Dentro em breve, Lisboa contará com dois novos aglomerados urbanos no seu interior. Com o início da construção do troço de auto-estrada que atravessará o Lumiar, começa a tornar-se visível a futura fronteira entre "Lumiar Norte" e "Lumiar Sul". Consistindo num esbelto tabuleiro em betão à vista, engalanado por estéticas chapas "corta-ruído", a fronteira constituirá uma poderosa barreira visual entre as duas comunidades para além de eliminar qualquer tipo de diálogo nas proximidades dados os elevados níveis de poluição sonora obviamente previsíveis.
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Amigos e vizinhos começaram já a preparar jantares de despedida, circulam abaixo-assinados para se dividir o código postal das ruas de acordo com a sua localização em função do muro, muitas mentes recordam as imagens da Berlim ocupada aquando da sua separação. "Nada mais será como dantes", referem os mais velhos, resignados. Idosas senhoras, cujo principal divertimento era olhar a vizinhança do conforto da sua varanda, resignam-se a um futuro cinzento, totalmente preenchido com os programas da TVI ("E de janelas fechadas, senão não há botão de volume que consiga fazer-nos ouvir alguma coisa...", avisam).
Rumores correm de que se prepara na clandestinidade a reactivação de uma antiga organização com 32 anos formada por alunos madeirenses a estudar nas universidades de Lisboa no pós-25 de Abril influenciados pelo exemplo dos seus pais. O MILu - Movimento para a Independência do Lumiar - autor de várias acções de agit-prop nos tempos quentes de 75, parece disposto a regressar e a bater-se pela qualidade de vida que parece esvair-se do centro da freguesia. "Lumiar é só um!", consta que serão as primeiras palavras de ordem. Encapuçados, numa conferência de imprensa muito pouco divulgada ("por causa da repressão sovietoide da polícia municipal") terão afirmado: "Se o cubano do senhor presidente da Câmara gosta tanto de auto-estradas à frente da janela porque é que não põe uma na Praça do Município? Ou porque é não estende o prolongamento da Estados Unidos da América em viaduto sobre a Gago Coutinho e Entrecampos como tinha estado previsto? Uns são amigos e os outros são do Lumiar? E porque é que o Lumiar não merece o mesmo tratamento do Bairro de Santa Cruz?"
Contactado para responder, o Eng. Carmona escusou-se "Agora não tenho tempo, tenho o assunto do carro do Pedro para tratar. Olha... carros, auto-estrada... acho que fiz uma chalaça..."
A população lumiarense inquieta-se.
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Amigos e vizinhos começaram já a preparar jantares de despedida, circulam abaixo-assinados para se dividir o código postal das ruas de acordo com a sua localização em função do muro, muitas mentes recordam as imagens da Berlim ocupada aquando da sua separação. "Nada mais será como dantes", referem os mais velhos, resignados. Idosas senhoras, cujo principal divertimento era olhar a vizinhança do conforto da sua varanda, resignam-se a um futuro cinzento, totalmente preenchido com os programas da TVI ("E de janelas fechadas, senão não há botão de volume que consiga fazer-nos ouvir alguma coisa...", avisam).
Rumores correm de que se prepara na clandestinidade a reactivação de uma antiga organização com 32 anos formada por alunos madeirenses a estudar nas universidades de Lisboa no pós-25 de Abril influenciados pelo exemplo dos seus pais. O MILu - Movimento para a Independência do Lumiar - autor de várias acções de agit-prop nos tempos quentes de 75, parece disposto a regressar e a bater-se pela qualidade de vida que parece esvair-se do centro da freguesia. "Lumiar é só um!", consta que serão as primeiras palavras de ordem. Encapuçados, numa conferência de imprensa muito pouco divulgada ("por causa da repressão sovietoide da polícia municipal") terão afirmado: "Se o cubano do senhor presidente da Câmara gosta tanto de auto-estradas à frente da janela porque é que não põe uma na Praça do Município? Ou porque é não estende o prolongamento da Estados Unidos da América em viaduto sobre a Gago Coutinho e Entrecampos como tinha estado previsto? Uns são amigos e os outros são do Lumiar? E porque é que o Lumiar não merece o mesmo tratamento do Bairro de Santa Cruz?"
Contactado para responder, o Eng. Carmona escusou-se "Agora não tenho tempo, tenho o assunto do carro do Pedro para tratar. Olha... carros, auto-estrada... acho que fiz uma chalaça..."
A população lumiarense inquieta-se.
8 comentários:
A mim não acontece. Não sei o que será. Só te acontece com este blog?
olha a mim acontece o mesmo.
nao "crasha" mas irrita.
E como seria muito injusto ir dormir depois de horas extraordinárias a corrigir testes de alunos e deixar esta hilariante prosa sem comentário, aqui fica registado a minha satisfação por escrito já que as gargalhadas contidas para não acordar a vizinhança e as lágrimas do esforço não cabem ainda em envelopes de bites e bytes. Lá chegaremos. Como também há-de vir o dia em que as auto-estradas serão demolidas para dar lugar ao teletransporte tipo Captain Kirk e Dr. Spock.
Mas antes ainda, se chegarmos a tal virtuosismo tecnológico, seremos certamente capazes de pensar nas cidades pondo a saúde, a qualidade de vida e o prazer de viver das pessoas acima de tudo.
Belo texto Pedro!
Foi uma bela maneira de começar o dia!
E já repararam que se continua a construir mesmo em cima do novo viaduto? No nó da Ameixoeira há uma situação completamente absurda: está a nascer um prédio cujas paredes vão ficcar a cerca de 10 metros de uma rampa de sáida do eixo norte-sul! Como é que são passados alavarás de construção nestas situações?
É uma estranhíssima lei da oferta e da procura a deste país... O Estado farta-se de oferecer o progresso de vistas directas para auto-estradas e respectivos acessos a quem ainda vive primitivamente em sítios sem modernidade - e que protesta! - e os novos compradores fartam-se de procurar por apartamentos novos construídos ao lado das mesmíssimas vias rápidas...
Nunca ninguém está contente.
Money Talks ;)
O problema do 1º comment não tenho, mas tinha deixado aqui um e não ficou.
Tentanto repetir: Parabéns Pedro pela imaginação. O surreal confunde-se e não há impossíveis. Perguntava para quando uma manif e sugeri que os rapazes (e raparigas)das latas de tinta rabisquem no muro uma paisagem natural!
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