domingo, 5 de junho de 2005

Coabitação

Confesso que tentei escrever alguma coisa sobre os comentários feitos no último post, mas acabei por desistir. Ainda não moro na Alta de Lisboa e não sei o que é viver na Alta de Lisboa junto a prédios de realojamento social. Quero ser optimista, quero ser idealista, mas não me apetece dizer uma série de lugares comuns politicamente correctos.
Mesmo assim, não estou tão convencido que a criminalidade e vandalismo advenham da raiva ou inveja dos mais carenciados. Se assim fosse, qualquer um de nós que comprámos casa na Alta de Lisboa em condomínios para classe média iria provocar distúrbios nas moradias de luxo do bairro do Restelo, ou, mais perto, no condomínio fechado do Parque das Conchas. Ou seja, acho que essa raiva e inveja podem existir, mas sobretudo em pessoas amordaçadas pela sua condição socio-económica extremamente degradada. Pessoas com estruturas familiares instáveis e violentas, sem exemplos de civismo e ética. Pessoas sem perspectivas de vida diferentes ou suficientemente motivantes para fazer face à integração numa sociedade marginal e com uma cultura própria.
Não faço ideia como são os habitantes dos PER, não sei como viviam na realidade, não sei como vivem, não sei o que sentem. Acredito que alguns tenham tido experiências muito diferentes das nossas, mas não acredito que todos ou a sua maioria sejam potencialmente maus exemplos sociais.
A situação urbana da Alta de Lisboa é agora diferente da que sempre foi. A questão é saber se isso é suficiente para acabar com a tensão social necessária à marginalidade, se o entrosamento com os novos moradores da Alta de Lisboa poderá também alterar as formas de aculturação de todos.
Para que a Alta de Lisboa sejam um bairro agradável para se viver, seguro, bem conservado, é necessário que todos os seus habitantes o queiram. Ou seja, que todos tenham pela Alta de Lisboa a mesma estima que nós temos. É preciso também que todos saibamos respeitar e preservar os bens comuns e os dos outros.
Como consegui-lo é um dos grandes desafios da Alta de Lisboa. Se for bem sucedido poderá tornar-se, este sim, um exemplo social a aplicar noutros bairros desfavorecidos e guetizados.

Proponho à discussão as medidas práticas a tomar para tornar possível este sonho.

Saudações calorosas a todos!

11 comentários:

Inês L. disse...

Acho extremamente positivo que haja algum futuro morador da Alta de Lisboa que pense como tu, mas realmente é preciso que não sejas o único porque sozinho é difícil mudar alguma coisa. Eu não vivo na Alta de Lisboa mas se vivesse estaria certamente contigo nesta procura por medidas que tornem possível pessoas de diferentes classes sociais (não gosto da distinção mas a verdade é que existe) possam coabitar.

Anónimo disse...

Caros Tiago e Inês, concordo perfeitamente com toda a vossa visão de equidade social que deve existir entre todas as pessoas, mas sem qualquer tipo de pretenciosismo, permitam-me o meu pragmatismo, dando-vos a conhecer a minha experiência pessoal.
Sabemos que, na realidade, essa equidade social sempre foi, é e será, sempre, uma utopia. Ricos e pobres sempre existiram e vão continuar a existir.
Gostei particularmente de uma observação no comentário anterior do Tiago. Realmente, se algum de vós me perguntasse se gostaria de ter um apartamento no Parque das Conchas, por certo diria que sim. Mas teria eu possibilidades financeiras para o concretizar? Infelizmente não! E se assim é, isso confere-me a mim alguma justificação para me deslocar ao Parque das Conchas e começar, torto e a direito, a vandalizar aquilo que não é meu? Pois obviamente que não!
Como já disse anteriormente, vivi 20 anos nos Olivias. Cresci com rapazes e raparigas de diferentes possibilidades financeiras que hoje têm as suas familias e os seus empregos. Como então, nem todos temos, actualmente, as mesmas posses ou possibilidades financeiras. É assim a realidade.
Nunca participámos em nenhuma actividade de vandalismo, não me lembro de algum dos meus amigos que batesse nos pais ou que não lhes reconhecesse autoridade, não se drogavam dentro de casa, etc...
A sociedade evoluiu bastante e o passado só serve, para uns, para arranjar termos de comparação aprender com os erros e evoluir, e para outros, para esquecer ou para matar saudades.
Na área circundante a onde vivo estão a ser criadas todas as condições para uma coabitação saudável de todas as pessoas. Ruas largas, estacionamento, espaços verdes, escolas, parques desportivos, parques de diversão,etc...
A SGAL não fez por menos e escolheu os arquitectos a dedo, os melhores, os mais arrojados. Mas digo-vos amigos, os arquitectos limitaram-se a pensar nos seus respectivos projectos e não pensaram em nós, na classe média, não pensarem em nós nem nos nossos filhos.
"Betão cartonado" nas paredes exteriores dos prédios? Passem por cá e vejam como estão as paredes dos prédios que enquadram os parques de diversão. Todas partidas, escavacadas, vandalizadas. Não, não estavam mal montadas, nem foi o vento que as fez cair, foi a falta de pragmatismo de quem idealizou este mega projecto.
Estamos a copiar os modelos de inserção social dos países mais evoluídos, nomeadamente, dos países nordicos. Mas não basta copiar, é preciso analisar, fazendo uma extrapolação com a nossa realidade concreta, para assim nos apercebermos do que é bom e, por outro lado, nos apercebermos daquio que não nos interessa.
Equidade para todos meus amigos, para todos...

Pedro Ferreira

Tiago disse...

Passei pela Alta de Lisboa e constatei a destruição das placas de betão cartonado. Um amigo meu já me tinha falado disso, aliás, mas disse-me que a SGAL já tinha assegurado a substituição das placas por outras, mais resistentes. Fica a informação e a expectativa.

Mas concordo com o Pedro Ferreira, e o meu cepticismo é igual ao dele. Os caldos culturais de hoje não são iguais aos dos anos 80, há mais violência nas ruas, e o vandalismo assume também quase uma forma de expressão cultural. E isso é que vai ser complicado alterar. Francamente nem estou muito assustado com a criminalidade na Alta de Lisboa. Acho que não vai ser significativa, mas levará algum tempo até a sociedade em geral adquirir alguma formação cívica. Este é, aliás, um problema transversal a todos os estratos sociais.

Gostava muito de perceber como se pode evitar este tipo de vandalismo, mas sei também que bastam cinco adolescentes para partir as lajes de betão cartonado, daí ser prudente não fazermos generalizações. Se a maioria das pessoas que habitam nos PER fizessem o mesmo certamente o panorama seria pior.

Mesmo assim, caro Pedro Ferreira, toda esta situação me incomoda muito também, e me traz uma sensação de impotência e incapacidade algo desmoralizadoras. Continuemos a procurar soluções, pacientemente.

Pedro Veiga disse...

De facto o vandalismo é hoje maior do que há alguns anos atrás. Além disso, há actualmente muitas formas de vandalismo que vão desde o simples acto de riscar paredes de edifícios, até aos actos muito violentos com armas de fogo. Acresce, também, o facto de estes actos serem provocados por grupos formados por gente cada vez mais jovem.
A integração plena na sociedade das pessoas com mais baixo nível de vida que habitam os prédios de realojamento não é tarefa fácil. Não se faz só com a construção de boas vias de acesso e com urbanismo de qualidade. A integração começa por ter que se dar oportunidades de formação profissional digna desse nome (que começa na escola mais básica), com apoios sociais para os mais desfavorecidos, etc.
A Alta de Lisboa, como muitos outros bairros de Lisboa está, e irá, de certo sentir a pressão do convívio entre pessoas com estatutos sociais diferentes. Confesso que tenho algum receio do ambiente que se possa criar em algumas zonas mais problemáticas.
A minha experiência de convívio com pessoas vindas das classes mais desfavorecidas da Grande Lisboa é pequena mas rica. Em tempos fui professor do ensino básico numa escola às portas da Brandoa. Aí senti bem o que é a vida familiar dos adolescentes em risco social. Todavia, apesar de ir muitas vezes a pé para escola, nunca fui assaltado, nem me senti ameaçado. A única vez que me assaltaram com uma arma de fogo foi num centro comercial cheio de seguranças, em Lisboa, num domingo a meio da tarde.
Desde dessa altura a minha perspectiva em relação à segurança mudou muito!

P. Veiga

Tiago disse...

Mais uma vez, parabéns pelo comentário, Pedro!

Queria chegar a esse ponto, ao da formação cívica dada nas escolas, mas nunca conseguiria explica-lo de forma tão clara!

Também estou completamente convicto que a escola poderá servir de fortíssimo moldador de personalidades. Acho que seria basntante interessante aproveita o facto de a Alta de Lisboa estar a ser construída e e fornecer ao alunos a possibilidade de colaborar nessa edificação. Por exemplo, na plantação de árvores nos futuros jardins. Talvez isso desse às crianças uma experiência criadora importante e uma ligação afectiva muitíssimo maior com o parque (neste caso...).

Sempre senti, enquanto aluno, que as experiência que me davam eram insuficientes para eu compreender o mundo. Sempre senti que ficar sempre fechado na sala de aula a estudar formalmente as matérias em questão acabava por não ser a metodologia de aprendizagem mais eficaz e motivadora.

Experimentar as coisas, criá-las, fazê-las, dá-nos um contacto muito maior com o mundo que nos rodeia. E estas experiência podem ser oportunidades para a aplicação dos conhecimentos formais aprendidos na sala de aula.

Talvez pudessemos pensar mais nisto e propor um plano de integração da edificação da Alta de Lisboa na aprendizagem do estudantes de todos os ciclos das várias escolas existentes neste bairro.

Saudações!

Anónimo disse...

Excelente visão esta última do Tiago. O universo de participantes do blog tem que aumentar rapidamente. Começamos a tocar em pontos bastante sensiveis e a "lançar" ideias que, uma vez postas em prática, podem contribuir para o sucesso do projecto da Alta de Lisboa.

Pedro Ferreira

Tiago disse...

Também acho isso, Pedro, e tenho falado destes blogs a conhecidos meus que habitam já na Alta de Lisboa, mas até agora ainda não vi sinal deles por aqui. A verdade é que a maioria das pessoas tem vidas com pouca disponibilidade para se preocupar com estas questões. Não estou à espera de grandes mobilizações, e, na verdade, acho que não são necessárias. Acho que bastam umas cinco pessoas para materializar os planos de uma boa ideia. (Os mesmo cinco que são suficiente para partir placas de betão cartonado a pontapé...) É preciso apresentá-la nos locais próprios e ver se os mecanismos existentes conseguem reagir. Já falei nisto, mas tive ao longo da minha vida óptimas experiências de elaboração de projectos que foram bem sucedidos. Projectos que chegaram a muita gente mas que foram pensados por um grupo pequeno de pessoas com as mesmas motivações.

Acho que temos aqui pelo menos três pessoas bem intencionadas para continuar a pensar na Alta de Lisboa. Vamos esperar umas semanas, divulgar o mais possível estas nossas motivações e ver o que dá. Depois logo se vê! :-)

Abraços!!

Anónimo disse...

Eu moro numa zona considerada a nivel criminal como uma das piores do país, o monte da caparica, eu e mais uns milhares de pessoas vivemos no meio de nada mais nada menos, que 3 bairros sociais( bairro rosa, bairro branco e bairro do pica pau amarelo) e um complexo habitacional( não sei que nome lhe dar)conhecido por predio do asilo. Moro nesta zona há 5 anos, primeiro na rua da bela vista e depois mudei-me apenas para a rua de baixo. A construção processou-se de forma semelhante á alta de lisboa, primeiro vieram os bairros sociais, depois através de uns acordos foram construídos uns quantos fogos de custos controlados, e outros com preço ao nivel da qualidade das habitações.
Como dizia, em 5 anos a morar nesta zona, nunca, repito, nunca fui assaltado, e só por uma vez tive problemas, que se deveram tão só a meia duzia de putos que acharam piada em apedrejar quem passava na rua....putos...
Posso dizer em termo de comparação que em Lisboa, em plena baixa e zonas limitrofes já fui assaltado 4 vezes.
Na minha opinião os bairros sociais, são acima de tudo aglomerados de gente que devido a vários precalços foi arastada para uma vida dificil, é preciso ver que por exemplo no bairro amarelo vivem entre 7000 a 8000 pessoas mas dessas muito provavelmente só 100 ou 200 cometem crimes.Mais, esses crimes raramente são cometidos no bairro ou nas zonas proximas, o bairro é geralmente visto como um refugio, sendo que carros roubado e assaltos são sempre cometidos longe e em zonas mais abonadas economicamente.
Em 5 anos fiz bons amigos, e áparte as naturais desavenças que se vêem um pouco por todo o lado, nunca presenciei nada de mais grave por aí além, na zona onde agora moro as casas são ligeiramente mais caras que a maioria, todos os dias eu e os meus vizinhos deixamos o carro á porta( temos parqueamento mas o portão é manual...) e não há registo de qualquer problema.
Acho por mim que a questão dos bairros é mais um mito que outra coisa, não demonizem as pessoas nem as olhem como os animais que não são. Problemas hão-de haver sempre, mas devem ser contextualizados e analisados com um bocadinho de clareza e acima de tudo sem preconceitos.
Um abraço para ti Tiago e continua com o blog :-)

Luis Saraiva

Tiago disse...

Obrigado pelo testemunho importante, pelo apoio, e um grande abraço para ti, Luís!

Anónimo disse...

isto esta a ficar cheio de lixo urbano "humano" arriscasse a ser o maior fracasso imobiliario do pais e quem sabe do mundo kerem por a viver animais dentro de predios ea viver em comunidade , o ke é irealista , ve se mesmo ke este pais só é mesmo governado da secretária , é só tiros roubos ect, façam mais realojamentos nesta area , mais e mais e teremos um iraqui em lisboa........

Anónimo disse...

voces, nem sonham .... deviam saber o ke era isto... no principio do mundo... a droga vence sempre... a musgueira nunca morre...........apenas está camuflada.
sonhadores de secretária..sociologos de bancada....
Este é o pais da disneylandia ...voces deviam ter visto o inicio do mundo....
não sou pessimista mas sim realista....a droga vence sempre....
Integraçao social ,ahahahahah....desastre social , economico isso sim.
voces deviam ter visto o inicio do mundo.