domingo, 16 de julho de 2006

O carro eléctrico de Lisboa



Da rede carros eléctricos da Carris que serviam Lisboa há umas décadas atrás, já poucos sobram. O 28, que liga o Cemitério do Prazeres, junto ao Bairro de Campo de Ourique, ao Martim Moniz, passando pela Baixa, Sé, Alfama, Graça e Av. Almirante Reis, é talvez o mais emblemático de todos, e, por ser cada vez mais uma atracção turística, dificilmente será substituido pelos pequenos autocarros que a Carris já tem posto a circular.

Continuar a lerMas é injusto atribuir apenas interesse turístico ao eléctrico. É um transporte verdadeiramente útil à população que reside nos bairros contíguos ao seu percurso, e a lentidão de que é acusado deve-se mais a problemas de trânsito do que à velocidade máxima que atinge.

Na rua da Conceição, por exemplo, um percuso de 100 metros pode levar cerca de 10 minutos a ser feito. Muitos automóveis que estão atrás do eléctrico ultrapassam-no na ânsia de chegar mais cedo ao semáforo verde. Nos cruzamentos da baixa é também frequente ficarem carros retidos pelos engarrafamentos, não permitindo a fluidez na perpendiculares. Outras vezes são carros mal estacionados que impedem a passagem do eléctrico (visível no video), ou uma carrinha de transportes que atrasa em minutos o cumprimento do horário previsto.



Apesar disto, o eléctrico continua a ser para mim, a par dos cacilheiros de convés aberto que atravessam o Tejo, o transporte mais bonito que Lisboa tem.

11 comentários:

Unknown disse...

Por acaso ainda este fim de semana ao passar no Bairro Alto me deu esse saudosismo dos eléctricos...

E, isto não tem nada a ver com o assunto, mas no Domingo, na minha rua, passou um amolador. Há muito tempo que não ouvia aquele som inconfundível da gaita de amolador. Fez-me lembrar as férias na casa dos meus avós, no Alentejo. Mas agora já nem por lá passam. Foi bom ouvi-lo em Lisboa. Foi um fim de semana cheio de saudosismos.

Tiago disse...

Na rua onde vivi até há cinco anos, no centro de Lisboa, junto ao Bairro Alto, também passavam frequentemente amoladores, com aquelas flautas de pan em plástico às cores. Mas o mais fabulosos, que deixou de acontecer a certa altura, há uns 20 anos, talvez, era um senhor que vinha de carroça puxada por um cavalo para vender produtos hortículas. Era incrível, aquilo! Mas nessa altura havia muito menos carros em Lisboa, ele andava pela cidade sem causar grande transtorno, conseguia arrumar em qualquer lado porque todas as ruas tinham lugares de estacionamento disponíveis. Se fosse agora seria notícia de telejornal.

Ana Louro disse...

Concordo contigo, Tiago, o eléctrico da Carris assim como os 3 elevadores são especiais. Espero que nunca acabem, fazem todo o sentido na Lisboa das colinas, até poderiam tranportar bicicletas com um pequeno suporte (acredito que um dia isso ainda seja possível pois as transportadoras de Lisboa têm estado a melhorar nesse sentido e há boas novidades a anunciar para breve...) e fazem também todo o sentido na nova Lisboa e no nosso futuro eixo central, como já aqui se falou. Esperemos vê-los por cá.
Quanto aos amoladores ainda se vão encontrando por aí (http://www.flickr.com/photos/26288415@N00/177581023/in/photostream/), a par de alguns vendedores ambulantes (http://www.flickr.com/photos/26288415@N00/172818997/), felizmente...

Pedro Veiga disse...

Se houvesse um pouco de investimento Lisboa poderia ter uma boa rede de eléctricos como complemento da minúscula rede de metro. Seria apenas necessário cortar algumas ruas ao trânsito de automóveis particulares, subir alguns passeios e colocar paragens com abrigo. Se fossem rápidos e eficientes tenho a impressão que teriam muitos clientes.
Por essa Europa fora muitas cidades adoptaram este tipo de transporte como peça forte da mobilidade.
Lisboa teima em resistir, perfere continuar a investir no trânsito automóvel, muito poluidor e barulhento.
As políticas ambientais portuguesas ainda não estão assustadas com a compra de direitos de emissão de CO2, com o efeito de estufa, com a acidificação dos oceanos, com os custos energéticos,...

Tiago disse...

Concordo inteiramente contigo, Pedro. A politica actual do Metro parece ser complementar a filosofia radial do passado, construindo linhas perpendiculares que tornem os transvases mais rápidos. O prolongamento da linha vermelha, entre a Alameda e São Sebastião é um bom exemplo. Mas talvez se se tivesse apostado num metro de superfície na Duque d'Ávila, reservando uma faixa exclusiva para esse eléctrico rápido, se tivesse consigo poupar muitos meses, transtornos e dinheiro de orçamento precioso para a expansão mais do que necessária da rede para a periferia da cidade.

Tiago disse...

Trust, pois não sei se havia cabimento ou não. Pelo que oiço dizer, que o eléctrico de superfície é muito mais barato que o de profundidade, talvez se conseguisse avançar mais rapidamente com as ligações transversais se se optasse por isso em vez do metro. Claro que era difícil ser tão rápido, sobretudo se não condicionassem o trânsito automóvel particular nesses percursos. O metro subterrâneo é realemnte mais eficaz por não ter de esperar por semáforos, carros mal estacionados ou engarrafamentos. Mas o metro também é lento e caro na construção.

Entrarei em contacto consigo para conversarmos brevemente. Terei muito gosto!

Tiago disse...

Mas esse concurso não estava em risco por uma providência cautelar dos moradores do Bairro da Encarnação? E quando está prevista a ligação dessa linha à Alta de Lisboa?

Eurico de Barros disse...

Na minha rua, a Latino Coelho, aqui ao pé do Sheraton e do El Corte Inglés, ainda passa um amolador com a sua flauta de quando em quando, e até aos anos 80 passavam carroças cheias de verduras e uma ou outra vendedora a apregoar. E recordo-me que na Pascoal de Melo havia uma vacaria em que a vaca estava nas traseiras, e os copos de leite vinham dela, directamente para o balcão. Isto nos anos 60.

Tiago disse...

Pois, uma dessas carroças devia ser a que passava também na minha rua, a Eduardo Coelho, junto ao Bairro Alto. Não foi assim há tanto tempo, mas as coisas mudaram tanto...

Eurico de Barros disse...

E até muito tarde o padeiro vinha entregar o pão porta-a-porta, aos andares que o tinham contratado. Aliás, ainda existe uma padaria à esquina da minha rua com a Luís Bivar. Faz pão, bolos e bolachas, e vende farelo.

susana disse...

Pois à 20 anos bebia eu do leite de outra vaca que existia lá para os lados da Casa do Artista. "Bem... bom..." e dos amoladores tenho má experiência pois um deles ficou com o meu rico chapéu de chuva da Expo'98 (era tão bonito, snif).
Quanto à conversa de eléctricos e metro, fico feliz em saber que hà luz no túnel do metro do Aeroporto - tantos anos depois, já devem ter os bolsos cheios, mas a situação está cada vez mais escandalosa!).
Também concordo que os eléctricos são sem dúvida o meio de transporte mais bonito de Lisboa (é de lembrar os taxis pretos e verdes), mas realmente não se pode dizer que seja muito eficaz.
A linha da duque de ávila já existiu, que eu costumo estacionar a mota em cima dela, mas continuam os automóveis a ditar as regras, e o eléctrico nesta zona só iria "atrapalhar" o trânsito.
Não seria melhor começar por implantar políticas de uso de automóvel no centro de Lisboa, mais rígidas?
O centro de Londres adoptou o sistema de portagem às horas de maior fluxo, e o que é certo é que os niveis de CO2 baixaram, pois o número de automóveis diminuiu, e vêem-se mais bicicletas e autocarros. O convivio entre bicicletas e o resto dos transportes é "friendly", existindo, como em tantos outros países prioridade para os ciclistas.

Acabando nos bolos (isto quem não sabe, diz que é como quem não vê), fiquei a saber que se vendem uns kits para pastelarias em que a massa, recheio, coberturas, etc, vêem em saquinhos e é só pôr na forma (já não chegavam os da Néstlé? para fazer em casa)... Enfim, até os bolos são de plástico!!!