terça-feira, 28 de novembro de 2006

TERRORISMO

Em Portugal, o Estado que tem sido tão imperial a exigir aos seus cidadãos o cumprimento de valores essenciais como a honestidade e a prestação atempada das contribuições devidas, acusa uma notável falta de memória (provavelmente por ser uma entidade, não uma pessoa: toda a gente sabe que as entidades têm uma certa queda para a abstracção) quando se inverte o sentido do dever. É incrível como a velocidade com que decidiu publicar na net os nomes dos maiores devedores de impostos rimou com a opacidade com que se fechou à proposta (demagógica, evidentemente) do PP para que publicasse a lista das suas maiores dívidas.

- Convenhamos que a sua publicação pariria um rato: os maiores devedores da órbita do Estado, mais do que o próprio Estado são as autarquias e algumas empresas públicas -

De qualquer das maneiras, grandes dívidas unitárias implicam grandes credores; e esses - na sua esmagadora maioria instituições bancárias, têm a força, os recursos e o poder para - não se podendo entender com Júpiter - retirarem dos pobres humanos o que os deuses se esqueceram de regularizar.

Mais importantes do que essas, são os pequenos valores que, aqui e ali - e apesar dos contratos assinados, das promessas feitas, das palavras de honra de presidentes e responsáveis - se vão deixando em atraso, à espera de uma conjectura favorável, da mudança dos humores dos serviços ou da resolução de um nó górdio formal através da aplicação de um dos inúmeros "truques" em que esses mesmos serviços são peritos (é tão fácil encontrar muros na lei como desvendar alçapões), e que tanta mossa fazem nas finanças de particulares ou das pequenas empresas.

Vem isto a propósito dos atrasos nas obras da Alta, claro. Aparentemente, os acordos de expropriações que as viabilizarão ficaram fechados na gaveta do vereador Fontão de Carvalho por falta de verba para os pagar. A ser verdade, que magnífica lição! É que mais vale uma população a perder mais meia-hora de carro do que mais uns quantos vigarizados pela volúpia política de meia-dúzia de parlapatões incumpridores.

E eu sei do que falo. Ainda ontem estive a contabilizar calotes... (ai, calotes não, que o Estado paga sempre não é? Nem que seja aos nossos orfãos...!)

1 comentário:

Tiago disse...

Eu recebi um cheque do Tesouro endossado ao meu pai, dez anos depois de ele morrer.