Parecem voltar a cair em saco roto as inúmeras queixas que, ao longo dos tempos, têm sido feitas por moradores junto das entidades competentes, respeitantes ao mau estado de conservação e limpeza do Parque Infantil da Rua Adriana de Vecchi entre nºs 1 e 3.
No final da semana passada, um morador devidamente identificado enviou mais um mail com a descrição dos factos, um pedido de intervenção e fotografias do corpus delicti para a Câmara Municipal de Lisboa, Polícia de Segurança Pública e Junta de Freguesia do Lumiar, com conhecimento para este blog.
Elementos arquitectónicos e das infraestruturas partidos não substituidos,
falta generalizada de limpeza,
ausência de ligação à rede de um bebedouro, são as queixas de quem espera e desespera por não ver à sua volta o ambiente urbano prometido tanto pela publicidade institucional como pela expectativa que gera viver numa cidade do primeiro mundo.
Não posso deixar de concordar com a exasperação de quem pressente que é mais a burrocracia e o desinteresse dos serviços (isto de desumanizar o erro atribuindo-o a coisas e não a funcionários diz também muito de todos nós) que a falta de verbas ou de desorganização a explicar o prolongamento desta situação. Deixo, no entanto, uma sugestão: se é tão óbvio que nem com a ajuda de S. Marcelo conseguirão que parte dos problemas se resolvam brevemente, porque é que não tentam desde já vocês moradores interessados, resolver os problemas na origem? E não, não estou a falar de expedições punitivas ou arames farpados - estou a falar de se entenderem com os vossos vizinhos. Porque não procurar compreender quem não vos compreende e procurar fazer-se compreendidos? Porque não procurar uma plataforma de entendimento, um campo comum de regras, deveres e obrigações? É uma utopia? Pois, mas utópico é também pensar que, algum dia, a PSP vai disponibilizar um agente 24 horas por dia para tomar conta do parque, ou que a junta vai ter um piquete de emergência para consertar a tempo os elementos que forem sendo destruídos. Será preferível viver num bunker com arame farpado à volta a procurar transformar o ambiente em que vivemos numa pacífica e activa Suiça?
No entretanto, senhores da Câmara, substituam lá o que está estragado, senhores da EPAL façam lá a ligação do bebedouro à rede, senhores da Junta pressionem lá a Higiene Urbana e, senhores da malta, vejam lá se empregam essa energia em coisas mais produtivas para todos.
PS - Procurem os responsáveis do Centro Social da Musgueira e peçam-lhes para contar a história dos últimos 40 anos: de como a utopia de um homem se tornou num projecto de vida para muitos e transformou a vida de muitos outros; de como se altera o futuro e a sua perspectiva, do que se fez e do que ainda há a fazer e que se faz, paulatinamente, pacientemente, dia após dia.
16 comentários:
Sobre o teu ponto principal, acho que o tempo se encarregará disso. Podia era ser mais rápido, havendo vontades.
Sobre a instância que é o Parque Infantil, infelizmente é só uma instância. Os da Alameda da Música estão todos em condições idênticas.
Acrescento mais uma coisa (concordando com tudo que foi dito no post): Mais civismo, sff.
É clarpo que as entidades têm de limpar mas há pessoas que são autenticos porcos. Eu moro ao lado e verifico diariamente isso: latas de coca cola deitadas para o chão, sacos de batata frita deitados para o chão, maços de tabaco. Enfim, tudo o que acabou deitam para o chão... Uma tristeza.
Quanto às danos, por enquanto atribuo a responsabilidade ao uso menos adequado. Não me parece que seja por vandalismo. Neste caso as entidades devem ser mais rápidas a reparar.
Parece que na Finlândia, onde a educação é um caso de sucesso público, há aulas de «economia doméstica». que tal, em vez de apenas «sexualidades» se dar também educação cívica sobre o ANTES e o DEPOIS da intervenção/limpeza dos espaços públicos, sobre o bem-estar, sentimento de segurança, orgulho e pertença e auto-estima em viver em locais limpos, de cara lavada, promover o dia escolar da limpeza dos jardins infantis (como fizeram com o lixo das praias). Sim, porque é com os futuros adultos que podemos contar, já que burro velho não aprende línguas.
E sempre achei que é mais educativo levar o estudante que estragou a carteira a repará-la do que a deixar que alguém ou ele «pague» o dano. Isto é válido para os meninos dos colégios de S Tomás e S J Brito, que vivem «enclausurados» ali perto, como as escolas públicas da zona.
E o viver poderia acompanhar, tirar fotos do Antes e Depois e das brigadas de estudantes-moradores.
Ala, que se faz tarde. Não perguntes (só) o que é que a CML pode fazer por ti...
O espaço público é de todos e de cada um de nós. Como as casas, se o pai ou mãe não têm tempo ou dinheiro para tratar de tudo, porque não hão-de os meninos queixar-se sim, mas ir fazendo também?
com todos os dramas desta cidade, caros bloggers do Viver, alivia-me vir aqui. Sinceramente. Falar de cidadania talvez comece a não ser tão utópico assim. Obrigada.
É bom saber que o DHURS-Departamento de Higiene Urbana e Resíduos Sólidos da CML articula há vários anos com as escolas públicas e diversas instituições da Alta de Lisboa, promovendo junto da população mais jovem várias Caças ao Lixo, Acções de Limpeza, actividades de reciclagem, reutilização e projectos de valorização ambiental. Trabalha inclusivamente com crianças de idade Pré-Escolar. Os mais novos aderem muito bem a estas iniciativas. Os adultos são bem mais difíceis de seduzir.
Talvez tenhamos que ser todos mais criativos. Ou talvez tenhamos todos que fazer a nossa parte, dando o nosso contributo e o nosso exemplo. E não me refiro às várias entidades. Falo de cada um, como morador e vizinho.
É muito complicado dar o exemplo quando os outros não entendem que estão errados, e sobretudo explicar aos nossos filhos porque é que os outros meninos estão a fazer coisas que eles sabem que não se fazem.Por exemplo no passado Domingo num dos parques infantis da Alta havia uma famíçia (pai, mãe e 4 crianças)a brincar.A certa altura uma das crianças decidiu escrever no chão de borracha com giz.Achei que devia explicar-lhe que aquilo estraga o chão, até porque os meus filhos repararam e estavam já a questionar a atitude. Como a mãe se aproximou,pensei que ia avisá-lo e não me quis intrometer.Qual não foi o meu espanto quando oiço a senhora ralhar,mas porque uma das palavras estava mal escrita,pelo que mandou a criança escrevê-la correctamente.Daí a pouco toda a família estava a escrever no chão.Que fazer?
Talvez tentar dizer que aquilo estraga o chão. Mas desta vez, à família. É verdade que se corre o risco de ser mal recebido. Mas se não tentarmos nunca saberemos, não é?
É que tal como diz, há pessoas que não entendem que estão erradas. Aquela criança não passou a saber que a sua conduta era errada, porque ninguém lho chegou a dizer. Não sei se aos pais alguém disse algum dia. E aquela criança vai crescer...
Desculpem lá, mas o giz estraga o chão? É abrasivo, corrosivo? Não é tão nocivo para o chão de borracha como andar calçado? É comparável a um grafitti? Não voou o pós de giz com o vento ao fim de um dia?
Numa sociedade tão alienada, com os pais e filhos tão distantes nos gostos, nas actividades, na educação, ler essa história de envolvimento parental no desenvolvimento da literacia dos filhos soube-me muito bem.
Eu tb me lembro de desenhar as "macacas" no chão, para saltar, com giz. E com tijolo, tb (ja mais dificil de sair).
A minha primeira reacção foi comentar na mesma linha do Tiago. Mas depois nao estava com paciencia para discussoes por post e ate me questionei se estaria errada, se tb eu nao tinha aprendido.
Afinal ha mais gente que acha o giz inofensivo, obrigada Tiago.
Sem ser por aqui, vieram dizer-me que o giz neste tipo de borracha fica entranhado, que não sai com a facilidade que eu julgava sair. Chamaram-me também à atenção para a questão cívica, para o o princípio de escrever no espaço público, no desrespeitar o espaço público, que estava em causa.
Tenho de dar o braço a torcer. Por muito positivo que seja aproveitar um erro ortográfico para ensinar o resto a família a não dar erros, o meio usado não é o melhor e acaba por ser deseducativo.
Ainda bem que há quem perceba que o chão de um parque infantil, que é de todos, não é o melhor local para ensinar os filhos a escrever. O que aqui estava em causa era a atitude de falta de respeito pelo espaço público.Se todos tivessemos esta falta de civismo não haveria palmo de chão ou de parede que não ostentasse qualquer rabisco.Mas pelo menos podia ser que acabassemos com a iliteracia...
Acha mesmo que desenhar uma "macaca"(o que também fiz)é o mesmo que escrever o nosso nome no chão? A primeira tinha um carácter lúdico e de convívio e podia, enquanto durasse,servir de brincadeira a várias crianças.Escrever o meu nome no chão, numa porta ou numa parede só serve para estragar e agredir visualmente todos os outros utilizadores daquele espaço.Parece-me diferente.
O Tiago e a Joana devem deixar os filhos (se os tiverem)escrever no chão desde que seja com giz claro para não estragar.É uma excelente actividade para um Domingo em família.Aliás como não gastam folhas é até bastante ecológico.
Podemos continuar a discutir esta história, a da família que escreveu com giz no chão de borracha, de várias maneiras:
1º pela parte da engenharia dos materiais, aferindo se escrever com giz em borracha é tão inócuo como escrever no cimento. Eu pensava que sim, por isso comentei nesse sentido, mas depois asseguraram-me que não, que até entranhava.
2º pela parte do respeito do espaço público e da comunidade que o frequenta. Mesmo que fosse inócuo escrever com giz na borracha, seria legítimo fazê-lo num espaço público? Esta discussão é muito abrangente e dada a demagogias de parte a parte. Discutir-se-á, por exemplo, se é legítimo fumar em cafés, restaurantes, mas também em parques e jardins, espaços abertos, mas públicos e frequentados por mais pessoas.
3º pela parte do esforço de educação cívica que todos podemos ter para connosco, com os nossos filhos ou com as pessoas que vivem nos mesmo espaços (rua, bairro, cidade, país e por aí fora)
Parece-me este terceiro ponto o mais interessante deles todos. Que medos nos impedem de interagir com o outro num comportamento lesivo da comunidade? Que formas de interagir usamos, que eficácia tem a maneira como nos dirigimos, como falamos, como olhamos? De que maneira um olhar carregado de superioridade é eficaz na evolução de comportamentos? Quantas vezes experimentámos falar a bem sobre um assunto com outra pessoa e fomos mal recebidos? Quantos dos nossos comportamentos são também criticáveis pelos outros, no mesmo contexto de vivência comunitária, e o que fazemos para os alterar? Quão receptivos estamos a críticas exteriores?
Tal como o Tiago, tb pensei q o giz nao estragasse o chao de borracha. Isto encerra a discussão desta instância, estava-se a estragar algo, ponto final.
Mas se partíssemos do principio que o giz nao estragava o chão em questão. Ou que era o asfalto, por exemplo, onde eu (e outros) desenhámos macacas em criança. Pediam-me para avaliar a diferença entre uma macaca e o nome. A macaca é ludico, pode ser. O nome é agressivo, nao pode ser. Ora, tb acho isto um disparate, sinceramente. Esta avaliação é bastante subjectiva. E se fosse um poema? Era ludico e ja podia ser? E se fosse um poema de muito má qualidade? E se fosse algum artista de renome a deixar a sua assinatura, já não era um nome agressivo? Discuta-se antes o acto e nao o conteudo.
Sobre a utilização do espaço publico, isto realmente dá pano para mangas. Lembro-me de ha tempos escrever aqui um post sobre a utilização de canteiros publicos para cultivo de ervas aromáticas. É apropriação do espaço público? é. é danosa? Ou é uma valoração acrescida daquele espaço comunitário? Tal como um poema no chão... Nunca ficaram a meditar sobre uma frase escrita numa parede, por exemplo?
Não estou aqui, antes que me acusem disso, a advogar a favor de grafitis e vandalismo. Só acho que um espaço, precisamente por ser publico, é de todos. E algumas formas de uso, à partida nao previstas, podem acrescentar-lhe uma dimensão favoravel (ou nao). Mas isso é discutivel e subjectivo. E não me parece que demasiadas regras e homogeneização de formas de estar na vida criem uma sociedade saudavel. Nem interessante. E não estou, repito que não estou, a referir-me a diferenças de estar na vida de diferentes grupos económicos e/ou sociais. Refiro-me à individualidade de cada um, não de grupos. A diferença entre mim e as minhas vizinhas patamar; entre cada um de nos e os nossos irmão, pais, colegas de gabinete. Não são tantas estas diferenças?
Ok. Peçam para incrustarem no chão o desenho de jogos como a macaca, de forma permanente. Assunto resolvido. E digam àquelas famílias para preencherem, antes, palavras cruzadas.
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