terça-feira, 16 de maio de 2006

Transporte colectivo em Lisboa


(Metropolitano de Lisboa, linha amarela entre as estações do Rato e Odivelas, segunda-feira, 18h30m)

Carruagens cheias, completamente lotadas. Na paragem seguinte alguns passageiros que vêem o comboio chegar, olham desanimados e, na impossibilidade de entrar na carruagem, resignam-se a esperar pelo próximo.

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Uns metros mais acima, ruas e avenidas têm a sua superfície ocupada com automóveis de motor de combustão exalando monóxido de carbono em quantidades nocivas à saúde. A grande maioria destes automóveis são particulares, ocupados apenas com um passageiro em 4 ou 5 possíveis. Entre eles circulam alguns autocarros, também atafulhados, tal como o metro, cumprindo o pára-arranca imposto. Se a opção neste pára-arranca é entre ir enlatado num autocarro mal-cheiroso ou num automóvel, sentado, a ouvir música, com ar-condicionado, a preferência é óbvia. Mas alguma coisa tem de ser feita para alterar este rumo doentio.

Segundo José Manuel Viegas, coordenador do recente estudo Lisboa: O desafio da mobilidade, "as condições de circulação dos modos de transporte colectivo de superfície são muito importantes para a sua competitividade e eficiência produtiva, devendo ser promovidas nomeadamente através de:

— supressão das situações de estacionamento em segunda fila;
— extensão dos corredores Bus, com prioridade à eliminação das descontinuidades nos corredores existentes;
— nos pontos da rede onde se verifique uma importante convergência da oferta rodoviária em TC, ou seja, em que circulem pelo menos 20 circulações por hora nos períodos de maior procura, deverá ser introduzido um corredor Bus sempre que a geometria da via o permitir;
— introdução de prioridade semafórica aos autocarros nos casos em que a relação entre as hierarquias do eixo TC e da via rodoviária que intersecta o justifique."



(Madrid - faixa BUS exclusiva, com barreira de separação para as outras faixas de rodagem)

Reforça ainda o estudo que "subjacente à evolução negativa da procura dos transportes colectivos na última década, para além do aumento da motorização das famílias associada ao aumento do seu poder de compra, estão a falta de coordenação das actuações dos transportes colectivos e a permissividade relativa ao estacionamento em grosseiro incumprimento das regras, a qual objectivamente tem servido como factor de estímulo ao reforço dessa motorização."


(Rua madrilena ladeada com pilaretes)

3 comentários:

Unknown disse...

O estudo não refere, então, as condições de transporte dos passageiros: o conforto, por exemplo.

Isto faz-me lembrar as discussões do sobre o comboio da ponte. Eu morava na margem sul, os meus pais ainda moram. O comboio foi uma grande melhoria para nós, quando surgiu. Os meus pais largaram o carro e eu tb. Inclusive nos dias que planeava sair à noite em Lisboa, optava sempre por vir de comboio para o dia normal de trabalho e ir buscar o carro ao final do dia, à outra margem para voltar para Lisboa, jantar com os amigos, ir ao cinema, sair e voltar para casa qd entendesse, sem ter que preocupar então, com o final do serviço do comboio, às tantas da manhã.

O comboio era confortável, tinha sempre lugar sentada, não havia atrasos. Funcionava bem e era uma alternativa. No entanto era muitas vezes apontado na comunicação social como um fiasco, com lotações de apenas 50%. Pois é, se considerarmos que cerca de 60% dos lugares previstos são em pé, como no metro...

Agora já não é um fiasco. Vai lotado. E ou se entra em Setúbal ou numa das primeiras estações, ou já ninguém se senta. A certas horas, na estação de Corroios onde os meus pais entram, já nem é possível entrar e tem que se esperar o próximo.

Para a comunicação social, para a Fertagus, agosa sim, o comboio da ponte é um transporte colectivo de sucesso. Mas por causa disso, já muita gente pega no carro outra vez, não está para passar 40 ou 50 minutos, dependendo da estação em que se entra, de pé, sem poder ler ou aproveitar o tempo...

Sérgio disse...

Atenção que, muitas vezes, misturam-se 2 dimensões que são independentes: mobilidade e poluição atmosférica.

Por enquanto, devido à falta de alternativas para o petróleo, a um maior tráfego automóvel corresponde efectivamente maior poluição. No entanto, num futuro que não dependa deste combustível, a questão da mobilidade continua a colocar-se. Ou não?

Mesmo que os veículos venham a ter 0% ou 0,01% de emissão de gases para a atmosfera isso não resolve os congestionamentos de tráfego.
Mais importante ainda, não altera os nossos valores e prioridades.

Assim, como refere a Joana, estou convencido que, a menos que haja uma mudança de mentalidades, é o conforto que, a longo prazo, vai ditar qual dos meios (privado/público) será preferido pelas pessoas.

São (ainda) poucos os que estão dispostos a abdicar de algum do seu conforto em favor de uma solução mais benéfica para todos.

Unknown disse...

Eu penso é que tem que haver uma alteração de mentalidades não tanto das pessoas mas mais das empresas de transportes públicos. Pensar que o serviço que oferecem tem que ser mais do que apenas a transportabilidade do ponto A para o ponto B, independentemente das condições. Um bom transporte público pode ser mais confortável do que um carro privado, não é difícil. Basta não ir lotado (aumentar muito a periodicidade) e ter ar condicionado no verão (como mtos dos autocarros têm). Não é nada de transcendente. Se adicionarmos a isto o poder ocupar o tempo em leitura ou musica sem ter q prestar atenção ao transito, nao ter o stress de estacionar e pagar estacionamento, acho que toda a gente prefere um transporte publico. Agora qd a alternativa é ir 50 min em pé, entalado e com calor e sem garantias de transportes a horas...

O caso da fertagus, por exemplo, de encarar uma lotação completa de lugares sentados (apesar de aquem da lotação total q seria com outros tantos lugares em pé) como um fiasco, parece-me a mim a mentalidade que precisa de ser mudada (ou uma das). Naquela altura sim, o comboio era um bom transporte colectivo; confortável, fiável no horário e rápido. Proporcionava transporte e tempo de qualidade. Agora é só mais uma provação q tem q se passar para chegar a lisboa. Mas agora que vai tudo como sardinha em lata a fertagus esta mto contente com a rentabilização das carruagens.