

vamos ver casa a casa na estrada da torre e estamos a falar na mesma rua a onde aconteceu o referido inc�ndio, pergunto quantas casas (vivendas) est�o num estado de total abandono.

A espera do que ?

Anónimo disse...

que caiam. Para que se construam outras, a preços a que os jovens não conseguem chegar. Para que fujam, e Lisboa envelheça de vez.
Nesta última reunião de Câmara fez-se uma exposição com números concretos, avaliando fogos devolutos, fogos a precisar de urgente recuperação, fogos novos, e os números reais da queda em flecha da população da cidade. Apontou-se para o facto de não serem necessários novos fogos que os construtores não conseguirão vender, mas sim recuperar e pôr no mercado a preços possíveis.
Não adianta mencionar quem a fez, não se queriam louros, oferecia-se informação e vontade de trabalhar.
O presidente olhou o tecto como vem sendo hábito, a sua maioria bocejou, e votou-se a aprovação da doação de uma estátua, oferecida à cidade pelo ilustre Judice, com a condição de ser colocada mesmo em frente do seu escritório.
Isto sim, ocupou os governantes da cidade por boa meia hora, até se conseguir os intentos de quem vai gerir toda a frente ribeirinha.
Ou toda a cidade, pelos vistos. Pobre Lisboa.

Anónimo disse...

Em frente ao colégio s joão de brito existe uma dessas casas devolutas, pertença da família do anterior presidente da CML. Exemplo para quê?

Enquanto os cidadãos não perceberem que o único órgão eleito que poderá ter relevo (dada a proximidade) é a junta de freguesia, empenhando-se no seu trabalho e exigindo terem voz, os júdices desta sociedade continuarão a mandar nos destinos de todos nós. A CML não tem dinheiro para cumprir com a sua parte na Alta. Querem ver se o mesmo se passará na zona ribeirinha?

Ana Louro disse...

Bom dia! De volta ao blogger (embora cada vez mais longe de Lisboa) a ver se coloco a leitura em dia este FDS. Bem hajam aos que o têm continuado e eu sei que o têm feito bem.
Pois quando li vela, incêndio e devoluto só me ocorreu se haveria "okupas" no prédio porque algo não parecia bater certo... Triste estado de coisas.
Até breve!

Cininha disse...

Continuo na minha: se a autarquia vendesse abaixo do preço de mercado os imóveis na sua posse com o compromisso de que quem os comprasse os recuperasse num determinado período de tempo - caso contrário, o edifício seria devolvido à autarquia - acredito que uma parte do problema seria resolvido a médio prazo.
Será assim uma ideia tão impraticável? Não haveria candidatos à recuperação de edifícios belíssimos, carregados de história e que se valorizariam muito mais do que as torres de betão que se constroem por aí?...