terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Edifícios amigos do ambiente na Alta de Lisboa


Edifício dos Jardins de S. Bartolomeu. Uma arquitectura catita, casas com um feng shui simpático, muito agradáveis de habitar. Têm a particularidade de ter as fachadas todas em vidro. No Inverno, em dias de Sol, o resultado é magnífico, podendo-se estar e casa de calções e manga curta, quando na rua estão temperaturas inferiores a 10ºC. Pensar uma casa assim é inteligente. Bem isolada, aproveitando a força dos elementos naturais para melhorar a qualidade de vida sem esforço artificial.

Mas o problema é que toda essas fachadas vidradas não têm qualquer protecção exterior, seja toldos ou estores, e o que foi uma bênção no Inverno torna-se uma calamidade no Verão. Registou-se, por quem já habitou as casas em Agosto e Setembro, temperaturas superiores aos 40ºC. Pensar numa casa assim não é inteligente.

Solução conjunta apresentada pelo construtor (SGAL) e atelier de arquitectos (Tomás Rebelo de Andrade) aos moradores do edifício: Ar Condicionado. Ou seja, não se resolve a origem do problema, a exposição directa do Sol da enorme área de vidro, atenua-se antes com uma solução de remendo, com custos económicos altos, danos ambientais graves, e inviável para quem tem problemas de saúde associados a AC. Arrefece-se continuamente uma casa que continuamente está a ser aquecida pelo Sol. É como se quiséssemos arrefecer com cubos de gelo uma panela com água que esteja ao lume, citando uma analogia referente a este problema usada num comentário de um leitor algures.

Em 2007, com tanta informação sobre arquitectura sustentável, sobre crises económica e energéticas, sobre problemas ambientais associados ao consumo de energia, já não devia ser possível usar apenas a incompetência, desleixo e desinteresse para encontrar soluções para problemas destes. Daqui a uns anos, poucos, será insustentável e impensável manter uma solução destas. Será imbecil, se não o é já, e será certamente proibido por lei.

A Alta de Lisboa podia marcar a diferença em mais coisas do que ter um plano urbanístico com virtudes académicas referenciáveis. A SGAL, como empreendedor de todos os edifícios de habitação e escritórios da área, podia desde já pensar nos projectos futuros (e presentes também) buscando soluções energéticas sustentáveis e sofisticadas como painéis solares ou turbinas eólicas, e outras mais arcaicas, mas estupidamente abandonadas, como estendais para secar roupa ou estores para proteger as casas nos meses de maior calor. Como dinamizadora urbana de todo o projecto, e querendo ser tomada e lembrada como empreendedora moderna, com inteligência e raio de visão alargado, em vez de um bando de patos-bravos que apenas se preocupa com o cimento para fazer crescer mais uns prédios, deve exigir aos arquitectos que unam esforços com outros saberes e aliem a beleza das linhas à habitabilidade das casas e do planeta.

Esta é mais uma boa ideia para 2007 e seguintes. É também parte do meu pequeno contributo para a Assembleia de Condóminos dos Jardins de S. Bartolomeu, a realizar na próxima 5ª feira. Já agora, a SGAL aparecer nessa reunião, já que é detentora ainda de grande parte das fracções não vendidas e o quórum mínimo para a deliberação depende dessa presença, seria simpático, também. Seria fantástico se o fizessem também com propostas já concertadas com o Arqº Tomás Rebelo de Andrade que se enquadrem nos já existentes movimentos de arquitectura ecológica.

4 comentários:

Sérgio disse...

Ora, nem mais.

Pedro Cruz Gomes disse...

Como tenho tido ocasião de te dizer, Tiago, até acredito que, no papel, este projecto cumprisse o regulamento respectivo no que toca ao comportamento térmico do edifício. Até admito - pese embora o "peso" instituicional que o autor do projecto já tem - que, descansado pelas garantias do técnico (ou será que o mesmo só apareceu "a posteriori" quando o projecto de arquitectura já estava aprovado?), tenha passado despercebido o que, para qualquer leigo com experiência de vida, parece (pelo menos agora) óbvio: uma fachada com aquela superfície vidrada, sem outra hipótese de ensombramento que não seja uma pala minúscula colocada muito mais acima do que deveria estar para ter algum efeito, e com a maioria dos paineis fixos, com um caudal de circulação do ar diminuto, é uma garantia de problemas no que à variação térmica diz respeito. Já quanto ao voyeurismo a que tanta transparência convida, manifesto alguma reserva: apesar do apelo à investigação sociológica é, nos tempos que correm,um livro aberto para quem queira descobrir os horários dos seus ocupantes, tempos de permanência, etc. etc. etc....
Espero que o autor do projecto se aperceba do relativo falhanço utilizativo que a solução acarreta e emende a mão em trabalhos futuros. Realmente, os poços de petróleo andam um bocadinho longe do nosso território para que se continue a avançar com a solução AVAC para o disfarce dos problemas térmicos - aliás, foi a diminuição da dependência energética para climatização dos edifícios que nrteou a promulgação do Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios no já longínquo ano de 1990 o qual foi há pouco tempo actualizado (e que apertou e muito o crivo de análise dos edifícios projectados). Veja-se aqui (http://paginas.fe.up.pt/~vpfreita/RCCTE200502.pdf).
E quanto a soluções, porque não uns bons e velhos toldos amovíveis em lona riscada ou cores primárias? Mal por mal...

Pedro Veiga disse...

Mesmo a propósito este post!
Seria bom que os nossos responsáveis por estes absurdos soubessem algo acerca da realidade do nosso país. Existem de certeza soluções que evitem ter que passar muitos dias e noites alagado em suor, com dificuldades respiratórias e taquicardia.
E a manhã dos dias maiores quando o sol quente entra em força no quarto de dormir, naquela altura em que o corpo começava a descansar aproveitando a temperatura mais amena. É despertar quando menos apetece pois o corpo está cansado e aí começam as dores de cabeça...
Isto é real e foi assim que vivi nos primeiros tempos na minha casa, durante o final do Verão e início de Outono. É caso para dizer: Basta de maus projectos de arquitectura!

Anónimo disse...

Excelente texto...Solstício de inverno e verão, Evitar vãos envidraçados sem protecção exterior virados a sul, sudoeste e oeste, são apenas alguns dos princípios básicos de Arquitectura. De duas uma: ou os arquitectos do projecto são mesmo amadores e broncos, ou então foi mesmo intencional para se vender aparelhos de ar condicionado aos condônimos. Como estou desempregado, e isto da arquitectura está entregue à bicharada, vou montar uma empresa de ar condicionados.