Lembro-me sempre dum livro do George Orwell, Down and Out in Paris and London, traduzido em Português como Na Penúria em Paris e em Londres, quando vejo as brigadas da ASAE na sua fúria legalista. O livro foi escrito num período complicado da vida de Orwell, no início dos anos 1930, quando, vivendo em Paris a dar explicações de inglês, se vê cruzado por uma série de azares que o deixaram sem dinheiro, com fome e sem tecto. Tinha uma promessa de emprego para uns meses adiante, mas até lá experimentou a vida de albergues e o trabalho precário em restaurantes.
É um relato muito inteligente do sub-mundo das cidades, do sistema de castas sociais tão próxima de nós, do preconceito, dos medos, da dificuldade de superar adversidades, e também da salubridade dos restaurantes.
Já li o livro há muitos anos, mas lembro-me de Orwell no final, já refeito da experiência, dizer que jamais voltaria a recusar um panfleto entregue na rua, daqueles que normalmente deitamos no primeiro caixote de lixo que vemos, e nunca mais voltaria a comer num restaurante pretensioso. Passara a conhecer a qualidade das cozinhas de muitos restaurantes e os que lhe inspiravam mais confiança eram os de aparência mais modesta.
A ASAE anda num vendaval de inspecções, proibições e multas com todo o restaurante que não cumpra as saudáveis regras sanitárias impostas pelas directivas comunitárias. Acho muito bem que se fechem cozinhas onde os bifes, o whisky e o detergente da loiça tenham sabores parecidos, mas a ASAE não parece apenas interessada em cuidar das nossas saúdes. Eu gostava, já que me permitem ir a um McDonald's comer alarvidades de carne e batatas fritas com um litro de Coca-Cola, de poder comer continuar também a comer queijo da Serra feito como antigamente, de poder comer sardinhas assadas em Alfama, gostava de poder beber a ginginha no Rossio, gostava de poder comer chanfana, rojões e cabidela quando passo pelo Minho.
Mas como o António Barreto diz isto muito melhor que eu, aqui fica o texto dele, saído no PÚBLICO de 25 de Novembro de 2007
É um relato muito inteligente do sub-mundo das cidades, do sistema de castas sociais tão próxima de nós, do preconceito, dos medos, da dificuldade de superar adversidades, e também da salubridade dos restaurantes.
Já li o livro há muitos anos, mas lembro-me de Orwell no final, já refeito da experiência, dizer que jamais voltaria a recusar um panfleto entregue na rua, daqueles que normalmente deitamos no primeiro caixote de lixo que vemos, e nunca mais voltaria a comer num restaurante pretensioso. Passara a conhecer a qualidade das cozinhas de muitos restaurantes e os que lhe inspiravam mais confiança eram os de aparência mais modesta.
A ASAE anda num vendaval de inspecções, proibições e multas com todo o restaurante que não cumpra as saudáveis regras sanitárias impostas pelas directivas comunitárias. Acho muito bem que se fechem cozinhas onde os bifes, o whisky e o detergente da loiça tenham sabores parecidos, mas a ASAE não parece apenas interessada em cuidar das nossas saúdes. Eu gostava, já que me permitem ir a um McDonald's comer alarvidades de carne e batatas fritas com um litro de Coca-Cola, de poder comer continuar também a comer queijo da Serra feito como antigamente, de poder comer sardinhas assadas em Alfama, gostava de poder beber a ginginha no Rossio, gostava de poder comer chanfana, rojões e cabidela quando passo pelo Minho.
Mas como o António Barreto diz isto muito melhor que eu, aqui fica o texto dele, saído no PÚBLICO de 25 de Novembro de 2007
(clicar na imagem, roubada à Cidadania LX, para a ver maior)
5 comentários:
Tanta regulamentação e por outro lado;
Você comeria peixe criado numa piscicultura que estivesse ao lado de uma ETAR e de estaleiros navais e num Estuário/Sapal para onde fosse despejado, sem tratamento o esgoto de mais de 100000 pessoas?
Mais em:
www.a-sul.blogspot.com
Aqui ficam 2 links q vi há algum tempo sobre o assunto:
http://macacos-deuses.blogspot.com/2005/04/o-referendo-urgente.html
e
http://www.blocomotiva.net/index.php?option=com_content&task=view&id=517&Itemid=2
O segundo é uma satira gira, principalmente o principio. Donas de casa presas por fazerem de arroz a valenciana entretanto receitas patenteadas pela PESCANOVA, etc.
O primeiro remete-nos para a questão cultural. O que é considerado higienico ou nao é completamente cultural, dentro da Europa. E ha uns paises chave, claro, que pelo seu peso fazem as regras. Nenhum é mediterranico. No caso dos queijos ainda nos vamos safando com umas quantas certificações DOP (Denominaçao de origem protegida) de queijos nao pasteurizados pq temos a França a fazer peso com uma vasta tradição em queijos que tb nao sao pasteurizados. Se não fosse o lobby frances podiamos dizer adeus a uma data de queijos nossos.
E no caso das colheres de pau, segundo o meu irmao q trabalha na cozinha de um dos restaurantes da moda, as de plastico estao sempre a partir-se, e podem inclusive deixar lascas na comida, e o chef instituiu de novo as colheres de pau. Nao sei se a ASAE ja la foi entretanto.
vivam os jaquinzinhos, abaixo o caviar (mata maior quantidade em menor porção), venham as castanhas embrulhadas em jornal e a sardinha assada ao relento, no carvão...
asae, asae, quem não a conheça que a compre!
a ASAE já desmentiu entretanto o que vem aqui escrito. o António Barreto aqui foi um bocado histérico.
vou ler o antonio barreto mas primeiro tenho q dizer q sou a favor da acção da asae, e já se começa a notar q as coisas tão a mudar pra melhor
àparte polemicas de cigarrilhas e ofertas de bilhetes de casino
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