A deslocação de pessoas e de mercadorias é um aspecto fundamental para todas as cidades do mundo. Graças ao grande rendimento energético do petróleo, os veículos automóveis constituem hoje um meio cómodo e acessível para o transporte de pessoas e de mercadorias. Ora, nas grandes cidades, o uso intensivo dos motores de combustão tem aumentado muito a poluição e, consequentemente, têm reduzido a qualidade de vida urbana. Lisboa não foge a esta regra pois, nesta cidade, o automóvel ganhou espaço em demasia galgando muitas vezes o exíguo passeio reservado ao peão.
Iniciativas como a “Lisboa bike tour” servem, acima de tudo, para chamar atenção para o lado saudável da prática de exercício físico usando a bicicleta. Estas iniciativas são por isso bem vindas a uma cidade como Lisboa constantemente inundada por centenas de milhar de automóveis. Todavia, estas acções, ao mobilizarem milhares de ciclistas põem a nu as fragilidades do nosso tecido urbano.
O percurso da “Lisboa bike tour” terminou na zona da Gare do Oriente, em pleno coração do bairro da “Expo 98”. Ora, o regresso a casa de milhares de ciclistas num curto espaço de tempo, chocou com as dificuldades de atravessamento da avenida Infante D. Henrique que separa o bairro da Expo do bairro dos Olivais. O atravessamento dos ciclistas em direcção à avenida de Berlim foi feito através das exíguas passagens de peões nos semáforos existentes por baixo do viaduto da avenida Infante D. Henrique. Depois de um grande esforço físico os pobres dos ciclistas tinham à sua espera uma cidade voltada só para o automóvel!
Lisboa, 24 de Junho de 2007
Amesterdão, 7 de Abril de 2005
Como foi possível projectar e construir uma zona urbana, como a da “Expo 98”, que convida os cidadãos a andar a pé ou de bicicleta, mas que não tem uma ligação pedonal ou ciclável com o resto da cidade?
Lisboa tem tido um crescimento voltado para o desenvolvimento de “ilhas urbanas”. Bairros rodeados por grandes avenidas sem continuidade pedonal com o resto da cidade. Continuam a construir-se túneis e viadutos só para atrair mais automóveis. Estas grandes estruturas viárias não devolvem mais espaço ao cidadão sem automóvel. Vejam-se os exemplos dos túneis do Campo Pequeno ou do Marquês de Pombal. Neste locais passou a haver mais automóveis a circular por hora, mas o peão cada vez tem que fazer um percurso maior só para atravessar as novas vias asfaltadas. Graças a este desenvolvimento Lisboa perdeu espaço urbano de qualidade, ganhou poluição atmosférica e sonora, tornando-se cada vez mais agressiva e cansativa para quem se desloca a pé ou em transportes públicos.
Por cada mil euros gastos em vias para os automóveis deveria haver uma percentagem aplicada na construção de vias para as pessoas se deslocarem a pé, de bicicleta ou em transportes públicos com eficiência, segurança e muita qualidade. Se para os automóveis se projectam as estradas mais planas e mais directas por que razão os transportes públicos, os peões ou os ciclistas são condicionados pelo voraz apetite do automóvel particular pelo espaço vital da cidade? Para quando o desenvolvimento de uma rede eficiente de eléctricos que percorram algumas das vias nobres de Lisboa em alternativa ao pesado e poluidor trânsito automóvel?
Estas questões são muito pertinentes sobretudo quando Lisboa vai mais uma vez a votos.
Há 5 anos
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