domingo, 30 de setembro de 2007

Politics: who cares?



Foi este o momento da santificação de Santana Lopes. Não deixa de ser irónico que um homem cuja ascenção política tanto deve à mediatização da sua imagem seja agora o centro do debate sobre as prioridades editoriais da comunicação social.

Santana Lopes conseguiu na SIC Notícias o melhor golpe publicitário que alguma vez teve e que nem Edson Athayde lhe poderia dar. A rábula saiu genial, o improviso é, aliás, a maior qualidade de PSL, e dou-lhe toda a razão na posição tomada.

Porém, acreditando que as agendas editoriais das televisões se regem pela guerra de audiências procurando satisfazer os interesses dos telespectadores, interromper-se uma análise política por uma não-notícia da chegada de Mourinho à Portela reflecte em sobretudo o afastamento entre a população e a política; e isso é que devia preocupar toda a gente.

Curiosamente, a pedido de Santana Lopes, a entrevista tinha sido adiada meia-hora para evitar que coincidisse com a transmissão do jogo de futebol V. Guimarães-Sporting.

11 comentários:

Pedro Veiga disse...

Isto é tão mau que nem merece ser comentado.

Anónimo disse...

Não me agrada particularmente o personagem em questão, mas gostei da atitude que tomou... Todos somos seres politizados e com quadros de valores mais ou menos rígidos, mas felizmente ainda consigo (e assim espero manter-me...) separar as atitudes das pessoas, e principalmente das suas cores políticas. Independentemente daquilo que acho do PSL (que não é nada bom), julgo que esteve muitíssimo bem e que a sua indignação é legítima e autêntica. Não consigo partilhar da vossa diabolização do personagem em questão... Claro que se fosse o Louçã, o Zé, o Tozé Seguro ou qualquer outro paladino ou cavaleiro alado da esquerda caviar, certamente que aqui recolheria um estrondoso "standing applause" pela corajosíssima atitude, sem espinhas, e sem lugar a interpretações manhosas sobre os benefícios colaterais da mui nobre posição de dignidade assumida... Sempre embirrei com palas nos olhos...

Tiago disse...

Não percebo. Se embirra, porque não as tira? Eu até fiz questão de dizer que concordava com o PSL, elogio-lhe a presença de espírito para reagir no momento. E não é diabolizá-lo dizer que sempre foi hábil a usar a comunicação social para auto-promoção.

O que eu começo a diabolizar é o ensino de português neste país...

Meow disse...

Nunca pensei dizer isto, mas o Pedrinho esteve muito bem!

Anónimo disse...

Tiago,
Referir a santificação é uma forma de diabolizar. Temo que esse seu problema pessoal com o ensino do português não seja de hoje, isso explicaria algumas das suas (não muito frequentes mas sistemáticas) biqueiradas na gramática...

Tiago disse...

Não. Referir santificação é uma forma de dizer que a diabolização que lhe foi feita depois da passagem no governo da República Portuguesa, como primeiro-ministro, foi por momentos abandonada por todos os que o atacavam. Santana Lopes reuniu consensos durante esta semana, viu todos, apoiantes e adversários, serem-lhe solidários na posição tomada na SIC.

Duvido que este estado de graça dure muito tempo, agora que se está a aliar ao LFM, um líder a prazo. PSL sempre gostou de palco, sempre soube movimentar-se nos media, chegou até a pedir uma audiência ao PR e ameaçou afastar-se da política depois da sua vida privada ser enxovalhada no Big Show Sic, esse dejecto televisivo.

Estes golpes publicitários, sempre com o leitmotiv da vitimização, rendem-lhe alguma popularidade, mas descredibilizam-no junto da elite política. E provavelmente também junto dos eleitores que, apesar de tudo, preferem ver os políticos como pessoas acima de si, sem fraquezas pessoais.

Não é o caso do que aconteceu esta semana na SIC. Achei muito bem, e admiro imenso o talento dramático que PSL demonstra nestas ocasiões. Sem qualquer ironia, mesmo. Veja as imagens, a gestão dos silêncios, a forma como se sobrepõe à entrevistadora, a troca de olhares connosco. É tudo muitíssimo bem gerido. O problema é que ele sabe muito bem como são os media e sempre se aproveitou disso, daí o paradoxo da situação.

Seja como for, o que quis lançar ao debate era precisamente esse divóricio de interesse e motivação entre a população e a vida política. Porque a maioria das pessoas não segue o que se passa, não se informa, mas tem o destino do voto nas próximas eleições já previamente decidido. E nestas coisas, as regras gramaticais são um meio e não um fim. As aulas de Português, como todas as outras, deviam ensinar técnica (no caso do Português, as tais regras gramaticais) mas também a saber ler, interpretar um texto, inventar um ideia, e pensar pela sua própria cabeça. E nisso somos todos vítimas.

Pedro Veiga disse...

Sem dúvida Tiago! O grande problema da nossa escola é que não ensina a pensar. Por isso qualquer ilusionista da política tem grande sucesso desde saiba gerir bem a sua imagem. Mas isto é verdade aqui e em muitos países porque o mal é geral.
Não gosto do PSL mas achei que ele agiu correctamente perante uma situação completamente absurda. Ainda bem que teve a coragem de o fazer. Colocou a nu o que se passa em matéria de prioridades informativas na televisão pública. Ficou provado aquilo que já se sabia há muito tempo. O futebol é aquilo que interessa e o resto é paisagem porque quanto mais o povo ficar distraído melhor. E se ao futebol juntarmos Fátima e um pouco de fado então o país fica a funcionar sobre rodas!

Pedro Veiga disse...

Disse televisão pública mas enganei-me é televisão privada. Seja como for o serviço é público por isso o critério deveria ser o mesmo.

Anónimo disse...

PSL esteve bem aqui e tambem teria merecido mais do que os 4 ou 5 meses de primeiro ministro. Ate os treinadores de futebol tem normalmente mais tempo de "beneficio da duvida".

Anónimo disse...

Pois é, à semelhança de "todos" os anteriores comentadores, também acho que o PSL esteve muitíssimo bem.Acho que todos os comuns cidadãos sentiram a sua indignação um pouco como nossa pois por ali, por aquele bocadinho apenas, por aquele lapso terrível de ética da gestão da informação,foi possível ver quais são os assuntos prioritários deste País.
Quanto à sua teatralidade, não sei o que possa haver de novo,ele é o mais perfeito dos mais perfeitos gestores de imagem e está a anos luz dos comuns Portugueses cinzentos (juro que não me referia aos Profs. de Português).

susana disse...

Caramba que estes comments acabam sempre em observações políticas completamente desnecessárias!

O PSL tomou uma posição muito racional: "Ele nem declarou nada!", a que propósito estão a interromper uma entrevista para a qual o convidaram "... para saber se ele [Mourinho] vem de avião privado ou público!".

Aí está a prioridade da TV: Futilidades... (é o F que se acrescenta ao trinomio [aproveitando o termo matemático] Fátima, Futebol e Fado).