Um leitor enviou-nos um video feito na 3ª feira de Carnaval passada. Uma filmagem de um grupo de cerca de 50 adolescentes a brincar ao Carnaval, numa guerra de balões de água.
Nada de muito diferente do que fiz na adolescência quando vivia no Bairro Alto. O pessoal combinava o combate, estabelecia as regras, juntava-se em dois ou três clãs, pensava em esquemas para abastecer de munições (balões de água na maioria das vezes, mas havia alguns ovos também). Depois era a excitação das batalhas, das emboscadas, a adrenalina de ser surpreendido por uma tropa guerrilheira, o arrepio ao ouvir os balões rebentar a centímetros, a euforia de conseguir encharcar o adversário, de lhe acertar com o balão em cheio na testa. Havia os líderes, os estrategas, os malucos capazes das mais arrojadas ousadias. E também os danos colaterais, alguns por descuido, outros por parvoíce. Os mais ajuizados acalmavam os excessos e os ânimos que se exaltavam, pediam desculpa em nome do grupo, os menos miolados condenavam a benignidade da brincadeira.
E havia quem se chateasse a sério. Uns que tinham alinhado na guerra, mas revelavam mau perder, e outros que nada tinham a ver com aquilo e eram alvo da nossa estupidez. No video vê-se uma cena dessas, lamentável. E disse-nos o leitor que houve outras menos violentas, mas também desagradáveis. É pena, mas disso há em todo o lado.
São previsíveis os comentários negativos sobre o bairro e a sua população adolescente desocupada. Eu continuo a achar que estas coisas têm sempre lados desagradáveis e evitáveis, mas que são sobretudo, para além de naturais, importantes para o desenvolvimento dos miúdos. Soluções para os excessos? Melhor oferta educativa e recreativa para a população. Clubes, Associações ou Instituições que promovam iniciativas de grupo no dia-a-dia e não apenas esporádicas. Passar códigos de conduta e princípios de respeito pelo próximo não é mais difícil nestes jovens do que nos meninos dos melhores colégios. E existem muitos líderes e modelos fortes ali no meio que devem ser orientados e consciencializados do papel importante que podem ter.
Nada de muito diferente do que fiz na adolescência quando vivia no Bairro Alto. O pessoal combinava o combate, estabelecia as regras, juntava-se em dois ou três clãs, pensava em esquemas para abastecer de munições (balões de água na maioria das vezes, mas havia alguns ovos também). Depois era a excitação das batalhas, das emboscadas, a adrenalina de ser surpreendido por uma tropa guerrilheira, o arrepio ao ouvir os balões rebentar a centímetros, a euforia de conseguir encharcar o adversário, de lhe acertar com o balão em cheio na testa. Havia os líderes, os estrategas, os malucos capazes das mais arrojadas ousadias. E também os danos colaterais, alguns por descuido, outros por parvoíce. Os mais ajuizados acalmavam os excessos e os ânimos que se exaltavam, pediam desculpa em nome do grupo, os menos miolados condenavam a benignidade da brincadeira.
E havia quem se chateasse a sério. Uns que tinham alinhado na guerra, mas revelavam mau perder, e outros que nada tinham a ver com aquilo e eram alvo da nossa estupidez. No video vê-se uma cena dessas, lamentável. E disse-nos o leitor que houve outras menos violentas, mas também desagradáveis. É pena, mas disso há em todo o lado.
São previsíveis os comentários negativos sobre o bairro e a sua população adolescente desocupada. Eu continuo a achar que estas coisas têm sempre lados desagradáveis e evitáveis, mas que são sobretudo, para além de naturais, importantes para o desenvolvimento dos miúdos. Soluções para os excessos? Melhor oferta educativa e recreativa para a população. Clubes, Associações ou Instituições que promovam iniciativas de grupo no dia-a-dia e não apenas esporádicas. Passar códigos de conduta e princípios de respeito pelo próximo não é mais difícil nestes jovens do que nos meninos dos melhores colégios. E existem muitos líderes e modelos fortes ali no meio que devem ser orientados e consciencializados do papel importante que podem ter.
14 comentários:
Fica mesmo divertido com a musiquinha e o resto.
e depois querem ser tratados como "pessoas normais"... Palhaços!!!
Queria saber a opinião da rapariga que foi esmurrada e pontapeada sobre o adjectivo "lamentável" que o Tiago utilizou.
Olhe, eu também. Mas tem outros adjectivos para usar? E bolinhas para assinar por baixo? Ou a opinião é mais fácil quando não se assina?
Senhor Tiago estimo saber que a sua adolescência foi frutuosa em batalhas de balões de água... felizmente que há outros seres humanos que passaram melhores dias...
Claro que tudo isto é natural e apenas alguns excessos são lamentáveis. Sem dúvida que boas iniciativas de Clubes, Associações e Instituições apoiadas por investimentos fortes em políticas Sociais vão contribuir muito para acabar com estes pequenos excessos. Mas mesmo bom seria arranjar mais um trabalhinho part-time numa destas Instituições.
"Passar códigos de conduta e princípios de respeito pelo próximo não é mais difícil nestes jovens do que nos meninos dos melhores colégios."
Não entendi...?
Será que a culpa disto é da sociedade???
Ou dos colégios???
Sempre que leio a palavra "colégio" neste blog soa-me a escárnio a mal-dizer (não sei porquê)...!
Preconceito? Será? Culpabilização por não conseguirem terem os filhos ou filhas nos melhores colégios???
Eu próprio ouvi o enorme alarido que estes grupos de adolescentes faziam ao passar pela rua com os seus balões de água. Nada contra... foi o Carnaval, etc etc.
Mas só quem vive com vizinhos destes à sua frente é que sabe o que realmente passa. Barulho a todas as horas, carros com as portas abertas em ostensiva provocação decibélica de manhã à noite - até depois da meia noite, se for preciso (claro, as portas estão abertas para o nosso condomínio, não para o deles...). Considerava-me uma pessoa extremamente tolerante antes de vir para aqui viver, mas estes comportamentos reiterados estão a modificar-me um pouco. Começo a não acreditar (Tiago, perdoe-me) que iniciativas promovidas por associações ou instituições sociais tenham algum impacto realmente positivo nesta camada da população, visto que a coisa só piora de dia para dia, pelo menos aqui em frente ao Condomínio da Torre. Chega a ser desesperante querer usufruir do meu quarto, por exemplo, e ter a toda a hora um batucar altíssimo de um ou dois carros de portas abertas viradas para cá, com os seus donos a beber cervejas (claro que a garrafa vai depois para o pedaço de terreno ainda não ajardinado logo em frente). E isto todos os dias.
Posso ter cometido aqui um off-topic, os leitores que me perdoem, mas uma coisa puxou a outra...
De qualquer modo, Tiago, devo dar os parabéns pelo excelente blog, que se tornou uma referência incontornável para quem quer saber novidades sobre a Alta (e não só!).
Um abraço.
Estava a ver o vídeo e só me lembrava:
Quem me dera ter uma rede de pesca daquelas que os arrastões usam. Iam todos à frente e de uma só vez.
Enfim, oportunidades perdidas...
Caro leitor das 8h45,
não é off-topic, pelo contrário. É mesmo isso que devemos discutir.
Se um vizinho do nosso prédio colocar a música alta incomodando tudo e todos, ou se deixar um saco do lixo no patamar, o que fazemos? Provavelmente falamos com as pessoas e tentamos resolver o problema. Às vezes corre bem, mas nem sempre.
Qual a diferença quando o motivo do desconforto vem da rua? O facto de não conhecermos as pessoas? O facto delas serem doutro prédio e não as conhecermos nas reuniões de condomínio? O facto de termos medo de iniciar o contacto? Medo das consequências desse contacto? Medo de serem pessoas “diferentes” de nós?
Não vale a pena fingir que não existem problemas no bairro. Mas muitos deles ou são lidos com exagero, ou são agravados pelo medo do desconhecido e por dificuldades (mútuas) de comunicação.
Claro que é irritante ter vizinhos que põem o carro a batucar ostensivamente, que bebem cerveja e atiram as garrafas para o chão, que provocam os vizinhos com alarvidade. Isso existe e é muito, muito irritante. Mas quantas vezes tentámos pedir que diminuíssem o incómodo que nos causam? Não é mais frequente desistirmos e dizermos que as pessoas não têm cura, que jamais corrigirão os seus comportamentos?
Não é mais fácil reduzirmos até as coisas, simplificando-as, classificando as pessoas em grupos sociais: os realojados incivilizados, e os novos moradores vítimas dos realojados?
Mas para além da redução errada que se cria assim, o que fazemos realmente para melhorar o nosso desconforto? Qual a melhor maneira de melhorar as coisas? Quais as que estão à nossa mão e consideramos mais eficazes?
E a existência de Instituições Sociais e Associações que promovam actividades onde os jovens tenham experiências de sucesso, contacto com outros modelos, acesso a formação e aprendizagem, é irrelevante para o seu desenvolvimento?
Quanto às observações dos colégios, acredite que não têm a ver com qualquer simpatia ou antipatia. A referência que fiz teve apenas como intuito assinalar que há problemas e dificuldades que são comuns, que não são exclusivas de uma determinada comunidade escolar com características diferenciadas.
Caro Tiago
Muito obrigado pela sua resposta. No que se refere ao assunto que abordei, devo dizer que sim, tomei a iniciativa numa altura em que se estava a tornar insuportável, e abordei com a maior das simpatias os referidos sujeitos, dizendo-lhes que tinha o filho doente e que necessitava descansar (e era verdade), pedindo o favor de diminuir um pouco o volume. E, com resposta arrogante, mal educada e provocatória, respondem-me que "só em respeito pelo seu filho é que talvez baixe isto! É fim de semana, posso estar aqui como quero e como me apetece!". Não estou a deturpar nada, muito menos a minha simpatia de abordagem aos ditos senhores.
Baixaram a música durante 5 minutos, após os quais regressou em força e em maior volume.
Depois disto, não voltarei a contactar os indivíduos. Preferirei ligar para a Polícia. Mais uma vez digo que só quem tem estes casos à sua porta é que vive a experiência e não quem ouve meramente falar deles.
Não estou com isto tudo a dizer que estes indivíduos devam ser banidos da sociedade, nada disso. Estou só a relatar um caso de grande complexidade social e de muito difícil resolução, visto que - neste caso específico pelo menos - o diálogo não resultou. E fica sempre a nervosa ideia de que se se insiste, ficamos com o grande perigo de sermos "marcados" e de nos acontecer alguma coisa, disso não tenho a menor dúvida.
Admito ainda (debilmente), Tiago, que certo tipo de iniciativas institucionais possa mudar um pouco o cenário, mas acredite que a minha ingenuidade de início de vida no Condomínio da Torre há algum tempo que foi corrompida, e deixa pouco espaço para acreditar que esse tipo de intenções surta realmente um efeito real ou positivo.
Claro que nunca se saberá se não se agir... e não podemos dizer que nada resulta. Não foi isso que eu disse. Efectivamente não sei o que se tem tentado para além do K'Cidade, por exemplo. Não sei o que resultaria se um plano efectivo de integração social fosse posto em prática, através de programas de actividades, formação e tudo o mais que fosse considerado pertinente. Não sou sociólogo, apenas um mero morador na Alta de Lisboa, que ainda acredita em todo este fantástico projecto.
... mas enquanto ainda escrevo, está a música em altos berros do outro lado da janela... e terei de sair para o outro lado da casa se quiser continuar a ter alguma sanidade mental (e porque tenho a sorte de ter um apartamento que não dá só para a rua).
Era uma bomba cair no meio deles e isto passava logo...O que sonhei ser um sitio ideal para viver em paz, não se está nada a realizar... e querem ser tratados como iguais... a nossa sociedade é mesmo isto boas vidas para quem recorre ao rendimento social e pouca renda ou nenhuma paga e quem quer um sitio que no projecto inicial parecia calmo que se aguente...
A antiga acção social da igreja ao menos, entretinha os miúdos, dava-lhes um rumo - um sentido de vida. Agora a "intervenção cívica", paga e deixa andar, lança-os pelas ruas sem qualquer projecto lúdico - dá trabalhinho e exige sacrifício da vida privada dos senhores e senhoras dos centros da musgueira! Estava à espera de ver um corso de carnaval organizado, os jovens ocupados a divertir-se criativa e ordeiramente. Mas a acção cívica também faz pontes como a função pública, tinha-me esquecido.
Os nossos filhos, à solta, são tão bons selvagens como estes!
Este sentimento de impotência assalta-nos a todos e demasiadas vezes. É difícil, cansa, desespera. Os processos de integração são sempre processos longos, que não acontecem de um dia para o outro, que têm que ser consolidados. Gosto de pensar que as Comunidades, tal como as pessoas, também fazem um percurso e um dia alcançarão a sua maturidade. Até lá, não sei se temos outra alternativa que não seja a de continuar a chover no molhado, chamando a atenção para aquilo que nos incomoda e tentando mudar as coisas sempre que a mudança estiver ao nosso alcance para conseguir uma boa vizinhança. Continuo a achar que há coisas pequenas em que cada um pode fazer pequenas diferenças. Com o tempo e persistência, levarão a grandes mudanças.
Na Alta há várias instituições e associações que diariamente desenvolvem actividades e dão formação com esse intuito. Mesmo nas pontes. Não tem chegado, ainda não chega. Espero que continuem a fazer mais e melhor.
Percebo o desespero e a irritação. Também o sinto muitas vezes. Só acho que desistir é que não nos levará a lado nenhum. As redes e as bombas também não.
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