domingo, 11 de fevereiro de 2007

Centro de Sáude não chega à Alta mas chega à imprensa


Já chegou à imprensa a estupefacção da morosidade da abertura do Centro de Saúde na Alta de Lisboa. Não sei se são as regras burocráticas que estão mal pensadas e que, se cumpridas escrupulosamente, estagnam o país, se são os burocratas que vêem no caminho mais longo das formalidades o mais virtuoso, belo e único possível, esquecendo-se que a população que deles depende paga no dia-a-dia o seu onanismo profissional, ou se pura e simplesmente há pessoas que deixam para amanhã assuntos que deviam ter sido tratados ontem porque há sempre qualquer coisa que não pode ser adiada e assim sucessivamente. É provável que seja um bocadinho de tudo.

Há uns anos, uma companhia de teatro lisboeta deixou inesperadamente de receber subsídio. Dele dependiam mais de duas dezenas de trabalhadores. Toda a documentação necessária tinha sido entregue dentro do prazo, mas uma funcionária do MC (na altura ainda SEC) atrasou-se a despachar a papelada. Consequência formal: três meses de subsídio perdidos. Foram feitos telefonemas para a SEC, falou-se com a funcionária, uma tia qualquer, que respondeu: “Queque quer? Esqueci-me!”. Sendo o cenário muito pessimista, resolveu interceder-se em mais altas instâncias. As mais altas possíveis. Foi desbloqueado o subsídio. Não sei o que aconteceu à funcionária. Como não sei o que aconteceria à companhia se a pesada máquina burocrática não tivesse sido ultrapassada por um bypass de influência política.

Repito: não sei se estes atrasos são da responsabilidade de um modelo burocrático estúpido, ou da incompetência dos seus agentes. A crer nas palavras de normalidade da funcionária da ARS, citada no artigo, a culpa é mesmo das regras impostas. Mas diz quem sabe, quem já trabalhou na pesada máquina do Estado, que o desleixo e incompetência abafam os que se esforçam pelo cumprimento da missão pública. A impunidade para o funcionamento institucional cancerígeno é quase total, a desresponsabilização é um exercício diário. Fala-se do “sistema” como uma coisa abstracta que transcende a inteligência do Homem, e continuamos alegremente na nossa caminhada para o abismo, perdendo dia após dia, ano após ano, oportunidades de nos desenvolver, crescer e civilizar a um ritmo normal.

3 comentários:

Anónimo disse...

parece-me que tudo vai acabar com o fim dos vinculos a funcao publica.
se toda a gente tiver um contrato individual de trabalho e responder a um "cliente": - queque quer? esqueci-me. pelo menos nao e aumentado nesse ano (o que ja acontece,ha mais de 4 anos) ou e despedido (o que seria uma novidade). vamos a ver!

Anónimo disse...

com tanta treta nao me surpreenderia se chegasse a Alta mais rapidamente um clinica de abortos e uma sala de chuto do que o centro de saude.
que pais?!!!!!!!!!!!!

Pedro Veiga disse...

Mas atenção! Os cortes na função pública não vão solucionar as suas deficiências. Nunca será por precarizar o emprego que o sistema melhorará. Há muita gente que se esforça no estado, tal como no privado. O problema do estado é que tudo é feito em bloco e quem se esforça raramente é compensado. Acaba sempre por trabalhar muitas vezes por amor à camisola. Sei de muitos casos de colegas meus que trabalham no estado muito mais horas do que o que seria razoável, incluindo fins de semana, mas que não ganham nem mais um cêntimo por isso. Actualmente são avaliados pela bitola da sua produção científica e intelectual e não são promovidos mesmo que tenham excelentes resultados. Isto porque ou não há lugares nos quadros, ou existindo, eles estão congelados.
A continuar assim o país recuará mais no seu desenvolvimento.