quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Por uma nova toponímia

Este é um bairro onde é visível o interesse da CML em, através da toponímia utilizada, realçar a qualidade do empreendimento. Como se, por emprestarem os seus nomes às avenidas, os vultos culturais contemporâneos comprovassem a culturalidade do sítio. Ou dos seus habitantes.

Eu acho muito bem. E, por achar bem, proponho - agora que o vulto franqueou o panteão dos eleitos - que a CML leve até às últimas consequências este empréstimo promocional dos cultos desaparecidos, esta promoção cultural dos sítios emergentes, e renomeiE a nossa Alta.

Que tal a ALTA DE CESARINY?

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Que outro sítio de Lisboa melhor homenageia o artista mais destacado do surrealismo?

Onde mais do que aqui está CESARINY EM ALTA?

- Já se viu melhor aplicação urbanística do cadavre exquis que os variados traçados da Av. Santos e Castro(R) e vias adjacentes onde cada troço é começado por um artista diferente, acabando naturalmente aquelas por nunca se encontrar?

- Já se viu melhor aplicação de um sonho sem ligação à realidade que nas ligações viárias ao resto da cidade, onde rotundas maginificentes unem vias de 4 faixas a vielas onde dois autocarros se conseguem enganchar sem a menor das dificuldades?

- Já se viu maior surrealidade do que defender a ausência de iluminação nocturna num jardim público não-vedado com o argumento de que ele não é para ser utilizado à noite (oh noites invernais de Lisboa que ignorais que o Sol se põe às 17:30!)

- Já se viu melhor lugar onde o engate perfeito (do promotor)se transforma em enfarte provável(do habitante) em cada um dos cruzamentos mal sinalizados, provisórios, inesperados que o atraso dos trabalhos legou?

- Onde vias com 2+2 faixas e separador são transformadas em 1+1 para circulação / separador / estacionamento e acesso aos edifícios, sem outra lógica que não seja a falta dela?

- Onde rectas esplendorosas de 4 faixas terminam em faixas apertadas após abruptas curvas?

- Onde um centro de saúde em que prolifera a insalubridade, o desconforto, o convívio com insectos rastejantes e mamíferos roedores se mantém em funcionamento apesar do espaço que o irá substituir já estar pronto?

- Onde todas as empreitadas que dependem do município pararam porque o município se esqueceu de reservar dinheiro para as acções que programou e acordou com o promotor?

ALTA DE CESARINY: O SONHO QUE LISBOA GUARDOU ATÉ AO FIM!

5 comentários:

Pedro Cruz Gomes disse...

Susceptível Carlos, prezado Carlos,

Se se sentiu ofendido - na qualidade de promotor das modificaçõas agora operadas na Santos e Castro - pelo que leu, então o problema é seu: ou partiu de si a falta de lembrança em assinalar a modificação aos incautos como eu que, pela utilizavam aquela via como caminho mais curto para a Santos e Castro - o tal " deficit de sinalética orientativa" que cita e pelo qual passa como quem não quer a coisa - e o post era-lhe mesmo destinado e portanto enfie mesmo a carapuça - ou tem dificuldades na compreensão dos textos que (tres)lê e aí...
De facto, "bimbo" é um indivíduo tolo, parvo; foi o que eu me senti quando tive de voltar ao ponto de origem e refazer o percurso por outro lado por não existir - à altura - sinalização prévia que me alertasse para a alteração efectuada. E foi o que tive ganas de chamar ao "bimbo" que, como percebeu o Tiago quando me leu e comentou, entendeu que os portugueses têm um sexto sentido que torna desnecessária a tal "sinalética orientativa".
Quanto aos "calotes" que acha exagerado assacar à nossa administração autárquica e sem me dar ao trabalho de o maçar com a minha vida profissional, sinto que o devo esclarecer, já que a sua defesa acalorada me fez lembrar o logotipo daquela antiga companhia discográfica que a EMI comprou em tempos,não sei se conhece?... a "His Master Voice"?
"Calote" é uma dívida não paga ou contraída por quem a não tem intenção de pagar. Pronto, eu acrescento - já. Uma dívida que não é paga no prazo estipulado é, para mim, um CALOTE. Para si, já sei, é um exagero. Para todos os funcionários municipais que tive o prazer e o desprazer de conhecer, também é um exagero. Aliás, para todos aqueles que, tranquilamente, produzindo muito ou pouco, competente ou incompetentemente, recebem na sua conta a transferência bancária mensal, é obviamente um exagero. Pagar, paga-se sempre, eu sei. Mas compromissos são compromissos e pagamentos fora do prazo são calotes enquanto não forem cumpridos. É uma idiossincrasia minha, eu sei. Deve ser por trabalhar muito e esperar anos pela remuneração desse trabalho. Ou por o dia me ter corrido mal... Coisa pouca.
Quanto ao "terrorismo"... Não acha que é violenta a atitude do Estado quando não cumpre os compromissos que assumiu? É só... chata?
Reportando-me ao caso da Alta: se o que se diz corresponde à verdadeira razão, achava bem que a Câmara assinasse os acordos de expropriação sabendo que os não conseguiria honrar nos próximos tempos? Acha - como o Eng. Duarte Pacheco - que todos os sacrifícios dos particulares são justificáveis a bem da Nação?

Quanto à sua maior indignação, deixe-me começar por lhe dizer que muito divertido deve estar o poeta - caso se tenha enganado e afinal exista mesmo vida para além da morte - com a dita. Muito gargalhará com essa sua Cena do Ódio cordialata e cheia de virtude ofendida.
O que é que o chocou - o termo "engate"? Quer maior sedução que os cartazes que a SGAL tem espalhado por Lisboa? Já viu o site? Ou acha que é pejorativo para o poeta? Ele não achava nada. Tanto que cada poema, cada pintura, cada obra de arte é, à sua medida e com objectivos diversos, um acto de sedução - um engate. Ou então achou que estava a chamar puta ou pederasta ao promotor... Enganou-se - se o quisesse fazer, era exactamente isso que faria, sem enviesamentos lexicais. Essa sua reacção é, no entanto algo estranha: acha que se ofende um pederasta se lhe chamamos pederasta? Não me diga que, como nos dicionários antigos, entende que a pederastia é uma perversão sexual e que, como tal, assinalá-la em alguém constitui um acto de difamação...
Em relação ao Parque Oeste, apenas usei o argumento que neste blog foi citado e que nunca vi desmentido. Chamar "filosofia subjacente ao conceito moderno e actual de um Parque Urbano" é que me parece pretenciosismo de quem se escuda em teorias para justificar o que me parece ser falta de dinheiro (mas admito estar enganado). A Quinta das Conchas não é um Parque Urbano? Ou os outros parques urbanos que têm sido promovidos pelo país fora - designadamente ao abrigo dos programas Polis - não são modernos? É que ainda esta semana estive à volta do projecto de um que está cheio de candeeiros públicos... Se calhar vi mal, eram antes estruturas polimorfas de embelezamento ambiental... Ou grafismos desenquadrados das mais modernas orientações paisagísticas...
E o centro de saúde... Frieza? Frieza foi os utentes terem sido obrigados a conviver com a falta de condições a partir do momento em que souberam que as novas instalações já estavam prontas e - com ou sem verdade - não abriam por culpa de detalhes burocráticos. Frieza? Frieza em denunciar a situação como surreal? Não acha que os utentes veriam como absurda esta situação? Olhe que foi essa estranheza que lhes senti nas palavras quando foram entrevistados por um canal televisivo o mês passado...
De qualquer forma, deixe-me dar-lhe os parabéns: se o centro foi finalmente encerrado e as novas instalações inauguradas, ainda bem. A situação não deixou de existir mas já está encerrada. É isso que é preciso.
Quanto à parte final do seu comentário, não sei se deva deplorar o paternalismo ou o pretenciosismo (o facto do seu sentido de humor ser fracote não retira o humor às coisas)... Acho que o que me chocou mais foi o SALAZARISMO - quem é que pensa que é para decidir quem deve ou não escrever neste blog? Quem é que pensa que é para determinar onde devo ou não morar? Quem é que pensa que é para determinar quem deve ou não deve morar na Alta de Lisboa? E quem é que pensa que é para decidir que quem não é por nós é contra nós?
Pois é que há mesmo gente que gosta de viver na Alta e que luta para que a Alta seja diferente - nos intervalos de nos tresler, não costuma ler os habitantes deste blog?

Anónimo disse...

Caro Vizinho Pedro
Li o seu post e apreciei-o verdadeiramente.
A leitura que faz das diversas situações que decidiu apontar são por mim consideradas como tendo humor, sendo inteligentes e verdadeiras e terem o cariz brilhante de produzir incómodos.
De facto, não me querendo alongar,continue porque penso que foi a primeira vez, não desvalorizando os muitos posts interessantes que por vezes aqui aparecem, que me diverti tanto.
JRui

Anónimo disse...

Boas,

Sigo este blog com atenção e hoje senti a necessidade de deixar aqui a minha palavra de apoio ao autor por se dedicar muito mais à zona da alta do que eu.
Não querendo prolongar a discussão, apenas quero expressar os meus parabéns pelo excelente post, que achei muito divertido, mas também pelo blog.

Tiago disse...

Bem, parece que tenho que descer à arena para esclarecer algumas coisas. Perdoem-me os gladiadores pela demora, mas não tive tempo para o fazer mais cedo.

Este blog é essencialmente sobre a Alta de Lisboa mas tem também como objectivo, nem sempre conseguido, discutir e desenvolver questões de urbanismo e de cidadania, entre outras. Abri o âmbito de discussão para além das fronteiras do PUAL porque há problemas que são universais e só se consegue perceber o que se passa no nosso bairro se se perceber o que se passa noutros bairros. Para isso convidei o Pedro para colaborar porque admiro a maneira como ele pensa e percebe a cidade, apesar de termos opiniões divergentes em alguns assuntos, o que já motivou polémica entre nós no passado. Por mim, tudo bem. Nem sempre é confortável, mas a controvérsia e discussão são positivas e obrigam-nos a pensar, e desde que não se entre no campo pessoal, são necessárias para podermos melhorar o mundo onde vivemos. Em princípio será esse o objectivo comum a todos nós.

Desde que comecei a interessar-me pela Alta de Lisboa levei algum tempo a perceber o que estava a acontecer aqui. Quem era a SGAL, quem era a UPAL, o que era o PUAL, qual o papel da CML. Ainda hoje algumas questões me levantam dúvidas. E há ainda muito restolho nalgumas discussões ou afirmações que se fazem, tanto nos comentários dos leitores, como até, imagine-se, nos posts que publicamos. Não é por mal, garanto. mas por desconhecimento. E apesar de ser desagradável dar erros, atribuir responsabilidades a quem estaria inocente de culpa, no meio de tudo isto parece-me positivo o papel que o blog tem tido na divulgação dos assuntos que se propõe, no alerta para situações emperradas ou erradas. Chegou a ser determinante na resolução de pequenos problemas, apesar de ter sido até agora impotente para questões mais pesadas como a Santos e Castro ou o Centro de Saúde. Ou seja, apesar dos tiros ao lado dados pelo blog, e pela possibilidade dada ao leitor para os tiros ao lado, parece-me ser mais positiva a existência deste espaço do que a sua ausência. E entre tiros ao lado dados por cidadãos bem intencionados ou por promotores que visem o lucro a qualquer custo ou autarcas com obscuros objectivos, parece-me não ser comparável o dano causado. Para que não me mal-entendam, não estou a dizer que todos os promotores ou autarcas são mal intencionados, como nem todos os cidadãos pró-activos desastrados nos seus exercícios de cidadania.


Posto isto, passo então a comentar o texto do Pedro.

Vivi até aos 25 anos no centro de Lisboa; tenho por isso uma ligação umbilical com as ruas estreitas, os prédios com varandas em ferro forjado, as vizinhas-tartaruga de cabeça de fora a controlar quem entra e sai, o comércio estabelecido desde sempre, onde todos se conhecem pelo nome, desde sempre, e sempre se cumprimentam diariamente, simpaticamente. A recordação do bairro onde vivi é assim, e quando lá passo ainda sou recebido como se lá tivesse continuado a viver nos últimos seis anos. A minha cidade é muito mais a Lisboa antiga do que a Alta de Lisboa. Nestas coisas, o "imprinting" da infância é tramado, se se tem memória e capacidade de afecto.

Mas se sou saudosista de muita coisa, também me estimula o planeamento e profissionalismo, sobretudo quando rareia como exemplo em Portugal. Foi por isso, obviamente, que me seduziu ir viver para a Alta de Lisboa. Não pelo presente, mas sobretudo pelo futuro prometido, pelo plano de urbanização que tive oportunidade de consultar e que me pareceu bastante mais interessante do que optar por uma casa num qualquer desterro periférico da cidade, um buraco negro de planeamento e inteligência, à imagem da ética e competência dos que o permitiram. Autarcas e patos-bravo, leia-se.

E porque não o centro de Lisboa? Pelos preços exorbitantes praticados, pelos problemas de mobilidade (risos na plateia) para quem tem horários desfazados da normalidade e trabalha em vários pontos da cidade.

Viver na Alta de Lisboa exige uma dose grande de paciência com o que não está feito, compensada pelo credo no projecto, mas também uma legítima indignação quando o desconforto se deve à lentidão ou pesadelo burocrático das instituições envolvidas. Porque se pagamos IMI, contribuição autárquica e taxas de esgotos é legítimo esperarmos resposta da CML quando lhes perguntamos as razões dos atrasos. Tal como se exige à SGAL responder prontamente aos compradores das suas casas quando um problema é detectado. Se isto não funciona o que se segue? O terrorismo? Pois há quem pense nisso. Ou é já isto o terrorismo?

No entanto, apesar de ainda existirem tantas coisas a construir, tantos problemas a resolver, começam algumas zonas da Alta de Lisboa a crescer e sedimentar-se, dando-nos uma imagem mais próxima da cidade que queremos, pelo menos aqui.

Mas Pedro, nutrimos notoriamente empatias diferentes por esta parte da cidade. A ti provavelmente irrita-te ver a megalomania deste projecto em tempos de vacas magras, quando se desiste de preservar e revitalizar a Lisboa antiga e se deixa crescer 300 hectares reservados a 60000 moradores. Percebo a embirração, mas não entendo a fixação e a tendência para fazer da Alta de Lisboa um bode-expiatório, já que o âmbito do blog se estende a outros bairros com responsabilidades mais graves no desordenamento urbanístico da cidade. Apesar de achar piada ao teu sentido de humor, não percebo porque te mostras sempre tão irritado com tudo o que te chateia na Alta de Lisboa se também noutras zonas da cidade o surrealismo poderia ser aplicado. Na maioria dos casos com muito maior propriedade, parece-me. Não preferes ver crescer uma cidade planeada, mesmo que incompetentemente executado parte desse crescimento, do que perpetuar as Odivelas, Sacavéns, Massamás e Rios de Mouro deste país? Aí o que temos não se compara ao surrealismo do Cezariny. E isso sim é que nunca devia ter acontecido como aconteceu. Entre a Alta de Lisboa ou os exemplos dados, qual preferes para seguir, para morar ou passear? Qual a comparação que fazes ao nível do projecto urbano, dos espaços verdes, da arquitectura? Eu sei que já falámos disto os dois, mas se calhar vale a pena repetir.

E vá lá, não nos chateemos, não se chateiem, não nos ataquemos pessoalmente, e tentemos manter o nível da discussão centrado apenas nas questões que interessam. Lutar por uma Alta de Lisboa melhor implica mostrar o que não está bem. Muitas vezes cai-se nesse erro viciante de apenas mostrar os problemas e não valorizar o que de bom foi feito. Aqui no blog já se mostrou muita coisa mal feita, mas tmabém já se mostrou muita coisa bem feita e muita correcção à coisa mal feita. Pretende-se, sem pretensiosismo, fomentar a cidadania, aumentando os níveis de participação da sociedade civil nos problemas que a afectam, e para isso a discussão é importante. Sem que as suceptibilidades de firam, de preferência.

susana disse...

Proponho outro nome para a Alta:

A Alta de Munch.

(essas obras são de gritos!)