O urbanismo em Portugal tem alguns paradoxos inexplicáveis, tal como este exemplo: investe-se forte e feio numa auto-estrada de seis faixas que rasga Lisboa ao meio (o eixo norte-sul) …
… que desemboca numa azinhaga de uma só via onde é impossível a circulação de veículos com segurança, como é o caso da estreita azinhaga de S. Bartolomeu:
Na óptica do desenvolvimento urbano da nossa cidade, esta auto-estrada tornou-se necessária, pois o trânsito automóvel cada vez mais asfixia as ruas dos bairros de Lisboa. Por outro lado, esta via irá funcionar como atractivo para a vinda de mais veículos para o interior da cidade. É neste conceito errado de desenvolvimento que Lisboa tem crescido.
É claro que, se o desenvolvimento urbano de Lisboa assentasse noutras premissas voltadas para a criação de uma rede eficiente de transportes públicos e para a construção de espaços pedonais, tudo seria muito diferente. A nossa cidade teria mais espaço para se respirar e se viver em segurança. Infelizmente, as políticas definidas pelos nossos governantes continuam voltadas para a primazia do automóvel sobre o peão. Ainda no domingo passado, o Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa teve a amabilidade de afirmar que a bicicleta não serve como meio de transporte em Lisboa. Perante tal afirmação, ficamos a saber como está mal formada a consciência dos nossos fazedores de opinião pública acerca das ideias do desenvolvimento sustentável das cidades.
Este é, sem dúvida, um tema da ordem do dia! A informação que circula nas cadeias de televisão e nos jornais não nos alerta para o que se está a passar globalmente no nosso planeta. A explosão do desenvolvimento das nações mundiais trouxe um vertiginoso aumento do consumo de recursos energéticos e materiais. Hoje, a necessidade de metais-base essenciais à nossa indústria, como o ferro, o chumbo, o cobre, o estanho, etc., disparou de tal modo que os preços têm subido vertiginosamente. No campo dos recursos energéticos, a procura de petróleo tem aumentado a um ritmo muito forte, que está a ultrapassar a capacidade de oferta por parte da natureza. Para estes recursos existe um limite geológico de extracção, conceito que a esmagadora maioria dos nossos governantes e seus conselheiros parece desconhecer por completo.
Actualmente, o mundo necessita de mais de 80 milhões de barris diários de petróleo para satisfazer as suas necessidades energéticas e materiais! Ora, tal sede por este versátil e rentável recurso está a ser satisfeita pelos gigantes campos petrolíferos descobertos há mais de 40 anos. Estes campos estão actualmente a dar fortes sinais de exaustão. Tais sinais traduzem-se pela diminuição progressiva da quantidade de crude extraída. Especialistas nesta área afirmam que, globalmente, o planeta Terra não conseguirá fornecer mais de 100 milhões de barris de petróleo diários. Ora, isto significa, que o volume de extracção actual (cerca de 84 milhões de barris) estará próximo do limite geológico (cerca de 100 milhões de barris)! Ou seja, estamos a atingir o pico de extracção de petróleo (“peak oil”).
É, portanto, urgente mudar de hábitos e acabar com o desperdício energético, símbolo do desenvolvimento no século XX e da insustentabilidade no século XXI. Por isso, a promoção de modos de deslocação ecológicos e mais racionais é um dos caminhos a percorrer para o harmonioso desenvolvimento das cidades. Devem ser defendidos os transportes públicos, as vias pedonais e os caminhos cicláveis em detrimento do uso abusivo do transporte particular, grande consumidor de energia. Ao considerar um disparate o uso da bicicleta em Lisboa, o Professor Marcelo, mostra estar atrasado 50 anos, altura em que foi descoberta a maior parte dos grandes campos petrolíferos que ainda hoje saciam a nossa sede energética.
À luz destes sinais da natureza, todos os grandes projectos que envolvam o consumo de energia não renovável devem ser cuidadosamente pensados. Se, daqui a uma década o barril de petróleo valer 500 dólares ou mais, qual será o preço médio de uma viagem de avião para uma cidade da Alemanha? Provavelmente, só uma minoria de pessoas poderá viajar frequentemente de avião. Valerá a pena construir um colossal aeroporto novinho em folha?
A meu ver, o crescimento económico está dependente dos limites geológicos do planeta. O modelo económico actual assenta na equação:
Crescimento económico = Crescimento energético
Este tipo de crescimento poderá continuar enquanto o nosso planeta aguentar a pressão. O século XXI será, de certeza, um século de mudança. Espero que para o bem.
Há 5 anos
1 comentário:
a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa:
http://www.cidadaosporlisboa.org/imgs/imagens/1180561852H0gMJ3sp2Jh64TL9.jpg
ver o ciclista da direita, em calções brancos.
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